Mestre de Kung-Fu pelotense combina arte marcial com tratamento para neurodivergentes

Por Enrique Bohm

Na cidade de Pelotas–RS, um projeto pioneiro vem transformando a vida de pessoas neurodivergentes por meio das artes marciais. À frente da iniciativa está o mestre Jorge Dillemburg Garcia, faixa preta de nível 1⁰ Dan no estilo Tai Chi Louva-a-Deus de Kung Fu, no qual representa a 10ª geração, que desenvolveu uma metodologia diferente, unindo os fundamentos tradicionais da arte marcial chinesa com práticas terapêuticas voltadas ao acolhimento e desenvolvimento de pessoas com transtornos do neurodesenvolvimento.

Jorge é o idealizador do projeto Pequeno Louva-a-Deus e também é o SiFu (termo para mestre, em mandarim) responsável pela Academia de Kung Fu e Tai Chi TanLu. Quando perguntado sobre o que despertou seu desejo para criar o projeto, Jorge compartilha que “foi pela proposta de um irmão de treino, pai de dois rapazes autistas, hoje meus alunos, que uma pequena semente foi plantada”.

Idealizador do projeto, Jorge Garcia. Foto: Mike B. Dilelio

O nome do projeto originalmente era Kung Fu para Autistas, mas conforme novos alunos com diferentes necessidades foram sendo integrados no projeto, ele foi renomeado para Kung Fu para Neurodivergentes. Alguns dos obstáculos enfrentados são as adaptações das técnicas milenares do Kung Fu para se adequarem aos desafios que cada aluno enfrenta. Porém, de acordo com Jorge, os resultados são extremamente positivos para o desenvolvimento do aluno.

“Além do que observo diretamente durante as aulas, questões como regulação, respeito, disciplina e desenvolvimento psicomotor geral, são alguns aspectos muito latentes a serem observados quando levantamos alguns benefícios de nossas práticas e a combinação com as demais terapias nas quais os alunos participam”, diz Jorge Garcia.

As aulas buscam serem realizadas respeitando os limites dos alunos, seu tempo de resposta e as formas de interação entre si. Os treinos envolvem exercícios físicos, técnicas de respiração, práticas de concentração e valores éticos que favorecem o equilíbrio emocional de cada um.

Um artigo publicado na revista científica da Faculdade de Sant’Ana estabelece que o judô, arte marcial distinta, mas que ainda envolve elementos de cooperação social e disciplina, auxilia na coordenação motora das crianças com TEA fazendo elas se destacarem nessa área, em comparação a crianças com TEA não praticantes. Ainda afirma:

“A prática do Judô oferece uma plataforma ideal para o desenvolvimento de habilidades sociais, pois as aulas de Judô são estruturadas de forma a incentivar a cooperação entre os praticantes. Isso inclui o respeito às hierarquias no tatame, a prática de cumprimentos formais antes e após as lutas, e a execução de técnicas em duplas, que incentivam a comunicação não verbal e o trabalho em equipe”.

O projeto feito por Jorge demonstra como a prática do Kung Fu permite muito mais que só técnica, e se torna uma ótima ferramenta de inclusão, acolhimento e desenvolvimento humano. Adaptando a arte marcial conforme as necessidades dos neurodivergentes, o mestre consegue ensinar movimentos e postura, mas também promove a empatia, o respeito e uma vida equilibrada.

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