Financiamento coletivo é alternativa para projetos saírem do papel
Por Juliana Santos
No banho, lavando a louça ou até na roda de amigos, surge uma ideia. Uma ideia tão grande quanto a necessidade de colocá-la em prática. Seu criador acaba aprimorando o projeto, convidando mais pessoas a fazer parte e assim tornar daquela inovação uma coisa única. Na hora de tirar a proposta do papel, a reviravolta: a falta de dinheiro para executá-la.
Para colocar esses projetos em uma esteira que se desloca até a finalização, nasceu o conceito do crowdfunding (crowd = multidão; funding = financiamento), que nada mais é que uma vaquinha online. Se o que falta é recurso financeiro para concretizar o trabalho, a partir desse tipo de financiamento coletivo é possível desengavetar o esboço e torná-lo real.
O Brasil já conta com diversos sites que oferecem esse serviço, a exemplo do Benfeitoria, do Kickante e do Clube do Financiamento coletivo. Mas quem deu o ponta-pé inicial no tipo de serviço no Brasil foi o Catarse.me, criado em 2011 e que hoje é o que mais recebe projetos a serem financiados. Vinte e sete categorias subdividem os assuntos, entre eles, Artes Plásticas, Música, Literatura, Educação e Comunidade.
Todos os sites de financiamento coletivo partem da mesma caracterização: o autor cadastra-se e vincula seu projeto com um vídeo de apresentação. Os futuros colaboradores podem escolher a quantia que lhe é possível doar em troca de uma recompensa. Quanto maior o valor, maior o estímulo. Se na data final para arrecadação do dinheiro a meta não for alcançada, a quantia é devolvida imediatamente a quem contribuiu com a causa cultural, social ou ambiental.
Projetos em Pelotas
Somente no Catarse.me já foram cadastrados cinco projetos da cidade de Pelotas. Três deles, das categorias Música, Fotografia e Meio Ambiente conseguiram recurso suficiente para colocar o projeto em prática.
Um dos projetos bem sucedidos da cidade foi o Cidade Selvagem , que parte da ideia de “tirar a arte das galerias e levá-la às ruas”, do grupo socioambientalista RASTRO, que existe em mais de vinte e oito cidades gaúchas e há cinco anos em Pelotas. O diretor administrativo e audiovisual da campanha, Gustavo Arruda, acredita que a meta tenha sido atingida porque os colaboradores confiaram de verdade na proposta. “Nosso trabalho é reflexo do quanto acreditamos no que propomos a fazer. Isso acaba contagiando as pessoas e empresas, assim elas acabam não querendo ficar de fora”, diz.
A plataforma do Catarse.me permite que o projeto seja apoiado por parceiros, contando com empresas como Red Bull e Wings For a Change. Se o projeto alcança certa porcentagem de doação, a empresa que o apoia completa instantaneamente o 100% necessário; foi o caso do projeto de Gustavo. Para ser amparado por essas empresas é preciso passar por uma seleção.
O Amor Abusado, trabalho do escritor Guilherme Pintto, não conseguiu alcançar a meta necessária para ser concretizado. Guilherme diz que pensou no financiamento como uma grande oportunidade de executar o que seus leitores queriam. O escritor já sabe a razão da iniciativa não ter dado certo: “As pessoas não sabem o que é o financiamento coletivo e isso dificulta a doação. Se tivessem mais campanhas sobre o objetivo do crowdfunding, facilitaria”, lamenta.
Essa forma de colaboração virtual só tende a ascender nos próximos anos. 2014 está sendo um ano com grandes projetos culturais e mesmo quem não possui condição de arcar com alguma quantia para ver algum projeto acontecer, pode divulgá-lo. Quem sabe ele não gira o mundo e encontra mais pessoas com interesse em ajudar.