Ayahuasca: droga ou bebida sagrada?
Pelotas cada vez mais se caracteriza por ser uma cidade cosmopolita. Aqui diversas culturas se encontram. Em todas as áreas a diversidade impera, resultado do choque cultural proporcionado pelos estudantes de todos os cantos, que vêm para cá em busca de formação. É possível sair da roda de samba e ir para um show de rock, comer feijoada ou sushi, acompanhar um sarau ou uma apresentação de malabares na praça Gen. Pedro Osório, acompanhar uma palestra ou uma aula de ioga, e tudo isso como dizia a música “ao mesmo tempo, agora”.
Entre essas inúmeras culturas, uma bastante curiosas é a do Santo Daime. Chegou aqui já há algum tempo, e junto veio sua filosofia de vida e boa parte de seus credos, baseados na consonância entre a natureza e o espírito, que por diversas vezes acaba atraindo o público de uma cultura mais contemporânea. Na origem dessa crença e de todas as suas peculiaridades, está um chá indígena com propriedades alucinógenas, que vem sendo alvo de acalorados debates: a ayahuasca, também conhecida como Chá do Santo Daime.
O começo do preparado da bebida
Foto: Reprodução (http://goo.gl/aGlH)
Produzido a partir de duas plantas, o cipó mariri ou jagube (Banisteriopsis caapi) e a folha chacrona ou rainha (Psychotria viridis), a bebida é considerada sagrada por diversas culturas indígenas e vem sendo comercializada por pessoas que alegam estarem “aptas a iniciarem novos seguidores”. A ayahuasca popularizou-se muito a partir da década de 80, quando muitos famosos passaram a “comungar” (como é chamado o ritual de beber o chá).
Rafaela Cardoso (27), estudante de Ciências Sociais da UFPel, é um dos exemplos de pessoas que consomem e recomendam a ayahuasca. Oriunda de Pelotas, Rafaela esteve por um bom tempo longe daqui. Nestas andanças, buscou hábitos mais simples, que a afastassem da correria do mundo moderno e aproximassem da natureza. Segundo ela, foi com a bebida que encontrou a paz que procurava. ”Eu vivia estressada, sentia falta de uma ligação com a natureza. Precisava acalmar o meu espírito e é isso que a ayahuasca proporciona: paz”, disse a estudante.
Cipó Mariri
Foto: Reprodução (http://goo.gl/sd7twK)
Em 2004, o consumo para fins religiosos da ayahuasca foi legalizado. Os seguidores do Daime afirmam que a bebida permite a limpeza espiritual, já os pesquisadores que estudaram o chá garantem que são apenas alucinações e por isso defendem a sua proibição. Os que a distribuem afirmam que não, que os resultados são benéficos, e que, excetuando algumas dificuldades iniciais em consumir a ayahuasca, ela é uma planta sagrada que propicia a paz espiritual e a comunhão com a natureza. A iniciação com a ayahuasca, aliás, é um evento a ser ressaltado, por provocar vômito e mal estar corporal.
“A primeira vez foi tenso. Eu fiquei completamente louca. Vomitei, meu corpo doía como se eu tivesse apanhado. Vi muitos animais. Mas tudo isso é normal nas primeiras vezes. Faz parte do processo de evolução do espírito que estava preso”, relatou Rafaela.
Seja uma experiência espiritual ou alucinógena, o fato é que, segundo conta a estudante, por apenas R$ 25,00 você pode participar de um ritual (que normalmente começa no fim da tarde estende-se até a madrugada) e tirar suas próprias conclusões. E isso bem aqui, no centro da Princesa do sul, contrariando as probabilidades geográficas. Seria de se surpreender, se já não estivéssemos acostumados com o quão plural é Pelotas.
