A alma da música da América
Orquestra de Instrumentos Autóctones e Novas Tecnologias (OIANT), da Universidade Nacional Tres Febrero (UNTREF), da Argentina faz espetáculo inovador no Teatro Guarany
Carlos Dominguez/Em Pauta
O mergulho sonoro e mítico na cultura original do continente. Pelotas recebe hoje a respeitada e original Orquestra de Instrumentos Autóctones e Novas Telecnologias. Pela primeira vez no Brasil – a orquestra tocou esta semana em Porto-Alegre, na UFRGS – o grupo une pesquisa, ensino e extensão em um original formato. Elaborada pelo maestro Alejandro Iglesias Rossi e a pesquisadora Susana Ferreres, diretor e vice-diretora da Escola de Criação Musical, Novas Tecnologias e Artes Tradicionais (UNTREF), de Buenos Aires, a orquestra potencializa a imersão no ambiente e paisagem cultural dos povos da América, unindo técnicas da música clássica tradicional e as sonoridades musicais ancestrais e novas tecnologias da composição contemporânea.
Para o compositor e assistente do diretor Juan Pablo, 35 anos, a orquestra é um projeto que busca a música da América que permite uma vivência de estudo e prática distinta.
“Me formei e estudei em um campo criativo. Aqui buscamos encontrar o compositor da América, uma busca mítica e espiritual, una busca de la persona”, disse Juan Pablo ao final de um dia estafante de organizar mais de meia tonelada de instrumentos e equipamentos para o espetáculo de hoje à noite.
Uma das características do trabalho dos diretores da orquestra Alejandro Iglesias e Susana Ferreres, é uma pesquisa forte junto as comunidades tradicionais, museus e outros pesquisadores da cultura americana. Assim, foram produzidos instrumentos musicais que só existiam em museus. E recuperadas sonoridades quase extintas.
“Encontramos muitos instrumentos quebrados por toda a América. O instrumento é a pessoa. Tem de ser produzido por quem vai tocá-lo. Esta é a alma de um outro tempo e outro modo de fazer música”, completa Juan Pablo.
Coma lotação esgotada, o espetáculo da orquestra hoje à noite no Teatro Guarany, fechando a 5 SIIEPE, da UFPEL terá como abertura a apresentação do Grupo de Percussão Pepeu. Para José Evérton, coordenador do projeto Pepeu, o trabalho desenvolvido pela Orquestra argentina não tem similar no Brasil.
“Eles unem o ensino de graduação, pesquisa e formação de professores em uma proposta diferenciada e de recuperação da própria identidade cultural das populações americanas. É um trabalho fantástico de música, cenografia e recuperação de mitologias ancestrais. Eles já fazem isso há mais de 15 anos, pelo mundo. E espero que o grupo de percussão do projeto Pepeu siga esta caminho, explica Zé Everton, depois de uma oficina com os integrantes da Orquestra e o mastro Iglesias e os alunos vinculados ao Pepeu.
O compositor, diretor, investigador e educador argentino, Alejandro Iglesias foi premiado pela Unesco em 1985 pela sua obra Ritos Ancestrais de uma Cultura Esquecida e em 1996 pela sua obra Angelus. Nascido em Buenos Aires em 1960, estudou composição na prestigiada Boston Conservatory of Music, no Estado Unidos, em 1980. Seguiu para Paris, onde estudou e compôs na Escuela Nacional de Música de Pantin. De volta a Argentina, na Universidad Nacional de Tres de Febrero criou a Orquestra de Instrumentos Autócones e Novas Tecnologias em 2004, já tendo se apresentado nos principais palcos do mundo. É uma proposta interdisciplinar que atravessa a investigação e composição musical. O projeto conta com a participação de docentes e alunos da Escola e das licenciaturas em Artes Eletrônicas e em Música, que, em suas performances, tocam desde a música popular de América até a música electroacústica contemporânea.
Hoje à noite será a vez de Pelotas se inserir nesta paisagem cultural e buscar os pontos de conexão com a proposta da Orquestra de encontrar dentro de nós a identidade dos povos ancestrais da América, com música, sons, poesia e imagens. O espetáculo é as 19 horas. Os ingresso eram gratuitos, porém já estão esgotado.