ANAIS
II CONGRESSO DE CUIDADOS PALIATIVOS DO MERCOSUL V.2 2017
Cuidado Integral de Singular na Rede de Cuidados Paliativos
Publicado em 12 de setembro de 2015 – ISSN 2674-7456, Edição 2
Unidade Cuidativa, FAMED / UFPel – Pelotas, RS
SUMÁRIO
ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM NOS CUIDADOS PALIATIVOS À CRIANÇA EM ESTÁGIO TERMINAL: REVISÃO DE LITERATURA 4
CONTEXTO NORMATIVO DOS CUIDADOS PALIATIVOS NO SUS 9
CORRENTE DO BEM: UM MODELO DE GESTÃO E HUMANIZAÇÃO NO CUIDADO HOSPITALAR 13
A EQUIPE MULTIPROSSIONAL NA ATENÇÃO A PESSOAS EM CUIDADOS PALIATIVOS 17
A FAMÍLIA DIANTE DA MORTE: A EXPERIÊNCIA DO LUTO ANTECIPATÓRIO EM CUIDADOS PALIATIVOS 22
A SAÚDE DO CUIDADOR NO CUIDADO PALIATIVO COMO OBJETO DE PESQUISA: UMA REVISÃO DE LITERATURA 35
A SIGNIFICAÇÃO DOS DESEJOS FRENTE À PROXIMIDADE DA MORTE: O OLHAR DE UMA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL 39
ATUAÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL NO LUTO INFANTIL: UM RELATO DE CASO 44
CONTRIBUIÇÕES DE ENFERMAGEM AOS FAMILIARES E PACIENTES TERMINAIS NO PERÍODO DE LUTO ANTECIPATÓRIO 52
CONVERSANDO COM E.L.A.: UM DESAFIO DA COMUNICAÇÃO EM CUIDADOS PALIATIVOS 56
CUIDADO INTEGRAL A CRIANÇA COM CÂNCER: POSSIBILIDADES PARA A ENFERMAGEM 60
CUIDADO PALIATIVO E O USO DO TOQUE TERAPÊUTICO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA 64
CUIDADOS PALIATIVOS AO PACIENTE COM CÂNCER: PAPEL DO ENFERMEIRO 68
CUIDADOS PALIATIVOS: UM OLHAR SOBRE OS CUIDADORES DE PACIENTES FORA DA POSSIBILIDADE DE CURA 72
EFICÁCIA DA TERAPIA DA DIGNIDADE PARA ADULTOS COM CÂNCER EM CUIDADOS PALIATIVOS 76
O DESAFIO DA INTEGRALIDADE NO ÂMBITO DOS CUIDADOS NO FIM DA VIDA DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS 84
OLHAR MULTIPROFISSIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: RELATO DE CASO 88
PERCEPÇÃO DOS CUIDADORES DE PACIENTES EM CUIDADOS PALIATIVOS 93
QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES ATENDIDOS NO PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA AO ESTOMIZADO 107
RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE CUIDADOS PALIATIVOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA 112
SOBRECARGA DOS CUIDADORES DE PACIENTES IDOSOS NA TERAPÊUTICA PALIATIVA 116
TERAPIA OCUPACIONAL E RECURSOS TERAPÊUTICOS: POTENCIALIDADES E VIVÊNCIAS NA ONCOLOGIA 120
COMUNIDADE CUIDADORA: UMA EXPERIÊNCIA DE COMPASSIONATE COMMUNITIES NO BRASIL 140
MÓDULO DE AUTO APRENDIZAGEM EM CUIDADOS PALIATIVOS E ÓBITO NO DOMICÍLIO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS 154
ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM NOS CUIDADOS PALIATIVOS À CRIANÇA EM ESTÁGIO TERMINAL: REVISÃO DE LITERATURA
Manoella Souza da Silva1; Daniele Luersen1; Liceli Berwaldt Crizel1; Luciana Farias1; Vera Lúcia Freitag2 ; Viviane Marten Milbrath3
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Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Pelotas/ RS.
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Mestranda em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Pe-lotas (UFPel). Enfermeira egressa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)/Campos de Palmeira das Missões – Rio Grande do Sul (RS). Bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Pelotas/ RS – Brasil.
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Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Enfermeira pela UFPel. Professora Adjunta da UFPel. Pelotas/RS – Brasil.
Introdução: O câncer infantil representa aproximadamente cerca de 0,5 a 3% de prevalência entre crianças em todo o mundo, representando uma das cinco principais causas de óbito, no Brasil estima-se um número de 9.890 casos por ano1. Os tumores pediátricos clinicamente apresentam rápido crescimento e alta capacidade invasiva, porém respon-dem melhor aos tratamentos sendo considerados de bom prognóstico2. Algumas crianças podem não responder aos tratamentos curativos, impossibilitando a perspectiva de cura, entretanto isso não significa que não há mais o que fazer, pois ainda há muito que possa ser feito para manter a dignidade do ser humano/criança. Neste contexto de assistência, constituem-se os cuidados paliativos que buscam ofertar alívio da dor por meio de suporte clínico, psicossocial e es-piritual à pacientes sem possibilidade de cura e seus familiares3. A morte é associada a inúmeros questionamentos e abrange sentimentos de impotência a todos os envolvidos no processo de morte, principalmente quando envolve uma criança em estado de terminalidade, pois se questiona o porquê de um ser que iniciou tão recentemente sua trajetória de vida, encontra-se agora na fase terminal dela4. Portanto, é necessário que os profissionais de saúde possuam sen-sibilidade e reconheçam o sofrimento humano, respeitando sua dignidade nas situações mais adversas, pois se sabe que não é possível vencer a morte, sendo assim é preciso amenizar o sofrimento da criança e da família, buscando um sentindo para esta experiência de perda5. Ressalta-se a participação do profissional de enfermagem no cuidado a estes pacientes em terminalidade, pois é ele que permanece ao seu lado em tempo integral, seja na assistência hospitalar ou domiciliar, estabelecendo laços de confiança entre profissional/paciente/família, o que facilita o processo de cuidado baseado em apoio e troca de sentimentos5.
Objetivo: Identificar a produção científica acerca da atuação do profissional de enfermagem nos cuidados paliativos à criança em estágio terminal.
Metodologia: A pesquisa compõe uma revisão integrativa, a fim de responder a seguinte questão norteadora: O que vem sendo produzido sobre a assistência de enfermagem nos cuidados paliativos à criança em processo de morte. As-sim, foram realizadas buscas na Base de Dados em Enfermagem (BDENF), no Sistema Online de Busca e Análise de Li-teratura Médica (MEDLINE) e na Base de Dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Para tanto, utilizou-se como descritores: child, nurse e palliative care, durante o mês de agosto de 2015. Destaca-se que foi utilizado “and” entre o descritor e a palavra-chave, como operador booleano. Foram definidos os seguintes critérios de inclusão e exclusão. Critérios de inclusão: acesso online livre aos textos completos, publicados entre os anos de 2010 a 2014, estudos em humanos, em português, artigos e que abordassem o tema e respondesse a questão norteadora. Critérios de exclusão: estudos que não respondiam a questão do estudo, teses ou dissertações e revisões de literatura.
Resultados: Após a análise das pesquisas, foram selecionados nove estudos. A partir das pesquisas analisadas, obser-vou-se que o profissional de enfermagem entende seu cotidiano no cuidado às crianças em cuidados paliativos como um processo complexo e desgastante, ressaltando que ocorre inevitavelmente o envolvimento com o sofrimento da criança e da família, porém consideram indispensável à capacidade de separar o profissional do emocional, alguns relatam que seria apropriado que, assim como paciente e família, os profissionais também recebessem apoio psicológico para lidar com as situações diárias. Os enfermeiros ao cuidarem de crianças com câncer em processo de terminalidade buscam ofertar qualidade de vida e alívio da dor e sintomas a elas, porém sabe-se que nessa faixa etária é difícil mensurar a dimensão da dor física. Ressalta-se que o enfermeiro compreende que não é suficiente cuidar somente do sofrimento físico, pois a criança deve ser vista como um indivíduo que necessita de cuidados físicos, psicossociais e espirituais, assim enfatizando a integralidade do cuidado. O profissional de enfermagem atua integralmente na assistência à criança com câncer em fase terminal, o que permite a consolidação de laços de carinho e confiança junto ao paciente e família, possibilitando que o profissional conduza o cuidado baseado em apoio nesse momento de fragilidade dos envolvidos. Observou-se que o principal objetivo dessa assistência em cuidados paliativos é proporcionar qualidade de vida e con-forto para a criança no momento final de sua vida, estimulando a participação efetiva da família nesse processo, pois é importante considerar cada instante como único e que deve ser apreciado e vivido junto à criança. Apesar de a doença acometer somente ao paciente, sabe-se que a família é envolvida por sentimentos de impotência frente ao diagnóstico de câncer, pois quando não existe mais possibilidade de cura e inicia-se o processo de terminalidade, o desespero toma conta do âmbito familiar, assim é importante que se trabalhe junto aos familiares buscando um sentido para situação de perda, ofertartando alívio e conforto para a criança e sua família. Constatou-se ainda, que os profissionais utilizam o diálogo como uma ferramenta indispensável à assistência destes pacientes, buscam conversar com as crianças fazendo com que as mesmas entendam que possuem ali, nos profissionais e em sua família, uma base para enfrentamento das situações cotidianas, não transparecem sentimentos de pena, mas sim de apoio e compreensão, assim as crianças vêem os profissionais como companheiros nesta trajetória. É preciso manifestar apoio desde o momento do diagnóstico, pois quando a família é informada que a criança deve iniciar os cuidados paliativos pela impossibilidade de tratamento curativo, a equipe de enfermagem age como uma base ofertando informações e apoio nesse momento em que tudo parece o fim, porém é o começo de uma jornada em que a criança e a família necessitam compreender o sentido da vida e da morte, e buscar conforto para enfrentar essa situação.
Conclusão: Conclui-se que, os cuidados paliativos desconstroem a idéia de que não há mais nada que se possa fazer frente ao diagnóstico de câncer sem possibilidade de cura, os profissionais de enfermagem são os mais presentes durante o processo de terminalidade, sendo estes os mais envolvidos com a criança e sua família. Nesse processo, os profissionais tem a compreensão de que ambos necessitam de cuidados que visem à manutenção de sua dignidade, oferecendo suporte para as dores físicas, psíquicas e espirituais, assim proporcionando qualidade de vida e de morte.
Descritores: criança; cuidados paliativos; enfermagem.
Eixo 1: Modelos de Atenção em Cuidados Paliativos.
Referências
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Mutti CF, Padoin SMM, Paula CC. Espacialidade do ser-profissional-de-enfermagem no mundo do cuidado à criança que tem câncer. Esc. Anna Nery, 2012; 16(3): 493-499.
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Monteiro ACM, Rodrigues BMRD, Pacheco STA. O enfermeiro e o cuidar da criança com câncer sem possibilidade de cura atual. Esc Anna Nery. 2012; 16 (4):741-746.
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França JRF, Costa SFG, Lopes MEL, Nóbrega MML, França ISX. Importância da comunicação nos cuidados paliativos em oncologia pediátrica: enfoque na Teoria Humanística de Enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2013; 21(3):
780-786.
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Silva AF, Issi HB, Motta AMC. A família da criança oncológica em cuidados paliativos: o olhar da equipe de enferma-gem. Cienc Cuid Saude. 2011; 10(4):820-827.
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Souza LF, Misko MD, Silva L, Poles K, Santos MR, Bousso RS. Morte digna da criança: percepção de enfermeiros de uma unidade de oncologia. Rev Esc Enferm USP. 2013; 47(1):30-7.
CONTEXTO NORMATIVO DOS CUIDADOS PALIATIVOS NO SUS
Olivia Albuquerque Ugarte1
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Analista de Atenção Primária na Coordenação Geral de Atenção Domiciliar do Ministério da Saúde; Especialista em Saúde Coletiva e Educação em Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS; Terapeuta Ocupacional pela Universidade Católica de Pernambuco UNICAP.
Introdução: O Brasil vive um franco processo de envelhecimento populacional que acompanhado do avanço tecnológico da segunda metade do século XX no campo da medicina diagnóstica e terapêutica, fez com que muitas doenças mortais se transformassem em crônicas, levando à longevidade de seus portadores. Isto culminou com aumento da prevalência das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), entre as quais se incluem as doenças circulatórias e respiratórias crô-nicas, diabetes e o câncer1. Esta realidade reverbera no cotidiano do Sistema Único de Saúde (SUS), com pacientes fora de possibilidade de cura que lotam serviços de saúde, recebendo assistência focada na terapêutica curativa, com méto-dos invasivos e alta tecnologia. Essas abordagens, ora desnecessárias, considerados “excessos” terapêuticos, levam ao aumento do sofrimento e de sintomas físicos, psíquicos e sociais, muitas vezes desconsiderados ou ignorados do ponto de vista do tratamento pelos médicos e pela equipe de saúde, sendo a dor o mais dramático2. O atual cenário sugere a urgente necessidade de conhecimento dos conceitos fundamentais em Cuidados Paliativos, bem como o acometimento de esforços para que se estabeleçam políticas de saúde voltadas para os indivíduos ao final da vida. O Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil enfrenta grandes desafios para o novo. A singularidade do tema demanda um debate de todos os setores envolvidos, baseando-se no proposto pelo movimento internacional dos cuidados paliativos, que, nas últimas décadas, preconizou uma atitude de total empenho e a valorização do sofrimento e da qualidade de vida como objetos de tratamento e de cuidados ativos organizados2. Considerando o conceito e princípios dos Cuidados Paliativos aponta-dos pela OMS3 e que a abordagem paliativa é a única opção real para a maioria dos pacientes portadores de doenças crônicas, a escolha do tema deveu-se à necessidade de levantar a inserção dos cuidados paliativos no Sistema único de Saúde do ponto de vista do seu marco legal e normativo federal nos últimos 12 anos e discutir a capacidade das normativas atuais de induzir a implantação da oferta de cuidados paliativos nos serviços públicos de saúde brasileiros.
Objetivo: O estudo objetiva realizar uma análise, do ponto de vista normativo, da inserção dos Cuidados Paliativos no Sistema Único de Saúde (SUS).
Descrição metodológica: Trata-se de uma pesquisa qualitativa de cunho exploratório. Utilizou-se como base de dados normativas federais, a partir do ano de 2002 até junho de 2014, produzidas pelo Ministério da Saúde e que incluem os cuidados paliativos nas políticas públicas de saúde.
Resultados: Foram encontradas nos últimos 12 anos publicações de onze portarias relacionadas à temática dos Cui-dados Paliativos e uma resolução publicada pela ANVISA, normativas legais de fundamental importância para a inser-ção dos cuidados paliativos no SUS, como a instituição do extinto Programa Nacional de Assistência à Dor e Cuidados Paliativos em 2002, até a publicação das portarias vigentes de atenção domiciliar no âmbito do SUS, Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer e a que redefine a Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas no âmbito do SUS.
Conclusão: Os achados deste estudo sugerem que houve iniciativas de formulação de políticas voltadas para os cuida-dos paliativos a partir de 2002, porém sem apresentar avanços efetivos por falta de definições normativas voltadas para a implantação de serviços, como por exemplo, ausência de linhas de financiamento federal. Considerando as normativas vigentes analisadas e comparando-as com os momentos anteriores observa-se que houve avanços significativos na contribuição efetiva da inserção dos cuidados paliativos no SUS, em especial no âmbito da atenção domiciliar e dos cui-dados paliativos oncológicos. A legitimação da inserção da prática paliativa no SUS ainda demanda de ações do Ministé-rio da Saúde no que diz respeito à formulação de políticas públicas mais contundentes, que contemplem definições das modalidades de atenção nos pontos de atenção na rede, com linhas de financiamento e possibilidade de monitoramento e avaliação, voltadas à atenção em cuidados paliativos de forma coordenada e integrada na rede de atenção à saúde.
Descritores: Cuidados Paliativos, Dor Crônica, Atenção Domiciliar.
Eixo 1: Modelos de Atenção em Cuidados Paliativos
Referências
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Brasil. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil. Brasília, DF: Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde,
2011. (Série B. Textos Básicos de Saúde).
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Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Manual de Cuidados Paliativos. Rio de Janeiro: Diagraphic, 2009.
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World Health Organization. (2014) Strengthening of palliative care as a component of integrated treatment within the continuum of care; (publicação online) 2014 [acesso em 2014 maio 17] Disponível em: http://apps.who.int/gb/ebwha/ pdf_files/EB134/B134_R7-en.pdf.
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Pastrana T, De Lima L, Wenk R, Eisenchlas J, Monti C, Rocafort J, et al. Atlas de Cuidados Paliativos de Latinoaméri-ca – ALCP. Houston: IAHPC Press, 2012.
CORRENTE DO BEM: UM MODELO DE GESTÃO E HUMANIZAÇÃO NO CUIDADO HOSPITALAR
Rafaella Giacomoni 1 , Sandro Carbonel Moraes 2 , Renata Garcia Pereira3 , Rafael Ramon da Rosa4
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Enfermeira Coordenadora Adjunta da Linha de Cuidado Adulto do HMGV
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Médico Intensivista, Responsável Técnico e Coordenador da UTI do HMGV
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Psicóloga Equipe Cuidados Paliativos
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Médico Coordenador da Linha de Cuidado Adulto HMGV
Introdução: A área da saúde pública é um ambiente único e desafiador para implantar mudanças na forma de gestão. O sucesso de prover cuidado em saúde na busca da qualidade, integralidade, eficiência, garantindo segurança com redução e controle de custos se dá através de uma mudança no modelo de gestão. Nesse sentido a gestão de fluxo de pacientes é uma forma de melhorar os serviços de saúde. A adaptação da relação entre a capacidade e a demanda, aumenta a segurança do paciente no ambiente hospitalar. Desse modo, torna-se essencial assegurar que os usuários recebam o cuidado certo no local correto, com o objetivo de tornar mais eficaz e efetiva as admissões e saídas dos mesmos da instituição. Consequentemente, diminui-se a permanência, promove-se uma maior rotatividade e contribui para otimizar o acesso dos usuários, baseado na qualidade e segurança dos processos. Por todas as questões aponta-das acima, procuramos pensar, modos de fazer a gestão que tomem como referência a produção do cuidado da forma mais integral e humanizada nos serviços, ao mesmo tempo, como referencial para a intervenção na gestão do trabalho em saúde a partir do cuidado centrado no paciente. Durante o período de março até outubro de 2014 coletamos dados da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Municipal Getulio Vargas (HMGV) e nos deparamos com a seguinte situação da UTI: taxa de ocupação de 98%, score SAPS 3 com uma mortalidade esperada de 65%, 15% dos pacientes internados na UTI entravam em cuidados paliativos, destes 70% nas primeiras 48hrs de internação, 12% dos pacientes de alta da UTI esperavam > de 24hrs para ter leito no andar, duração média de 13 dias de internação na UTI juntamente com uma emergência super lotada bem como a unidade de internação. Baseado nesse contexto, montamos um modelo de gestão com intervenções que promovessem o “bem” não só para UTI mas também para a emergência e enfermaria.
Metodologia: O modelo basicamente está centrado em duas intervenções implantadas em conjunto: uma equipe de cuidados paliativos e uma Unidade de Cuidados Intermediários (UCIA). A UCIA conta com 10 leitos, entre estes 2 leitos de cuidados paliativos (onde o acompanhante pode permanecer 24hrs), relação de 3 pacientes para 1 técnico de enferma-gem, 1 enfermeiro por turno, 3 turnos de fisioterapia, não possui médico e se destina principalmente para pacientes com traqueostomia, dependentes, egressos da UTI. Cuidados Paliativos tem como metas a avaliação e controle impecável da dor, assim como outros sintomas físicos, emocional, social e espiritual. Desse modo, está entre os principais aspectos dos cuidados paliativos proporcionar alívio da dor e outros sintomas desconfortáveis; reafirmar a vida e o morrer como um processo natural; não acelera ou adia a morte e também não a prolongar; integrar os aspectos físicos, psicológicos, sociais e espirituais na assistência ao indivíduo; oferecer um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver tão ati-vamente quanto possível até à morte; oferecer um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença e com seu próprio luto; intervenções de equipe interdisciplinar para atender as necessidades dos pacientes e suas famílias (in-cluindo o apoio ao luto); buscar a qualidade de vida até o momento da morte. Os cuidados paliativos são aplicáveis desde início da doença em conjunto com outras terapias que são destinados a prolongar a vida, tais como a quimioterapia ou terapia de radiação, e inclui as investigações necessárias para melhor compreender e tratar as complicações clínicas angustiantes. Em vista das recomendações da organização mundial de saúde ao cuidado humanizado aos indivíduos com doenças que ameacem a vida, constituiu-se a Equipe de Cuidados Paliativos (ECP) do HMGV. Contando com médi-cos intensivistas, psicóloga e enfermeira. ECP realiza busca ativa de pacientes na emergência do hospital, assim como consultorias solicitadas por outros profissionais. Dessa forma evitando que o paciente vá para UTI receber cuidados pa-liativos ficando distante da sua família, como já comentado anteriormente, esse paciente fica na UCIA com seu familiar 24horas. A fim de aprimorar os conhecimentos e reflexões teóricas sobre a área de conhecimento dos cuidados paliati-vos, ocorrem reuniões científicas semanais com leitura e discussão de artigos ou capítulos de livro com participação de toda a equipe. Outra atividade da ECP, são os acolhimentos de familiares. Estes ocorrem em duplas de profissionais, em uma ação que possibilita o esclarecimento de dúvidas sobre a doença e prognóstico, assim como acolhimento e escuta sobre o adoecer de um familiar próximo. O apoio ao familiar em luto após a morte do ente querido ocorre em grupos quinzenais com participação de toda a equipe dos cuidados paliativos. Para esse momento, são convidados os familiares próximos ao paciente que se sentirem convocados a falar sobre sua perda e compartilhar sentimentos, lembranças e novos projetos de vida. Como vimos, uma doença fora de possibilidades de cura, de modo algum apresenta a situação que “não há nada para ser feito”, pois o tratamento visa o controle de sua evolução, vigilância intensa e uma terapêutica especializada e absolutamente voltada para o alívio dos sintomas do paciente e atenção à família. O foco deixa de ser a doença, para voltar-se para a pessoa que possui uma doença e sua família.
Resultados: No período de dezembro de 2014 a fevereiro de 2015 após a implementação do conjunto de medidas chegamos aos seguintes resultados na UTI: Total de internações no período de 36 pacientes, sendo 52% sexo feminino e 48% sexo masculino, a idade média de 50 anos com um desvio padrão 18 anos. A maioria dos pacientes eram doenças clinicas (78%) e a minoria era devido a cirurgias (18%). O número de pacientes dia foi de 201, mantendo uma taxa de ocupação de 85%. A média de permanência de 7 dias com um índice de rotatividade de 2,85 e a mortalidade da UTI ficou em 27%. A mortalidade esperada calculada pelo escore SAPS 3 ajustado para América Latina foi de 42%.
Conclusão: A implantação desse modelo de cuidado sugere fortemente melhorias tanto no quesito qualidade de aten-dimento aos usuários bem como na redução de custos. Promovendo um aumento da rotatividade dos leitos fazendo com que as internações não ocorram tardiamente e as altas de forma mais precoce com um atendimento mais humanizado e multidisciplinar.
Descritores: Cuidados paliativos, Unidades de Terapia Intensiva, Humanização da assistência
Eixo 1: Modelos de Atenção em Cuidados Paliativos
Referências
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Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Manual de Cuidados Paliativos. Rio de Janeiro: 2009.
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Amaral AC, Rubenfeld GD. The future of critical care. Curr Opin Crit Care. 2009;15:308-13.
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World Health Organization. Better palliative care for older people. Geneva: Who; 2004.
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Jacques EJ. Implantação de Unidade Intermediária Hospitalar Através de Sistema Gerencial Estratégico Integrado ao Balanced Scorecard. Porto Alegre: Unimonte; 2003.
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Porter M, Teiserg E. Repensando a Saúde: Estratégias para Melhorar a Qualidade e Reduzir Custos. Porto Alegre: 2007.
A EQUIPE MULTIPROSSIONAL NA ATENÇÃO A PESSOAS EM CUIDADOS PALIATIVOS
Daniela Habekost Cardoso1; Rosani Manfrin Muniz2; Aline da Costa Viegas3, Isabel Cristina de Oliveira Arrieira4 e Michele Cristiene Nachtigall Barboza5
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Enfermeira do Programa de Internação Domiciliar Interdisciplinar (PIDI) do HE/UFPel. Mestre em Ciências.
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Professora da Faculdade de Enfermagem da UFPel. Doutora em enfermagem
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Enfermeira. Mestre em Ciências.
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Coordenadora Técnica do programa de Atenção Domiciliar do HE/UFPel. Doutora em Ciências.
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Professora da Faculdade de Enfermagem da UFPel. Mestre em enfermagem.
Introdução: O cuidado paliativo surgiu na Inglaterra na década de 1960, idealizado pela enfermeira e médica Cicely Saunders. Em 2002 a Organização Mundial de Saúde (OMS) conceituou cuidado paliativo como uma abordagem que objetiva melhorar a qualidade de vida dos pacientes e famílias no enfrentamento de doenças que ameaçam a vida, por meio da prevenção e alívio dos sofrimentos físicos, psicossociais e espirituais1. Esse recebe destaque como um modelo assistencial que considera o morrer como processo natural da vida2. No âmbito domiciliar ou hospitalar, o cuidado palia-tivo resgata a morte com dignidade e, para tanto, torna-se fundamental constituir uma equipe multidisciplinar afinada, sintonizada e harmônica, tendo como trabalho o cuidado integral da pessoa com escuta e acolhimento3. Neste sentido, a formação do profissional paliativista deve desenvolver a competência na condução diante da doença sem possibili-dades de cura e do enfrentamento da morte e luto, pois, muitas vezes, a morte pode ser percebida como derrota, uma frustração pessoal. E o confronto com estas dificuldades pode acarretar sérias consequências emocionais para a vida dos profissionais envolvidos e para qualidade e desempenho de seu trabalho. Este fato merece atenção de educadores e profissionais, sendo que atuar no campo paliativista exige não apenas conhecimento técnico-científico, como também um constante enfrentamento da morte e de suas implicações4. Por este motivo, consideram-se essenciais as iniciativas que estimulem o conhecimento e inclusão deste tema no discurso dos profissionais e serviços de saúde.
Objetivo: Conhecer a vivência de uma equipe multiprofissional na atenção a pacientes em cuidado paliativo no contexto hospitalar.
Metodologia: Estudo qualitativo, exploratório e descritivo. Desenvolvido em uma unidade clínica de internação de um hospital de ensino no Sul do Brasil. Os participantes do estudo foram seis profissionais que atuavam na unidade, selecionados de forma aleatória, e identificados por nomes fictícios, sendo um de cada área de atuação (enfermeira, nutricionis-ta, psicóloga, assistente social, fisioterapeuta e médica oncologista). Os dados foram coletados no período de setembro a dezembro de 2011, por meio de entrevista semiestruturada e posteriormente analisados pela proposta operativa de Minayo5. O projeto obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas, parecer nº 52/11.
Resultados: A equipe multiprofissional ao cuidar de pacientes que necessitam de ações paliativas apresentam diver-sas formas de compreender essa vivência. Os profissionais entendem como cuidado paliativo a assistência prestada ao paciente fora de possibilidade terapêutica de cura, no qual o objetivo é o controle dos sintomas. Nos depoimentos observa-se a preocupação com o alívio dos sintomas físicos, especialmente o controle álgico, e do sofrimento psicosso-cial, contudo, nenhum participante relatou a dimensão espiritual. Constata-se ainda, a inclusão da família como parte do cuidado e a necessidade de garantir qualidade de vida, concordando como a filosofia de cuidados paliativos definido pela OMS. Este pensar destaca-se em duas participantes: “Quando alguém está em cuidados paliativos é porque a pessoa não tem mais cura, a pessoa apenas vai ter um cuidado para morrer melhor, ou seja, vai ter uma qualidade de vida, vão aliviar a dor, conforto (Amanda, psicóloga)”. “Melhorar todos os sintomas que aquele paciente venha a sentir, todos os desconfortos, eu acho que a palavra mais adequada. E não só com relação a parte clínica, mas também psicológica, familiar e social (Claudia, médica)”. Ao iniciar a trajetória de trabalho com paciente em terminalidade, e que necessitam de cuidados paliativos, os profissionais encontram dificuldades em aceitar a finitude da vida, assim como a impossibi-lidade de impedir a evolução da doença. Contudo, o tempo trouxe mudanças em suas concepções e novos significados para o cuidado prestado. “No início foi muito difícil, trabalhar com a questão da terminalidade. Mas aí depois eu pude perceber que o papel da equipe era um papel fundamental, de auxílio daquele momento tão difícil […] Então o próprio trabalho, o próprio dia-a-dia e muitas famílias me ajudaram a conseguir lidar como essa situação (Isabela, assistente social)”. Os profissionais que fizeram parte desse estudo apresentam grande comprometimento com o cuidado. No entanto, nos relatos percebe-se conflitos e necessidades, ou seja, os desafios para qualificar o cuidado paliativo prestado. As participantes apontaram a falta de preparo da equipe de saúde da atenção hospitalar, com relação aos cuidados paliativos, sendo esse fato desencadeador de conflitos: “As vezes, se torna uma coisa cansativa, também por parte dos funcionários. Por que nem todo mundo está preparado para lidar com esse tipo de paciente. Por que quando tu tens um serviço específico para isso é diferente. Não é o nosso caso aqui (Aline, enfermeira)”. Em outros momentos é possível perceber a dificuldade de consenso nas ações da equipe multiprofissional, quando da realização de procedimentos que possivelmente não beneficiem o paciente: “Por exemplo, um paciente que tu sabe que não vai somar muito naquela do-ença dele, naquele momento, como a passagem de uma sonda, administração da alimentação por sonda. Mas tu te viu obrigada, as vezes, por insistência da própria família, por insistência de outros colegas na volta (Carolina, nutricionista).” Os participantes referem também a importância da educação para a boa prática de cuidados paliativos e a necessidade de discutir sobre questões que envolvem a espiritualidade do profissional, também como modo de qualificar assistên-cia prestada ao paciente em terminalidade: “Então falta uma discussão, acho que a terminalidade em relação não só ao conhecimento científico, mas na parte de espiritualidade de preparação do profissional para entender essa morte, não sei se para entender, mas para discutir realmente (Ana, fisioterapeuta). Desse modo, torna-se fundamental ações propostas pelos serviços de saúde que promovam conhecimento cientifico e apoio emocional e espiritual para a equipe multiprofissional de acordo com a filosofia paliativa.
Conclusão: Destaca-se que a atenção ao paciente com câncer avançado dependente de cuidados paliativos neces-sita ser refletida e fortalecida também nas instituições hospitalares, pois, muitas vezes, condições socioeconômicas e físicas, como dificuldade de controle de sintomas, falta de um cuidador, assim com a escassez de leitos e equipes de internação domiciliar impossibilitam a permanência dele no seu domicílio, sendo necessária a hospitalização. Neste momento, a equipe multiprofissional deve estar apta para atender as suas necessidades de forma integral e humani-zada, articulando ações que garantam uma sobrevida digna e controle adequado dos sintomas físicos, psicológicos e espirituais, conforme recomenda a filosofia paliativista, compreendendo este ser e sua família na sua subjetividade e complexidade, a quem ainda se tem muita a fazer. Sobretudo, percebe-se a necessidade de preparo teórico-prático e apoio psicológico e espiritual à equipe multiprofissional que promove cuidados paliativos.
Descritores: Equipe de assistência ao paciente. Cuidados paliativos. Assistência hospitalar.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos
Referências
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Organização Mundial da Saúde. Definition of palliative care. Genebra: OMS, 2002. Disponível em:<http: www. who.int/ cancer/palliative/definition>Acesso em: 20 abr. 2015
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Brasil. Ministério da Saúde. Caderno de atenção domiciliar. 2ª ed. Brasília (DF): Editora MS, 2013.
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Kovács MJ. A caminho da morte com dignidade no século XXI. Revista Bioética, v.22, n.1, p.94-104, 2014.
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Fonseca A, Geovanini F. Cuidados paliativos na formação do profissional da área de saúde. Revista brasileira de edu-cação médica, v.37, n.1, p.120-125, 2013.
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Minayo, MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12ª ed. São Paulo (SP): HUCITEC; 2010.
A FAMÍLIA DIANTE DA MORTE: A EXPERIÊNCIA DO LUTO ANTECIPATÓRIO EM CUIDADOS PALIATIVOS
Keyla Correa Montenegro1
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Psicóloga especialista em Luto pelo Instituto Quatro Estações de Psicologia; Mestranda em Psicologia da Saúde do Centro Universitário de Brasília – UniCeub.
A família vive junto com o paciente a dor de vê-lo se despedir lentamente, este apresentando, aos poucos, sinais cada vez mais claros da irreversibilidade de seu quadro. Configura-se assim um período de constante elaboração denominado luto antecipatório: processo vivido pelo paciente e sua família no período entre o diagnóstico, evolução da doença, pro-gressiva ameaça da perda e a morte, que envolve a angústia e dor da separação que se manifestam através de reações emocionais diversas. Apesar de doloroso, o luto que antecede a morte pode transformar a despedida em uma experiên-cia de fortalecimento de laços afetivos, ressignificações e crescimento1. A atenção neste período torna-se fundamental, uma vez que a vivência do luto antecipatório tem relações diretas com o luto após a morte². A depender das dinâmicas familiares e de outros fatores, a família sozinha pode não ter todos os recursos necessários para se adaptar a essa difícil situação, o que torna essencial a presença acolhedora de profissionais competentes, entre eles, o psicólogo3. Os cuida-dos paliativos correspondem a um modelo de assistência que prioriza a qualidade de vida de pacientes cujas enfermida-des são irreversíveis, agindo precocemente e integrando os aspectos psíquicos, sociais e espirituais³. A família quando acompanhada por este tratamento desenvolve com a equipe uma relação de colaboração que permite sentir-se apoiada, facilitando a resolução das questões pendentes, expressões de emoções, realização de despedidas, que são elementos fundamentais para amenizar o sofrimento e viabilizar a elaboração do luto antecipatório, prevenindo assim, futuras complicações1. Este trabalho objetivou identificar, a partir de uma revisão sistemática da literatura seguida da análise de conteúdo dos artigos selecionados, como o luto antecipatório vem sendo estudado, principalmente no que tange às situações de iminência de morte sob tratamento em cuidados paliativos. A revisão sistemática da literatura do presente estudo foi realizada através de duas bases de dados: BIREME e Scielo. A busca foi realizada em Junho de 2014 e abarcou estudos em português e inglês utilizando-se como critério o ano de publicação disponibilizando os artigos datados a partir de 2009. Na base de dados BIREME, foram utilizados como descritores da busca as palavras chaves “cuidados pa-liativos”, “luto” e “luto antecipatório”. Foram encontrados nessa base de dados 74 artigos. A partir da leitura dos resumos e da disponibilidade dos mesmos em texto integral, foram selecionados apenas 04 artigos. Em relação à base de dados da Scielo, a busca foi realizada com as mesmas palavras chave, o que resultou em 118 artigos, dos quais foram sele-cionados 03 para este trabalho. Como critério de seleção dos artigos relevantes para essa pesquisa, foram selecionados aqueles que envolvessem: os encargos emocionais envolvidos no cuidado com um paciente em terminalidade; família em contexto de cuidados paliativos; luto antecipatório. Somadas as buscas, este trabalho foi realizado com a análise de 07 artigos. A análise dos artigos selecionados foi realizada a partir de dois eixos: (1) diagnóstico e luto antecipatório; (2) cuidados paliativos e luto antecipatório. Os eixos de análise foram assim divididos pela predominância do assunto nos artigos selecionados. Como resultado do primeiro eixo de análise, verificou-se que a literatura destaca o momento do diagnóstico como o início do processo de perdas concretas e simbólicas, que acomete o sistema familiar como um todo. Foi unânime entre os artigos estudados o destaque dado ao momento do diagnóstico como um momento de ruptura, cuja necessidade de adaptação imediata pode levar a uma crise. Os artigos apontam, inclusive, que as famílias possuem configurações diversas e seu funcionamento é singular, de forma que a experiência da crise decorrente do adoecimento de um de seus membros pode tanto fortalecer os laços afetivos quanto potencializar os conflitos. O conteúdo dos artigos demonstra a importância da compreensão das relações familiares para o desenvolvimento do processo de luto. Além disso, as experiências de perdas anteriores terão importância significativa neste momento, uma vez que estas darão a forma do luto antecipatório. Sendo assim, perdas não elaboradas anteriormente, podem ser complicadores do processo atual². Também ressalta-se o progresso da doença como o gatilho para mudanças significativas no funcionamento da família, como as demandas de cuidados que se tornam mais intensas, muitas vezes com a necessidade de um cuidador integral e o custo oneroso desses cuidados geram sentimentos ambivalentes que envolvem o desejo pelo fim do sofri-mento do paciente e pelo próprio descanso, mobilizando sentimentos de culpa e remorso². Os artigos exploraram muito pouco a característica ambivalente da experiência de luto antecipatório, que ao mesmo tempo em que o adoecimento intensifica e aproxima os laços afetivos por meio do cuidado, inicia-se o processo defensivo de afastamento necessário para possibilitar convivência com a ausência e o vazio deixado por aquele ente querido5. Este dado se torna importanteprincipalmente quando estes mesmos artigos reconhecem que as intervenções realizadas no período que antecede a morte têm caráter preventivo às possíveis complicações no luto após a morte. Identificou-se na revisão sistemática da literatura que as estratégias de suporte na família envolvem: promoção da comunicação efetiva, envolvimento da família nos cuidados, preparar a família para a morte, permitir que a família participe na morte e preparar para o luto. Apesar da maioria dos autores, como visto nas descrições acima, identificar e incentivar que medidas sejam tomadas no período anterior à morte visando dar suporte ao sofrimento, apenas três trabalhos identificaram diretamente a presença de luto antecipatório no período que contempla o adoecimento e a morte. Com relação ao segundo eixo de análise, referente aos cuidados paliativos, os artigos apontaram que neste modelo de atendimento o acompanhamento da família é parte intrínseca do tratamento tanto para ser foco da atenção quanto para ser uma unidade colaboradora da equipe³. Apontado pelos autores como um princípio norteador, o cuidado com a família e o suporte ao luto aparecem como parte intrínseca dos cuidados paliativos, revelando uma relação direta entre o desenvolvimento e elaboração do luto antecipatório e o modelo de assistência. As estratégias apontadas pelos trabalhos aqui destacados como facilitadoras da elaboração do luto antecipado envolve o vínculo consistente com a unidade de cuidados, a promoção do ritual de despedidas, que consiste na criação de um espaço permissivo e seguro para o compartilhamento das emoções e resoluções de conflito, colaborar para incluir a família ativamente no cuidado, investimento na comunicação afetiva e preparação para a morte, sendo todas medidas realizadas em cuidados paliativos. O que sugere a forte relação entre cuidados paliativos e luto antecipatório da família como um todo. Como considerações finais, o estudo observou a forte relação entre os cuidados paliativos, enquanto modelo de assistência profissional, e o desenvolvimento e elaboração do luto antecipatório, ainda que na maioria dos artigos não se encontrasse tal terminologia, os processos familiares que antecedem a morte foram destacados em ambos os eixos de análise como parte intrínseca da atenção, não sendo possível, portanto realizar os cuidados paliativos sem o cuidado com o luto antecipatório. No entanto, durante a pesquisa verificou-se que a esmaga-dora maioria dos estudos que relacionam cuidados paliativos e luto referem-se ao luto pós-morte, o que sugere que o luto antecipatório necessitaria de maior atenção da academia, devido à sua importância para a experiência vivenciada, como foi apontado pelo presente estudo.
Descritores: Luto; Cuidados Paliativos; Psicologia.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos
Referências
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Pessini L. A filosofia dos cuidados paliativos: uma resposta diante da obstinação terapêutica. In Pessini L, Bertachini L. Humanização e Cuidados Paliativos. São Paulo: Loyola; 2006. p. 181-204.
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Genezini D. Assistência ao Luto. In Carvalho R, orgs. HP. Manual de Cuidados Paliativos ANCP.: ANCP; 2012. p. 569-595
A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO NO TRATAMENTO DE PACIENTES ONCOPEDIÁTRICOS EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM CAMINHO TERAPÊUTICO QUE INTEGRA EQUIPE, FAMÍLIA E PACIENTE
Francine Rossignolo Londero1, Bibiana Altenbernd2, Fernanda de Carvalho Cañete2 Lívia Bisso Nunes3
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Psicóloga no Hospital da Criança Santo Antônio, Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
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Psicóloga pela PUCRS
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Graduanda de Psicologia na PUCRS
A comunicação é imprescindível para os seres humanos e, quando se trabalha com o cuidado, torna-se fundamental. Trata-se de um processo complexo, o qual envolve percepção, compreensão e troca de mensagens verbais e/ou não verbais. Para além das suas funções cotidianas, a comunicação pode ser considerada medida terapêutica, pois permi-tem que o paciente expresse seus medos, angústias e dúvidas, contribuindo diretamente para a diminuição do estresse, exercitando e garantindo sua autonomia. Juntamente às informações propriamente ditas, a dimensão emocional e o afeto que são comunicados para o paciente e familiares auxiliam no processo de cuidado com os mesmos, criando vínculo entre a equipe assistencial e a família e gerando sentimentos de segurança e empatia¹. Por meio de práticas do Serviço de Psicologia desenvolvidas na Oncologia Pediátrica do Hospital da Criança Santo Antônio, em Porto Alegre, possível observarmos a importância da comunicação integrada no tratamento de pacientes oncológicos pediátricos, especialmente quando pensamos nos pacientes em cuidados paliativos. Neste trabalho, temos como principal objetivo desenvolver formas de estabelecer uma comunicação efetiva dos integrantes da equipe entre si, com a família e com o/a paciente. Por meio dessas estratégias de comunicação, objetiva-se estabelecer relações assertivas entre equipe, família e paciente, bem como facilitar os processos de elaboração associados especialmente aos cuidados paliativos. Entendemos que, independente da faixa etária do/a paciente, é imprescindível que possamos articular uma linha de cuidado comprometida em fornecer informações claras, objetivas e adequada ao contexto e a idade do receptor das in-formações. Ao reconhecermos os direitos estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, regulamentado pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990², salientamos o entendimento dos/as pacientes enquanto sujeitos de direito à liberdade, à dignidade e ao respeito da inviolabilidade de sua integridade física, psíquica e moral. Por conseguinte, buscamos asse-gurar o direito do/a paciente à plena compreensão daquilo que ocorre com seu próprio corpo na situação de adoecimento, primando pela clareza e honestidade nas informações e, simultaneamente, oferecendo o suporte emocional neces-sário para elaborar aquilo que lhe é comunicado nas diferentes circunstâncias que se apresentam. Para isso, partimos do comprometimento da equipe em prol de um trabalho interdisciplinar coeso, alicerçado em relações que priorizem a horizontalização e visem aproximar-se progressivamente da transdisciplinaridade. Quando falamos em interdisciplina-ridade, estamos falando de integração entre as disciplinas e troca entre os especialistas, resultando em enriquecimento das disciplinas, ampliação na construção do saber e, por conseguinte, oferecendo um cuidado integralizado ao sujeito que se encontra diante da equipe multidisciplinar. Por meio de um trabalho cada vez mais integrado, busca-se alcançar a transdisciplinaridade, em que se tornam gradativamente mais tênues os limites entre as disciplinas, indo além das tro-cas e se aproximando de um ser humano que é completo, e como um todo, não se reduz às segmentações didáticas³. O método que utilizamos constitui-se primordialmente na realização de rounds semanais e reuniões com as famílias dos pacientes. Os rounds são momentos em que a equipe multidisciplinar se reúne para compartilhar informações sobre os pacientes e discutir condutas, com frequência regular, em um espaço adequado e contando com a participação ativa de representantes de todas as especialidades envolvidas no cuidado ao paciente: medicina, enfermagem, psicologia, nutrição, farmácia, serviço social, bem como outros profissionais conforme for necessário, nos diferentes casos e situações. As reuniões com as famílias dos pacientes têm como objetivo a criação de um espaço de diálogo entre equipe e família para abordar aspectos que envolvem diagnósticos, mudanças de prognósticos e ajustes nas relações e nas informações circulantes. Além disso, nossa abordagem inclui auxílio prático na comunicação família-paciente, a fim de auxiliar no entendimento das informações fornecidas e trabalhar os sentimentos despertados pelo adoecimento, tratamento, prog-nóstico e internação. A partir dessas práticas e dos achados da literatura, observamos que ocorrem aproximações nas relações de cuidado que, para além do aprimoramento do serviço oferecido, contribuem fundamentalmente para um processo de genuína humanização dos cuidados paliativos pediátricos4. Entre membros da equipe, é possível perceber o respeito e o suporte mútuo que se constroem quando a comunicação é assertiva, incluindo acolhimento das emoções que emergem dos profissionais em circunstâncias mobilizadoras. Na comunicação entre familiares e paciente, as orientações e mediações frequentemente contribuem para o estreitamento saudável dos laços familiares, fortalecendo os sujeitos que vivenciam momentos delicados como os cuidados paliativos e terminalidade. Com informações claras, objetivas e afetivas, constroem-se relações de confiança que facilitam o processo de tratamento para todos envolvidos, abrindo também espaço para a necessária elaboração emocional e contribuindo para as vivências da família no luto antecipatório e no enlutamento após o óbito do paciente4;5. Trata-se, assim, de um cuidado comprometido com o bem–estar do paciente e da família para além dos momentos vivenciados no ambiente hospitalar. Tais resultados evidenciam a importância dos papéis de cada integrante da rede de cuidado que inclui os membros da equipe multidisciplinar, os familiares e o/a paciente. É construída uma relação de co-responsabilização pelo tratamento em que cada um tem suas respectivas funções, sendo todas fundamentais para que o processo ocorra adequadamente. Assim, expressões de afeto e empatia na relação equipe-família-paciente mostram a coesão entre os membros desse conjunto, bem como a responsabilização, o comprometimento e a construção de vínculo terapêutico, a fim de engendrar um processo integra-lizado e implicado na complexidade dos sujeitos e das relações envolvidas.
Descritores: Psicologia; Serviço Hospitalar de Oncologia; Comunicação Interdisciplinar.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos
Referências
1.Camargo B, Kurashima A, organizadores. Cuidados Paliativos em Oncologia Pediátrica. São Paulo: Lemar; 2007.
2.Brasil. Lei n° 8069, de 13 de Junho de 1990, Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras pro-vidências. [internet]. Brasília, 13 Jun 1990. [acesso em 2015 Jun 19]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-vil_03/LEIS/L8069.htm
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Rúmen FA. Complexidade e Transdisciplinaridade em Saúde. In: Veit MT, organizador. Transdisciplinaridade em On-cologia: caminhos para um atendimento integrado. São Paulo: HR Gráfica e Editora; 2009. p. 31-38.
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Sousa KC, Carpigiani B. Ditos, não ditos e entreditos: a comunicação em cuidados paliativos. Psicol Teor Prat. [periódico online]. 2010 [capturado em 2015 Jun 19]; 12(1): 97-108. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1516-6872010000100009&script=sci_arttext
A MULTIDIMENSIONALIDADE DO CUIDADO DE ENFERMAGEM AO PACIENTE ONCOLÓGICO PEDIÁTRICO EM CUIDADOS PALIATIVOS
Bruna Ferreira Ribeiro1, Caroline Lemos Leite1, Karen Benitez Rodrigues1
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Acadêmicas de enfermagem pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).
Introdução: o cuidado paliativo pediátrico visa gerar o cuidado ativo e integral a criança, de modo que haja o envolvi-mento da família neste contexto, pois esta é parte integrante e essencial para o cuidado. O paliativismo em pediatria pode ser implementado mesmo com recursos limitados, podendo estar presente nos mais diversos níveis de atenção saúde. Este requer atenção de uma equipe multiprofissional que tem por objetivo procurar avaliar e aliviar as três dimensões do cuidado: físicas, psicossociais e espirituais, do paciente e sua família de maneira personalizada1-2. Como propagador e protagonista do cuidado, o enfermeiro possui papel fundamental nos cuidados paliativos em pediatria, devendo proporcionar uma assistência com abordagem holística e humanizada à criança e seus familiares, de modo que estes vivenciem a experiência da terminalidade da melhor forma possível.
Objetivo: ilustrar as diversas dimensões do cuidado de enfermagem prestados ao paciente pediátrico oncológico e sua família, bem como as percepções e sentimentos dos enfermeiros frente a este modelo de atenção.
Descrição metodológica: trata-se de uma revisão de literatura consultada nas bases de dados SciELO e LILACS. Foram utilizados os seguintes descritores: cuidados paliativos, enfermagem, enfermagem oncológica, oncologia pediá-trica, pediatria. Por meio desta busca encontrou-se artigos publicados entre 2009 e 2014, que atendiam aos descritores utilizados.
Resultados: Os enfermeiros que prestam cuidados a crianças em cuidados paliativos procuram promover medidas de conforto, manter qualidade de vida e atender as necessidades destes e de sua família. Destaca-se também a abordagem da subjetividade do ser, através do cuidado espiritual e psicossocial, além da atenção a família de maneira humanizada. As medidas de conforto e qualidade de vida citadas pelos enfermeiros no âmbito físico, envolvem o controle de sintomas comuns na terminalidade, como náusea, fadiga, dispneia, destacando a dor, onde o enfermeiro deve ter conhecimento a fim de avaliar e dimensionar sua complexidade 3-4. Em cuidados paliativos pediátricos para proporcionar um controle de sintomas eficaz e de qualidade, é essencial que o enfermeiro tenha conhecimento a respeito da fisiopatologia dos diferentes tipos de câncer e seus tratamentos, bem como o processo de crescimento e desenvolvimento da criança5. Também foram citadas medidas de conforto psicológico, espiritual, onde os profissionais relataram realizar determina-dos desejos dos pacientes, desde que não prejudique seu estado de saúde, além de tentarem proporcionar que estas crianças vivam como tal até o momento que sua condição física permitir, utilizando de brincadeiras, vídeos, dentre outros recursos lúdicos, pois estes tornam-se um refúgio para a doença diminuindo a tensão e o estresse, deixando a hospitalização menos traumática. Outro artifício a ser utilizado para proporcionar conforto ao paciente, são as terapias complementares, que podem ser utilizadas conforme cada caso e aceitação do paciente e familiares 3-4. O cuidado psicossocial envolve ações simples como o toque, afago, conversa, o abraço e a escuta, devendo este ser individua-lizado conforme as necessidades de cada criança e sua família. Outra dimensão a ser abordada é a espiritual, que se faz importante, pois auxilia no processo de cuidar, proporcionando a muitos pacientes e familiares maior tranquilidade e aceitação a respeito da terminalidade3. Cuidar da família é essencial, pois ela é parte integrante e fundamental para cuidado multidimensional em enfermagem, onde a relação destes com a equipe deve ser honesta e sincera. O vínculo entre o enfermeiro, família e criança é embasado no diálogo e escuta, que propicia o cuidado integral, além de passar confiança para os que recebem a assistência, diminuindo o medo e ansiedade do tratamento. O enfermeiro deve ser uma figura acessível e próxima a fim de propiciar o fortalecimento do elo com a família e paciente, e aguçar sua sensibilidade para abordagem da subjetividade no cuidar. Destaca-se a importância do profissional fornecer ações de educação a respeito da doença e tratamento, bem como reflexo desta no estado de saúde da criança de forma clara e objetiva, para que o paciente e seus familiares detenham o conhecimento sobre o que ocorre com o corpo do doente5. No paliativismo comum a ocorrência de internações constantes e longas, tal fato faz com que a equipe de saúde acabe por vezes criando um vínculo forte com os pacientes e suas famílias. Quando ocorre a morte, é necessário que os enfermeiros estejam preparados a lidar com ela, pois esta pode gerar sentimento de impotência e fracasso, vinculado a doença que não possui cura e por se tratar de uma criança, que possui sua imagem ligada a vida e não a terminalidade, onde o profissional pode se questionar se realmente fez tudo o que poderia pela vida daquele paciente. A experiência, a idade e a vivência de cada ser é o que determina como cada profissional irá lidar com a morte. O desgaste emocional muitas vezes é inevitável, sendo necessário o fornecimento de apoio psicológico para evitar o esgotamento laboral5.
Conclusões: Percebe-se que os enfermeiros procuram promovem medidas de conforto e qualidade de vida de for-ma holística, abordando as dimensões física, psicológica e espiritual, de maneira individualizada a criança e família. O cuidado aos familiares se faz importante para o desenvolvimento das diversas dimensões de cuidado humano, sendo o elo entre a equipe e estes a principal ferramenta para esta abordagem. O envolvimento emocional proporcionado pelo vínculo forte entre a equipe, família e criança, por vezes acaba manifestando sentimento de impotência e fracasso pelos cuidados prestados após a morte do paciente. Isto remete a importância do aporte psicológico aos enfermeiros de pacientes pediátricos em cuidados paliativos, a fim de evitar o esgotamento destes e manter a qualidade do cuidado prestado. Conclui-se que os enfermeiros devem procurar proporcionar a estas crianças e suas famílias, em todas as dimensões da assistência, um cuidado de forma sensível e próxima, sempre atrelado ao saber técnico-científico, ambos são a base para um serviço de enfermagem de qualidade e humanizado.
Descritores: Enfermagem Oncológica, Cuidados Paliativos, Pediatria.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos.
Referências
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Sevilha M. Ministério da Saúde (BR). Instituto Nacional do Câncer. Cuidado Paliativo em Pediatria [Internet]. 2012.
Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/inca/Pediatria.pdf
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Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Manual de Cuidados Paliativos. 1a ed. Rio de Janeiro: Diagraphic, 2009, 320p
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Monteiro ACM, Rodrigues BMRD, Pacheco STA, Pimenta LS. A atuação do enfermeiro junto a criança com câncer: Cuidados paliativos. Rev enferm UFRJ. 2014 nov/dez; 22(6):778-83.
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Costa TF, Ceolim MF. A enfermagem nos cuidados paliativos à criança e adolescente com câncer: revisão integrativa da literatura. Rev gaúch enferm. 2010 dez; 31(4):776-84.
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Avanci BS, Carolindo FM, Góes FGB, Netto NPC. Cuidados Paliativos à criança oncológica em situação viver/morrer: A ótica do cuidar em enfermagem. Rev Enferm Esc Anna Nery. 2009 out-dez; 13(4):708-16.
A SAÚDE DO CUIDADOR NO CUIDADO PALIATIVO COMO OBJETO DE PESQUISA: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Bruna Maffei1 e José Ricardo Sousa Costa2
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Psicóloga graduada pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Residente do Programa de Residência Multipro-fissional em Atenção à Saúde Oncológica do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas.
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Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofaciais – UFPel e Mestrado em Diagnóstico Bucal PPGO/UFPel.
Instituição: Residência Multiprofissional em Atenção à Saúde Oncológica do Hospital Escola/UFPel
Introdução: O cuidado paliativo pode ser definido como o manejo voltado à qualidade de vida do paciente oncológico, bem como a de seus familiares, que podem vivenciar diferentes problemas relacionados à doença. Para tanto, a atuação multidisciplinar pode prevenir e aliviar os sintomas para uma melhor avaliação, manejo da dor e demais alterações relacionadas à saúde física, psicológica, social e espiritual1. Porém, tanto quanto a do paciente, a saúde do cuidador igualmente apresenta alterações relacionadas à atenção em oncologia e que tem sido objeto de pesquisa na literatura vigente 2,3. O conceito de saúde pode ser entendido como a integração das dimensões biopsicossocial e espiritual, mas ainda que citadas em múltiplos materiais científicos, a sua real mensuração nem sempre é baseada em evidências 4,5 . Outro fato, é que um grande número de profissionais da saúde não tem acesso aos diferentes periódicos disponíveis nas importantes bases de dados devido a restrições de acesso as publicações, o que acaba sendo um significativo limitador para aqueles que desejam consultá-los.
Objetivo: Identificado com a Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos, o objetivo do presente trabalho é verificar na literatura recente a forma de exploração do conceito de saúde em relação ao cuidador de paciente oncológico no cuidado paliativo, considerando a metodologia utilizada pelos estudos.
Método: O presente estudo trata-se de uma revisão da literatura dos últimos cinco anos dos trabalhos disponíveis na forma de acesso livre (“free full text”), caracterizando uma amostra de conveniência, na base de dados PubMed. Utilizou–se os descritores “palliative care and caregivers and oncology or cancer” e foram selecionados apenas os artigos que tivessem relação com os termos propostos e que abordassem em algum momento ao longo do texto a saúde do cuida-dor. Após a seleção dos artigos verificou-se a relação da metodologia e a forma de exploração, se objeto de estudo ou apenas citação, das dimensões da saúde em cuidadores.
Resultados: Foram encontrados um total de 35 artigos, dos quais foram selecionados 10, uma vez que apresentaram relação com o objetivo e a metodologia do presente estudo. Quanto ao delineamento foram verificadas três revisões de literatura não sistematizadas, dois ensaios clínicos randomizados, quatro estudos observacionais, sendo dois lon-gitudinais e dois transversais e um estudo qualitativo de relato de caso. Dentre os artigos selecionados, sete tiveram como parte integrante de seu objetivo de estudo o cuidador, sendo que os demais apenas mencionaram-no ao longo do texto. As dimensões na sua totalidade (físicas, psicológicas, sociais e espirituais) foram citadas e/ou descritas por seis artigos e efetivamente mensuradas, através da aplicação de questionários, em somente dois desses estudos. A dimensão física foi identificada em seis artigos, dos quais não verificaram a avaliação direta das condições físicas de saúde do cuidador sendo exploradas indiretamente nas formas de questionários e entrevistas. Contudo, a dimensão psicológica foi abordada em todos os artigos selecionados, o que pode ser explicado pelos possíveis transtornos e/ou problemas psicológicos associados ao contexto da oncologia, envolvendo a cronicidade da doença desde o diagnóstico, seu tratamento e envolvimento na fase de cuidado paliativo. Entendendo dessa forma, a relevância em se prestar uma atenção psicológica especial também ao cuidador ao longo desse processo de cuidados ao paciente. O componente social foi abordado em sete artigos, dos quais dois mensuraram as repercussões na dimensão e cinco citaram e/ou descreveram sem uma exploração metodológica do tema. Dessa forma, pôde observar-se a relevância da necessidade do apoio social no enfrentamento da doença, principalmente no cuidado paliativo. A dimensão espiritual permite uma melhor aceitação e enfrentamento por parte do paciente, bem como de cuidadores frente ao adoecimento e as mu-danças decorrentes. Todavia, ainda que exista uma ampla gama de trabalhos comprovando a relação entre a doença e a dimensão espiritual, evidenciou-se a presença do componente em seis trabalhos. Sendo que somente um trabalho mensurou o aspecto espiritual em seu objetivo. O trabalho apresenta como limitações a pesquisa realizada em apenas uma base de dados, porém esta é uma das mais importantes da área da saúde; assim como a restrição do tempo de publicação dos artigos somente para os últimos cinco anos, o que não o descaracteriza justificando pela rápida evolução do conhecimento científico; e a disponibilidade de materiais apenas no acesso livre, contudo é a oportuna forma para profissionais não diretamente ligados às instituições de ensino a busca do conhecimento atualizado.
Conclusão: A revisão de literatura pode ser entendida como a busca por informações acerca de um tema possibilitando uma melhor compreensão sobre o que existe de publicações e consequentemente conhecimentos sobre o assunto pesquisado. O estudo, ainda que restrito, ilustra o comprometimento da saúde do cuidador e a limitada quantidade de estudos que efetivamente abordem de forma
prática em seu objetivo o cuidador, visto a tendência dos estudos estarem mais direcionados ao paciente. Outro fato é que a exploração não aprofundada das dimensões de saúde encontradas nos artigos, predispõe a não fidelidade à realidade que pode estar presente no contexto dos cuidadores, identificando uma superficialidade quanto a trabalhos que de fato apresentem resultados com vistas a mudanças concretas no que diz respeito a melhor atenção à saúde do cuidador no contexto do cuidado paliativo.
Descritores: Cuidados paliativos; cuidadores; oncologia
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos
Referências
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Grant M, Sun V, Fujinami R, Sidhu R, Otis-Green S, Juarez G, et al. Family Caregiver Burden, Skills Preparedness, and Quality of Life in Non-Small-Cell Lung Cancer. Oncology Nurs Forum. 2013; 40 (4): 337–346.
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Hudson P, Trauer T, Kelly B, O’Connor M, Thomas K, Zordan R, et al. Reducing the psychological distress of family caregivers of home based palliative care patients: longer term effects from a randomised controlled trial. Psycho-
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Lajchen M. Physical well-being of oncology caregivers: an important quality-of-life domain. Seminars in Oncology Nursing. 2012; 28(4): 226-235 .
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Smith TJ, Temin S, Alesi ER, Abernethy AP, Balboni TA, Basch EM, et al. American Society of Clinical Oncology Pro-visional Clinical Opinion: The Integration of Palliative Care Into Standard Oncology Care. J Clin Oncol. 2012; 30(8): 880-887.
A SIGNIFICAÇÃO DOS DESEJOS FRENTE À PROXIMIDADE DA MORTE: O OLHAR DE UMA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL
Cristiane Ferreira dos Santos1, Isolina Maria Alberto Fruet2, Luisiana Fillipin Onófrio3 , Natiely Lange Silva4, Sandra Regi-na Sallet5 e Suzel Lima da Silva6
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Enfermeira Residente do Programa de Residência Multiprofissional da UFSM.
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Enfermeira do serviço de Hemato-oncologia do HUSM.
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Terapeuta Ocupacional do serviço de Hemato-oncologia do HUSM.
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Discente do curso de Terapia Ocupacional da UFSM.
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Psicóloga do serviço de Hemato-oncologia do HUSM.
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Terapeuta Ocupacional Residente do Programa de Residência Multiprofissional da UFSM.
Introdução: O adoecimento impõe ao indivíduo diversas perdas, que incluem a da saúde, da integridade psicológica, da autonomia e da rotina. O impacto do processo de adoecimento de uma patologia crônica como o câncer não se limita apenas as pessoas acometidas, estende-se a todos os familiares envolvidos, e infere aos sujeitos diversas implicações, como medo, dor, mudanças e insegurança1. Sabe-se que o câncer é a segunda causa de mortalidade infantil no Brasil. Aproximadamente 10 mil crianças são diagnosticadas com a doença, por ano, sendo que 70% delas, quando iniciam tratamento precocemente, chegam à cura. Os tratamentos são longos, incluindo procedimentos invasivos e muitas vezes tornando as pessoas suscetíveis a infecções e complicações recorrentes. Ao mesmo tempo em que se constitui em um espaço com possibilidade de cura, o hospital é vivenciado como momento de dor e sofrimento. Para crianças e adolescentes, o hospital é percebido como um lugar hostil, pois se trata de um local de isolamento e incertezas. Nesse sentido, os familiares exercem um papel fundamental no enfrentamento da doença e fornecem o suporte necessário para o processo de re-significação da situação. Assim, entende-se que é de extrema importância o atendimento integral por uma equipe multiprofissional, a qual irá acolher as necessidades biológicas e sócio-emocionais dos envolvidos mi-nimizando o impacto que uma internação prolongada pode ocasionar, onde deve-se entender que “reconstruir a pessoa de quem tem uma larga e agressiva doença é re-significar o seu “corpo-alma” que, frente a tanto medo, agressões e mutilações se tem sedimentado”2. Em decorrência da dramática interferência da doença, do tratamento e da hospita-lização sobre a vida da criança e do adolescente com câncer e de seus familiares, questões relacionadas à qualidade de vida vêm se apresentando como uma das prioridades do cuidado humanizado. De acordo com a Política Nacional de Humanização (2013) e da ferramenta da Clínica Ampliada, a intervenção de diferentes profissionais de uma equipe multi nos serviços de saúde deve considerar a particularidade dos sujeitos envolvidos e a complexidade do processo saúde/ doença, fomentar o diálogo entre profissionais e reconhecer os limites dos conhecimentos e tecnologias empregadas pelos diferentes profissionais de saúde. Nesse estudo serão descritas ações de três núcleos profissionais (enfermagem, psicologia e terapia ocupacional) incluindo três profissionais do serviço, duas residentes e uma estagiária atuantes no Centro de Tratamento da Criança e do Adolescente com Câncer (CTCriaC) do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), diante do enfrentamento do câncer, desde os cuidados paliativos até o óbito, na vivência de uma adolescente e cuidadora. Entende-se que a visão do doente torna-se importante e deve ser considerada, visto que ele é o principal conhecedor de suas necessidades, as quais são relacionadas com o bem-estar e valores humanos. Ressalta-se que du-rante o tratamento, sentimentos de tristeza, ansiedade e medo da morte são frequentes e, apesar dos efeitos adversos, o tratamento é encarado como perspectiva de vida.
Objetivos: Relatar a atuação de uma equipe multiprofissional frente à realização dos desejos de uma adolescente com câncer em cuidados paliativos, onde a paciente pode-se colocar como protagonista de suas vontades, analisando os resultados das ações durante o período de atendimento da equipe multiprofissional.
Descrição metodológica: Como estratégia metodológica optou-se por realizar consulta de prontuário da paciente. O relato de caso trata-se de uma paciente que estava em tratamento na unidade de internação para câncer infanto-juvenil, CTCriaC/HUSM. A paciente permaneceu internada no CTCriaC, durante três meses, em 2015, em decorrência de uma terceira recidiva de LMA (leucemia mielóide aguda), realizando quimioterapia paliativa e aguardando o transplante de medula óssea. Naquela situação, passou por um longo período de pancitopenia e dores, o que dificultava suas atividades diárias e a deixava bastante abatida. A paciente teve seus primeiros atendimentos apresentando seu olhar focado na dor. Os sintomas a impediam com freqüência de interagir na sala de recreação e, mesmo durante os atendimentos em leito, era pouco responsiva. Foram realizadas intervenções em atendimento individual e visitas ao leito, momento no qual foi possível identificar o desejo de realizar uma festa de aniversário como medida de realização de desejos expressos pela própria paciente durante atendimento com terapeuta ocupacional. Após o planejamento da paciente com equipe, e da organização e finalização desta, foi retomado com paciente a busca de novos projetos, os quais incluíram a construção de histórias pela paciente. Para preservação de sua identidade, optamos por referirmo-nos à paciente apenas com a inicial de seu nome, “S”.
Resultados: Após a organização festa com a paciente, juntamente com a equipe, finalização desta, foi retomado com “S” a busca de novos projetos e ações sempre respeitando sua autonomia de escolha. Estes novos interesses incluí-ram a construção de histórias pela paciente, momentos de escuta, ouvir músicas, e colorir desenhos. A realização dos desejos como adjuvante no tratamento acabou por repercutir motivação pessoal para seguir no mesmo. A importância da realização dos desejos como adjuvante no tratamento, repercutindo em motivação pessoal para seguir no mesmo. A partir das propostas das políticas públicas através da atuação em equipe multiprofissional percebemos a importância da realização dos desejos como parte da política de humanização como forma de singularizar, personalizar em busca de um cuidado integral. A importância da articulação de ações, e olhares de diferentes núcleos profissionais para com os sujeitos atendidos potencializa a garantia de atenção integral sem perder de vista a singularidade do paciente. Mostra–se fundamental a equipe multiprofissional direcionar seu olhar para além da assistência direta, mas numa perspectiva ecossistêmica, que considere sua integralidade e inter-relações. Visto a integralidade do cuidado ao paciente terminal, a procura por entender e satisfazer seus desejos, onde “pequenos gestos podem significar a melhor coisa do mundo naquele momento”3 podem fazer toda a diferença no enfrentamento de todos os sentimentos negativos advindos da experiência vivida pelo sujeito.
Conclusão: Entendeu-se, através das experiências vivenciadas pela equipe, que a visão do paciente tem suma importância e deve ser considerada em seu tratamento, visto que ele é o principal conhecedor de suas necessidades, as quais são relacionadas com o bem-estar e valores humanos. Quando se trata da área da oncologia, a criança, o adolescente e a família necessitam de um cuidado especial da equipe de saúde, para conseguirem enfrentar o sentimento de inse-gurança que as perdas geram. Nessa perspectiva, ressalta-se a importância da equipe multiprofissional, fornecendo o amparo necessário para que esses pacientes e familiares consigam dar continuidade ao tratamento. Desse modo, é importante a formulação de estratégias proativas para a melhoria da assistência integral à criança e ao adolescente com câncer, assim, proporcionando uma melhor qualidade de vida desde o momento do diagnóstico, tratamento e cuidados paliativos (em caso de prognóstico reservado), para que se possam minimizar os sofrimentos em decorrência do pro-cesso de adoecimento e hospitalização.
Descritores: Terminalidade. Qualidade de vida. Adolescente hospitalizado.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos
Referências
1 Othero MB; Terapia Ocupacional Práticas em Oncologia. São Paulo: Roca, 2010. p.80.
2 Oliveira AS. et al. Reflexões sobre a prática da terapia ocupacional em oncologia na cidade de São Carlos. In: Cader-nos de terapia ocupacional da UFSCAR,v. 11, n. 2 (2003).
3 Santana JCB, Pessini L, Sá AC. Desejos dos pacientes em situação de terminalidade: uma reflexão bioética. Rev. En-fermagem Revista 28, v. 18. N° 01.Maio/Jun. 2015.
ATUAÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL NO LUTO INFANTIL: UM RELATO DE CASO
Milena S. Ribeiro1; Marilia B. Othero2
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Clinica CERENE – São José dos Campos/SP. Terapeuta ocupacional, graduada pela UNIVAP. Curso de Aprimoramento em Cuidados Paliativos pelo Instituto Paliar. Terapeuta ocupacional da clínica CERENE, em São José dos Campos. Moni-tora de cursos de Cuidados Paliativos em Portugal e Brasil. to.milenaribeiro@gmail.com
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Hospital Premier/Grupo MAIS. Terapeuta ocupacional, mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Doutoranda pelo Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo. Coordenadora do curso de pós gradução “Cuidados Paliativos num Modelo de Atenção Integral à Saúde”, da Faculdade de Medicina de
Itajubá. Coordenadora do Comitê de Terapia Ocupacional da ABRALE – Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia. caminhosdato@gmail.com
Das inevitabilidades da vida para as quais temos que preparar nossas crianças, a perda, o sofrimento e o luto são as mais difíceis. A dificuldade da compreensão de conceitos como irreversibilidade torna o entendimento da morte mais complexo, especialmente quando a morte se apresenta a uma criança com comprometimento intelectual. Crianças são em geral afastadas do sofrimento na tentativa de poupá-las desta terrível experiência, comumente seus pais são responsáveis por isso e em geral também estão vivenciando sofrimento e luto. Entretanto para estas crianças não é ofe-recida nenhuma outra explicação para os constantes choros, sussurros e pesar de seus familiares, e sim, as crianças, até mesmo as mais jovens, tem a percepção de que algo está errado. E tendem então a criar explicações fantasiosas para a atmosfera que estão vivendo. Em cada fase do desenvolvimento a criança tem a percepção de seu ambiente de uma forma diferente, mas a tem. Portanto, respeitando sua individualidade e momento do desenvolvimento há uma abordagem considerada mais adequada1. Com isso em mente deve ser então programada para a criança em questão uma abordagem adequada. Uma boa abordagem é começar perguntando a própria criança o que ela pensa estar acon-tecendo, partindo daí, a adequação das suposições já pode ser em si uma porta de entrada para um assunto delicado que, no entanto não deve ser negado ou negligenciado. Outra parte da abordagem do luto infantil é criar um espaço para que ele aconteça e autorizar o sofrimento e sua manifestação (não digo aqui incentivar, mas possibilitar) o choro ou outra reação contida por convenções sociais ou outro motivo criado pela criança2. Terapia ocupacional (TO) por definição tem uma abordagem holística do sujeito de sua intervenção, em uma abordagem biopsicossocial. A atuação da TO tem muito a contribuir para o bom entendimento e andamento dos processos de perda e reação ao luto de crianças e, em especial, aquelas com comprometimento intelectual. Quando faltam à criança palavras para nomear seu sofrimento o terapeuta ocupacional tem então ferramentas em seu repertorio para trazer a tona de forma lúdica estas expressões3. A comunicação clara, honesta e adequada à linguagem da criança em questão é parte fundamental da atuação tera-pêutica ocupacional no luto infantil. Lembrando que: “a verdade protege o vinculo de confiança” independente da idade do sujeito4. Este trabalho tem como objetivo demonstrar como os atendimentos de TO contribuem para o processo de elaboração do luto infantil. A metodologia escolhida é a de estudo de caso. Luiza (nome fictício), de 11 anos, é atendida em ambulatório de TO pois apresenta rebaixamento cognitivo como sequela neurológica de hidrocefalia. Tem bom de-sempenho comportamental e social, lê, escreve e esta trabalhando para melhorar a matemática. Tem muitos amigos na escola (exclusiva e especializada para crianças com comprometimento cognitivo moderado a grave), seu principal círculo social. Foi assim que começou um dos atendimentos:“estou triste hoje”. Olhos marejados, Luiza me diz de seu sofrimento com a perda de seu amigo de escola. Não sabe bem o que aconteceu, fala com palavras da mãe escutadas atrás da porta que seu amigo morreu na UTI. A proposta do atendimento de TO foi fazer uma caixinha de dobradura enquanto ela continua seu relato.“No passeio da escola o Alex vomitou muito … ele tava inchado (ela segura o ar e infla as bochechas para me mostrar como) ai ele não voltou mais pra escola”. A conversa continua durante a realização da atividade. Explicou-se a fragilidade do corpo humano, que para estar na UTI o corpo de Alex deveria estar falhando, tendo dificuldade em respirar sozinho (ela inspira profundamente) o coração deveria estar batendo muito lentamente, muito cansado ela acrescenta (ela coloca a mão sobre seu próprio coração) diferente do corpo dela – marco bem esta distinção para ela. Traço um paralelo entre o papel que marcamos e rasgamos para explicar das marcas que a lembran-ça do amigo deixaria nela e do papel rasgado ao qual sempre faltará uma parte, e que se tornará outra coisa e agora mesmo rasgado significa ser inteiro para nossa dobradura. Aproveito a gancho ainda para prepara-la para o falecimento eminente de sua avó materna com quem divide quarto na casa de seus pais e acaba de voltar para casa também da UTI para homecare. “Ele (Alex) esta no céu” diz ela. A proposta seguinte é então que ela escreva um bilhete para ele, uma despedida. Seguindo numa estratégia de escrita criativa e exploração de repertorio sociocultural e significação da escrita em que já vem sendo trabalhado com Luiza. Transcrição do bilhete: “Alex eu estou sentindo saudades de você amigo. De sua amiga Luiza”. Juntamente com um desenho de coração. Dobramos o bilhete que é guardado na caixinha cuidado-samente. Claramente Luiza ainda tem muitas duvidas e retomaremos este assunto no próximo atendimento e em casa com a mãe que claramente não esta confortável para tratar deste assunto com ela. Finalizei o atendimento e conversei com sua mãe, orientando-a quanto à necessidade de outras respostas e tudo o que eu e ela já havíamos conversado deixei a mãe segura da minha ajuda e disponibilidade via telefone para mais orientações. Enfim, o luto mesmo quando compreendemos a totalidade de sua motivação, quando podemos e sabemos nomear a complexidade de sentimentos já é um processo difícil, na falta de orientação adequada se torna uma tortura a qual criança alguma deve ser exposta. A comunicação e esclarecimento faz desta jornada um caminho mais seguro, a criança que sofre perdas5. Tanto quanto os adultos seu luto deve ser observado conduzido e fechado da melhor maneira possível. A atuação e acompanhamento deste processo em casos especiais como o relatado favorece a adequada adaptação à perda de um ente querido, e a TO pode contribuir neste aspecto, de maneira a promover uma assistência integral.
Descritores: terapia ocupacional, luto, infância.
Eixo 2: Integralidade da atenção em cuidados paliativos.
Referências
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Berthoud CME, Bromberg MHPF, Coelho MRM Ensaio sobre formaçao e rompimento de vinculos afetivos 2°ed Tau-baté – SP
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Kovacs MJ Educação para a morte. 2° Ed São Paulo – SP
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Ribeiro MS, Othero MB. Projeto de Intervenção em Terapia Ocupacional com Pessoas Enlutadas. In: Othero MB (org). Caderno Terapia Ocupacional – I Forum Nacional do Comitê de Terapia Ocupacional em Oncologia. SP: CDBartz, 2015.
(ebook).
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Othero MB. O papel do terapeuta ocupacional na equipe. In: Carvalho RT, Parsons HA. (orgs.) Manual de Cuidados
Paliativos ANCP. 2 ed. Porto Alegre: Sulina, 2012. 361-363.
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Worden JW aconselhamento do luto e terapia do luto. 4° Ed São Paulo – SP
COMO OS IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS QUE ESTÃO SEM POSSIBILIDADES DE CURA ENFRENTAM O PROCESSO DE MORRER?
Chen I Ting1; Maria Helena Silveira1; Beatriz Aparecida Ozello Gutierrez2
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Gerontóloga. Bacharel em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo – São Paulo (SP) – Brasil.
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Docente do curso de graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo – São Paulo (SP) – Brasil.
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e-mail: biagutierrez@yahoo.com.br
Introdução: O envelhecimento traz consigo a perspectiva da morte. Os idosos apresentam a consciência da finitude e de lutos antecipados, no entanto, muitos deles, apesar de enfermos, ainda estão despreparados para morrer porque acreditam que a morte é algo distante e contam com o avanço das tecnologias, que contribuirá para o prolongamento da vida com qualidade 1. Nesse contexto, profissionais da área da saúde, preocupados com a assistência prestada à pessoa doente que encontra-se fora de possibilidades de cura, iniciaram a filosofia do cuidado paliativo que “é a abordagem que promove qualidade de vida de pacientes e seus familiares diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida, através de prevenção e alivio do sofrimento. Requer a identificação precoce, avaliação e tratamento impecável da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual”2. Nessa abordagem, os idosos portadores de doenças sem perspectivas de cura merecem ter um processo de morrer com dignidade. Partindo da premissa que a maneira de vivenciar o processo de morrer e a morte pode estar associada às experiências vividas e à particularidade de cada indivíduo esse estudo teve como objetivos: conhecer como os idosos institucionalizados que se encontram em cuidados paliativos estão nessa fase da vida, investigar como os idosos lidam com eventos difíceis da vida e com o seu processo de morrer e como enfrentam o processo de morrer e a morte de entes queridos. Acreditamos que com os dados emer-gentes relacionados à percepção dos idosos diante desse sofrimento, poderemos ajudá-los a lidar melhor com o próprio processo de morrer e a morte de entes queridos.
Descrição metodológica: É um estudo descritivo, qualitativo, focado na expressão da subjetividade de residentes de Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) localizada no município de São Paulo, que atende pessoas com 60 anos ou mais. Os critérios de inclusão foram: idade igual ou superior a 60 anos; que conseguisse comunicar-se verbal-mente e estivesse em cuidado paliativo. A amostra foi por conveniência e o tamanho da mesma foi determinado pelo critério de saturação dos dados. Os dados foram coletados por meio de entrevistas com questionário contendo dados sociodemográficos e perguntas semi estruturadas que foi aplicado individualmente durante entrevistas gravadas. Os dados foram interpretados conforme análise de conteúdo. As questões éticas foram norteadas pela Resolução CNS 466/2012. Parecer do CEP – EACH-USP – 643.884/14.
Resultados – Esse estudo contou com a participação de 16 residentes em cuidados paliativos, oito homens e oito mu-lheres, na faixa etária entre 60 a 97 anos, maioria de cor branca (69%), renda mensal entre um a um e meio salários, 56% possuem ensino fundamental incompleto e 44% são viúvos. A importância da espiritualidade foi relatada por 68% dos re-sidentes, 75% encontra-se sem amigos e 38% avaliam seu estado de saúde como ruim. A partir das falas dos residentes, emergiram as categorias e subcategorias que foram agrupadas em três pilares: Residente, Família e Instituição. As falas pertencentes ao pilar intitulado Residente foram classificadas em quatro categorias: aspectos biológicos, sociais, psicológicos e espirituais. Na categoria aspectos biológicos encontramos as subcategorias: autoavaliação do estado de saúde e perspectivas relacionadas à saúde. Percebemos a associação entre estado de saúde ruim e problema de saúde, e que podem levar o sentimento de dependência e de incapacidade física. Na categoria aspectos psicológicos identifi-camos as subcategorias: sentimento em relação à velhice; autoavaliação do curso da vida, consequência das perdas dos entes queridos e percepção da morte. Notamos o desânimo e a apatia estampados nos rostos dos residentes que tende a piorar devido ao seu isolamento social. Detectamos que o aprendizado no decorrer da vida pode trazer transfor-mações e as situações passam a serem encaradas de diferentes maneiras que propiciam o enfrentamento de algumas situações difíceis que antes poderiam ser vistas como insuportáveis. Relatam a negação, medo e a aceitação da morte e maneiras de morrer. O medo da morte pode estar associado à indesejável expectativa de sofrimento físico e à presença da indignidade decorrente da desintegração de si mesmo e do sofrimento por desconforto ao presenciar o sofrimento alheio3. A aceitação da morte ocorre quando os idosos se defrontam com uma etapa inevitável, uma passagem com a qual deveriam aprender a lidar. Na categoria aspectos sociais, encontramos as subcategorias: suporte social e familiar, e perspectivas relacionadas ao convívio social. Alguns residentes têm facilidade de fazer amizade dentro da instituição, por isso sentem-se menos isolados e depressivos, pois eles criam uma confiança mútua, que facilita no enfrentamento das dificuldades da vida diária e assim, eleva a sua qualidade de vida4. As perspectivas relacionadas ao convívio social estão marcadas frente à vontade do residente em voltar para a sua residência, onde a família, os vizinhos e amigos, compõem uma rede de apoio natural, muitas vezes, considerada suficiente para proporcionar bem estar e qualidade de vida ao indivíduo4. No entanto, existem contrapontos evidenciados pelo desejo de retornar ao lar e o conformismo em permanecer na instituição. A espiritualidade está marcada nos próprios valores e crenças, que confortam os indivíduos, trazendo-lhes alívio da ansiedade decorrente de eventos estressantes5. Nessa categoria encontramos as subcatego-rias: Espiritualidade/Religiosidade. No pilar Família emergem duas categorias: aspectos psicológicos/ emocionais e aspectos sociais. O primeiro relaciona-se ao senso subjetivo e emoção dos residentes. Nessa categoria destacamos a subcategoria: avaliação de atenção prestada pelos familiares. A falta de familiares traz tristeza e descontentamento nos residentes. Os aspectos sociais estão pautados à rede social. Nessa categoria encontramos a subcategoria: isolamento social devido à institucionalização. A opção da família pela institucionalização do idoso, algumas vezes, decorre pela falta de opção em assumir a responsabilidade do cuidado do idoso na sua residência. Isso pode causar mágoa e tristeza no idoso. O pilar Instituição teve na categoria psicológica a subcategoria denominada: satisfação do residente. Esta satisfação pode estar relacionada ao atendimento prestado pelos profissionais que atuam na instituição. Muitas vezes, estão associados à humanização do cuidado e à empatia junto à equipe multiprofissional.
Conclusão – Observamos que muitos idosos, apesar de terem passados momentos difíceis ao longo da vida, estão despreparados para enfrentarem o processo de morrer e a morte. Também nunca imaginaram que nessa fase ficariam em uma instituição fechados, sozinhos, sem nenhuma visita e com poucas atividades. Geralmente, os idosos se recu-sam a permanecerem na instituição, e sentem-se tristes e deprimidos com a perda liberdade de acesso, a perda de autonomia, perda de suporte social e perda da capacidade funcional.
Descritores: idoso, cuidados paliativos, institucionalização.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos
Referências
1 Ribeiro HH, Arruda ICL. Cuidados paliativos: uma abordagem a partir das categorias profissionais de saúde. Ciência &
Saude Coletiva. 2013; 18(9): 2577-88.
2 World Health Organization. WHO Definition of Palliative Care; [cited 2015 Jun 22]. Available from: <http://www.who.
int/cancer/palliative/definition/en/html>.
3 Araújo LP, Helmer DS, Gomes L., et al. Medo à morte e ao morrer em idosas institucionalizadas e não institucionali-zadas. Actascihumansoc. 2009; 31(2): 213-18.
4 Silva CA, Menezes MR, Santos ACPO, Carvalho LS, Barreiros EX. Relacionamento de amizade na instituição asilar. Rev Gaúcha Enferm. 2006; 27(2): 274-83.
5 Barbosa KA, Freitas MH. Religiosidade e atitude diante da morte em idosos sob cuidados paliativos. Revista Kairós.
2006; 12(1):113-34.
CONTRIBUIÇÕES DE ENFERMAGEM AOS FAMILIARES E PACIENTES TERMINAIS NO PERÍODO DE LUTO ANTECIPATÓRIO
Liceli Berwaldt Crizel1; Fernanda Sant’Ana Tristão²; Juliana Soares Farias1; Luciana Farias1; Manoella Souza da Silva1; Stefanie Griebeler Oliveira3
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Acadêmicas de Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas
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Enfermeira e Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas.
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Enfermeira e Doutora em Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas
Introdução: Diante ao impacto do diagnóstico de câncer e o mau prognóstico da doença sem perspectiva de cura, é possível observar que algumas famílias optam por omitir informações com o intuito de preservar seu familiar, pois temem que isso afete negativamente na adesão ao tratamento. O estado de terminalidade demonstra ao paciente a sua fragilidade perante a proximidade da morte, visto que o ser humano não está preparado para enfrentar tal situação, pois desde o nascimento cultiva a ilusão de ser imortal, no entanto, quando a terminalidade é decretada o escudo da imortalidade se desconstrói, fazendo-o refletir sobre a morte, pois ela é inevitável a todos, se apresentando rodeada de mistérios, angustias e medos1. Diante disso, compõe-se o luto antecipatório, que ocorre com o paciente ainda em vida, porém os familiares e/ou cuidadores começam a vivenciar seu luto, neste período, cabendo ao profissional de saúde contribuir para uma melhor qualidade de vida do paciente durante o tempo que lhe resta, respeitando sua dignidade e seu processo na tomada de decisões2. Dentre todos os profissionais envolvidos no cuidado a estes pacientes, destaca–se o de enfermagem, pois é o que permanece mais tempo envolvido na elaboração dos cuidados, permitindo maior proximidade entre profissional, paciente e família. O objetivo deste trabalho é refletir sobre o preparo dos profissionais de saúde diante do luto antecipatório, e a capacidade de lidar com este momento, auxiliando os pacientes em cuidados paliativos e seus familiares para que estejam preparados frente ao momento da morte.
Método: Trata-se de uma reflexão que surgiu a partir das discussões do Grupo de Estudos sobre Práticas Contemporâ-neas do Cuidado de Si e dos Outros (GEPECCCUIDADO), da Universidade Federal de Pelotas, que em alguns momentos abordaram o tema. Foram realizadas buscas em livros e artigos científicos encontrados na Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), que abordassem a temática proposta neste trabalho, aos quais deveriam ter suas publicações realiza-das nos períodos do ano de 2011 até 2015. Porém, devido a carência de materiais referentes a este período, acabaram sendo inclusos materiais mais antigos para a complementação, foram selecionados três artigos, no mês de junho de 2015, e dois livros que abordassem o tema escolhido.
Resultados e discussão: O luto antecipatório pode ser entendido como o tipo de luto ocorrido antes da perda real, com as mesmas características e sintomas das fases iniciais apresentadas em um luto normal, como prostração, perturba-ção e desespero3. O processo é composto por cinco estágios, em que: o primeiro é o período de negação, caracterizado pela defesa mental de recusa, que gera o sofrimento emocional; o segundo é o período de raiva, em que há revolta sobre a condição de saúde; o terceiro é composto pela negociação, havendo uma espécie de bom comportamento por parte do paciente, na esperança de que isso possa lhe trazer a cura ou um tempo maior de vida; o quarto caracteriza-se por períodos de depressão, em que há um recolhimento por parte do paciente que passa a viver uma sensação de perda e elaboração de seu próprio luto; por fim o quinto estágio é composto pela superação dos demais estágios havendo cessa-ção da dor e aceitação4. A equipe de saúde que acompanha o paciente em fase terminal deve considerar os sentimentos de cada indivíduo envolvido no processo de forma individualizada, sabendo-se que cada um deverá ter um tempo para aceitação da perda de seu ente querido. Essa atenção deve ser direcionada também a equipe envolvida no cuidado ao paciente, pois compartilham dos mesmos sentimentos de perda. Por isso, é importante que se converse com a família, disponibilizando-se a ajudar no que for possível, com flexibilização nos horários de visitas e oferta à família de possibi-lidades para despedida do ente querido, aconselhando que todos se façam presentes durante todo o processo de morte. Ainda, faz-se necessária a presença de um profissional de saúde, em caso de morte eminente do paciente, para prestar apoio aos presentes, colocando-se à disposição para esclarecimentos ou informações futuras no processo de pós luto. Salienta-se que o enfermeiro é o profissional mais presente durante o processo de terminalidade, e devido a isso, torna–se indispensável que o mesmo possua a capacidade de atentar não somente ao sofrimento físico, como também ao emocional, social e espiritual, pois se observa a fragilidade em todos os sentidos, fazendo com que o paciente e família enfrentem momentos delicados. Assim, é importante que haja interação entre os profissionais da equipe multidisciplinar envolvidos no cuidado, prestando uma assistência que ofereça suporte que possibilite tratamento terapêutico adequado ao paciente e sua família5.
Conclusão: Neste momento é importante que o profissional de enfermagem estabeleça laços de confiança possibili-tando que os membros envolvidos no processo de luto antecipatório exponham seus sentimentos e angústias. Deve–se ter a capacidade de ouvir atentamente o quê a família e o paciente lhe expõem e prestar o apoio necessário sem recriminar, considerando todos os aspectos emocionais envolvidos, para que desta forma possam elaborar soluções para a adaptação no processo de perda. Além de compartilhar sentimentos, dúvidas e medos, para que estes familiares sintam-se acolhidos pelo profissional de saúde e assim, obtenham suporte emocional no momento da perda, tornando o processo menos doloroso.
Descritores: enfermagem; morte; cuidados paliativos.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos.
Referências
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Valduga EQ, Hoch VA. Um olhar sobre os familiares cuidadores de pacientes terminais. Unoesc & ciência- ACHS. 2012 jan/jun [acesso em 2015 jun 22 ]; 1(3):15-32. Disponível em: http://editora.unoesc.edu.br/index.php/achs/article/ viewFile/1537/pdf.
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Dirami CM, Veronez FS. Estudos sobre o luto antecipatório: a importância de dialogar nesse processo. Revista OM-
NIA Saúde. [internet].2013 ago [acesso em 2015 jun 22];10: 28-32. Disponível em: www.fai.com.br/portal/ojs/index. php/omniasaude/article/view/442/660.
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Worden JW. Terapia do luto: Um manual para o profissional da saúde mental. Porto Alegre: Artes Médicas; 1998.
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Kübler-Ross E. Sobre a morte e o morrer. 9 ed., São Paulo: Martins Fontes; 1998.
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Fernandes MFP, Komessu JH. Desafios do enfermeiro diante da dor e do sofrimento da família de pacientes fora de possibilidades terapêuticas. Rev Esc Enferm USP. 2013 fev [acesso em 2015 jun 10]; 47(1):0-0 . Disponível em: http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342013000100032.
CONVERSANDO COM E.L.A.: UM DESAFIO DA COMUNICAÇÃO EM CUIDADOS PALIATIVOS
Ancile Maria Ziani Leal¹, Marcelo Ávila Franco², Cláudia Ferrão Vargas³
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Psicóloga (ULBRA), Especialista em Residência Multiprofissional em Saúde Hospitalar: Psicologia (HUUMD), Pós–Graduanda em Dor e Medicina Paliativa (UFRGS), Psicóloga do Hospital da Brigada de Porto Alegre (HBM-PA).
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Psicólogo (ULBRA), Especialista em Docência do Ensino Superior (IERGS), R2 do Programa de Residência Multiprofis-sional em Saúde Hospitalar: Psicologia (HUUMD).
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Médica Psiquiatra (PUCRS), Especialista em Psicoterapia de Orientação Analítica (UFRGS), Capitão Chefe do Serviço de Psicologia do Hospital da Brigada Militar de Porto Alegre (HBM-PA).
Introdução: De etiologia ainda sob investigação, a Esclerose Lateral Amiotrófica (E.L.A.) é uma patologia neurodege-nerativa que envolve a degeneração do sistema os motor em vários níveis: bulbar, cervical, torácico e lombar, geran-do déficit de tônus muscular. As áreas afetadas demonstradas nos achados físicos tem correlação com as diferentes topografias dos núcleos motores correspondentes. Disfagia e/ou disartria estão presentes como sinais primários nos casos de E.L.A. com início bulbar. Além destes, os principais sintomas, em geral, são fraqueza e atrofia muscular, fasci-culações e cãibras, espasticidade, dispnéia e labilidade emocional, podendo apresentar como sintomas secundários os distúrbios psicológicos, distúrbios do sono, constipação, espessamento de secreções mucosas, dor, e os relacionados com a hipoventilação crônica. É uma doença de progressão variável, sem perspectivas de cura, que atinge, em sua maioria, homens de meia-idade.¹ Foi descrita pela primeira vez no Brasil em 1909, por Cypriano de Freitas e acomete atualmente cerca de 4-6 por 100.000 pessoas. O diagnóstico é basicamente clínico, com cruzamento de dados obtidos por meio de Eletroneuromiografia (ENMG), exame físico e anamnese detalhada. A sobrevida média gira em torno de 3 a 5 anos. Quando da ausência de Ventilação Mecânica Prolongada, a porcentagem de sobreviventes em 10 anos é de 8 a 16%, podendo chegar a 15 anos ou mais com a ajuda de suporte ventilatório. O tratamento, de cunho paliativo, inclui manejo medicamentoso e intervenção multiprofissional com objetivo de proporcionar uma maior sobrevida de qualida-de, minimizando o sofrimento do doente e sua família. Neste sentido um enfoque de intervenção centra-se na melhora da capacidade de comunicação do paciente, quando da presença da disartria.² Para tanto, podem ser utilizadas Pranchas de Comunicação Alternativas e, com o advento da tecnologia Asssistiva, contamos com, ao menos, dois programas de computador, de manuseio simples, disponíveis gratuitamente no Brasil, HeadMouse e eViacam.³ Estes programas possibilitam ao usuário efetuar os movimentos do mouse a partir de movimentos e comandos faciais capitados pela webcam, possibilitando inclusive, a digitação através do uso do Teclado Virtual. A Tecnologia Asssistiva é uma área do conhecimento interdisciplinar que objetiva o desenvolvimento de produtos, recursos, métodos e serviços que visem promover a autonomia e qualidade de vida às pessoas com deficiências, incapacidades ou mobilidade reduzida. Unindo o advento da informática a criatividade e conhecimentos específicos de cada área do saber, chega-se à intervenções inovadores que visam proporcionar ou devolver qualidade de vida aos pacientes com perda motora.
Objetivos: Relatar a experiência de atendimento psicológico, e as estratégias de comunicação utilizadas, a um paciente portador de Esclerose Lateral Amiotrófica (E.L.A.) sob Cuidados Paliativos em um Hospital Geral da cidade de Porto Alegre – Rio Grande do Sul.
Descrição Metodológica: Trata-se do relato de um estudo de caso de um paciente atendido pela Psicóloga de um Hospital Geral na cidade de Porto Alegre – RS no primeiro semestre do ano de 2015 com anuência da chefia do Serviço de Psicologia do Hospital.
Resultados: A. S. S. R. é do sexo masculino, natural do interior do estado do Rio Grande do Sul, tem 56 anos de idade, está no segundo casamento (há 16 anos), tem 3 filhos (dois do primeiro casamento, e uma de outra relação). É bombeiro aposentado da Brigada Militar, tendo trabalhado a vida toda com resgate de vítimas de incêndio, afogamento e acidentes em geral. Atualmente reside com a esposa em casa própria em município da região metropolitana de Porto Alegre. Aos 54 anos teve o primeiro episódio de paralisia em um mergulho no mar durante um passeio de escuna no Rio de Janeiro. A confirmação do diagnóstico se deu 30 dias após este episódio, em maio do ano de 2013. Passados cerca de 6 meses iniciou uso de gastrostomia preventiva. A cadeira de rodas e o BIPAP entraram em sua vida após 1 ano do diagnóstico. Neste período o paciente fez acompanhamento junto à AACD. O surgimento da disartria se deu progressiva e rapida-mente, e antes de completar um ano de diagnóstico já deglutia com dificuldade e a comunicação verbal tornou-se cada vez mais difícil. Apesar do acompanhamento fonoaudiológico recebido na AACD, o paciente recusou o treinamento com pranchas de comunicação por querer “falar até quando conseguisse” (sic). Nesta instituição desde o mês de junho, esta foi sua primeira internação hospitalar por complicações respiratórias relacionadas à E.L.A. Ao ser solicitado acompa-nhamento psicológico, a psicóloga deparou-se com este entrave na comunicação verbal. Tendo tido experiência com pacientes em uso de traqueostomia em outra instituição, esta propôs o uso da tecnologia da informática para melhorar a comunicação do paciente com a equipe, os familiares e demais pessoas de seu convívio. Com o auxílio do setor de informática da instituição foram instalados no notebook do paciente 2 programas, ReadMouse e eViacam, que foram baixados gratuitamente da internet. Estes softwares propiciam o comando do cursor através dos movimentos da face. Desta forma o usuário consegue efetuar os comandos utilizando o teclado virtual, neste caso do Windows, para digitar e editar textos. Estas ferramentas possibilitaram a criação de uma prancha de comunicação virtual, composta por figuras que representam palavras, objetos, ações e comandos mais utilizados pelo paciente. Estas figuras foram escolhidas a partir da discussão com a equipe, a esposa e o próprio paciente, buscando optar pelas que melhor representam seu dia-a-dia. Desta forma o notebook passou a ser o principal elo facilitador da comunicação entre o paciente e as pessoas que com ele interagem diariamente.
Conclusão: Esta intervenção devolveu ao paciente a autonomia para participar das decisões acerca de seu plano de tratamento, reestabelecendo um meio de comunicação eficiente e possibilitando a retomada de seu contato com o mundo de maneira ativa. Do ponto de vista emocional pudemos ofertar um local, tanto físico quanto subjetivo, para que este sujeito possa expressar seus sentimentos, medos, desejos, reempoderando-lhe de si mesmo perante o todo a sua volta. Fica evidente a importância da assistência multiprofissional ao indivíduo portador de doença sem perspectivas de cura, com vistas a promover um cuidado integral à sua saúde e de seus familiares, ressaltando a retomada da autono-mia como estratégia de qualidade. Conclui-se que a busca pela excelência na assistência a estes pacientes perpassa por uma série de fatores que incluem desde apoio por parte das instituições de saúde até o aprimoramento e constante atualização dos profissionais envolvidos, através da divulgação de técnicas inovadoras de sucesso.
Descritores: Cuidados Paliativos, Comunicação, Psicologia.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos.
Referências
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Quadros, A. A., J e cols. (2015). E.L.A. (Esclerose Lateral Amiotrófica), ABRELA, http://www.abrela.org.br/default. php?p=texto.php&c=ela. acessado em: Jun.2015
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ARELA, Associação Regional Esclerose Lateral Amiotrófica (2015). http://www.arela-rs.org.br/ acessado em jun.2015
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Silva, G. M. & Gama, A. S. (2014). Tecnologia Assistiva: HeadMouse, uma alternativa para pessoas com mobilidade reduzida. FATEC vol. 2 num. 1. São Paulo
CUIDADO INTEGRAL A CRIANÇA COM CÂNCER: POSSIBILIDADES PARA A ENFERMAGEM
Luciana Farias1; Liceli Berwaldt Crizel1; Juliana Soares Farias1; Manoella Souza da Silva1; Stefanie Griebeler Oliveira2.
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Acadêmicas de Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas.
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Doutora em Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas.
Introdução: Entende-se por integralidade em saúde a desfragmentação do atendimento ao ser humano, possibilitan-do intervenções sobre os sujeitos como um todo, atendendo suas necessidades biopsicossociais. Um dos princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde – SUS – é garantir ao cidadão o acesso a todas as esferas de atenção em saúde, desde ações assistenciais, a prevenção de doenças e promoção da saúde1. O câncer infantil no Brasil representa a primeira causa de morte por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos de idade, assim como em países desenvolvidos, sendo que a incidência esta relacionada com idade, sexo e antecedentes étnicos. Dentre os principais tipos de câncer infantil encontram-se leucemia, cânceres do sistema nervoso central, linfoma, neuroblastoma, rabdo-miossarcoma, tumor de Wilms, câncer ósseo e retinoblastoma. O tratamento pode ser por uso de quimioterápicos, ra-dioterapia, remoção cirúrgica, transplante, imunoterapia e terapia gênica2. Diante de uma patologia altamente agressiva e dependendo do caso sem perspectiva de cura, o câncer torna-se um agravo que traz muito sofrimento, frustração e sentimento de impotência diante da família, cuidadores e profissionais de saúde, principalmente por tratar-se de criança. Embora não exista uma forma de impedir o aparecimento do câncer infantil, podem-se prevenir danos maiores através da detecção precoce, pois o diagnóstico realizado em fase inicial da doença possibilita um tratamento rápido, menos agressivo e efetivo, havendo uma maior probabilidade de cura minimizando as sequelas. A evolução no tratamento do câncer entre crianças e adolescentes tem sido significativa, em torno de 70% podem ser curados se o diagnóstico for precoce. É importante ressaltar que crianças não inventam sintomas, por esse motivo os pais devem estar alerta quanto a queixas, pois normalmente a disseminação da doença ocorre de forma silenciosa e muitas vezes confundindo-se com sintomas de patologias comuns na infância³. O principal objetivo do estudo é conhecer e discutir sobre a integralidade no atendimento aos pacientes oncopediátricos e sua complexidade, bem como as possibilidades para a enfermagem.
Método: O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica sobre a integralidade do cuidado diante do diagnóstico de câncer e a importância da atuação do enfermeiro e equipe de profissionais de saúde junto à criança e sua família. O estudo foi desenvolvido a partir de discussões do Grupo de Estudos de Práticas Contemporâneas do Cuidado de Si e dos outros (GEPECCUIDADO) da Universidade Federal de Pelotas tendo como objetivo a revisão de literatura que abordasse a temática proposta neste trabalho, com publicações do ano de 2008 até os dias atuais. Foram utilizados artigos do Google Acadêmico e obras da literatura médico-cirúrgica, que abrangessem o assunto em questão, utilizando-se as palavras Enfermagem, Integralidade, Câncer para as buscas. A pesquisa foi realizada do mês de julho a agosto de 2015, onde fo-ram selecionados vários artigos que abrangessem a temática proposta (integralidade, criança com câncer, enfermagem, assistência de enfermagem).
Resultados e discussão: A ocorrência do câncer na infância gera uma série de sentimentos, incluindo principal-mente a sensação de impotência por parte dos pais, pois quando a doença incide parece não ser correto indivíduos jovens e aparentemente cheios de vida passar por uma patologia que na maioria das vezes é sinônimo de sofrimento. A enfermagem tem um importante papel na evolução clínica dos pacientes oncopediátricos, devendo proporcionar um atendimento holístico, ou seja, priorizando suas necessidades infantis, pois se tratam de crianças devendo-se prestar uma assistência diferenciada e ainda oferecendo atenção a família, devido à ampla fragilidade ocasionada pelas impli-cações da doença. Portanto a equipe de enfermagem deve propiciar medidas terapêuticas visando amenizar a condição de saúde/doença vivenciada pela criança e família, preservando a qualidade na assistência3. O enfermeiro dentre suas atribuições tem a responsabilidade de executar atividades assistenciais, gerenciais e educativas, mantendo os pais e cuidadores das crianças com câncer, orientados quanto às complicações da doença e sintomatologia de doenças oportunistas. O profissional enfermeiro deve estar apto a desenvolver junto à equipe uma educação permanente sobre protocolos de quimioterápicos, incluindo atualização quanto às novas tecnologias do cuidado, capacitações quanto à manipulação de cateteres e prevenindo as infecções cruzadas, atuando junto ao controle de infecção hospitalar do serviço. Também necessita prestar apoio psicológico a criança e família no serviço de oncologia pediátrica, reduzindo a ansiedade, medo e estado de depressão, também são funções do enfermeiro, dessa forma, com o apoio emocional da equipe de enfermagem, criança e família conseguem expressar seus sentimentos e a adesão ao tratamento ocorre de maneira espontânea. Somam-se ainda ao cuidado integral, a prevenção da ocorrência da dor; controle da desidratação, náuseas e vômitos; manutenção do estado nutricional adequado; estímulo do apetite da criança; auxílio na adaptação a nova condição4.
Conclusão: Diante ao grande impacto de receber um diagnóstico de câncer, devido às incertezas frente ao prognós-tico de evolução da doença, a assistência de enfermagem especializada é imprescindível. O cuidado de forma integral visando o bem estar físico e emocional da criança e de sua família diminuindo as aflições e angústias perante aos novos acontecimentos é de extrema importância para a melhora clínica do paciente. Os laços entre profissionais de saúde, pacientes e familiares devem ser estabelecidos formando vínculo de confiança não somente na terapia proposta, mas de modo que o cuidador responsável pela criança sinta-se a vontade para esclarecer suas dúvidas e relatar suas angus-tias, possibilitando a equipe elaborar a assistência individualizada, específica, para cada paciente. Para um atendimento humanizado é preciso entender que os pacientes diferem entre si, tem necessidades específicas, principalmente por tratar-se de crianças ou adolescentes. Fazer com que a família participe de forma efetiva do cuidado aos pacientes on-copediátricos aumentam as chances de uma evolução positiva na terapia, uma vez que é considerada a unidade primária do cuidado. A enfermagem deve estar atenta não somente à criança, mas, ainda aos familiares/cuidadores, devido a grande sobrecarga emocional diante a um diagnóstico de câncer.
Descritores: Enfermagem, Integralidade, Câncer.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos
Referências
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Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização: Formação e intervenção. Brasília; 2010.
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Ruble k. Oncologia Pediátrica. In: Nettina S, editora. Prática de Enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2014. p. 1637-1655.
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Neves NJ, Mendes DRG, Santos WL dos. Enfermagem em oncologia pediátrica: fatores de excelência na assis-tência integralizada. [internet]. 2014 [acesso em 2015 jul 30]; 1-23. Disponível em: www.senaaires.com.br/Biblio-teca/tcfacesa/enf2014/ENFERMAGEM%20EM%20ONCOLOGIA%20PEDI%C3%81TRICA%20%20FATORES%20DE%20
EXCEL%C3%8ANCIA%20NA%20ASSIST%C3%8ANCIA%20INTEGRALIZADA.pdf
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Silva TP, Leite LJ, Santos NLP, Silva RI, Mendonça ACA, Santos MJC, et al.
Cuidados de Enfermagem a Criança com Câncer: Uma Revisão Integrativa da Literatura. Rev enferm. UFSM [internet].
2013 jan/abril [acesso em 2015 jul 20]; 3(1):68-78. Disponível em: http://cascavel.cpd.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/index. php/reufsm/article/viewFile/6918/pdf
CUIDADO PALIATIVO E O USO DO TOQUE TERAPÊUTICO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Larissa Lemos Silva, Diéssica Roggia Piexak, Munique Pimentel Gomes, Aline Calçada de Oliveira, Silvana Possani Medeiros, Nerizane Fornari
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Estudante da 5a série do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
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Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente da Escola de Enfermagem da FURG. Orientadora do Estudo.
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Estudante da 4a série do Curso de Graduação em Enfermagem da FURG.
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Enfermeira. Doutora em Educação Ambiental. Docente da Escola de Enfermagem da FURG.
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Estudante da 8a série do Curso de Graduação em Enfermagem da FURG.
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Estudante da 9a série do Curso de Graduação em Enfermagem da FURG.
Introdução: É notório o progressivo envelhecimento populacional e, consequentemente, o aparecimento de inúmeras doenças crônicas e degenerativas, assim como, novos casos de cânceres e infecções pelo vírus do HIV. Além disso, há mudanças sociais, nas quais se apresentam, muitas vezes, o individualismo, o racionalismo e a falta de espiritualidade.1 Nessa perspectiva, destaca-se que possuir uma doença que ameaça a vida pode levar a um lento processo de morte, com sofrimentos físico, mental, social e espiritual. Acerca desse contexto, insere-se o cuidado paliativo, que de acor-do com a Organização Mundial da Saúde2, “é uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares, que enfrentam doenças que ameacem a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento. Requer a identificação precoce, avaliação e tratamento da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e es-piritual”. Nesse entendimento, ressalta-se o Toque Terapêutico, método de Krieger-Kunz, como uma possível estratégia para a integralidade da atenção em cuidados paliativos. Este consiste no uso consciente das mãos com o objetivo de harmonizar o campo energético humano (CEH), sua técnica é dividida em quatro fases: a centralização da consciência, a avaliação do campo de energia do cliente, o reequilíbrio ou repadronização da energia e a reavaliação do campo de energia do paciente.3 Estudos mostraram que o Toque Terapêutico vem sendo aplicado em sujeitos de todas as idades, em especial adultos e/ou idosos com doenças crônicas e degenerativas, sendo eficaz para a estabilização dos parâme-tros de sinais vitais e redução de sintomas de várias doenças como os distúrbios do humor e padrão de sono, agitação, fadiga, ansiedade e, especialmente, dor.4 A partir disso, questionou-se: quais são as contribuições do Toque Terapêutico no âmbito dos cuidados paliativos?
Objetivo: Identificar a contribuição do Toque Terapêutico no âmbito dos cuidados paliativos.
Descrição metodológica: Trata-se de uma revisão integrativa5, a qual oportunizou uma compreensão acerca da con-tribuição do Toque Terapêutico no âmbito dos cuidados paliativos por meio de uma análise específica da literatura. Para isso, foram delineadas seis etapas: definição das questões norteadoras; estabelecimento de critérios de inclusão/ exclusão; definição das informações a serem extraídas dos artigos selecionados; análise dos estudos incluídos; inter-pretações dos resultados e apresentação da revisão integrativa. Como questões norteadoras do estudo, definiram-se: Como o Toque Terapêutico contribui nos cuidados paliativos? Quais são os ambientes que o Toque Terapêutico vem sendo aplicado? Os critérios de inclusão foram: artigos completos disponíveis eletronicamente de forma gratuita nas bases de dados MEDLINE/NML/PubMed, LILACS, CINAHL e SCIELO; que atendessem o objetivo da pesquisa; publi-cados a partir de 2002, período em que o Ministério da Saúde revisou e atualizou a definição de cuidados paliativos; apresentação de resumo para primeira análise; procedência nacional e internacional nos idiomas português, inglês e espanhol. Excluíram-se: resumos publicados em anais, capítulos de livros, teses, dissertações e editoriais. Utilizou-se para a busca diferentes relações entre os descritores: Therapeutic Touch, Nursing and Palliative Care, a fim de ampliar o número de artigos para a seleção. Para essa, realizou-se a leitura e análise dos resumos, com o objetivo de refinar a amostra de acordo com os critérios de inclusão e exclusão. Foram considerados apenas uma vez os artigos repetidos em mais de uma base de dados. A busca foi realizada no mês de julho de 2015 por dois pesquisadores integrantes desta pesquisa. A partir da análise na íntegra obteve-se um total de nove artigos, desses, seis na CINAHL, dois na SCIELO, um na MEDLINE/NML/PubMed e nenhum na LILACS. Para a abstração dos dados e síntese, foram seguidos os métodos preconizados por Whittemore e Knafl5.
Resultados: Os nove artigos selecionados estavam distribuídos nos seguintes periódicos: Advance Access; Altherna-tive Terapies; American Journal of Hospice & Palliative Care; Clinical Journal of Oncology Nursing; International Journal for Human Caring; Journal of Palliative Medicine; Nursing Older People; Oncology Nursing Forum; Revista Einstein. Em relação à abordagem metodológica cinco eram qualitativos e quatro eram quantitativos. Os artigos selecionados foram publicados entre 2002 e 2013, sendo os maiores números de publicações nos anos de 2008 (n=2) e 2013 (n=2). Os países em que os estudos foram realizados compreendem: Estados Unidos da América (n=5), Brasil (n=1), Canadá (n=1), In-glaterra (n=1) e Irã (n=1). Já com relação aos ambientes de aplicação do Toque Terapêutico, percebeu-se que em quatro estudos o Toque Terapêutico era aplicado na própria unidade de internação de hospital geral, três eram em unidades de cuidados paliativos, um nas residências dos pacientes e um em sala específica dentro da unidade de internação de hospital geral. Dois temas foram identificados a partir da literatura analisada: O Toque Terapêutico como terapia isolada no âmbito dos cuidados paliativos e o Toque Terapêutico associado a outras intervenções no âmbito dos cuidados palia-tivos. Em relação ao primeiro tema destaca-se que oito estudos foram realizados com a aplicação do Toque Terapêutico como terapia isolada. Nesses estudos o Toque Terapêutico era aplicado em pacientes oncológicos (n=5), especificamen-te aqueles que estavam recebendo quimioterapia (n=1), com câncer de mama (n=1) e câncer cervical (n=1); pacientes com algum tipo de demência (n=2) e em neonatais (n=1). Cabe destacar que um dos estudos com paciente oncológicos, o Toque Terapêutico também foi aplicado nos familiares e na equipe de saúde. As contribuições do Toque Terapêutico nesses estudos (n=8) foram positivas em relação aos efeitos fisiológicos, psicológicos e comportamentais, nos quais se evidenciaram, por exemplo: relaxamento (n=6), bem-estar geral (n=6), diminuição da dor (n=3), preservação da ati-vidade das células natural killer (n=1), entre outros. Enfatiza-se que desses, apenas três estudos eram quantitativos, um deles apresentava grupos controle e experimental e outro com grupos controle, placebo e experimental. Já em relação ao segundo tema, apenas um estudo apresentava a associação do Toque Terapêutico com outras intervenções complementares e integrativas, as quais eram: massagem, aromoterapia e reiki. A integração do Toque Terapêutico com essas intervenções contribuiu significativamente na diminuição da dor, redução da ansiedade, mau humor, inquietação e desconforto. Esse estudo era quantitativo e foi aplicado em pacientes de uma unidade de cuidados paliativos.
Conclusão: A partir dessa revisão integrativa pode-se identificar as diversas contribuições do Toque Terapêutico, tanto no contexto dos cuidados paliativos, como nos ambientes em que esse era aplicado, auxiliando pacientes, familiares e equipe de saúde.
Descritores: Toque Terapêutico; Cuidados Paliativos; Enfermagem.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos
Referências
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Matsumoto DY. Cuidados Paliativos: conceitos, fundamentos e princípios. In. Carvalho RT, Parsons HA. Manual de Cuidados Paliativos da Academia Nacional de Cuidados Paliativos; 2012.
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WHO Palliative Care: symptom management and end-of-life care, 2004. http://www.who.int/3by5/publications/documents/en/genericpalliativecare082004.pdf
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Krieger D. Toque Terapêutico – Novos caminhos da cura transpessoal. São Paulo; Editora Cultrix, 1997.
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Vasquez CI, Santos DS, Carvalho EC. Tendências da pesquisa envolvendo o uso do toqueterapêutico como uma es-tratégia de enfermagem. Acta Paul Enferm2011;24(5):712-4.
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Whittemore R, Knafl K. The Integrative review: updated methodology. J AdvNurs 2005;52(5), 546-53.
CUIDADOS PALIATIVOS AO PACIENTE COM CÂNCER: PAPEL DO ENFERMEIRO
Juliana Soares Farias1; Liceli Berwaldt Crizel1; Luciana Farias1; Manoella Souza da Silva1; Stefanie Griebeler Oliveira2
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Acadêmicas de Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas.
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Doutora em Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas.
Introdução: O câncer é uma doença muito agressiva que ainda não se tem o controle, e ocorre a partir de um cresci-mento desordenado de células malignas, que invadem órgãos e tecidos, também podendo se difundir-se para outras partes do corpo, levando a complicações graves ou fatais1. Quando o câncer é diagnosticado, o objetivo principal é tratar para que haja cura, ou uma remissão da doença, porem muitas vezes a patologia está avançada, e na fase terminal2. Nesse momento a prioridade muda e o objetivo torna-se dar uma qualidade de vida para esse paciente e seus familiares através dos cuidados paliativos, que preconizam um auxilio no processo de terminalidade, compreendendo as dificulda-des psicológicas, físicas, social e espiritual, promovendo alivio da dor e outros sintomas relacionados a doença3. Durante os cuidados paliativos, o paciente tem a oportunidade de ficar junto a sua família, e todo o tratamento que não tem mais utilidade é suspenso, minimizando assim o sofrimento do paciente4. Nesse sentido, cabe aos profissionais da saúde que fazem parte da equipe multiprofissional promoverem os cuidados paliativos, entendendo toda dimensão e importância do cuidado de qualidade, tanto no ambiente hospitalar, como na residência do paciente. O objetivo desse estudo é desta-car, a partir das produções científicas, o trabalho do enfermeiro frente aos cuidados paliativos, mostrando a importância desse profissional na qualidade de vida do paciente e de seus familiares.
Método: Esse estudo bibliográfico, emergiu a partir das discussões do Grupo de Estudos sobre Práticas Contemporâne-as do Cuidado de Si e dos Outros (GEPECCCUIDADO), da Universidade Federal de Pelotas. Foram realizadas buscas em artigos científicos no Scientific Electronic Library Online (SciELO), instituto nacional do câncer(INCA), e manuais técnicos, em julho de 2015, com as palavras chaves: cuidados paliativos e enfermagem. Como critérios de inclusão foram sele-cionados os documentos que abordassem o papel do enfermeiro nos cuidados paliativos. No SciELO foram encontrados 33 artigos, desses somente um foi analisado. Além disso, dois manuais técnicos foram incluídos na discussão.
Resultados e discussão: Atualmente os cuidados paliativos são dispostos em três graus de complexidade, que fa-zem parte do cuidado integral e humanizado. O primeiro deles é o cuidado paliativo geral que se trata da abordagem ao paciente, que ocorre a partir do momento em o mesmo é comunicado sobre o seu diagnóstico, e que a doença está em progressão. Nesta ocasião são avaliados pela equipe os sinais e sintomas que possam se manifestar referentes a patologia, assim permitindo um plano de atuação para melhorar a qualidade de vida do paciente. No segundo grau de complexidade, são utilizados os cuidados paliativos específicos que são realizados pela equipe nos últimos seis meses ou semanas de vida do paciente. Nessa situação, torna-se nítido que a doença piorou e está em um estado progressi-vo de declínio, e cabe ao enfermeiro nesta fase, tentar fazer com que o paciente ainda tenha o máximo de autonomia possível no seu autocuidado, além da importância de ficar perto dos seus familiares. O último grau de complexidade, são os cuidados paliativos ao fim da vida, que ocorre nas últimas 72 horas, ou nos últimos dias de vida do paciente, esta fase é a mais difícil de ser percebida por todos os envolvidos inclusive pela equipe multiprofissional, devido a toda a complexidade do processo de morte. No momento em que essa última fase é percebida, a equipe necessita utilizar o planejamento do cuidado preparando o paciente e seus familiares para o óbito, e mesmo depois do falecimento, cabe a equipe de cuidados paliativos prestar assistência aos familiares, promovendo um entendimento de todo o processo de terminalidade2. No cuidado paliativo é muito importante as relações interpessoais entre o profissional e o paciente. O en-fermeiro deve ter habilidades, de agir e reagir de forma adequada em todas as situações do processo de terminalidade, auxiliando e conversando com o paciente e a família, assegurando as orientações para realização das ações de cuidado, além de preservar a integridade física e emocional deles, reconhecendo o paciente como um ser humano que está so-frendo4. Ainda, o enfermeiro tem outras atribuições, tais como a sua responsabilidade no gerenciamento da equipe e a comunicação informativa entre todos, fator esse que facilita muito no processo junto ao paciente-família-comunidade. Outra função importante é a criação e planejamento de ações que promovam a qualidade de vida e no atendimento ao paciente, através de uma monitorização e controle dos sinais e sintomas, identificando e promovendo alivio da dor, além das necessidades psicológicas que envolvem todo o processo5. O profissional enfermeiro deve conhecer técnicas no atendimento ao paciente em cuidados paliativos, dentre elas os curativos em lesões malignas, técnicas de comunicação e escuta terapêutica, técnica de hipodermólise, auxiliar e orientar os familiares trabalhando juntos na melhora do pa-ciente, atentar e orientar para higienização e manutenção do mesmo, deve-se elencar prioridades para cada paciente5.
Conclusão: O paciente em fase terminal, necessita de um grande apoio, não só dos seus familiares mas também da equipe que está lhe prestando o atendimento. Estar doente em si, já é uma situação difícil, e torna-se ainda mais, quan-do o paciente descobre, que não há nada mais para fazer em termos de cura, pois significa que ele precisa aproveitar o tempo restante da melhor forma possível, com qualidade de vida. Nesse contexto o enfermeiro atua prestando os cuidados paliativos, orientando paciente e familiares, para uma convivência salutar. Trabalhar com pacientes em fase de terminalidade, exige que os profissionais envolvidos reflitam sobre as práticas realizadas, passando a entender melhor o processo de morte, elaborando melhor as possíveis frustrações durante o processo. O profissional enfermeiro necessita de muitas habilidades, para trabalhar com cuidados paliativos, incluindo técnicas específicas, para procedimentos, além de lidar com o sofrimento do paciente e de seus familiares. O enfermeiro precisa estar apto para realizar um atendimento integral e humanizado, concretizando e planejando ações que compreendam um processo de terminalidade digno.
Descritores: Cuidados Paliativos, Enfermagem, Câncer.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos
Referências
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Ministério da Saúde (BR). Instituto Nacional de Câncer INCA. O que é o Câncer?. Brasília: MS; 2015. [Internet]. [acesso em 2015 jul 15]. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=322
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Brasil. Ministério da Saúde (BR). Instituto Nacional de Câncer INCA. Cuidados Paliativos. Brasília: MS; 2015. [Internet]. [acesso em 2015 jul 20]. Disponível em:
http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=474
3.Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordenação-Geral de
Atenção Domiciliar. Melhor em Casa Segurança do Hospital no Conforto do seu Lar. Brasília; 2012.
4.Pimenta CAM. Cuidados Paliativos: uma nova especialidade do trabalho da enfermagem?. Acta Paul Enferm.
[Internet]. 2010 [acesso em 2015 jul 24]; 23 (3):6-7. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-21002010000300001&script=sci_arttext
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Ministério da Saúde (BR). Academia Nacional de Cuidados Paliativos ANCP. Manual de Cuidados Paliativos. Brasília;
2009.
CUIDADOS PALIATIVOS: UM OLHAR SOBRE OS CUIDADORES DE PACIENTES FORA DA POSSIBILIDADE DE CURA
Silvia Francine Sartor1, Stefanie Griebeler Oliveira2, Kimberly Larroque Velleda3, Fernanda Sant’Ana Tristão4
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Acadêmica do 5º semestre. Faculdade de Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas (UFPel). sii.sartor@hotmail.com
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Doutora em Enfermagem (UFRGS). Professora Assistente Faculdade de Enfermagem/UFPel. stefaniegriebeleroliveira@gmail.com
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Acadêmica do 7º semestre. Faculdade de Enfermagem. Universidade Federal de Pelotas. kimberlylaroque@yahoo.com.br.
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Doutoranda em Enfermagem (UFPel). enfermeirafernanda1@gmail.com
Introdução: na contemporaneidade, em meio a todos os artifícios, tecnologias médicas e intervenções no corpo que buscam ampliar a vida, os cuidados paliativos emergem como uma possibilidade de aliviar o sofrimento e proporcionar qualidade de vida aos indivíduos na terminalidade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cuidados pa-liativos são definidos como uma abordagem que melhora a qualidade de vida de pacientes e cuidadores, que enfrentam problemas associados a doenças que ameaçam suas vidas, através da prevenção e alívio do sofrimento, por meios de identificação precoce e avaliação impecável, e tratamento da dor e outros problemas, físicos, psicossociais e espiritu-ais.¹ Geralmente, quando se fala em estado de terminalidade, prontamente se direciona qualquer atenção a pacientes e suas condições de cronicidade. Entretanto, a todo paciente que se encontra em tal situação, é necessário e indicado um cuidador, o qual na maioria das vezes é um familiar, que estará cuidando de seu familiar enfermo quando a equipe não estiver presente. Muitas vezes, a pessoa encarregada por esse cuidado não recebe a devida atenção pelos profissionais de saúde, o que pode muitas vezes acarretar em um segundo paciente, o próprio cuidador familiar. O atendimento às necessidades dos cuidadores deve abarcar os principais objetivos dos cuidados paliativos, sendo uma proposta de apoio aos familiares que deve ocorrer durante o tratamento e, após a morte do paciente, com seus familiares, os quais são categorizados também como pacientes e necessitam de atenção, de cuidado e atendimento terapêutico de uma equipe especializada².
Objetivo: o objetivo deste trabalho é refletir sobre as necessidades dos cuidadores familiares diante do estado de termi-nalidade de um ente querido e sobre a importância da implementação do cuidado integral destinado ao cuidador familiar.
Metodologia: trata-se de uma reflexão teórica que foi construída a partir das discussões realizadas no Grupo de Estu-dos sobre Práticas Contemporâneas do Cuidado de Si e dos Outros (GEPECCUIDADO), a leitura de livros, teses, dissertações e artigos que deram suporte às fases desta construção. Em complementaridade, foram consultadas na biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library Online (SciELO) tendo como descritores Cuidados Paliativos e Cuidadores, dos quais surgu 11 artigos, dos quais foram selecionados dois, intitulados: A necessária atenção à família do paciente oncológico; e Cuidar e ser cuidado pelo grupo de apoio protege. Foram selecionados por tratarem da importância dos cuidadores e relatarem suas necessidades.
Resultados: A família de um paciente com câncer requer grande atenção em virtude do caráter crônico e da gravidade de que se reveste a doença. A existência da doença na família mobiliza sentimentos positivos e negativos que precisam ser compreendidos pelos profissionais de saúde. Quanto mais avançada a doença, maior é o nível de dependência do paciente para com família, tornando-se necessário identificar o cuidador principal, mas sem perder de vista as dificulda-des que serão enfrentadas por toda a família, isto é, compreender os desgastes físicos e emocionais que essa situação acarreta3. É imporantante destacar que o que afeta o cuidador de pacientes com câncer não são somente os aconteci-mentos que cercam seus doentes, mas também suas emoções e comportamentos em face da doença. Cabe lembrar que o câncer, por se tratar de um assunto que ainda provoca estigma nos dias de hoje, pode acarretar sofrimento não só aos pacientes, mas também aos cuidadores familiares e que, talvez, conhecer as causas de sofrimento pode ajudar os profissionais de saúde a elaborarem ações para a promoção do cuidado integral ao cuidador familiar. Desta forma, é essencial proporcionar “escuta” dessas pessoas, pois a escuta permite entrar em contato com o conteúdo e verbalizá-lo, e dessa maneira, preparar-se melhor para lidar com um fato não desejado e a frustração e sofrimento dele decorrentes4. A assistência e o cuidado em saúde vai muito além da prática objetiva, abrange todas as áreas de cuidado possíveis, como também trabalha o emocional, espiritual, psicossocial e intelectual de cada indivíduo. É tão importante manter o foco no paciente debilitado como também em seu cuidador, o qual muitas vezes se desfaz de suas necessidades para atender a quem tanto ama. Lembrar que as pessoas são formadas pelo seu fisico, emocional, espiritual, social, ocupa-cional, mental, psicológico, e intelectual torna-se relevante, pois cada um desses aspectos formam a saúde do individuo, a qual deve ser adequadamente e receptivamente assistida em sua integralidade. Muito mais do que o olhar clínico, é fundamental perceber o paciente em sua totalidade, o que inclui também a comunidade da qual ele faz parte5. O trabalho de cuidar, inclusive do familiar, implica, para o profissional, em perceber o outro como ele mesmo se mostra, nos gestos e falas, em seus conceitos e limitações. Não é suficiente deixar a família o tempo todo ao lado do paciente, é necessário cuidar dela para potencializar o trabalho junto com a equipe; é preciso questioná-la sobre as dúvidas, observar-lhe as reações e comportamentos, entender suas emoções5.
Conclusão: acreditamos que ofertar ao cuidador uma atenção de qualidade é fundamental para que ele se sinta menos despreparado ao acompanhar seu familiar. A equipe deve voltar seu olhar para o cuidador, buscando identificar suas fragilidades, que podem ser físicas, emocionais e sociais. Com isso, torna-se possível planejar ações para minimizar os problemas deste sujeito, que assume um papel de grande importância nos cuidados paliativos. Atentando para saúde do cuidador e estabelecendo com ele um vínculo de confiança, os profissionais de saúde podem prepará-lo para atender as necessidades do doente, pois para que isso ocorra de forma efetiva o familiar precisa estar bem, precisa ser cuidado. Elaborar intervenções focadas no cuidador pode evitar que o mesmo se torne sobrecarregado e sinta-se valorizado por se dedicar ao paciente, aspectos que irão refletir positivamente na integralidade do cuidado.
Descritores: Cuidados paliativos; Cuidadores; Enfermagem.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos.
Referências
1 OMS. Mundial de Saúde. Definition of Palliative Care. Disponível em: <http://www.who.int/cancer/palliative/definition/en/>. Acesso em: 29 jul 2015.
2 OMS. Mundial de Saúde. (2002). National cancer control programs: policies and managerial guidelines. 2nd Ed. Geneva: World Health Organization.
3 Carvalho CSU. A Necessária Atenção à Família do Paciente Oncológico. Rev Bras Canc. 2008; 54(1): 97-102.
4 Sorato DB, Peres SV, Mitsuyuki MC, Drude FS. Cuidar e ser cuidado pelo grupo de apoio protege. Psicologia em Estu-do. 2010. 15(4): 751-759.
5 Santos-Júnior JRG, Velleda KL, Tristão FA, Rodríguez GC, Ameln RS, Sartor SF, Oliveira SG. 2015. Cuidados Paliativos: A Importância da Holisticidade. 4ª Jornada Internacional de Enfermagem. Centro Universitário Franciscano.
EFICÁCIA DA TERAPIA DA DIGNIDADE PARA ADULTOS COM CÂNCER EM CUIDADOS PALIATIVOS
Amanda Valério Espíndola¹; Ciomara Ribeiro Silva Benincá²; Silvana Alba Scortegana³
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Psicóloga Residente do Programa de Residência Multiprofissional em Atenção ao Câncer da Universidade de Passo Fun-do, Hospital da Cidade e Secretaria Municipal de Saúde de Passo Fundo.
² Psicóloga Doutora em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora Titular do curso de Psicologia da Universidade de Passo Fundo.
³ Psicóloga Doutora em Psicologia pela Universidade São Francisco. Professora Titular III do curso de Psicologia e dos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu em Envelhecimento Humano e em Administração, da Universidade de Passo Fundo.
Os cuidados paliativos preconizam o tratamento total e ativo de um paciente que, por conta dos agravos decorrentes de sua patologia, não responde ao tratamento curativo. Essa área do cuidado busca através da analgesia, do controle de sintomas, do apoio psicossocial e espiritual, uma melhora na qualidade de vida do paciente e de seus familiares. O alvo da terapêutica centra-se, dessa forma, no indivíduo, não em sua doença, a fim de possibilitar uma morte digna1. Enten-de-se, portanto, que os cuidados paliativos consistem em uma abordagem que exige uma assistência interprofissional, visando à integralidade no cuidado, o que justifica a presença do psicólogo nas equipes multiprofissionais e a urgência de suas práticas para a promoção de melhora na qualidade de vida de pacientes em processo de terminalidade e de seus familiares. A partir do reconhecimento dos estressores aos quais um paciente em fim de vida é submetido (depressão, ansiedade, desejo de morte, desesperança, sensação de inutilidade), Chochinov et al2 propuseram um novo modelo de psicoterapia dirigido àqueles pacientes terminais, chamado de terapia da dignidade. Trata-se de um modelo de psicote-rapia breve que sugere aos pacientes o relato de assuntos e questões pelos quais eles gostariam de ser lembrados. A terapia consiste na gravação e transcrição das sessões, as quais compõem, ao final da terapia, um documento que pode ser entregue a um familiar ou outra pessoa significativa para esse paciente. A terapia da dignidade é uma intervenção direcionada a pacientes portadores de doenças graves, a qual foca-se em aspectos como a preservação e a resolução de relacionamentos interpessoais, o compartilhamento de palavras afetuosas e a construção de um documento de legado para os familiares e demais entes queridos desses pacientes3. A pesquisa justifica-se enquanto ferramenta destinada a proporcionar aos pacientes terminais a aproximação de uma morte digna e ativa, visto que permite ao sujeito colocar-se e posicionar-se em relação às questões de sua vida, além de aproximá-lo afetivamente de seus familiares, já que o do-cumento produzido pode ser entregue a estes. Dessa forma, o objetivo geral da pesquisa consiste em avaliar a eficácia da terapia da dignidade na melhora da qualidade de vida dos pacientes oncológicos. Quanto aos objetivos específicos, propusemos verificar se há redução nos níveis de depressão e ansiedade após a intervenção com a terapia da dignidade; averiguar a associação entre os instrumentos de investigação. Quanto aos aspectos metodológicos do trabalho, trata–se de um estudo de caso múltiplo do qual participarão pacientes adultos com câncer, em tratamento paliativo, com prognóstico de sobrevida igual ou inferior a seis meses, internados ou realizando procedimentos ambulatoriais no perí-odo de julho a novembro de 2015, nas dependências do Hospital da Cidade de Passo Fundo/RS. Todos os participantes selecionados deverão ter mais de dezoito anos e estarem cientes de seu prognóstico, não havendo restrição quanto a gênero ou raça. Serão excluídos da amostra, pacientes em tratamento curativo para o câncer, indivíduos que apresentem distúrbios de fala ou cognitivos, pacientes sedados ou inconscientes. Para a realização da pesquisa, serão utilizados tais técnicas e instrumentos: Inventário de Depressão de Beck (BDI II); Inventário de Ansiedade de Beck (BAI II); Teste de Apercepção para Idosos e Adultos (SAT); Técnica da Terapia da Dignidade; Inventário da Dignidade do Paciente (IDP). Para proceder com a coleta de dados, será lido e entregue aos indivíduos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), relatando de forma clara os objetivos e procedimentos deste estudo. Será dada a liberdade de participação ou não e, tendo concordado em participar, o participante da pesquisa assinará esse termo, ficando uma cópia em sua posse e outra com o pesquisador. Após a assinatura do TCLE, conduzir-se-á a coleta dos dados. A intervenção dar-se-á em cinco encontros, realizados em ambiente hospitalar (à beira do leito – se leitos privativos – ou em consultórios nos quais são realizados atendimentos ambulatoriais, caso os quartos sejam compartilhados ou os pacientes estejam realizando procedimentos ambulatoriais), os quais terão duração de aproximadamente uma hora cada um. Estes encontros deve-rão ser realizados no prazo de até duas semanas. Num primeiro momento, será realizada uma entrevista inicial, na qual será novamente explicado de forma clara os objetivos do estudo e a metodologia que será utilizada. Após, será realizada a aplicação da testagem SAT, a fim de identificar atitudes e preocupações dos entrevistados em relação às questões mais centrais da velhice e, no caso dos pacientes oncológicos, da terminalidade. No segundo encontro, serão aplicadas as testagens Inventário Beck de Depressão, Inventário Beck de Ansiedade e Inventário da Dignidade do Paciente. Ao final desse processo, será entregue o protocolo de questões da terapia da dignidade. O paciente será orientado sobre o ques-tionamento que se dará no terceiro encontro, baseado nas questões do protocolo. No terceiro encontro, a pesquisadora irá questionar o paciente com as questões que constam no protocolo da terapia da dignidade, sendo que todo o encontro será gravado para que possa ser realizada a posterior transcrição do conteúdo do encontro. Em um quarto momento, será levado até o paciente o documento contendo a transcrição do terceiro encontro, o qual chama-se “legado”, para que o paciente possa revisá-lo, junto da pesquisadora e, realizar os ajustes que considere necessários. A fim de concluir–se a intervenção, será realizado um quinto encontro para reaplicação das testagens (Inventários Beck de Depressão e de Ansiedade e Inventário da Dignidade do Paciente) e, também, será entregue ao participante o seu legado. Quanto aos resultados, a pesquisa segue em fase de coleta de dados, com previsão para conclusão em dezembro de 2015. Entretanto, observa-se, ainda que a pesquisa esteja em execução, benefícios para pacientes oncológicos terminais e seus familiares ao longo do processo, pois possibilita que sejam resolvidos conflitos e promove uma comunicação clara e afetuosa. Conclui-se, portanto, que a terapia da dignidade através de sua contribuição para uma terminalidade digna, constitui-se em uma alternativa terapêutica em espaços de tratamento oncológico a pacientes próximos da finitude.
Descritores: Cuidados Paliativos; Psicologia; Oncologia.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos.
Referências
1 Araújo MMT, Silva MJP. Estratégias de comunicação utilizadas por profissionais de saúde na atenção a pacientes sob cuidados paliativos. Revista Escola de Enfermagem USP. 2012; 46 (3):626-32.
2 Chochinov HM, Hack T, Hassard T, Kristjanson L J, McClement S, Harlos M. Dignity Therapy: A Novel Psychotherapeu-tic Intervention for Patients Near the End of Life. Journal of Clinical Oncology. 2005 Aug 20; 23 (24):5520-5.
3 Fitchett G, Emmanuel L, Handzo G, Boyken L, Wilie DJ. Care of the human spirit and the role of dignity therapy: a sys-tematic review of dignity therapy research. BMC Palliative Care. 2015; 14:8.
FUTILIDADE TERAPÊUTICA A PACIENTES EM TERMINALIDADE: A VISÃO DE ENFERMEIRAS RESIDENTES DO PROGRAMA MULTIPROFISSIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE ONCOLÓGICA
Bianca Ávila1; Luana Bonow Wachholz1; Luiza Ferreira Pacheco1; Daniela Habekost Cardoso2; Norlai Alves Azevedo3
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Enfermeiras Residentes do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde (PRMS) do Hospital Escola da Univer-sidade Federal de Pelotas (UFPEL) – Atenção à Saúde Oncológica.
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Enfermeira do Programa de Internação Domiciliar Interdisciplinar do Hospital Escola da UFPEL. Mestre em Ciências.
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Coordenadora de Área Profissional do PRMS.
Introdução: Cuidado Paliativo, segundo a Organização Mundial da Saúde (2012), consiste na assistência promovida através de ações ativas e integrais prestadas com o objetivo de melhorar a condição de vida do paciente e seus fami-liares, diante de doença progressiva ou que ameace a vida. Esses cuidados trazem como fundamental a prevenção, o controle e o alívio do sofrimento, da dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais. Atualmente, com os avanços tecnológicos na área da saúde, os benefícios obtidos são notáveis, como o aumento do tempo médio de vida, a prevenção, a erradicação e a reversibilidade de expectativas na evolução de um grande número de doenças1. Por outro lado, mesmo com tantos recursos disponíveis, quando o paciente já não mais se beneficia destas tecnologias, não possui a possibilidade de cura e a morte é inevitável, este é considerado por definição um paciente em terminalidade e, os cuidados paliativos constituem um dos objetivos da assistência a este paciente. As ações paliativas podem ser definidas como medidas terapêuticas básicas, de baixa complexidade e sem intenção curativa, que visam minimizar as repercussões negativas da doença sobre o paciente2. Porém, quando as medidas terapêuticas fogem destes moldes, mesmo quando a conduta já foi definida como paliativa, os investimentos apenas prolongam o processo lento de morrer e são considerados como fúteis2,3. Por definição tratamento fútil é toda a intervenção que não atenda ou que seja incoe-rente com os objetivos propostos no tratamento de um determinado doente3. Nesse contexto, devemos avaliar em que momento os procedimentos invasivos e agressivos tem alguma utilidade quando falamos em cuidados paliativos ou se podemos considerá-los futilidade terapêutica4.
Objetivo: Relatar a visão de enfermeiras residentes do Programa Multiprofissional de atenção à saúde oncológica frente à utilização de terapêutica fútil no tratamento do paciente oncológico em terminalidade e indicação de cuidado paliativo.
Metodologia: Trata-se de um relato de experiência, baseado na vivência de enfermeiras residentes atuantes no cuidado de pacientes oncológicos em terminalidade. Para melhor elucidar estas vivências práticas, serão descritas as percep-ções destas profissionais diante das futilidades terapêuticas presenciadas nos diferentes cenários práticos, no período de março de 2014 a junho de 2015.
Resultados: Apesar do avanço nas diretrizes dos cuidados paliativos, que preconizam um cuidado mais humanizado, que valorize a autonomia e o conforto do paciente e o convívio com a família, cuidar de pessoas em processo de ter-minalidade ainda ocasiona divergências de condutas entre as equipes de saúde. São observados investimentos com diversas terapias fúteis ou inúteis que vão desde internação em unidades de terapia intensiva até a ocorrência de inú-meros procedimentos invasivos que já não são capazes de repercutir em mudanças no estado clínico do paciente ou promover melhor qualidade de vida. Ao contrário disso, o que pode ser observado é um prolongamento do sofrimento biopsicossocial, pois além da dor física que acarreta a maioria dos procedimentos invasivos como, por exemplo, coletas de exames laboratoriais diários, transfusões de hemocomponentes, sondagens e, entre tantos outros, ainda sobrevêm o sofrimento psicológico ocasionado pelo afastamento da família e de seu ambiente social durante o processo de morte e morrer. Outras terapêuticas fúteis a serem consideradas são: administração de nutrição por vias invasivas, entubação, ventilação mecânica e, até mesmo, a reanimação cardiopulmonar que, por muitas vezes é realizada em pacientes ter-minais, sem possibilidades de reversão ou mudança do quadro clínico, apenas como forma de prolongar a vida. Apesar do esforço de algumas equipes de saúde em respeitar a autonomia do paciente, suspender medidas de suporte de vida e interromper o tratamento fútil, essas são decisões sempre dilemáticas e consequentemente, afetam o ambiente de trabalho, resultando em uma carga emocional a estes profissionais cuidadores, principalmente quando encontram-se diante de familiares angustiados. Por este motivo, percebe-se que muitas equipes frente a estas questões, optam por continuar investindo no tratamento utilizando-se das diversas tecnologias disponíveis. Comumente percebe-se o pro-fissional enfermeiro como elo de comunicação e interação entre paciente, equipe e familiar, em busca de reflexões e discussões acerca dos princípios dos cuidados paliativos, no entanto essa comunicação para ser eficaz necessita do en-volvimento da equipe multidisciplinar, de forma intrínseca e natural e não somente como uma crença individual de cada profissional. Além disso, a deficiência de uma cultura institucional que incorpore a suas práticas de cuidado a filosofia dos cuidados paliativos, de uma comunicação efetiva e terapêutica entre os profissionais e a família, a fim de esclarecer e preparar para o processo de morte. Assim como, uma coesão nas ações das equipes de saúde para lidar com conflitos e desafios presentes no processo de terminalidade, são pontos importantes a serem refletidos e trabalhados para se buscar a concretização de um processo de humanização do cuidado.
Considerações Finais: Cuidar de pessoas em processo de terminalidade demanda mais que conhecimentos técnico–científicos, exige a compreensão da individualidade do paciente e da valorização da pessoa humana. É necessário que exista a incorporação da filosofia dos cuidados paliativos, que é voltada para acolher, respeitar a autonomia, amenizar a dor e outros sintomas, promover o conforto e oferecer suporte psicossocial e espiritual. Compreender, promover e garantir cuidados paliativos efetivos e de qualidade aos pacientes terminais é um desafio que merece atenção por parte da equipe, uma vez que o “cuidar” deve perseverar também no processo de morte e morrer. Emerge assim, a necessi-dade de reflexão da prática atual para que o cuidado mais humano e menos técnico torne-se a essência no atendimento a pacientes em terminalidade sobrepondo-se ao objetivo de cura, com a utilização descomedida de terapêuticas fúteis, ainda presentes nas equipes de saúde.
Descritores: Cuidados Paliativos na Terminalidade da Vida; Enfermagem.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos.
Referências
1 BRASIL. Ministério da Saúde. INCA. Disponível em: <http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?ID=474 > Acesso em: 12 jul. 2015.
2 Moritz RD, Lago PM, Souza RP, Silva NB, Meneses FA, Othero JCB, et al . Terminalidade e cuidados paliativos na unidade de terapia intensiva. Rev. bras. ter. intensiva [Internet]. 2008 Dec [cited 2015 July 15] ; 20( 4 ): 422-428.
3 Piva, J. Considerações Éticas nos Cuidados Médicos do Paciente Terminal. Revista Bioética, Brasília, v.1, n.2, nov. 2009. Disponível em: http://www.revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/491/308.Acesso em: 15 Jul. 2015.
4 Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Manual de cuidados paliativos ANCP ampliado e atualizado. 2º ed. 2012, 592p.
O DESAFIO DA INTEGRALIDADE NO ÂMBITO DOS CUIDADOS NO FIM DA VIDA DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS
Michelle Bertóglio Clos1; Patricia Krieger Grossi2
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Assistente Social, Mestre em Educação pela UFRGS e Doutoranda em Gerontologia Biomédica pela PUCRS/IGG. Do-cente do Curso de Serviço Social pela ULBRA/Canoas.
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Assistente Social, Mestre em Serviço Social, Doutora em Serviço Social pela University of Toronto. Docente na Facul-dade de Serviço Social da PUCRS e no Programa de Pós Graduação em Gerontologia Biomédica do Instituto de Geriatria e Gerontologia/PUCRS.
Introdução: O envelhecimento é um processo natural, progressivo e irreversível e de acordo com as teorias socioló-gicas existentes, há múltiplas formas de percebê-lo. Neste sentido, o campo das ILPIs é vasto, e mesmo considerando que os estudos1,2 estão se tornando mais frequentes sobre o tema, existem lacunas no conhecimento3. Dentre estas lacunas estão os cuidados de fim de vida, bem como a integralidade enquanto estratégia para promoção do cuidado dos idosos residentes neste tipo de instituição. Cuidar é uma palavra com origem no latim cogitare, que tem por signi-ficado ‘imaginar’ ‘pensar’, ‘meditar’, ‘julgar’, ‘supor’, ‘tratar’, ‘aplicar’ a atenção, ‘refletir’, ‘prevenir’ e ‘ter-se’. Cuidar é o ‘cuidado’ em ato.4 O cuidado enquanto uma filosofia também é pertinente e nos remete ao conceito de hospice5, não como um local físico, mas como uma filosofia que inclui o paciente idoso durante seu processo de finitude e morte, como também sua família e seus cuidadores. Esta filosofia é pouco percebida em ILPIs no Brasil, e é um desafio deste estudo propor uma reflexão sobre isto, uma vez que são nestes espaços que o final da vida é evidentemente mais próximo para as pessoas que envelhecem. Um dos grandes desafios do Sistema único de Saúde (SUS) está na elabo-ração e execução de políticas de controle, vigilância e monitoramento focado na prevenção e atenção aos indivíduos com doenças não transmissíveis, uma vez que o impacto da morbidade e o curso prolongado deste tipo de doença requer uma abordagem longitudinal e integral. Destaca-se as DNTs, pois são elas que incidem com maior frequência na população idosa e, segundo a Organização Mundial de Saúde, são responsáveis por 70% de causas morte no Brasil. Neste sentido, a morte é geralmente causada pela progressão de uma doença crônica, e é muitas vezes, o resultado final do motivo de admissão no lar para a maioria dos residentes. O número de idosos que possuem doenças crônico–degenerativas ou doenças não transmissíveis vem num processo de crescimento contínuo e nos sinaliza para a necessidade de adaptação dos modelos de atenção e cuidado ao idoso. Este é um dado sobre o perfil dos idosos ins-titucionalizados que vem demandando atenção específica, mas que no processo de adoecimento no final de vida não recebem atenção necessária e não dispõem dos recursos necessários para garantir uma morte com assistência de boa qualidade1. Quando os cuidados curativos já não forem mais possíveis, adentra-se no campo dos cuidados palia-tivos, que segundo a OMS são “cuidados ativos e totais aos pacientes quando a doença não responde aos tratamentos curativos e quando o objetivo é alcançar a melhor qualidade de vida para pacientes e familiares”. Cuidado paliativo não é sinônimo de cuidado no fim da vida, mas uma dimensão importante quando a doença ameaça a vida.
Metodologia: Este estudo tem como problemática central: “como os cuidados no fim da vida vem sendo implementa-dos em Instituições de Longa Permanência na região metropolitana de Porto Alegre?” e como objetivo geral: “realizar um estudo referente à implementação dos cuidados no fim de vida em Instituições de Longa Permanência para Idosos na região metropolitana de Porto Alegre”. Por questão norteadora tem-se: a integralidade do atendimento é uma di-mensão observada no cuidado no fim de vida de idosos institucionalizados? Nos objetivos específicos definiu-se por meta: identificar quais as percepções dos profissionais e dos familiares/responsáveis sobre os cuidados no fim da vida de idosos no âmbito das instituições de longa permanência. E as unidades de contexto: Equipe, atendimento, multipro-fissional, funcionários, plano de atendimento, cuidado, percepção de cuidado, suporte, rede de atendimento, não com-preensão do significado de integralidade. O projeto foi desenvolvido em 4 momentos: elaboração do Instrumento de coleta de dados e pré-teste, mapeamento das ILPIs na região metropolitana de Porto Alegre, entrevistas com técnicos (N=19) e familiares (N=13) e análise dos dados segundo a proposta de análise de conteúdo10.
Resultados: Ao analisar o conteúdo das entrevistas, em especial, os que se
referiam ao conhecimento dos técnicos sobre a integralidade no atendimento, os principais sinônimos para este termo foram: “atendimento multiprofissional”
e “atendimento multifuncional”. Dentre as reflexões fica o questionamento se é
possível conciliar cuidado na perspec-tiva da integralidade com pouca informação e formação profissional. Tal reflexão tem por base a terceira dimensão mencionada anteriormente – conhecimentos e práticas, e a implicação dos sujeitos no cuidado à saúde. Isto recai no empirismo e na boa vontade que historicamente induz à crença de que para cuidar de idosos basta “gostar de cuidar de idosos”. Um desafio se evidencia quando 73% dos técnicos informam não terem formação específica na área do idoso e 57,9% desconhecem o que são os cuidados paliativos. Ao mesmo tempo, 84,2% dos entrevistados afirmam possuir condições adequadas de trabalho para o cuidado. É possível que esta condição empírica de gos-tar de trabalhar com idosos esteja associada à reiteração de trechos focados no “cuidado com carinho” e “cuidado com amor”. Pode-se dizer que o “cuidado é um tipo de relação que inclui o acolhi-mento, a visão e a escuta do usuário num sentido global, em que o sujeito emerge em sua especificidade, mas tam-bém como pertencente a um contexto sociocultural”, significa dizer que o olhar afetivo é importante, mas precisa ser um dos elementos do cuidado em saúde na perspectiva de integralidade e não o único elemento.
Conclusões: O conceito de integralidade abarca uma diretriz da política de saúde alicerçada nos princípios da Cons-tituição Federal – dignidade da pessoa humana e cidadania. Isto pressupõe a integralidade enquanto um valor, um objetivo de rede. Ao longo do que foi observado e analisado pode-se afirmar que a integralidade não é uma dimensão observada no campo das ILPIs, tal qual a concepção prevista na política de saúde, no âmbito das Instituições de Longa permanência pesquisadas. Não há uma compreensão conceitual de seu significado. Ainda há uma prática, embora com traços humanizados, permeada de crenças sobre como o cuidado ao idoso deve ser, e isto nos aponta para a ne-cessidade de capacitação profissional nos espaços institucionais como estratégia para promoção da integralidade na atenção à vida, sobretudo ao final dela.
Descrição: Instituição de Longa Permanência; Cuidados paliativos; integralidade em saúde.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos
Referências
1 Camarano AM., (Org.). Cuidados de longa duração para a população idosa: um novo risco social a ser assumido? Rio de Janeiro: IPEA; 2010.
2 Simões ASL. Cuidados em fim de vida em lares de idosos: revisão sistemática da literatura. Pensar Enfermagem. 2013 1ºsem. Vol. 17 (1): 31-61. Disponível em: <http://pensarenfermagem.esel.pt/files/PE17-1_31_61.pdf> . Acesso em 10 ago. 2014.
3 Clos MB. Recusa, conformidade e libertação: considerações sobre o processo de adaptação de idosos em uma Ins-tituição de longa permanência para idosos. Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2010. [Dissertação de Mestrado]. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/28800> .
4 Pinheiro R. Verbete Cuidado em Saúde. IN Fundação Oswaldo Cruz. Dicionário da Educação Profissional em Saúde. Rio de Janeiro, 2009a. Disponível em: <http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/cuisau.html> Acesso em 10 mar. 2015.
5 Floriani CA.; Schramm, FR. Casas para os que morrem: a história do desenvolvimento dos hospices modernos. Hist. cienc. Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 17, supl. 1, July 2010 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702010000500010&lng=en&nrm=iso. Acesso em 30 Jan. 2015.
OLHAR MULTIPROFISSIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: RELATO DE CASO
Carine Lumi1, Émille Dalbem Paim2, Keron dos Santos Sanches3, Marina Araújo da Cruz Moraes4 e Natália da Silva Viana5
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Fisioterapeuta Residente da Residência Multiprofissional Integrada em Saúde da Ênfase de Oncohematologia UFCSPA/ISCMPA.
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Fonoaudióloga Residente da Residência Multiprofissional Integrada em Saúde da Ênfase de Oncohematologia UFCSPA/ISCMPA.
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Enfermeira Residente da Residência Multiprofissional Integrada em Saúde da Ênfase de Oncohematologia UFCSPA/ISCMPA.
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Enfermeira Residente da Residência Multiprofissional Integrada em Saúde da Ênfase de Oncohematologia UFCSPA/ISCMPA.
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Nutricionista Residente da Residência Multiprofissional Integrada em Saúde da Ênfase de Oncohematologia UFCSPA/ISCMPA.
Introdução: Os cuidados paliativos compreendem conhecimento científico inerente a várias especialidades e possibili-dades de intervenção clínica e terapêutica nas diferenciadas áreas de conhecimento das ciências da saúde. No entanto, a assistência da equipe multidisciplinar é conduzida por sete princípios importantes: valorizar a vida e encarar a morte como um processo natural; não abreviar nem prolongar a vida; prover o alívio da dor e de outros sintomas; integrar os aspectos psicológicos e espirituais dos cuidados paliativos, os quais contribuem para o crescimento; proporcionar um sistema de suporte para a família durante a doença do indivíduo e no período de enlutamento; ser iniciado o mais preco-cemente possível(1). A prática do cuidado paliativo domiciliar vem crescendo apresentando vantagens diversas, inclusive a escolha do local para o processo de morte e morrer é parte da autonomia do paciente e deve ser um dos componentes dos Programas de Cuidados Paliativos. Esta decisão é compartilhada entre paciente e família, quanto mais estiverem esclarecidos e em paz com a situação de terminalidade, maior é a adesão aos cuidados paliativos em domicilio. A institucionalização da morte, quando ocorre nos hospitais, ainda é o modelo mais prevalente, porém, o paciente e os familiares devem ser preparados para a alta hospitalar com apoio da equipe multidisciplinar(2).
Objetivos: descrever o caso de uma paciente diagnosticada com neoplasia de pâncreas e metástase óssea que evoluiu para cuidados paliativos, propor a reflexão dos limites de intervenção e atuação da equipe multiprofissional no preparo da paciente e da família para o cuidado paliativo domiciliar.
Metodologia: as informações foram obtidas por meio de revisão do prontuário, avaliação do paciente e revisão da literatura.
Descrição do caso: paciente feminina, 60 anos, casada, tendo dois filhos, caucasiana, artesã aposentada, tabagista há 44 anos (aproximadamente 20 cigarros/dia), procura atendimento de emergência relatando enjoo, inapetência, ema-grecimento (23kg nos últimos 4 meses) e dor no quadril. Neste atendimento foi solicitada a realização de tomografia computadorizada e ecografia abdominal para diagnóstico clinico, constatando-se tumores metastáticos em fígado e pâncreas. Desde então segue internada em hospital de referência em oncologia na cidade de Porto Alegre. Durante a internação apresenta ascite neoplásica realizando paracenteses de alívio recorrentes, evoluindo para piora do quadro geral apresentando sintomas como dispneia, distensão abdominal, icterícia, desidratação. Após um mês de internação a paciente teve o diagnóstico de neoplasia de pâncreas com metástase óssea. Equipe assistencial acorda início de quimioterapia paliativa realizada em ambulatório, paracentese pré-alta, e alta prevista após dois meses de internação. O tratamento paliativo com quimioterapia é iniciado, porém é necessário reduzir a dose por hiperbilirrubinemia. Pa-ciente não tolera realizar o D15 do primeiro ciclo da quimioterapia por piora da evolução clínica é encaminhada para a emergência, reinternando. A equipe assistencial decide por suspender a quimioterapia paliativa e informa a paciente e família a respeito da incurabilidade da doença, discutindo a passagem da paciente para a equipe de cuidados paliativos. A paciente é transferida para o leito de cuidados paliativos, atendida pelo serviço de psicologia, fonoaudiologia, nutrição, fisioterapia e serviço social. Após abordagem da equipe de cuidados paliativos paciente relata o desejo de que não se-jam realizadas medidas postergadoras em caso de incurabilidade. A equipe de cuidados paliativos sugere redução da dieta, conforto da paciente e da família, analgesia contínua, suspensão da hidratação e evitar a realização de exames diagnósticos, porém a equipe médica assistente solicita a realização de tomografia de abdômen para esclarecer status da doença e exames laboratoriais para controle. No decorrer do atendimento da equipe de cuidados paliativos a paciente demonstra tristeza em relação ao quadro clinico de terminalidade, no entanto refere que ainda crê que o exame (TC abdômen) ainda poderá evidenciar alguma possibilidade de tratamento e cura. Como resultado da tomografia evidencia que a doença está estável e fora das possibilidades terapêuticas, desde então família e paciente estão sendo preparados para alta hospitalar. Referem insegurança, esposo resistente a alta hospitalar, negando estágio da doença da paciente, difícil compreensão do papel da família como responsável pelo cuidado, resistente em aceitar que os filhos participem do planejamento da alta da paciente.
Resultados e discussão: a perda de peso da paciente configura comprometimento nutricional, com depleção de massa magra, perda de gordura subcutânea, perda ponderal de 30,2%, seu gasto energético basal fica em torno de 1758,6Kcal/dia, segundo equação de Herris-Benedict, 1919. Esta perda de peso é na maioria das vezes o primeiro sin-toma do mau prognóstico em pacientes oncológicos estando associado ao aumento da morbi-mortalidade. Os sintomas relacionados à alimentação apresentados são: odinofagia, disgeusia, inapetência, náuseas e, por vezes vômitos. Em cuidados paliativos a terapêutica nutricional tem como principal objetivo aumentar a qualidade de vida minimizando os sintomas relacionados à alimentação(3). Destacamos que a conduta sugerida pela equipe de cuidados paliativo em rela-ção à alimentação é a redução da dieta visando amenizar o desconforto gastro intestinal da paciente. Um dos princípios da bioética é a não maleficência que objetiva proteger o paciente de algo que possa lhe causar dano. A paciente do caso e seus familiares por diversas vezes relataram aos profissionais envolvidos em seu cuidado que a realização da tomo-grafia computadorizada representava uma esperança de cura, mesmo estando cientes da terminalidade. Neste sentido voltamos nossa reflexão para o possível prejuízo ocasionado com a solicitação deste exame, questiona-se o quão bené-fico é a realização de exame, já que acabou somente gerando ansiedade e negação em relação à terminalidade. Por este motivo a equipe de cuidados paliativos indica a suspensão de tratamentos fúteis e solicitação de exames diagnósticos(4). A não aceitação dos cuidados paliativos serem transferidos para o domicilio não é exclusividade do caso relatado, já que embora pacientes e famílias reconheçam que em casa seja o lugar mais confortável para o processo de morte e morrer, devido à sobrecarga e a insegurança que isto representa os hospitais ainda são os lugares mais utilizados para a passagem dos últimos dias de vida(5).
Conclusão: o caso relatado demonstra a importância da abordagem multiprofissional no cuidado paliativo do paciente oncológico. Percebemos que os limites terapêuticos ainda não são bem definidos e nem todos os profissionais estão devidamente preparados para a preservação da qualidade de vida do paciente paliativo, o que nos impulsiona a concluir a necessidade de capacitações e aperfeiçoamento destes profissionais. A terminalidade é um momento difícil para pa-ciente, familiares e também para a equipe, a possibilidade de cuidados paliativos domiciliares é cada vez mais palpável, porém o cuidado paliativo precisa ser iniciado o mais precoce possível para podermos intervir da forma mais adequada junto ao paciente e a família.
Descritores: Cuidados Paliativos, Oncologia, Equipe de Assistência ao Paciente.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos.
Referências
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Ferreira NMLA, Souza CLB, Stuch Z. Cuidados paliativos e família. Rev. Ciênc. Méd., Campinas, 17(1):33-42, jan/fev.,
2008.
PERCEPÇÃO DOS CUIDADORES DE PACIENTES EM CUIDADOS PALIATIVOS
Kimberly Larroque Velleda1; José Ricardo Guimarães dos Santos Junior1; Silvia Francine Sartor1; Nathiele Carvalho Michel1; Jéssica Rossales da Silva1; Stefanie Griebeler Oliveira2
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Acadêmicos de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas.
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Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas.
Introdução: A medicina paliativista é baseada em princípios éticos, dentre eles, os de proporcionalidade terapêutica, não-abandono e tratamento da dor1. Os cuidados paliativos (CP) abrangem o tratamento de pessoas portadoras de doen-ças sem prognóstico de cura e/ou em terminalidade, tendo como objetivo melhorar a qualidade de vida dos usuários2. A integralidade é um dos aspectos preconizados por essa filosofia de cuidado, ou seja, ao ofertar assistência ao paciente e seus familiares, a equipe deve considerar as necessidades físicas, emocionais e espirituais3, a atendendo de forma indi-vidualizada e continuada2. Embora a maioria das intervenções dos CP sejam voltadas aos pacientes, oferecendo suporte aos cuidadores a equipe pode prepará-los para aceitar a doença e sua evolução, o que favorece durante a realização dos cuidados, assim proporcionando mais conforto ao paciente4.
Objetivos: Considerando que a família tem um papel fundamental para que os cuidados sejam realizados de forma efetiva, objetivamos com este trabalho refletir sobre as percepções dos cuidadores familiares, referentes ao paciente em CP.
Metodologia: Trata-se de uma pesquisa em andamento, de abordagem qualitativa, realizada com quatro cuidadores de pacientes fora de possibilidades terapêuticas de cura do Programa de Internação Domiciliar Interdisciplinar (PIDI). A pesquisa intitulada: “Formas de ser cuidador em atenção domiciliar: práticas que falam de si”, foi aprovada pelo comitê de ética em pesquisa da faculdade de medicina sob o número 866.884. A coleta de dados iniciou em junho de 2015 com entrevistas narrativas realizadas em três encontros, no domicílio em que o cuidador realiza o cuidado. As entrevistas fo-ram transcritas e analisadas parcialmente para a construção deste trabalho, no qual serão apresentadas narrativas dos cuidadores sobre como eles enxergam o paciente que recebe CP. Para manter em sigilo a identidade dos entrevistados, iremos utilizar a codificação “C” para cuidador, seguido de uma ordem numérica (ex.: C1, C2, C3…).
Resultados: É possível identificar através das falas dos cuidadores o quanto é impactante receber a notícia de que um ente querido está diagnosticado com uma doença sem possibilidade de cura, e acompanhar o processo de adoecimento. C1: “Foi um choque danado, aí como ele é o pai dos meus filhos, na real eu amo ele ainda, foi por amor. Aí foi um sacrifí-cio muito triste porque ele tá definhando, ele nem parece mais aquele homem, tu olha e vê que ele já se foi”. O paciente mencionado encontrava-se em situação de terminalidade, enfrentava limitações e perdia a capacidade de realizar ati-vidades básicas, o que levou a cuidadora a considerar o cuidado como um sacrifício, pois a coloca diante da decadência de seu familiar. A situação mencionada acarreta em sentimentos de angústia e tristeza, por ser um momento onde o familiar doente, que anteriormente possuía uma vida produtiva, vai gradativamente perdendo suas funções e tornando–se dependente5. Outro aspecto abordado pelos cuidadores é o fato de que o paciente se encontra sozinho. C2: “Ele fica ali, não é abandonado, mas fica um pouco só, porque a gente tava sempre junto”. O relato expressa o afastamento entre o paciente e seu familiar, o que pode ocorrer por diversos fatores. Embora sejamos conscientes de nossa finitude, a terminalidade é uma experiência individual, na qual emergem sentimentos complexos que os pacientes podem evitam verbalizar, pois temem não serem compreendidos ou consolados. Existe uma dificuldade na relação entre pessoas saudáveis e o paciente terminal, pois a morte do outro lembra a morte de si5. Os pacientes que se encontram em CP são atendidos tendo como prioridade a qualidade de vida e não a cura, nestes casos a evolução da doença é inevitável. C3: “O que angustia é ver o sofrimento dele (lacrimejou, silenciou). Só isso […] é difícil fazer um curativo em uma pessoa, todos os dias […] e tu nunca ver uma melhora. Sempre vai vendo a piora. Você vendo uma ferida que vai vendo cicatrizar, fechar, ficar bonita, sarando, não. A gente só vai vendo o contrário”. Cuidar de um paciente terminal pode se tornar mais difícil, sobretudo, porque parece ser um cuidado que não apresenta progressos. A consciência da terminalidade por parte dos cuidadores gera sentimentos de tristeza e de impotência diante da situação, porém, embora exista uma frustração, os sentimentos pelo familiar parecem fortalecer os cuidadores diante do desafio que é realizar o cuidado5.
Conclusão: Não há dúvidas que oferecer aos cuidadores um espaço para falar de si, de suas angústias e percepções sobre o doente e seu prognóstico, o que reflete indiretamente na assistência prestada ao paciente. Entretanto, também
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essencial cuidar desse cuidador, que acompanha seu familiar e o auxilia em seu enfrentamento; o cuidador precisa de suporte emocional, pois encontra-se em uma situação de fragilidade. Neste sentido, acreditamos que as entrevistas realizadas durante a pesquisa podem minimizar a sobrecarga emocional dos cuidadores, que geralmente não se sentem à vontade para relatar suas preocupações, pois julgam ter o dever de permanecer fortes para apoiar o familiar, evitando relatar suas fragilidades. No decorrer da coleta de dados, foi possível realizar escuta terapêutica com os cuidadores, que ao final das visitas referiam estar mais tranquilos e aliviados por expressarem seus sentimentos e contarem suas histórias.
Descritores: Cuidados paliativos; Cuidadores; Enfermagem.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos
Referências
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Oliveira SG. Representações sociais da internação domiciliar na terminalidade: o olhar do cuidador familiar [disser-tação]. Santa Maria (RS): Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Santa Maria; 2010.
PERCEPÇÕES DE ACADÊMICAS DE ENFERMAGEM FRENTE AO DIAGNÓSTICO TARDIO DE LEUCEMIA MIE-LÓIDE AGUDA: UM OLHAR AO PACIENTE E A FAMÍLIA
Daniele Luersen1; Manoella Souza da Silva1; Liceli Berwaldt Crizel1; Luciana Farias1; Vera Lúcia Freitag2; Viviane Marten Milbrath3
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Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Pelotas/ RS.
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Mestranda em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Enfermeira egressa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)/Campos de Palmeira das Missões
– Rio Grande do Sul (RS). Bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Pelo-tas/RS – Brasil.
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Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Enfermeira pela UFPel. Professora Adjunta da UFPel. Pelotas/RS – Brasil.
Introdução: A leucemia é conhecida como uma doença maligna que atinge os leucócitos, chamados de glóbulos bran-cos. Sua principal característica é o acúmulo de células jovens anormais na medula óssea, que substituem células normais. Na leucemia mielóide aguda há um rápido desenvolvimento das células doentes e o quadro clínico agrava-se rapidamente1. A hospitalização e o tratamento alteram o cotidiano e modificam os sentimentos do paciente oncológico. O cuidado a estes pacientes torna-se mais complexo uma vez que envolve aspectos físicos, biológicos e espirituais. Cabe ao enfermeiro compreender e valorizar a relação entre a espiritualidade e o enfrentamento ao câncer na visão do pa-ciente, para que o mesmo possa transcorrer por esse momento delicado de forma mais amena possível2. Compreende–se que muitas vezes não há possibilidade de cura para a doença, porém o termo “não há mais nada que se possa fazer” não condiz com a assistência que deve ser prestada a estes pacientes visando à qualidade de vida mesmo que não seja mais possível uma intervenção curativa. Nessa perspectiva, os cuidados paliativos buscam ofertar a estes pacientes alívio e conforto, segundo a Organização Mundial da Saúde “Cuidado Paliativo é uma abordagem que promove a quali-dade de vida de pacientes e seus familiares, que enfrentam doenças que ameacem a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento. Requer a identificação precoce, avaliação e tratamento da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual”3.
Objetivo: Relatar a experiência das acadêmicas frente ao cuidado de enfermagem ao paciente e família que enfrentam a descoberta do diagnóstico tardio de Leucemia Mielóide Aguda em estágio avançado, impossibilitando tratamento curativo e com evolução rápida ao óbito da paciente.
Descrição Metodológica: Trata-se um relato de experiência de acadêmicas de enfermagem referente ao acompa-nhamento a uma paciente internada em uma Unidade de Clínica Médica de um Hospital Universitário (HU) que ocorreu no mês de maio de 2014, durante estágio curricular da Universidade Federal do município localizado no interior do Rio Grande do Sul.
Resultados: Paciente do sexo feminino, 50 anos, residente da área rural de um município no interior do RS, iniciou com quadro de fraqueza muscular, perda de peso e fadiga extrema. Não buscou auxilio médico. Após alguns dias, apre-sentou síncope associada aos sintomas anterioes e foi conduzida ao hospital do município vizinho ao que reside, onde permaneceu internada por três dias. No entanto, foi encaminhada para o Pronto Socorro do município em que ocorreu o acompanhamento após queda brusca dos niveis de plaquetas, quadro em que manifestou petequias por todo o corpo. Após um dia internada, conseguiu-se leito em uma unidade de Clínica Médica do Hospital Universitário iniciando as-sim o acompanhamento das acadêmicas de enfermagem. Os familiares, contudo, ainda não tinham conhecimento do quadro clínico da paciente. Iniciado os exames e controle de plaquetas, observou-se a queda das mesmas ao decorrer dos dias, alcançando níveis extremos, cerca de 3.000/mm³, sendo que os valores de referência de plaquetas por mm³ de sangue em um indivíduo sadio é de 150.000 e 400.000, assim foi necessário diversas transfusões sanguíneas de concentrado de plaquetas. A paciente então, iniciou gradativamente quadro de perda de sénsorio, com episódios de confusão mental, desorientada em tempo e espaço, não reconhecia seus familiares, passando então por momentos de agitação necessitanto de tranquilizantes, no entanto, apresentava-se lúcidas em alguns momentos. Os médicos não obtiam êxito em estabelecer o diagnóstico e a família, sem compreender o que estava acontecendo, continuava sem respostas. O esposo sempre presente, permanecia ao seu lado todos os dias, desinformado sem entender o quadro clínico da paciente que deteriorava-se a cada dia que passava, não conseguia se abrir com as acadêmicas, criava-se curtos dialógos obtendo-se informações apenas quando questionado e era perceptível a angústia do mesmo frente ao desconhecimento da gravidade do quadro clínico de sua esposa. Durante as conversas, ele mencionou que a mesma não tinha em sua história pregressa nenhum problema de saúde. Pelo fato de serem do interior e pelo pouco estudo, não compreendia o que se passava, o por quê de sua esposa em alguns instantes ter lápsos de memória e saber que está doente, lembrar de seus filhos e netos e de repente olhar para seus familiares e ver apenas estranhos ao seu redor Abatido, apelou então para sua fé em Deus, e percebendo que isso reconfortava paciente e família nesse momento difícil que estavam enfrentando, as acadêmicas passaram a visitá-los nos dias que era possível levando consigo uma palavra de conforto e os incentivando a sempre buscar auxílio e acreditar na espiritualidade. Com o passar dos dias, a paciente já não respondia a estimulos verbais, o que por um momento fez o esposo acreditar que seria melhor que ela descan-sasse e se desligasse de todo sofrimento que passava. Finalmente os médicos chegaram ao diagnóstico da paciente após biópsia de medula óssea, constatando o quadro de Leucemia Mielóide Aguda em estágio avançado, informando ao esposo que não haviam mais possibilidades de cura e que seguiriam aos cuidados paliativos para manejo da dor e sintomas, proporcionando a ela qualidade de vida no tempo que a restava, o mesmo preferiu não contar à sua esposa, prevenindo-a de mais sofrimento. Na noite seguinte, a paciente apresentou piora necessitanto então ser encaminhada para Unidade de Terapia Intesiva por dificuldade respiratória evoluindo ao óbito nesta mesma noite. Compreende-se que o enfermeiro é o profissional mais presente na assistência aos pacientes oncológicos e suas famílias no contexto hos-pitalar, sendo inevitável seu envolvimento nesse cuidado que abrange sofrimento e angústia aos pacientes e familiares e, consequentemente refletindo diretamente no profissional, este deve manter-se firme para prestar o apoio que eles necessitam neste momento4.
Conclusão: O paciente oncológico é um ser especial que, juntamente, com sua família busca diversas formas de en-frentamento para resistir ao processo total da doença e de todos os abalos físicos e emocionais que a doença traz. O cenário oncológico possibilita tomar consciência dos processos de finitude que permitem aos familiares e aos pacientes repensarem sua existência. Diante desta vivência, foi possível à compreensão dos sentimentos e perceber que a espi-ritualidade é fundamental para os pacientes e familiares, mas também para os profissionais da saúde, que frente a um caso como este, apesar de sua formação sobre gestão de emoções, é ilusão pensar que possuem um interruptor capaz de desligar sua corrente emocional, incapacitando-os de se envolver e de serem afetados pelas circunstâncias do seu cuidar.
Descritores: cuidados paliativos; enfermagem; oncologia.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos.
Referências
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PERFIL DOS PACIENTES ATENDIDOS NO PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA AO ESTOMIZADO DE UMA CIDADE DO SUL DO RIO GRANDE DO SUL
Janaína Suziéli Pinto1; Viviane Marten Milbrath2; Elaine Thumé3; Rosani Manfrin Muniz4
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Enfermeira da ESF de Morro Redondo, Mestranda da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas–UFPel. Especialista em Estratégia Saúde da Família com ênfase em Políticas Públicas. Acadêmica de Psicologia pela Universidade Federal de Pelotas-UFPel. E-mail: suzielidejesus@bol.com.br
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Enfermeira, Doutora em Enfermagem e Docente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas–UFPel. E-mail: vivimarten@ig.com.br
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Enfermeira, Doutora em Enfermagem e Docente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas–UFPel. Email: elainethume@gmail.com
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Enfermeira, Doutora em Enfermagem e Docente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas–UFPel. E-mail: romaniz@terra.com.br
Introdução: Ostomia, ostoma ou abertura são utilizadas para indicar a exteriorização de qualquer víscera oca através do corpo por diversas causas1. A confecção do estoma independente da patologia ocasionará uma série de mudanças na vida dos pacientes tais como: necessidade do autocuidado com a estomia, aquisição do material apropriado para a contenção das fezes, adequação alimentar, convivência com a perda do controle da continência intestinal, eliminação de odores, alteração da imagem corporal, bem como alterações das atividades sociais, sexuais e cotidianas. Além das possíveis complicações como: irritação cutânea, estenose, infecção da pele e/ou subcutâneo, hérnias, necrose e/ou re-tração do coto cólico, fístula e prolapso2. A incontinência é a incapacidade de manter o controle voluntário dos elementos de exoneração, urina ou fezes, atinge milhões de pessoas em todo mundo, constitui um problema de saúde pública por afetar as relações psico-sócioeconomicas. Causa embaraço inaceitação e vergonha, por esse motivo não é falado com familiares ou profissionais da saúde, afetando a qualidade de vida desses pacientes3.
Objetivos: Apresentar o perfil dos pacientes atendidos pelo Programa de Assistência ao Estomizado de uma cidade do sul do Rio Grande do Sul.
Metodologia: Estudo quantitativo, exploratório e descritivo. Os informantes do estudo foram 70 pacientes portadores de estoma e/ou incontinentes atendidos no Programa de Assistência ao Estomizado, de uma cidade de médio porte do inte-rior do Rio Grande do Sul. A coleta de dados ocorreu nos meses de junho a agosto de 2012, no programa e no domicílio dos informantes. Os instrumentos para a coleta de dados foi um questionário do perfil socioeconômico demográfico e saúde. A análise dos dados foi no programa SSP. O estudo recebeu parecer favorável de um Comitê de Ética em Pesqui-sa, sob o número 195/2012, e respeitou as diretrizes sobre pesquisa com seres humanos, estabelecidas pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Resultados e Discussão: Dos setenta pacientes entrevistados 55,7% eram do sexo masculino. O estudo de Santos com 178 entrevistados, também verificou uma maior proporção da população masculina (56.7%).4 No estudos rea-lizados com estomizados pertencentes a Coordenadoria Regional da Macrorregião Missioneira do Rio Grande do Sul foi encontrado que das 88 pessoas entrevistadas, 62,5% eram mulheres, contrapondo com os achados nesse estudo. Analisando a distribuição do estomizados quanto à faixa etária observa-se que a maioria (75,6%) encontra-se entre 51 e mais de 71 anos, porém a maior parte das pessoas portadoras de estomias intestinais tem idade superior a 40 anos. A compatibilidade entre a maior incidência das neoplasias e a maior parte dos estomizados apresentarem idade su-perior a 40 anos, fator de risco para o aparecimento dos cânceres com incidência aumentada a partir desta idade e em alguns casos geradoras de estomia. As projeções da Organização Mundial da Saúde para 2025 são que o Brasil estará entre os 10 países do mundo com maior número de idosos. Essa mudança corresponderá a uma importante transição epidemiológica e grande crescimento da demanda de serviços de saúde, implicando em tratamento de longa duração, recuperação mais lenta e intervenções com custos elevados. Estudos sobre transição epidemiológica e de carga de doença em idosos no Brasil mostraram, em 1998, as crônico-degenerativas em primeiro lugar (66,3%), em segundo as infecciosas (23,5%) e, em terceiro e último, as causas externas (10,2%). A maioria dos entrevistados apresentava cor da pele branca, seguindo o padrão da população brasileira. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a maioria da população brasileira (70,1%) se denomina de cor branca. Quanto à procedência, somente 7,1% era da zona rural, incluindo os distritos da Colônia Osório, Monte Bonito e Colônia Santo Antônio. No estudo reali-zado por Santos no mesmo Programa de Assistência ao Estomizado que esse estudo com 27 indivíduos, foi encontrado que 14,8% eram da zona rural e 85,2% da zona urbana, ratificando os achados. Sobre a situação conjugal, podemos observar que mais da metade (58,5%) tinham companheiro. A maioria dos pacientes de suas pesquisas também eram casados. Entretanto, os estomizados sofrem restrições em sua vida sexual por causa das mutilações anatômicas ou por problemas psicoemocionais, possibilitando o rompimento dos relacionamentos por falta de compreensão, devido a sentimentos de vergonha e desinteresse sexual principalmente pelas mulheres5. Quanto ao nível de escolaridade dos entrevistados, 58,5% possuíam ensino fundamental incompleto e 4,2% eram analfabetos. Com relação à atividade profissional 68,5% estavam aposentados, visto que os estomizados podem receber auxílio-doença devido à doença que o levou a essa condição câncer, doença de Crohn, retocolite, ou seja, qualquer doença que leve a confecção de um estoma. A estomia de forma isolada não serve como critério para tal benefício, questão instigante, pois é considerada uma deficiência segundo o decreto número 5.296 de dezembro de 2004. As profissões encontradas nesse estudo foram auxiliar de enfermagem, faqueiro, servente, agricultor, comerciante, diarista, marceneiro, barbeiro, vendedor ambulan-te, agropecuarista, enfermeiro e servidor público, representando somente 20% da amostra. A renda familiar de maior prevalência foi um salário mínimo (57,1%), considerando a situação de aposentadoria podemos observar que a renda da maioria dos estomizados é baixa. Os estudos apontam que a renda é de dois a três salários superiores evidenciando que essa variável depende de local, amostra e do centro de referência. Também foi investigada a existência de dependentes e 55,7% dos entrevistados relataram que possuem. Dentre estes, 30% têm apenas um dependente e os demais mais de dois, o que pode agravar a situação de renda dos indivíduos. Os estudos realizados com estomizados hospitalizados encontraram achados semelhantes.
Considerações Finais: A partir desse estudo podemos observar que a maior proporção de estomizados é do sexo masculino. Devido os homens não ter o hábito de ir ao médico por questões culturais e sociais se tornam mais vulne-ráveis a doenças e consequente implicações. Dessa forma, há necessidade de intensificar as promoções de saúde para prevenir e conscientiza-los da importância de cuidar da saúde. Além disso, os profissionais da saúde devem repensar o seu papel na prevenção de doenças, pois o diagnostico das doenças gastrointestinais tem sido retardatários, aumentan-do os riscos de consequências. Outro fato importante encontrado neste estudo é que a expectativa de vida da população brasileira está aumentando, desse modo devemos reestruturar nosso sistema de saúde para atender essa população para que tenham uma vida de qualidade. O portador de estoma e/ou incontinente não tem apenas o seu físico alterado, mas também o psicológico, o social, até sua vida sexual é afetada, por isso considero de extrema relevância uma refle-xão sobre o perfil desses pacientes para a partir dessa reflexão analise traçar metas para melhorar a qualidade de vida desses pacientes. Os achados desse estudo estão correlacionados ao tema do congresso: Integralidade da Atenção em cuidados Paliativos, pois conhecer o perfil desses pacientes proporciona elaboração de estratégias para qualidade na assistência, bem como qualidade de vida para os assistidos.
Descritores: Estomizados; Incontinência; Perfil de Saúde.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos
Referências
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3 Netto, J.N. R, Lima, M.L. Incontinência urinaria no idoso. Moreira Junior; Cap.8, p.73-79, 2010.
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5 Cezareti, I.U.R. Caracterização dos pacientes portadores de ostomias intestinais atendidos no ambulatório da Escola Paulista de Medicina. Dissertação de mestrado da Escola Paulista de Medicina. São Paulo, p. 01 – 105, 2006.
QUALIDADE DE VIDA DOS PACIENTES ATENDIDOS NO PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA AO ESTOMIZADO
Janaína Suziéli Pinto1; Viviane Marten Milbrath2; Elaine Thumé3; Rosani Manfrin Muniz4
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Enfermeira da ESF de Morro Redondo, Mestranda da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas–UFPel.Especialista em Estratégia Saúde da Família com ênfase em Políticas Públicas. Acadêmica de Psicologia pela Universidade Federal de Pelotas-UFPel. E-mail: suzielidejesus@bol.com.br
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Enfermeira, Doutora em Enfermagem e Docente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas–UFPel. E-mail: vivimarten@ig.com.br
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Enfermeira, Doutora em Enfermagem e Docente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas–UFPel. Email: elainethume@gmail.com
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Enfermeira, Doutora em Enfermagem e Docente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas–UFPel. E-mail: romaniz@terra.com.br
Introdução: Qualidade de vida (QV) é a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. É um conceito de difícil operacionalização, equivale a bem-estar no domínio social, a status de saúde no domínio da medicina e ao nível de satisfação no domínio psicológico1. No Brasil, segundo dados da Associação Brasileira de Estomaterapia (SOBEST),2 existem cerca de 5000 pessoas estomizadas. Esses pacientes merecem atenção especial dos profissionais, serviços e programas de saúde, pois têm problemas físicos, psicológicos e sociais influenciam profundamente na qualidade de vida individual e familiar. Esses aspectos levam à necessidade de intervenções voltadas para a reabilitação. Assim, os objetivos do cuidar, baseado em atenção integral e individualizada, estão dirigidos para a identificação de suas necessi-dades assistenciais, o estabelecimento do nível de ajuda profissional exigido e o suficiente e adequado provimento de recursos para a reabilitação.3
Objetivos: Mostrar a qualidade de vida dos pacientes portadores de estoma e/ou incontinentes atendidos pelo Progra-ma de Assistência ao Estomizado e os domínios físicos, psicológicos, relações sociais e meio ambiente dos pacientes portadores de estoma e/ou incontinentes.
Metodologia: Estudo quantitativo, exploratório e descritivo. Os informantes do estudo, foram 70 pacientes portadores de estoma e/ou incontinentes atendidos no Programa de Assistência ao Estomizado, de uma cidade de médio porte do interior do Rio Grande do Sul. A coleta de dados ocorreu nos meses de junho a agosto de 2012, no programa e no domi-cílio dos informantes. Os instrumentos para a coleta de dados foi um questionário do perfil socioeconômico demográfico e o WHOQOL-bref4 que avalia a qualidade de vida. Ele é composto de 26 itens, 24 dos quais distribuídos em 24 facetas e quatro domínios: Físico (DF), Psicológico (DP), Relações Sociais (DRS) e Meio Ambiente (DMA). A análise dos dados foi no programa SSP. O estudo recebeu parecer favorável de um Comitê de Ética em Pesquisa, sob o número 195/2012, e respeitou as diretrizes sobre pesquisa com seres humanos, estabelecidas pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Resultados e Discussão: Os domínios que compõem o instrumento WHOQOL-bref foram analisados com as variáveis: sexo, idade, situação conjugal, e escolaridade e serão apresentadas as médias e o desvio padrão (dp) de cada domínio. Os escores podem variar de 0 a 100, sendo cem a nota máxima equivalente a qualidade de vida muito boa e zero muito ruim. O domínio físico teve o menor escore 64,9, o psicológico e ambiental obtiveram resultados semelhantes 67,6 e 67,2 consecutivamente e o domínio social foi o que apresentou melhor qualidade de vida. O domínio físico envolve os questionamentos relacionados à incapacidade pela dor, energia para o dia-a-dia, padrão de sono, atividades do dia-a–dia, capacidade para o trabalho e necessidade de tratamento médico para levar a vida diária. O estoma pode causar várias complicações que afetam o físico dos pacientes são elas: dermatite periostomal, necrose isquêmica, retração, prolapso, estenose, fístula periostomal, hérnia periostomal, abscesso periostomal, além da adaptação inadequada da placa ao estoma, devido à má localização do mesmo na parede abdominal. Manifestações sistêmicas como: distúrbios hidroeletrolíticos, em estomas de alto débito e anemia em casos de sangramento de varizes localizadas no estoma4. Além das complicações citadas, existe ainda, nos casos de estomias temporárias, a morbimortalidade relacionada ao procedimento de fechamento dos mesmos, associado a todas essas possíveis complicações o paciente pode ainda fazer tratamentos com quimioterapia e/ou radioterapia. O domínio psicológico é caracterizado pelas questões que retratam o sentido da vida, modo de aproveitar a vida, concentração, aceitação da aparência física, satisfação consigo mesmo e frequência de sentimentos negativos. A alteração da imagem corporal dos pacientes portadores de estoma causa im-pacto emocional e psicológico, desperta sentimentos de alienação do corpo, no sentido de se sentirem diferentes após a cirurgia com menos respeito e confiança por si próprios, além de terem sensação de desgosto e choque ao se depara-rem pela primeira vez com o estoma e a bolsa, muitos dos pacientes no inicio não querem limpar nem ao menos olhar, pois tem medo e até nojo do próprio corpo5. De acordo com o resultado das questões do domínio psicológico, pode-se observar que o sentido da vida é alterado, o modo de aproveitar a vida modifica-se, pois o estoma impõe limitações para realizar atividades diárias, a concentração é alterada, visto que, a necessidade de cuidado diário com a bolsa, muitos não se sentem satisfeitos consigo mesmos e todos nem que seja raramente tem sentimentos negativos, estado esse que dificulta a aceitação, recuperação e reabilitação, ou seja, sentimento que interfere intimamente na qualidade de vida. O domínio de relações sociais retrata as relações pessoais com os amigos, familiares e a vida sexual. Os pacientes recebem muito apoio dos amigos e familiares, porém sua vida sexual é completamente modificada pela condição de ser estomizado. A vida sexual encontra-se intimamente ligada a auto-imagem, sendo conseqüência para a diminuição da auto-estima e da percepção de atração sexual. Os distúrbios sexuais podem estar relacionados com complicações decorrentes do ato cirúrgico (lesão nervosa), como também devido a problemas físicos, problemas com o dispositivo, vergonha ou medo da não aceitação pelo parceiro, a maioria desses pacientes não retornam ou retornam parcialmente a sua atividade sexual devido esses problemas. O domínio ambiental retrata a segurança, ambiente físico saudável, renda, disponibilidade de informações, lazer, condições de moradia, acesso aos serviços de saúde e meio de transporte. Nesse domínio a maioria dos pacientes responderam que se sentem seguros no meio em que vivem, porém em relação a bolsa de colostomia são inseguros, mais da metade respondeu que a renda familiar é ruim, as informações sempre estão a disposição, as dúvidas sempre são sanadas, tem oportunidades de fazer atividades de lazer, porém não tem vontade, o local onde moram é bom, como também o acesso aos serviços de saúde. No domínio social, observou-se que a in-segurança e a renda afetavam a Q.V, visto que a condição de ser estomizado limita as condições de trabalho. O estoma associado ao uso da bolsa coletora leva a uma transformação pessoal, apesar de o paciente manter essa nova condição encoberta sob suas roupas, ela rompe com os padrões de normalidade. A adaptação à condição de portador de estoma e da bolsa coletora é um processo longo e contínuo e está relacionado à doença de base, ao grau de incapacidade, dos valores e o tipo de personalidade individual. Identificam-se como estratégias de enfrentamento passivas utilizadas pelos estomizados a resignação, revolta, encobrimento e isolamento social.
Considerações Finais: A partir desse estudo podemos concluir que o estomizado tem que passar por um processo de adaptação a nova condição, aceitação, força de vontade, compreensão do seu estado de saúde para obter uma melhor qualidade de vida boa, sem esse processo ele não conseguirá reacender a sua vida cotidiana. Dessa forma espero que esse trabalho possa contribuir para a reflexão dos academicos e profissionais de Enfermagem a respeito dos portadores de estoma e/ou incontinentes e que a apartir desses resultados sejam criadas formas de enfrentamento dessa condição de vida para que a qualidade de vida desses pacientes venha melhorar cada vez mais. Os achados desse estudo estão correlacionados ao tema do congresso: Integralidade da Atenção em cuidados Paliativos, pois esses pacientes estão em constante cuidado paliativo, por terem uma modificação impactante e relevante em suas atividades diárias, como também em sua Q.V.
Descritores: Qualidade de vida; Estomizados; Incontinência.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em cuidados Paliativos.
Referências
1 The WHOQOL Group. The World Health Organization quality of life assessment (WHOQOL): position paper from the World Health Organization. Soc. Sci. Med. 2000; 41:1403-10.
2 Paula, MABB; Takahashi, RF; Paula, PR. Os significados da sexualidade para a pessoa com estoma intestinal definiti-vo. Rev bras. colo-proctol. 2009, vol.29, n.1, pp. 77-82.
3 Santos, VLCG. Fundamentação teórico-metodológica da assistência aos ostomizados na área da saúde do adulto.
Revista da Escola de Enfermagem USP, v. 34, n.1, p.59-63, 2010.
4 Fleck et al. Aplicação da versão em português do instrumento abreviado de avaliação de qualidade de vida da Orga-nização Mundial de Saúde (WHOQOL-bref). Revista de Saúde Pública, v.34, n.2, p.178-183, 2000.
5 Sonobe, HM; Barichello, E; Zago, MMF. A visão do colostomizado sobre o uso da bolsa de colostomia. Revista Brasi-leira de Cancerologia, v.53, n.4, p.431-435, 2007.
RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE CUIDADOS PALIATIVOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA
Milena Oliveira do Espírito Santo1; Gabriela Botelho Pereira2
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Acadêmica do 10º semestre da Faculdade de Enfermagem da UFPel, estagiária em Unidade de Terapia Intensiva no Hospital Escola da UFPel.
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Mestranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da UFPel, Enfermeira Intensivista no Hospital Escola da UFPel.
Introdução: As Unidades de Terapia Intensivas (UTI) são complexas e se destinam a assistência de pacientes graves que apresentem descompensação de um ou mais sistemas orgânicos. Há pacientes em condição terminal, ou seja, quando independente do tratamento e medidas terapêuticas adotadas evoluirá a morte, são prestados cuidados paliati-vos, fundamentais no controle da dor e demais sintomas. O Rio Grande do Sul é o estado brasileiro pioneiro em cuidados paliativos, sendo iniciado na década de 1980. Nas UTIs Enfermeiras e demais membros da equipe atuam no cuidado direto ao paciente em fim de vida, promovendo alivio do sofrimento físico, psicológico, social e espiritual, além de pro-porcionar uma morte digna e tranquila1.
Objetivo: Apresentar a experiência de uma acadêmica de Enfermagem, durante estágio em UTI adulto, destacando a atuação da equipe nos cuidados paliativos.
Metodologia: Relato de experiência que se realizou a partir da vivência em estágio curricular supervisionado da gra-duação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas, tendo como cenário uma UTI adulto com 6 leitos de um Hospital Escola no interior do Rio Grande do Sul. O período constitui-se de 20 de abril com término previsto para 20 de setembro de 2015, totalizando 600 horas.
Resultados: Os cuidados paliativos surgiram com o câncer e são mais aplicados a pacientes oncológicos em fase ter-minal, mas também deve ser atribuídos a indivíduos que estejam em estágio avançado de outras patologias2. Durante o estágio foi possível observar que dos 6 leitos disponibilizados, sempre houve pelo menos 1 paciente em cuidados palia-tivos, tendo períodos em que 3, ou seja, metade dos pacientes estavam sob essa forma de cuidado. Ressalta-se que a maioria dos pacientes em cuidados paliativos possui diagnóstico oncológico. Dos pacientes com esse diagnóstico o his-tórico de tabagismo e/ou etilismo está presente em quase totalidade, o que corrobora com a literatura, tendo estes como principais fatores de risco para o câncer. Em 2008, pesquisa realizada pelo IBGE em parceria com o INCA, constatou que 17,2% da população brasileira fazia uso regular do tabaco, equivalente a 25 milhões de pessoas. A maior prevalência de fumantes foi detectada na região Sul. Combinado ao uso do álcool aumenta ainda mais os riscos de câncer, além de ser agente causal de cirrose hepática. O consumo de bebidas alcoólicas e tabaco são tão aceitos socialmente que muitas pessoas não imaginam que elas são drogas potentes, responsáveis por milhares de mortes anualmente3. Segundo as recomendações da OMS, os cuidados paliativos são adotados, a partir do momento da definição do diagnóstico de uma doença potencialmente fatal, não impedindo alternativas de tratamento, mas questiona-se a forma indiscriminada e desnecessária como acontecem, pois a partir desse momento a assistência deverá se voltar à qualidade de vida4. A opção pelas medidas paliativas é uma decisão consensual da equipe multiprofissional e o paciente se este tiver condi-ções de decidir e/ou dos familiares. Muitos dos pacientes quando chegam a UTI já são comatosos, e o diálogo ocorre com os familiares. Incluída nas práticas dos cuidados paliativos, a espiritualidade, pode ser uma forma de minimizar o desconforto de pacientes e familiares no processo de terminalidade, já que permite a compreensão do adoecimento e sofrimento, por meio de reflexão sobre a existência e a trajetória da vida5. O processo de finitude exige também um cuidado aos familiares, pois estes vivenciam inúmeros sentimentos durante a trajetória e devemos estar atentos para realizar o acolhimento através de dialogo ou olhar, que demonstre empatia, já que o sofrimento está presente desde o diagnóstico e se estenderá ainda após a morte do enfermo. Em algumas situações a opção pelos cuidados paliativos não aceita no primeiro momento pelos familiares, pois estes ainda vivenciam o estagio de negação, outras vezes possuem maior serenidade de aceitação frente à terminalidade e a perda eminente do ente querido. Para a equipe de Enfermagem lidar com a morte é uma realidade quase que diária, apesar disso se observa a dificuldade de aceitação frente a esse acontecimento, pois apesar dos nossos maiores e melhores esforços, alguns de nossos pacientes morrerão. Pela longa permanência dos pacientes na UTI, a construção de vínculos e afetos tornam-se quase inevitáveis, tanto com o paciente quanto familiares. Embora não possamos alterar o fato, podemos ter um efeito significativo sobre a maneira pela qual o paciente vive até morrer e a maneira pela qual a morte acontece. Verifica-se diariamente a incansável presença dos familiares e amigos a beira do leito durante as visitas, alguns vindos de outras cidades e estados. Aspectos culturais, associados aos fatores sociais, como a dificuldade do tratamento de um doente terminal em seu lar, levaram à morte institucionalizada, e isso exige dos familiares uma organização e reorganização diária.
Conclusão: A experiência de estar inserida em uma UTI ainda enquanto acadêmica é uma oportunidade de conhecer e refletir sobre a prática de Enfermagem e da equipe multiprofissional perante a prestação de cuidados paliativos. Nesse período, percebi a importância da liderança das Enfermeiras nesse cenário, onde o diálogo se faz necessário e presente em todos os momentos, tendo em vista a complexidade do estado dos pacientes. Os cuidados paliativos proporcionam cuidar das necessidades do paciente e familiares, além de promover alivio da dor, conforto e qualidade nessa fase final de vida.
Descritores: Enfermagem; cuidados paliativos; Unidade de Terapia Intensiva.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos
Referências
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Moritz RD, Lago PM, Souza R.P, Silva NB, Meneses FA, Othero JCB et al. Terminalidade e cuidados paliativos na uni-dade de terapia intensiva. Rev. bras. ter. intensiva [Internet]. 2008; 20( 4 ): 422-428.
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Arantes ACLQ. “A Terapêutica da Dor Intratável no Câncer Terminal”. Revista Einstein. São Paulo: Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, 2005.
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INCA. Instituto Nacional do Câncer. Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde. Inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco e morbidade referida de doenças e agravos não transmissíveis. Brasil, 15 capitais e
Distrito Federal. Rio de Janeiro: INCA; 2010.
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World Health Organization. National cancer control programmes: policies and managerial guidelines. 2nd Ed. Gene-va: World Health Organization; 2002.
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Kovács MJ. Educação para a morte: desafios na formação do profissional de saúde e educação. São Paulo: Casa do psicólogo: FAPESP, 2003.
SOBRECARGA DOS CUIDADORES DE PACIENTES IDOSOS NA TERAPÊUTICA PALIATIVA
Jennifer Mendes Soares1, Tatiana Matos Coelho1, Isabel Cristina Oliveira Arrieira2
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Universidade Católica de Pelotas (UCPel), alunas do curso de graduação em Psicologia
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Professora da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), e enfermeira na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL)
Introdução: o Cuidado Paliativo utiliza uma visão humanitária de cuidados com o enfermo em estado terminal, possi-bilitando o alivio de sua dor e sofrimento. Proporciona uma assistência interdisciplinar ao paciente e aos familiares que compartilham deste processo de terminalidade da vida. O trabalho do psicólogo na equipe interdisciplinar consiste em atuar nas desordens psíquicas que acometem o doente e sua família nas diversas fases do tratamento, proporcionando escuta ativa e acolhimento para reconhecer as reais necessidades do paciente e de sua família. Além disso, este pro-fissional deve possuir uma boa linguagem verbal e não verbal para que seja instituída uma relação de empatia e confia-bilidade com os familiares e o enfermo. A presença de doenças crônicas, como câncer e as neurodegenerativas, levam o idoso a necessitar de cuidados paliativos e impõe sobre o cuidador familiar sentimentos complexos e ambivalentes. A proximidade da morte do idoso colabora para intensificar estes sentimentos, mas possibilita ao cuidador resignificar como vivencia esta experiência. Assim, o familiar é um facilitador do tratamento diferenciado ao paciente, pois pode possibilitar o surgimento de relações solidárias, e responsáveis. Este estudo tem como objetivo analisar os aspectos psicológicos percebidos nos familiares de pacientes idosos em cuidados paliativos.
Metodologia: trata-se de uma revisão de publicações consultadas na base de dados do SciELO, e do LILACS, publicadas entre 2010 e 2013. Para a busca foram utilizados os seguintes descritores: “cuidadores, equipe interdisciplinar, termi-nalidade, assistência paliativa, sobrecarga familiar”. Foram selecionados somente artigos em português que tratassem do nosso objetivo.
Resultados e discussões: alguns dados apurados nestes artigos indicam uma prevalência do papel de cuidador ser atribuído às mulheres. Segundo alguns autores, em 98% dos casos pesquisados, o cuidador era alguém da família, pre-dominantemente do sexo feminino. A maior parte era formada de esposas, seguidas pelas filhas. As noras e as irmãs não foram frequentes. O esforço físico exigido pelos pacientes levam a inferir que grande parte dos familiares são do-entes em potencial e que sua capacidade funcional está em constante risco como dores lombares, depressão, pressão alta, artrite, reumatismo e problemas cardíacos. Em decorrência desta dependência física, muitos familiares optam por internar os idosos em asilos ou casas de repouso. A situação em que o idoso se encontra frente o adoecimento, influen-cia o processo de cuidados paliativos. Há uma prevalência de sentimentos e significados negativos e positivos viven-ciados pelo familiar perante o cuidado prestado ao idoso. Dentre os sentimentos positivos destacam-se: zelo, carinho, gratificação. Estes aspectos tornam a relação entre cuidador e doente mais afetuosa e estimulam a presença contínua com o ente querido em sua finitude. No que se refere aos sentimentos negativos podemos citar alguns como: tristeza, incomodo, angustia, sintomas depressivos, preocupação, sensação de impotência e inquietação. Circunstâncias em que os pacientes não possuem bom vínculo familiar, onde o cuidador teve o seu papel imposto como obrigação social acar-retam relações conflituosas que afetam ambas as partes. O fato de saber que o paciente está próximo da morte acaba intensificando estes sentimentos, primeiro por viver na espera da noticia do falecimento e também o confronta com seus próprios limites. A experimentação destas emoções pelo familiar está relacionada com características prévias do adoecimento como, por exemplo, o relacionamento preliminar entre cuidador e paciente; o tempo de cuidado; crenças religiosas e espiritualidade; avaliação subjetiva do cuidado e rede de suporte social que o cuidador dispõe para ajudá-lo, dentre outros. Alguns fatores podem gerar uma sobrecarga no familiar cuidador como a imposição deste papel atribuído por outros membros da família, a falta de apoio dos outros familiares, o grau de dependência do enfermo relacionado
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patologia e o desgaste físico e psicológico. A sobrecarga vivenciada por estes cuidadores geram alterações significa-tivas representadas por sintomas de tristeza, estresse, apatia, baixa autoestima, causando dificuldade no ato de cuidar, interferindo diretamente na qualidade do cuidado e grande impacto na vida social do cuidador. Tal impacto se expressa através de comportamentos de isolamento, distanciamento dos amigos, auto negligenciamento e o surgimento de mais problemas de saúde comparando a pessoas da mesma idade que não são cuidadores. As alterações biopsicossociais vivenciadas pelos familiares cuidadores também são evidenciadas na renda familiar devido ao aumento de gastos com o idoso, ocorrendo consequentemente desdobramentos adicionais de outros membros da família no sentido de gerar uma nova fonte econômica para suprir a perda da fonte financeira causada pela impossibilidade do cuidador poder trabalhar. O sofrimento e os desafios de cuidar de alguém sem perspectiva de cura possibilita aos cuidadores desenvolverem auto-conhecimento e descobrirem potencialidades desconhecidas para enfrentar a situação. Durante este processo, surgem adversidades como ausência de conhecimentos técnicos, alterações emocionais, desgaste físico e dificuldades financei-ras que levam o familiar a criar alternativas que mudam a sua maneira de viver, na tentativa de superar as dificuldades da melhor forma possível. A possibilidade da morte pode estimular a busca por novos significados e sentidos para a vida, levando a uma mudança de comportamento por parte do cuidador que passa a desenvolver e expressar novas atitudes, novos hábitos, valorizando outras prioridades. Os significados atribuídos ao processo de eminente luto geram expectativas nos cuidadores em relação ao futuro do paciente. Cuidadores que encaram o adoecimento de forma mais madura apresentam uma tendência à aceitação da morte e conformam-se com a situação, investindo em uma relação mais afetuosa com o idoso. Os familiares que não aceitam a morte do paciente tendem a manter uma esperança de cura vivenciando sentimentos de angustia que causam conflitos internos, por não saberem lidar com a perda inevitável.
Conclusões: pode-se aferir que os aspectos psicológicos dos familiares cuidadores de idosos em Cuidados Paliativos sofrem muitas alterações que dependem do contexto social, histórico e cultural em que ele está inserido. O processo do adoecer e do luto despertam no cuidador uma ambiguidade de sentimentos variando entre medo, raiva, impotência e insegurança à zelo, carinho e gratificação do cuidar, estando mais relacionado a um estado de perda e separação do que um processo natural da vida. Tais características remetem a necessária inclusão e mobilização por parte de toda a família, com o auxílio de um psicólogo, proporcionando apoio e suporte no transcorrer do processo de adoecimento ao cuidador intitulado.
Descritores: cuidados paliativos, cuidadores, equipe interdisciplinar.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos
Referências
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Oliveira, Érica Arantes de; Santos, Manoel Antônio dos; Mastropietro, Ana Paula. Apoio psicológico na terminalidade: ensinamentos para a vida. Psicologia em Estudo, Maringá. 2010; v. 15, n. 2, p. 235-244.
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Fonseca, Anelise Coelho da; Junior, Walter Vieira Mendes; Fonseca, Maria de Jesus Mendes da. Cuidados paliativos para idosos na unidade de terapia intensiva: revisão sistemática. Rev Bras Ter Intensiva, 2012, 24(2): 197-206.
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Sales, Catarina Aparecida; D’Artibale, Eloana Ferreira. O cuidar na terminalidade da vida: escutando os familiares”. Cienc Cuid Saude. 2011, 10(4): 666-673.
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Babtista, Bruna Olegário; Beuter, Margrid; Girardon-Perlini, Nara Marilene Oliveira; Brondani, Cecília Maria; Budó, Maria de Lourdes Denardin; Santos, Naiana Oliveira dos. A sobrecarga do familiar cuidador no âmbito domiciliar: uma revisão integrativa da literatura. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS); 2012, 33(1):147- 56.
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Hermes, Hélida Ribeiro; Lamarca, Isabel Cristina Arruda. Cuidados Paliativos: uma abordagem a partir das categorias profissionais de saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 2013, 18(9): 2577-2588.
TERAPIA OCUPACIONAL E RECURSOS TERAPÊUTICOS: POTENCIALIDADES E VIVÊNCIAS NA ONCOLOGIA
Francielly Zilli1; Larissa Dall’Agnol da Silva2; Rodrigo da Silva Vital3
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Residentes Multiprofissionais da Atenção em saúde Oncológica do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas.
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Orientadora. Terapeuta Ocupacional. Coordenadora de área de Terapia Ocupacional no Programa de Residência Multipro-fissional de Atenção em saúde Oncológica do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas. Especialista em Educa-ção e Saúde Mental Coletiva-UFRGS. Profª. Universidade Federal de Pelotas.
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Terapeuta Ocupacional. Técnico Administrativo em Educação na Faculdade Federal de Pelotas. Preceptor do Programa de Residência Multiprofissional de Atenção em saúde Oncológica do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas.
Introdução: Ao receber um diagnóstico oncológico, é relatado a vivencia de muitos sentimentos e incertezas. Pertinen-tes ao olhar da terapia ocupacional, o sentimento de incapacidade, associado ao difícil período de enfrentamento reme-te a muitas perdas/alterações de papeis ocupacionais, fazendo parte direta do acolhimento terapêutico ocupacional1. Diante disto, direciona a reflexão para o quanto a atividade está inserida em nosso cotidiano como elo de construção e reconstrução, bem como promotora de articulações entre indivíduo e contexto de habitação1. Assim sendo argumenta–se sobre o processo de construção e inserção destas ações em nossa prática a fim de aproximar ao máximo a rotina, os valores e princípios dos pacientes ao novo contexto no qual estão inseridos. Autores citados por Costa e Othero (2014) acreditam que, ao deixarmos de exercer nossos papeis ocupacionais deixamos de ser saudáveis, considerando assim que se o máximo de aproximação das atividades laborais, funcionais ou sociais forem preservadas ou estimuladas diante de um contexto minimizador, estas são capazes de resultar ganhos positivos. É através do fazer que reconhece-mos, reestruturamos e reconstruímos experiências e histórias ao que diz respeito ao processo vivencial da doença e da hospitalização sem perder os valores e significados2. No domínio dos Cuidados Paliativos, o terapeuta ocupacional ofe-recerá independente das fases da doença oportunidades de manutenção das condições físicas e emocionais necessárias na execução das atividades que reportam valores e significados únicos paras cada paciente. Assim, pensando sobre a ocupação como forma de identificação de ser, interação de vida e ainda como forma terapêutica, podemos contemplar as considerações de Quarentei a qual acredita que uma das dimensões da vida humana é constituída pelo “continuum incessante de atividades”, e que é isso que conecta e relaciona os terapeutas ocupacionais com o modo em que estamos no mundo, com as novas formas de viver e de produzir a vida. Para ela estamos o tempo todo em atividade, são elas que nos permitem compor diversos “territórios existenciais”3.
Objetivos: Relatar as experiências práticas vivenciadas através do uso dos recursos terapêuticos ocupacionais na in-tervenção com o paciente oncológico mediante ao processo de adoecimento.
Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo, apresentado através de relatos de experiências sobre o uso de ativi-dades significativas como recursos terapêuticos no processo de intervenção da terapia ocupacional a qual é resultante da participação no Programa de Residência Multiprofissional em Atenção à Saúde Oncológica do Hospital Escola/UFPel e executada nos cenários práticos de atuação do programa, contemplando a prática centrada no cliente e os objetivos terapêuticos propostos, assim como e sempre que factível embasando-se no âmbito da integralidade dos cuidados paliativos.
Resultados: Através da utilização das atividades significativas do sujeito que são reportadas em sua história de vida e momentaneamente apresentam seu desempenho limitado devido ao adoecimento, estas são vivenciadas nas seções de terapia ocupacional através da manutenção de capacidade e potencialidades necessárias para o desempenho, assim como, através do vinculo e criação do espaço de viver e expressar seus desejos muitos significados são descobertos através de recursos terapêuticos como artesanato, pintura, colagem e jogos. Este ultimo que tem proporcionado mo-mentos ricos de expressão e comunicação, utilizado como um meio para o fim de comunicação entre doente-familia, facilitar a expressão de sentimentos como é o caso do “jogo da forca” onde as palavras utilizadas remetem emoções e vivencias e relação ao enfrentamento da doença e/ou para conhecimento de história de vida. Bem como para controle de sintomas, planejamento e organização de vida: “O que perdi no jogo hoje, vou ganhar em plaquetas amanhã!” [SIC]. Mui-tas vezes a comunicação verbal não é o meio mais fácil para a expressão de desejos e sentimentos, assim outro recurso terapêutico utilizado é a escrita de cartas, as quais proporcionam reflexões sobre a vida e a morte e harmonizam mo-mentos de inter-relação familiar; assim como a escrita de mensagens de aniversário, que possibilita inconscientemente a despedida da família e amigos. A fim de contemplar e favorecer o desempenho ocupacional, a conservação de energia trabalhada através da educação em saúde e a construção junto com o paciente de atividades que simbolicamente re-presentam a sua energia disponível e o seu gasto energético em cada uma de suas atividades desempenhadas em sua rotina hospitalar, a fim de organizar e melhorar seu desempenho de forma independente e com autonomia. Assim, ainda
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necessário realizar atividades que favoreçam o controle de sintomas, estes que vão desde sintomas físicos até emo-cionais, utilizando-se de orientação e treinamento junto com paciente e acompanhante de melhorias no posicionamento e desempenho de mudança de decúbito, transferência e mobilidade, assim como, utilização de recursos de relaxamento e sensoriais que possibilitam a minimização da dor da perda de seus papeis ocupacionais e da dor da saudade, estas que encontram analgesias nas vivencias com o terapeuta ocupacional, o qual resignifica momentos e lembranças, a fim de tornar os dias internados os menos dolorosos possível. A possibilidade da utilização dos recursos terapêuticos na terapia ocupacional, transforma-se de acordo com a criação do vinculo entre terapeuta-paciente, terapeuta-cuidador e paciente-cuidador, é esse fator que vai ser determinante na intensidade da relação e de como as coisas vão acontecer. Com o intuito de favorecer a criação do vínculo, as praticas são pautadas sempre na liberdade e criação de um espaço de acolhida onde a escuta terapêutica deve fazer parte, tornando o apoio algo natural da terapêutica.
Conclusão: Se intervirmos carregados pela serenidade de compreender e atuar de uma forma sensível sobre o po-tencial com que a atividade humana favorece o espaço de (re)criação e produção de um mundo repleto de simbolismo, intuitos, desejos, volições e necessidades, proporcionaremos experiências e vivências que vão além do fazer em si, e ligam-se a questões de expressões de sentimentos, significados e emoções as quais são favorecidas pelos manifestos das ações/fazer e assim tornam o enfrentamento da doença algo mais saudável4. Tais ganhos e vivencias são obser-vados no processo de construção terapêutico ocupacional que vem sendo desenvolvido desde março de 2014 com a implementação da Terapia Ocupacional no Programa de Residência, busca-se a firmação dos recursos terapêuticos como algo benéfico ao processo de adoecimento diariamente através da construção de afeto e trocas desenvolvidas em cada atendimento.
Descritores: Terapia Ocupacional; Cuidados paliativos; Enfrentamento.
Eixo 2: Integralidade da Atenção em Cuidados Paliativos.
Referências
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Othero, MB; Palm, RDCM. Terapia Ocupacional em oncologia. In: Othero, MB. Terapia Ocupacional: Práticas em Onco-logia. São Paulo: Roca; 2010. p. 72-110.
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Costa, A; Othero, MB; Candido, T. O papel da Terapia Ocupacional nos cuidados paliativos. In: Costa, A; Othero, M. Rea-bilitação em Cuidados Paliativos. Loures: Lusodidacta; 2014. p. 125-140.
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Quarentei, MS. Do Ocupar a criação de territórios existenciais. In: X Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional, 2007. Goiânia.
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Francisco, BR. Terapia Ocupacional. 2ªed. Campinas: Papirus; 2001. p.17-49
CASO CLÍNICO: CATETER CENTRAL DE INSERÇÃO PERIFÉRICA (CCIP) EM PACIENTE ADULTO COM DIAG-NÓSTICO DE HIV E LINFOMA NÃO HODGKIN
Leila de Lima Corrêa1; Laurelize Pereira Rocha2; Márcia Carla Tavares Duarte da Conceição3
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Enfermeira. Especialista em Agentes Infecto-Parasitários de Interesse Humano pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Residente do Programa de Residência Integrada Multiprofissional Hospitalar com Ênfase na Atenção à Saúde Cardiometabólica do Adulto – RIMHAS – FURG. Email: leilaenf.2009@gmail.com
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Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande- FURG. Professora Adjunta do curso de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Email: laurelize@gmail.com
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Enfermeira. Especialista em Qualidade e Segurança do Paciente pelo Hospital Sírio Libanês. Email: marciakduarte@hotmail.com
Introdução: A infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana Tipo 1, cursa com um amplo espectro de apresenta-ções clínicas, desde a fase aguda até a fase avançada da doença. Estima-se que o tempo médio entre o contágio e o aparecimento da doença pode ocorrer em torno de dez anos, em indivíduos não tratados. O aparecimento de infecções oportunistas e neoplasias é definidor da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Entre as infecções oportunistas des-tacam-se: pneumocistose, neurotoxoplasmose, tuberculose pulmonar atípica ou disseminada, meningite criptococica e retinite por citomegalovirus. As neoplasias mais comuns são sarcoma de Kaposi, Linfoma não Hodgkin e câncer de colo uterino1. Após o advento da Terapia Anti Retroviral, observou-se redução acentuada das neoplasias relacionadas a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana e um aumento da incidência das não relacionadas, principalmente pulmonar, anal, hepática e Linfoma Hodgkin, sendo necessário a adoção de medidas preventivas e rastreamento pre-coce destas neoplasias 2. As pessoas vivendo com Vírus da Imunodeficiência Humana/Síndrome da Imunodeficiência adquirida estão mais suceptíveis a doenças oportunistas e infecciosas e muitas vezes permanecem em ambiente hos-pitalar por longos periódos. Durante sua internação, são submetidos a inúmeros procedimentos traumáticos. O cateter venoso central de inserção periférica é um dispositivo de acesso vascular de longa permanência capaz de reduzir os riscos de complicações e aumentar o conforto do paciente. Sua utilização contribui para diminuir principalmente o risco de complicações infecciosas e a experiência traumática de inúmeras punções venosas periférica de curta permanência. Entre os benefícios da utilização do cateter encontram-se a redução do número de punções e a possibilidade de inserção beira leito, ocorrendo relato de dor mínima e baixo índice de complicações3. Considerado uma altermativa quanto aos cateteres venosos centrais convencionais que podem trazer significativas complicações como o pneumotórax, punções arteriais, hemotórax, acidente vascular cerebral, arritmias e infeções por disseminação hematogênica4. Para utilização deste cateter é importante considerar áreas de déficit de conhecimento em relação aos cuidados contínuos de um dispositivo intravascular. Os cuidados de enfermagem na inserção e manutenção do dispositivo estão diretamente rela-cionados a menores taxas de complicações5.
Objetivo deste estudo é descrever a utilização de Cateter Central de Inserção Periférica em um paciente com diagnós-tico de infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana Tipo 1 e Linfoma não Hodgkin.
Descrição metodológica: Estudo de caso de um paciente internado em unidade de clínica médica de um Hospital Universitário do sul do Brasil. Os dados foram coletados a partir do prontuário do paciente, entrevista, exame físico e acompanhamento na avaliação de indicação, inserção e manutenção do cateter.
Resultados: Paciente sexo masculino, 46 anos, residente em Rio Grande, aposentado da marinha. Interna no Hospital Universitário de Rio Grande apresentando quadro de dispneia, tosse e febre. Internação recente com quadro de convul-sões. Atualmente em tratamento de linfoma não Hodgkin de células B. Paciente ostomizado devido a quadro de semi–oclusão intestinal. No pós-operatório apresentou quadro de obstrução arterial aguda em membro inferior esquerdo. Diagnósticos prévios de HIV (1996), uso irregular de Terapia Anti Retroviral, tuberculose pulmonar (2010 e 2012), herpes zoster (2013) e linfoma não Hodgkin de células B (2015). Diagnóstico atual de tuberculose, nova oclusão de membro inferior esquerdo, neurotoxoplasmose e herpes zoster. Em sua admissão no serviço de pronto atendimento foi solicitado a utilização de cateter central de inserção periférica para analgesia contínua. Após avaliação inicial foi programada a passagem do cateter. Apesar do quadro de debilidade vascular o paciente possuía as veias basílicas de diâmetro capaz de suportar a sua canulação. A passagem do cateter foi realizada sem intercorrências. Sua utilização foi liberada após realizar Raio X para verificar a localização da ponta do cateter. Após a inserção do Cateter o paciente que apresentava uma rede vascular debilitada e havia sofrido inúmeras tentativas de canulação periférica de curta permanência sem sucesso, pode receber a administração de medicamentos para alívio da dor durante toda a sua permanência hospitalar. Além disso, a utilização deste dispositivo de longa permanência contribuiu para evitar riscos associados ao cateter venoso central convencional, ou seja, evitou a punção de grandes vasos do tórax (jugular ou subclávia). Os cuidados de enfermagem foram realizados desde antes da inserção até a sua remoção. Antes da inserção o estado geral do paciente foi avaliado, aferido sinais vitais e preparado todo o material, local e equipe necessária. A indicação da troca do primeiro curativo é de 48 horas, entretanto o primeiro curativo permaneceu por período superior. O enfermeiro deve realiza-lo conforme o tipo de cobertura utilizado e sempre que necessário. Além disso, deve diariamente inspecionar e palpar o local de inserção e o trajeto da veia e observar sinais flogísticos. Os cuidados quanto a utilização de seringa maior que 10 ml e a permeabilidade do cateter foi mantida, não ocorrendo ruptura ou obstrução e permaneceu em uso até o óbito do paciente. Após o óbito a remoção do cateter foi realizada.
Conclusão: Considerando o quadro clínico grave de pacientes em fase terminal é importante pensar em intervenções em cuidados paliativos de forma a proporcionar alívio dos sintomas e manutenção do conforto dos pacientes e seus familiares. Apesar de apresentar algumas dificuldades em manter um cuidado de enfermagem quanto ao curativo, não ocorreram complicações. Observa-se a necessidade de maior empoderamento da equipe de enfermagem na utilização deste dispositivo como estratégia de cuidados paliativos, diante das vantagens para o paciente e para equipe, visto que as tentativas de canulação periférica de curta permanência danificam a integridade vascular do paciente e se torna mais difícil a canulação dos vasos periféricos. Enfim, esse dispositivo de acesso vascular de longa permanência, pode ser utilizado nos pacientes em cuidados paliativos para administração de medicamentos para alívio da dor e outras medi-cações endovenosa necessárias.
Descritores: HIV; Adulto; Analgesia.
Eixo 3: Controle de Sintomas
Referências
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Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo clinico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção pelo HIV em adultos. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
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Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Vigilância em Saúde, departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para adultos vivendo com HIV/AIDS. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
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Baiocco GG, Silva JLB. A utilização do cateter central de inserção periférica (PICC) no ambiente hospitalar. Revista Latino-Am. Enfermagem. 2010; 18(6): [07 telas].
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Johansson E, Hammarskjöld F, Lundberg D, Arnlind MH. Advantages and disadvantages of peripherally inserted cen-tral venous catheters (PICC) compared to other central venous lines: A systematic review of the literature. Acta Oncolo-gica. 2013; 52: 886-92.
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Deng WCH, He LSMQL. A comprehensive intervention program on the long-term placement of peripherally inserted central venous catheters. Journal of Cancer Research and Therapeutics. 2014; 10 (2): 359-62.
CONHECENDO OS BENEFÍCIOS E AS DESVANTAGENS DA HIPODERMÓCLISE NOS CUIDADOS PALIATIVOS ÀS PESSOAS COM CÂNCER
Cryshna Leticia Kirchesch1; Pedro Marlon Martter Moura2; Adrize Rutz Porto3
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Acadêmica do 9º semestre do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Bolsista de Iniciação ao Ensino da Universidade Federal de Pelotas – UFPEL. cryslety@hotmail.com
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Acadêmico de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. marlon_martter@hotmail.com
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Professora da Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Pelotas. adrizeporto@gmail.com
Introdução: O paciente enfrenta preocupações, quando existe a suspeita de ter sido acometido por câncer, desde a confirmação do diagnóstico da doença até num estágio no qual não tenha resposta ao tratamento curativo. O cuidado paliativo é realizado justamente para oferecer qualidade de vida e dignidade a esses pacientes fora de possibilidades de cura. A partir de então, as intervenções são voltadas para o controle dos sintomas e amenização das dores1. Em estágios mais avançados do câncer, a via intravenosa para a infusão dos medicamentos torna-se cada vez mais escassa. Haja vista as condições do próprio paciente como a caquexia, a desidratação e uso de substâncias esclerosantes, que tornam as veias colapsadas, finas e frágeis. As tentativas frustradas de punções venosas tornam-se mais frequentes, gerando ainda mais dor, ansiedade e incômodo2. Mesmo a via subcutânea, sendo uma alternativa para a administração de me-dicamentos, sua utilização é escassa, bem como publicações acerca da temática. Uma das razões pode ser pelo fato da via oral ainda ser a de primeira escolha em pacientes em domicílio ou sem condições de acesso venoso periférico. O problema é que náuseas e vômitos são sintomas corriqueiros em pacientes oncológicos, tornando essa via deficiente e prejudicando assim, o tratamento incorrendo até em uma desidratação severa, devido à baixa ingesta hídrica2. Diante disso, a enfermagem pode proporcionar o alívio da dor e do desconforto aos pacientes em cuidados paliativos, ofertando alternativas para infusão de medicamentos. Para tanto, o enfermeiro precisa conhecer e desenvolver a técnica para ad-ministrar medicamentos através da via subcutânea, em pacientes com comprometimento do acesso venoso periférico1.
Objetivo: Conhecer na literatura científica as vantagens e desvantagens da terapia subcutânea para pacientes oncoló-gicos em cuidados paliativos e a atuação da enfermagem no processo.
Metodologia: Trata-se de uma revisão de literatura, cuja busca foi realizada nas bases de dados do Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE) e Literatura Latino Americana e do Caribe (LILACS), no período de 2010 a 2015, por produções gratuitas, disponíveis como textos completos e com os descritores: hipodermóclise e cuidados paliativos.
Resultados e Discussão: No MEDLINE foram encontrados quatro trabalhos publicados e no LILACS três. Na leitura seletiva, seis estudos enquadraram-se no objetivo desta pesquisa. A administração de fluídos pela via subcutânea é também conhecida como hipodermóclise. Trata-se de uma técnica simples de infusão de medicamentos por tecido subcutâneo e de menor custo que as demais. É utilizada em pacientes debilitados, em que não há a possibilidade de se manter uma via de acesso venoso constante3. A utilização da via subcutânea traz comodidade e conforto para o pacien-te, visto que a inserção do cateter é realizada em regiões que não comprometem sua mobilidade, possibilitando que execute suas atividades, sem nenhum prejuízo2. É uma alternativa de simples punção, com baixa incidência de infecção, reduz o tempo de internação hospitalar e pode ser mantida por vários dias. As desvantagens são devido a infusão ina-dequada de grandes volumes em pouco tempo e o fato de alguns medicamentos serem contraindicados para uso em tecido subcutâneo. Essas limitações não devem ser itens que levem a não utilização da via2. Mesmo a técnica sendo de fácil manuseio, é preciso efetuá-la nos locais corretos para prevenir problemas posteriores. A indicação da punção sub-cutânea refere-se a região infraclavicular, infraescapular, abdominal, face anterior, interna ou externa da coxa e região externa dos braços, pelo fato desses locais suportarem um volume bem acima do recomendado pela técnica tradicional de injeção subcutânea2. Para realizar a punção, a agulha a ser empregada pode ser do tipo scalp, calibre de 23 a 25 gauge. Em seguida, o curativo deve ser mantido fixo e pode ser feito com filme transparente, que permite uma avaliação completa e rápida do local puncionado4. Os medicamentos comumente utilizados na terapia subcutânea são os que têm pH próximos da neutralidade e são hidrossolúveis. Estes são: sulfato de morfina, brometazida, ondasetrona, metadona, midazolan, prometazina, octreotide, metoclopramida, fenobarbital, escopolamina, dexametasona, clorpromazina, clo-nidina, ranitidina, haloperidol, garamicina e tramadol. Já os medicamentos incompatíveis são o diazepan, diclofenaco, eletrólitos não diluídos e a fenitoína5. Cabe atentar também para a interação medicamentosa, ser for infundir várias drogas juntas. Dentre os artigos analisados, buscou-se evidenciar as vantagens e desvantagens da hipodermóclise em cuidados paliativos. A eficácia da hipodermóclise é comprovada em todos os estudos e o risco de flebite, infecção, necro-se tecidual, edema ou qualquer outro efeito colateral que esta pode gerar, é mínimo. Mesmo se tratando de uma técnica com inúmeras vantagens, a hipodermóclise é raramente utilizada em ambiente hospitalar, principalmente pela falta de esclarecimento por parte dos profissionais que atribulados com os afazeres cotidianos, não conseguem se atualizar, no intuito de implementar novas maneiras de cuidar, o que resulta muitas vezes, em uma assistência deficiente.
Considerações finais: O conhecimento da técnica de infusão de medicamentos pela via subcutânea possibilita ao enfermeiro trazer mais conforto aos pacientes em cuidados paliativos. Todos os profissionais deveriam capacitar-se para utilizar a hipodermóclise, quando necessário. Enfatiza-se também a necessidade de protocolos para sistematizar tal prática em instituições hospitalares, a fim de que seja ofertada mais uma possibilidade de tratamento aos pacientes que já tem tantas restrições de punções venosas periféricas. Ainda, a indústria farmacêutica igualmente poderia investir na produção de maior número de drogas que sejam compatíveis com essa via de administração. Os conhecimentos a seu respeito, devem ainda, ser disseminados na enfermagem, por ser tratar de mais um cuidado a ser oferecido ao paciente, principalmente, em função do menor risco de infecção, flebite e necrose tecidual, em comparação ao cateter endovenoso. Além disso, a técnica pode ser mais amplamente utilizada, inclusive em outras condições diferentes dos cuidados paliativos, como para a hidratação subcutânea em idosos.
Descritores: Hipodermóclise; Cuidados paliativos
Eixo 3: Controle de sintomas
Referências
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Pontalti G, Rodrigues ESA, Firmino F, Fabris M, Stein MR, Longaray VK. Via subcutânea: segunda opção em cuidados paliativos. Rev HCPA 2012; 32(2): 199-207.
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Justino ET, Tuoto FS, Kalinke LP, Mantovani MF. Hipodermóclise em pacientes oncológicos sob cuidados paliativos. Rev Cogitare Enferm 2013; 18(1):84-9.
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Bruno VG. Hipodermoclise: revisão de literatura para auxiliar a pratica clínica. Rev Einstein 2015; 13(1):122-128.
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Takaki CYI, Klein GFS. Hipodermóclise: o conhecimento do enfermeiro em unidade de internação. ConScientiae Saú-de 2010; 9(3):486-96.
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Aquino MO, Souza RM. Hipodermóclise ou via subcutânea. Rev HUPE 2012; 11(2):89-93.
DESEMPENHO OCUPACIONAL E SINTOMAS DE DEPRESSÃO: ENTENDENDO A RELAÇÃO ENTRE O CÂNCER, SINTOMAS DEPRESSIVOS E DESEMPENHO OCUPACIONAL EM MULHERES
Elisandra Birgimann Gomes¹; Hortência Fernandes², Nilza Eliziane da Silva Barboza³, Renata Cristina Rocha da Silva4.
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Universidade Federal de Pelotas – elisandragomes@msn.com
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Universidade Federal de Pelotas – hortenciagf@yahoo.com.br
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Universidade Federal de Pelotas – eliziane_sb@hotmail.com
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Universidade Federal de Pelotas – renata.cris@terra.com.br
Introdução: O relato de experiência apresenta uma ação do Projeto de extensão Terapia Ocupacional Acessibilidade e Inclusão que tem como objetivo garantir e aprimorar o acesso das pessoas com deficiência a todos os espaços, am-bientes, ações e processos necessários para a melhor qualidade de vida no desempenho ocupacional, buscando seu pleno desenvolvimento pessoal, social, acadêmico e profissional. A pesquisa foi realizada na Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (AAPECAN). A Associação, é uma ação não governamental que atende gratuitamente pessoas com diagnóstico de câncer e em situação de vulnerabilidade social. A instituição oferece acompanhamento com assistentes sociais, psicólogos, bem como, grupos de apoio, encontros, visitas domiciliares, oficinas, confraternizações e passeios. De acordo com relato de experiência na instituição, o objetivo é avaliar o grau de desempenho ocupacional através da Medida Canadense de Desempenho Ocupacional (COPM) e os níveis de recorrência de depressão dos frequentadores da AAPECAN com diagnóstico de câncer.
Objetivos: Identificar a presença de sintomas de depressão em mulheres com diagnóstico de carcinoma e ou sarco-ma. Avaliar o grau de desempenho ocupacional por meio da Medida Canadense de Desempenho Ocupacional (COPM). Correlacionar o resultado dos sintomas de depressão ao grau de desempenho ocupacional mencionado pelas mulheres frequentadoras da AAPECAN. Observar ainda, os níveis de satisfação referentes as tarefas e atividades das áreas de ocupação humana desenvolvidas no cotidiano.
Descrição metodológica: No período entre setembro de 2014 a julho de 2015, foram realizadas por estudantes de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), atividades terapêuticas em um grupo de pacientes com câncer assistidos pela Associação de Apoio à Pessoas com Câncer (AAPECAN). Estes atendimentos se deram através do Projeto de Extensão Terapia Ocupacional Acessibilidade e Inclusão. Composto por duas alunas bolsistas, duas alu-nas voluntárias, e a professora responsável pelo projeto. Os atendimentos grupais com os pacientes aconteceram nas quartas-feiras à tarde, com duração aproximada de 1h30 cada encontro, na própria sede da AAPECAN. Foram realizadas atividades variadas, com os objetivos principais de recuperar a autoestima, trabalhar as alterações da autoimagem, autoconfiança. Restituir a presença de atividades significativas no cotidiano, estimular o desempenho de papéis ocupa-cionais e criar um vínculo enquanto grupo. Foi realizado um estudo utilizando o método transversal. Para a construção desta pesquisa, foram utilizadas duas avaliações, a Medida Canadense do Desempenho Ocupacional (COPM) e o Inven-tário de Depressão de Beck (BDI).
Resultados: Participaram do processo de avaliação sete mulheres, com idade entre quarenta e cinco e sessenta e quatro anos. A média tempo de diagnóstico foi de 4,8 anos. O diagnóstico mais frequente foi de carcinoma de mama. Na avaliação realizada do desempenho ocupacional referente as atividades de vida diária (AVD), as tarefas que apareceram com maior dificuldade para sua realização foram: vestuário, higiene e mobilidade funcional. Nas atividades instrumen-tais de vida diária (AIVD) foram: tarefas domésticas (limpar a casa, lavar roupa e preparar alimentos), e ainda realizar compras. Algumas citaram atividades de lazer e participação social. A média do desempenho ocupacional atribuído pelas participantes foi de 6,2 e a satisfação em relação a forma como realizam foi de 5,1, cabe ressaltar que a maior nota que poderiam atribuir era dez, representando maior grau de desempenho e a menor zero, configurando a não realização da atividade. O Inventário de Beck mostrou que apenas uma das sete participantes não apresentou sintomas de depressão. Sintomas de depressão moderado a grave foram identificados em três mulheres. E sintomas de depressão severa em outras três. Os resultados obtidos mostraram que pacientes oncológicos, têm grandes chances de apresentarem sinto-mas de depressão, média do desempenho ocupacional reduzida e, por conseguinte, têm sua satisfação na realização de AVD e AIVD moderadamente diminuídas, devido aos sintomas físicos relatados como dor, cansaço excessivo e dispneia. ¹Segundo estudos realizados, indivíduos deprimidos apresentam exacerbação de sintomas físicos, prejuízo funcional, menor adesão aos tratamentos propostos, diminuição dos comportamentos de autocuidado e piora da qualidade de vida e ainda pior prognóstico, com maiores morbidades e mortalidade. ²Em outro estudo, mostrou-se que indivíduos com câncer e outras condições médicas graves, comparados com a população geral, têm risco aumentado para apresentar sintomas e transtornos depressivos persistentes. Este estudo, apresenta grandes indicativos que o grau de desempenho ocupacional em conjunto com o índice de satisfação, apresentado na realização das atividades que permeiam a vida humana, pode ser entendido, como alguns dos fatores de excelência para o real alcance da qualidade de vida.
Conclusões: As participantes apresentam dificuldades relacionadas às tarefas diárias, e alterações no aspecto emocio-nal, a grande maioria apontam sintomas depressivos. A pesquisa mostrou um alto índice de mulheres diagnosticadas com algum tipo de câncer, apresentando consecutivamente, sintomas de depressão, nota de satisfação em realizar as AVD e AIVD considerada baixa e comprometimento do desempenho ocupacional. Algum dos motivos de impedimento ou dificuldades para realizar as atividades foram dor, fadiga, falta de ar, desanimo. O envolvimento nas atividades oferecidas na AAPECAN de Pelotas, proporcionam apoio e acompanhamento durante e após tratamento oncológico. O projeto de extensão, “Terapia Ocupacional Acessibilidade e Inclusão”, contribui com atividades voltadas para as questões emocio-nais e do desempenho ocupacional, em busca de maior autonomia e independência funcional.
Descritores: Sintomas depressivos. Câncer. Terapia Ocupacional.
Eixo 3: Controle de Sintomas
Referências
1 Cangussu, RO; Soares, TBC; Barra, AA; Nicolato, R. Sintomas Depressivos no Câncer de Mama: Inventário de Depressão de Beck – Short Form. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 2010, Rio de Janeiro, v.59, n. 20, p. 04-05.
2 Bottino, SMB; Fráguas, R; Gattaz, WF. Depressão e Câncer. Revista Psiquiatria Clínica, 2009, São Paulo, v. 36, n. 3, p.
06-07.
COMPREENDER O INEVITÁVEL: COMO SE DISCUTE O PROCESSO DE MORTE E MORRER NA GRADUAÇÃO DE ENFERMAGEM
Caroline de Melo Oreste1, Stefanie Griebeler Oliveira2
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Acadêmica da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (FEn – UFPel).
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Enfermeira. Profa. Dra. da Faculdade de Enfermagem da UFPel.
Introdução: Em “Sobre a Morte e o Morrer”, Kübler-Ross cita um paciente hipotético que chega à emergência, sendo imediatamente cercado de profissionais que realizam diversos procedimentos e comentários sobre sua saúde. Ainda que deseje informações, repouso ou mesmo dignidade, a equipe continua investindo para mantê-lo vivo, deixando em segundo plano sua subjetividade. Para a autora, há a possibilidade de automatismo e despersonalização do processo serem “mecanismos de defesa” que desviam a concentração do profissional – sobretudo, humano – da obscuridade da morte e das expressões do paciente protagonista do processo, muitas vezes por medo de aceitar até sua própria mor-talidade1. Uma pesquisa realizada com enfermeiros hospitalares buscou explorar seus pontos de vista acerca do evento “morte” utilizando alguns questionamentos. Inicialmente, percebeu-se frieza e extrema objetividade nas respostas, de-notando um dos possíveis “mecanismos” mencionados anteriormente. Após, contudo, houve maior abertura, trazendo tona a importância de uma boa abordagem desde a graduação sobre a naturalidade da morte e aspectos associados. Alguns, na época discente, discutiram o tema, porém, superficialmente; outros sequer o fizeram. Foi notável o quanto persistem reflexos desta lacuna da graduação anos depois, independendo do tempo de trabalho na área.² Acadêmicos de Enfermagem de hoje também percebem fragilidades na abordagem da morte e da terminalidade, conforme pesquisa que buscou explorar tais concepções. Foram entrevistados alunos de fim de graduação, provavelmente com vivências do gênero em estágios curriculares. Diante destas experiências, os estudantes relataram preocupações e inseguranças para tratar do assunto com paciente e família, atribuindo isso à escassez de discussões sobre o mesmo no ambiente de ensino.3 Diante disso, atrelado às experiências acadêmicas frente ao processo de morte e morrer, as quais evidenciam fragilidades oriundas da pouca discussão em sala de aula relativas ao desafio de cuidar nessas circunstâncias, princi-palmente na terminalidade, objetivamos a partir de um relato de experiência, refletir sobre a necessidade de aprofunda-mento das discussões e reflexões sobre o tema no âmbito da graduação, para aperfeiçoar o cuidado tanto a pacientes quanto a familiares que passam pelo processo.
Metodologia: O trabalho se trata de um relato de experiência, enfatizando três casos registrados em portfólios pela acadêmica quando em estágios curriculares na área hospitalar. O foco são pacientes oncológicos, sendo dois idosos e um adulto. O período das anotações se estende por três semestres letivos, entre 2013 e 2014.
Resultados: A primeira história traz um paciente idoso acompanhado pela irmã em internação devido a neoplasia pulmonar em estágio avançado. A família decidiu manter oculto o diagnóstico; durante o exame físico, através de gestos
– e após distanciar-se do familiar, verbalmente – a acompanhante suplicava por sigilo sobre a doença. Entretanto, o paciente já demonstrava desconfiança: após ser examinado, indagou a respeito, pedindo sinceridade por parte da aca-dêmica quanto à sobrevida, entre lágrimas. O câncer ainda possui estigma de “morte”, mesmo com constantes avanços tecnológicos para seu tratamento. E, como já se mencionou anteriormente, a morte é um evento temido por expressiva maioria humana. Com isso, tal diagnóstico gera um turbilhão de sentimentos na família do paciente, fato que leva mui-tas vezes à ocultação da doença. O ato traz como aspectos negativos a falta de autonomia do paciente, bem como uma dificuldade na comunicação entre ele, família e equipe4, o que ficou evidente na experiência acadêmica. Com a relação entre câncer e morte arraigada na sociedade e, além disso, a questão de pouco a respeito ter sido tratado em sala de aula, diante da ênfase dada à preservação da vida, foi trabalhoso lidar com a situação, na qual se contou com bom senso e um pouco de sorte. Na segunda situação quem passou pelo atendimento foi uma paciente jovem, mãe de uma menina menor de dois anos, cujo período gestacional praticamente em seu fim trouxe a notícia de uma neoplasia na região lombar. Desta vez o problema não era o diagnóstico, do qual a paciente e sua família tinham pleno conhecimento. Uma das principais questões era: “E se ela se for, como ficará a família, principalmente a filha? ”. Diferindo do primeiro caso, a preocupação ao tratar de morte nesta história se relaciona à lacuna deixada pela protagonista do evento. Surge a dúvida de como cuidar de quem aqui permanece e passa pela perda de um ente querido. Curiosamente, no semestre em que a história relatada ocorreu o foco era oncologia; no entanto, a subjetividade do assunto foi pouco mencionada. Por último, um relato sobre o acompanhamento de uma paciente com neoplasia de tireoide por algumas semanas do terceiro se-mestre de estágio hospitalar. Esta, também já sem possibilidade de regressão da doença, tinha o curativo de sua ferida oncológica feito diariamente, além dos devidos cuidados paliativos. Estava acompanhada pelo marido e, mesmo diante das circunstâncias, não perdia o bom humor e mantinha boas relações com a família e a equipe. O casal tinha ciência da situação e, aparentemente entendia a morte como algo natural. Segundo relatos da equipe, visto que os acadêmicos não estavam em atividade durante o fato, a morte ocorreu de forma bastante serena. Mais uma vez, as dúvidas surgiram, apesar de já existir um histórico de enfrentamento de situações semelhantes no estágio curricular. Como a clareza sobre a morte e o morrer influencia na qualidade do tempo de vida remanescente? De que modo o enfermeiro pode auxiliar para que este seja o curso das coisas? Como o profissional lida com o choque entre suas concepções e as do paciente e da família? Os relatos se encerram, mas as questões permanecem.
Conclusão: O que se pode ver diante das histórias aqui mencionadas é que, mesmo que a morte aparentemente seja um evento simples e natural, existem diversos lados pelos quais o profissional deve estar apto a ver. Sabe-se que cada ser humano é único e possui suas próprias visões acerca de eventos, portanto, não devendo ter sua subjetividade “fabri-cada” em um curso de graduação. No entanto, maiores espaços para reflexão sobre a morte são necessários durante o período de formação acadêmica, visto que o compartilhamento de ideias, experiências e informações no princípio pode fazer toda diferença no final para os já enfermeiros, responsáveis pela integralidade do cuidado.
Descritores: Cuidados Paliativos; Enfermagem; Educação.
Eixo 4: Educação em Cuidados Paliativos
Referências
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Kübler-Ross, E. Sobre a morte e o morrer: o que os doentes têm para ensinar a médicos, enfermeiros, religiosos e aos seus próprios parentes. 7rd ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 299p.
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Lima, MGR; Nietsche, EA; Terra, LG; Stangherlin, RC; Belmont, D, Motta, CA et al. Percepção de enfermeiros sobre a morte e o morrer: influência do ensino
Acadêmico. Rev. Saúde (Santa Maria). 2013;39(2):171-80.
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Dias, MV; Backes, DS; Barlem, ELD; Backes, MTS; Lunardi, VL; Souza, MHT. Formação do enfermeiro em relação ao processo de morte-morrer: percepções à luz do pensamento complexo. Rev Gaúcha Enferm. 2014;35(4):79-85
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Silva, RCV; Cruz, EA. Planejamento da assistência de enfermagem ao paciente com câncer: Reflexão teórica sobre as dimensões sociais. Esc Anna Nery. 2011;15(1):180-5
COMUNIDADE CUIDADORA: UMA EXPERIÊNCIA DE COMPASSIONATE COMMUNITIES NO BRASIL
Santiago Rodríguez Corrêa1; Carla Mazuko2; Arnildo Miranda Junior3; Allan Kellehear4; Julian Abel5
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Médico de Família; Mestre em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo; Criador do Projeto Estar ao Seu Lado- Cuidados Paliativos na Atenção Primária.
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Enfermeira Especialista em Saúde da Família, Criadora do Projeto “Estar ao Seu Lado- Cuidados Paliativos na Atenção Primária”.
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Acadêmico do Curso de Medicina e Colaborador do Projeto “Estar ao Seu Lado- Cuidados Paliativos na Atenção Primária”.
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PhD. Academic Director DHEZ Health and Wellbeing Centre. 50 th Anniversary Professor (End-of-Life Care) University of Bradford, UK.
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Department of Palliative Care, Weston Area Health Trust and Weston Hospicecare, Westonsuper- Mare, UK.
Introdução: Uma nova abordagem de cuidado paliativo vem sendo discutida, um cuidado paliativo para todas as doen-ças e não só vinculado ao câncer, em todos os períodos de uma doença grave e/ou limitante, desde o seu diagnóstico e não somente na fase terminal, que não exclua a cura mas se aplique juntamente a ela e que seja oferecido e em todos os ambientes com ênfase na atenção primária¹. A OMS em 2014 lançou documento afirmando a necessidade de integração do cuidado paliativo em todas as etapas do tratamento e em todos os níveis de atenção em especial a atenção primária². Um dos tópicos salientados no documento é a necessidade de que a comunidade esteja envolvida no planejamento de políticas e programas. A comunidade como fonte de cuidado paliativo é tema de estudo e de política de saúde ao que se atribui o nome de “Compassionate Communities”cujo conceito trata da comunidade que reconhece que o ciclo da vida se dá também orbitando as fontes de cuidados regulares, hospitais, entre outros centros de saúde ou sociais, sendo responsabilidade da comunidade como um todo o oferecimento de cuidado3. Essas comunidades atuariam de forma centrífuga nos chamados “Círculos de Cuidado”³ em que o paciente estaria na posição central e a partir dele seriam formadas as redes internas e externas de cuidado, expandindo até chegar nas organizações mais formais.No Brasil a comunidade ainda não é parte integrante do cuidado paliativo. O modelo de cuidado paliativo brasileiro é baseado na atenção hospitalar, com poucos exemplos de dessa filosofia de cuidado sendo oferecidos em centros comunitários na atenção primária4. O empoderamento da comunidade é um fator importante para que esta possa reconhecer seu papel
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e partir daí, oferecer um cuidado adequado, de acordo com as necessidades apresentadas. Para isso é necessário fornecer as ferramentas para que esse sujeito seja ativo no processo de cuidado paliativo com os seus e o fornecimento dessas ferramentas é tema deste trabalho. A conquista vinda de dentro, o próprio reconhecimento de suas necessidades de cuidado e a partir daí ser capaz de oferecê-lo é uma situação ainda por alcançar no Brasil em relação ao cuidado paliativo.
Objetivo geral: discutir com a comunidade a temática do cuidado paliativo, da morte e do morrer.
Objetivo específico: oferecer ferramentas para a comunidade ser ativa no processo do cuidar.
Metodologia: O Projeto “Estar ao Seu Lado- Cuidados Paliativos na Atenção Primária”4 é um projeto que busca o ofe-recimento de cuidado paliativo sistematizado na atenção primária em um centro comunitário. É colocado em prática pela equipe da Estratégia Sáude da Família responsável pela cobertura da área 29 abrangendo uma população de 3 mil pessoas em média. Foi registrado no SIGPROJ da FURG em setembro de 2014 e colocado em prática desde novembro de 2014e tem como um de seus braços a sensibilização da comunidade local acerca do tema do cuidado paliativo, da morte e do morrer. Essa sensibilização é dada através de reuniões mensais com a comunidade da área 29, dos quais participam cuidadores e até mesmo pacientes vinculados ao Projeto Estar ao Seu Lado. A esses encontros mensais é dado o nome de “Comunidade Cuidadora”e têm a função de discutir questões gerais do cuidado e principalmente trazer a discussão da morte e do morrer para o dia- a- dia, buscando maior aceitação do tema, fornecendo à comunidade a opor-tunidade de questionar, propor e se empoderar acerca da morte e do morrer para que estejam aptos a cuidar dos seus quando chegar a hora³. As reuniões são administradas por um membro da equipe. No segundo encontro, foi solicitado as pessoas que participaram que trouxessem assuntos que achavam importante discutir sobre questões do cuidado e do final da vida. As respostas seriam colhidas em um terceiro encontro e a partir daí as reuniões passariam a tratar de temas sugeridos e de interesse da comunidade.
Resultados: Durante o terceiro encontro, 10 participantes da comunidade entregaram sugestões de temas para as próximas discussões, sendo as questões psicológicas, como o estresse do cuidador, a demanda mais solicitada para debate. Além de dilemas e dúvidas à respeito da negação e cuidados de rotina.
Conclusão: Certamente há uma necessidade de melhores discussões e maiores estudos sobre o tema da comunidade como seu próprio instrumento de cuidado. O “Comunidade Cuidadora” é uma primeira experiência com a comunidade, a qual busca oferecer um espaço para a discussão do tema do cuidado paliativo, da morte e do morrer e assim, permitir que a comunidade seja ativa no processo de cuidar.
Descritores: cuidados paliativos, atenção primária.
Eixo 4: Educação em cuidados paliativos.
Referências
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Dzingina, MD, Higginson, IJ. Public Health and Palliative Care in 2015. Clin Geriatr Med 31 (2015) 253–263
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World Health Organization. Strengthening of palliative care as a component of integrated treatment throughout the life course. Disponível em: http://apps.who.int/gb/ebwha/pdf_files/EB134/B134_28-en.pdf
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Abel J,Walter T, Carey, LB et al. BMJ Supportive & Palliative Care 2013;0:1–6. doi:10.1136/bmjspcare-2012-000359
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Corrêa, SR, Mazuko, C, Almeida, M et al, 2015 BMJ Support Palliat Care 2015;5:A19 doi:10.1136/bmjspca-re-2015-000906.59
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Valoura, LC. Paulo Freire, o autor do termo empoderamento, em seu sentido transformador. Disponível em: http://tupi.fisica.ufmg.br/michel/docs/Artigos_e_textos/Comportamento_organizacional/empowerment_por_paulo_freire.pdf
DISCIPLINA DE CUIDADOS PALIATIVOS NO PROGRAMA DE UMA RESIDÊNCIA DE ENFERMAGEM DA UNI-VERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Inês Gimenes Rodrigues1; Maria Cristina C. Bobroff2; Andréia Bendini Gastaldi3; Michele Vieira4.
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Enfermeira, Docente na Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Campus Londrina. Doutora em Ciências pela Escola de En-fermagem de Ribeirão Preto – USP.
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Enfermeira, Docente na Universidade Estadual de Londrina. Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Londrina.
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Enfermeira, Docente na Universidade Estadual de Londrina. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal Doutoranda pelo PPG em Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Londrina.
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Enfermeira, graduada pela Universidade Estadual do Norte do Paraná. Enfermeira da Equipe Interdisciplinar de Cuidados Paliativos
Oncológico do Hospital de Câncer de Londrina.
Introdução: A pessoa com uma doença ou agravo incurável, que ameace sua vida, precisa de cuidados especiais que abarque toda sua dimensionalidade humana, com a meta de prevenir ou aliviar o seu sofrimento. A necessidade de cuidado se estende aos seus familiares e pessoas de sua proximidade, pois também sofrem pela situação vivenciada e pela incerteza do futuro. Os Cuidados Paliativos veem de encontro a essa realidade, suprindo as necessidades afe-tadas, sejam elas das dimensões físicas, emocionais, sociais ou espirituais, pautada por uma comunicação honesta e efetiva e embasada pelos princípios da bioética e dos princípios da Organização Mundial da Saúde em relação à morte, controle dos sintomas, com ênfase no alívio da dor, o cuidado com a família, entre outros1,2. Para que o paciente e seus familiares recebam cuidados paliativos é necessário que os profissionais que atuam junto a eles, sejam capacitados e desenvolvam habilidades no sentido de exercer o cuidado integral aos pacientes e familiares, com uma visão holística no momento de sofrimento e de dor, sempre na perspectiva de não curar, nem prolongar ou adiantar a morte, mas sim, almejando o controle dos sintomas indesejáveis e que causam muito desconforto, propiciando qualidade de vida e uma morte digna.
Objetivo: Relatar a experiência de criar, ministrar e supervisionar a disciplina de Cuidados Paliativos no Programa de Pós-Graduação – Residência de Enfermagem em Cuidados Intensivos do Adulto – da Universidade Estadual de Londrina.
Descrição metodológica: O Programa de Pós-Graduação na modalidade Residência de Enfermagem em Cuidados Intensivos do Adulto, da Universidade Estadual de Londrina, criada em 2011, visa capacitar enfermeiros para a assistên-cia aos adultos em situações críticas de saúde, não só em unidades de terapia intensiva, mas em qualquer cenário de atenção à saúde, além de buscar o cuidado humanizado e integral ao paciente e família. Neste sentido, engloba também a disciplina de Cuidados Paliativos (CP) como parte da busca de experiência e qualificação na assistência integral do pa-ciente com doença ou agravo que o levarão à morte. Por isso é ofertada no primeiro ano do programa, para que possam atuar de acordo com a filosofia de cuidados paliativos nos demais campos de estágio. A disciplina de Cuidados Paliativos tem uma carga horária teórica de 42 horas e prática de 168 horas, totalizando 210 horas. Para que os residentes pudes-sem ao final da disciplina estar aptos para realizarem os cuidados paliativos em qualquer cenário de cuidado em que estiverem atuando, estabeleceram-se as seguintes competências: “Conhece os princípios da bioética e a aplicabilidade dos mesmos aos pacientes fora de possibilidade de cura e seus familiares; Conhece os conceitos e princípios de CP e participa de equipe multidisciplinar em CP; Desenvolve a sistematização da assistência de enfermagem ao paciente em CP; Conhece os princípios da “dor total” e relaciona-os aos cuidados do paciente em CP; Conhece e aplica a comuni-cação terapêutica em CP; e Conhece os aspectos principais no processo de morrer do paciente em CP e o seu próprio enfrentamento em tais situações”. O cuidado ao morrer é evidenciado pelos desempenhos: “Discute sobre a morte e o morrer como processo natural da vida; discute sobre o sentido da morte para os profissionais de saúde; identifica as estratégias de enfrentamento dos profissionais de saúde em relação à morte do paciente e à sua própria finitude; reco-nhece as manifestações emocionais e comportamentais de pacientes e familiares em relação à morte”. A teorização se faz com o professor da disciplina, por meio de encontros nos quais os residentes apresentam, discutem e refletem os temas específicos de cuidados paliativos: aspectos éticos/bioéticos ao final da vida; comunicação; controle de sintomas, sobretudo, a dor; as competências do enfermeiro necessárias para desenvolver cuidados paliativos; cenários de cuidado, entre outros. A prática se faz no Hospital do Câncer de Londrina, junto à Equipe Interdisciplinar de Cuidados Paliativos Oncológicos (EICPO), no cenário domiciliar e hospitalar (enfermaria e ambulatório), acompanhados pela enfermeira da equipe. Semanalmente a professora tutora faz a supervisão, discutindo a relação teoria/ prática do cuidado vivenciada pelos residentes.
Resultados: No período de 2011 a 2015, quinze residentes participaram da disciplina Cuidados Paliativos, sendo um enfermeiro e quatorze enfermeiras. Atualmente trabalham nas mais diferentes áreas de atuação (emergências, unidade de terapia intensiva, unidade básica de saúde, hospital geral, hospital oncológico, centro cirúrgico, entre outros). Os resi-dentes puderam acompanhar e participar de ações da Equipe de Cuidados Paliativos Oncológicos. Essa equipe é formada por enfermeira, médicos, psicóloga, assistente social e voluntária que atuam nas visitas domiciliares, nas consultas ambulatoriais e no acompanhamento dos pacientes hospitalizados nessa especialidade. A experiência tem sido mar-cante no que se refere à prática dos princípios dos cuidados paliativos, sobretudo no alívio do sofrimento, na compaixão pelo doente e seus familiares, no controle dos sintomas, na busca pela autonomia e na morte como processo natural da vida. Os residentes participam ainda das discussões teóricas semanais, programadas pela disciplina, junto à equipe abordando temas importantes aos pacientes em cuidados paliativos: terapia subcutânea, feridas oncológicas, manejo da dor, tratamento de sintomas e como dar más notícias. Nessas reuniões tem sido possível fazer a conexão da teoria com a prática através dos relatos da equipe de Cuidados Paliativos que, por sua vez, contextualizam situações da prática.
Conclusão: Essa experiência tem trazido subsídios para os residentes, ao constatarem que os cuidados paliativos cons-tituem uma faceta do cuidado no qual a enfermagem tem papel primordial e que pode ser aplicada nos diferentes cená-rios de cuidado. Entretanto, o enfermeiro precisa apropriar de competências para os cuidados paliativos, principalmente no que tange ao processo de morte e morrer, além de desenvolverem habilidades específicas para o cuidado domiciliar, pois os pacientes são preparados para morrer em sua própria casa junto aos seus familiares. Ainda na equipe multi-profissional, é possível perceber que a valorização do enfermeiro acontece à medida que este assume ações de cuidado que lhe é próprio da formação, tais como: orientação e educação do paciente e família quanto ao tratamento e doença; avaliação das necessidades integrais do paciente; comunicação com paciente e familiar; e alívio dos sintomas por meio de ações não farmacológicas, que representa muito no trabalho do enfermeiro e, sobretudo, nos cuidados paliativos.3 Tais experiências tem enriquecido os enfermeiros residentes na esfera pessoal e profissional, preparando-os para a vida. Tais relatos são comuns nas avaliações ao término da disciplina. Consequentemente, para os professores do pro-grama, criar a disciplina de Cuidados Paliativos foi uma inovação e uma confirmação da relevância da capacitação dos enfermeiros em cuidados paliativos.
Descritores: Educação, Enfermagem, Cuidados Paliativos.
Eixo 4: Educação em Cuidados Paliativos
Referências
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World Health Organization. National cancer control programmes: policies and managerial guidelines. 2rd ed. Geneve: OMS; 2002.
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Rodrigues, IG. Os significados do trabalho em equipe de cuidados paliativos oncológicos domiciliar: um estudo etno-gráfico [tese]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo; 2009.
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Lopes, AS, Garbuio, D J, Terassi, M, Fukahori, RV, Martins, MB, Ganeo, FM, Gastaldi, AB, Rodrigues, IG. A disciplina de Cuidados Paliativos na residência em enfermagem em Cuidados Intensivos do Adulto da UEL: relato de experiência. 64º Congresso Brasileiro de Enfermagem. Porto Alegre (RS); 2012.
EDUCAÇÃO E CUIDADOS PALIATIVOS: REFLEXÕES SOBRE AS RELAÇÕES DE PODER NA FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA ÁREA DA SAÚDE
Fernanda Sant´Ana Tristão1; Stefanie Griebeler Oliveira2; Giovana Cóssio Rodrigues3; Michele Rodrigues Fonseca4; Aline Daiane Leal de Oliveira5; Álvaro Luiz Hypólito6
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Enfermeira. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas – UFPel. Do-cente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas – UFPel. Membro do grupo Grupo de Estudos sobre
Práticas Contemporâneas do Cuidado de Si e dos Outros (GEPECCUIDADO).
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Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas – UFPel.
Membro do grupo Grupo de Estudos sobre Práticas Contemporâneas do Cuidado de Si e dos Outros (GEPECCUIDADO).
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Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas – UFPel.
Membro do grupo Grupo de Estudos sobre Práticas Contemporâneas do Cuidado de Si e dos Outros (GEPECCUIDADO).
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Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas – UFPel.
Membro do grupo Grupo de Estudos sobre Práticas Contemporâneas do Cuidado de Si e dos Outros (GEPECCUIDADO).
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Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas – UFPel.
Membro do grupo Grupo de Estudos sobre Práticas Contemporâneas do Cuidado de Si e dos Outros (GEPECCUIDADO).
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Doutor em Educação. Docente dos Programas de Pós-Graduação em Educação e Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas – UFPel.
Introdução: as novas descobertas no campo da saúde e da tecnologia e a expansão do conhecimento médico científico que tiveram início na modernidade fizeram com que muitas doenças antes fatais se transformassem em doenças crôni-cas. No entanto, o desenvolvimento e o emprego de novas tecnologias na saúde como a engenharia genética, os trans-plantes e a utilização de fármacos, permitiu, ao homem, prolongar da vida1. Portadores de doenças crônicas e doenças avançadas passaram a contar com medicamentos, exames de imagem, novas técnicas cirúrgicas e ter a disposição diferentes recursos e possibilidades para manter a vida, fato que contribui para que a morte passasse a um assunto socialmente evitado e politicamente incorreto, tanto que para os profissionais de saúde a morte passou a ser encarada como temerosa, e associada ao sentimento de fracasso ou erro2. No entanto cabe destacar que a perspectiva de morte como fracasso e da salvação da vida como uma verdade indubitável foi constituída a partir da racionalização do saber médico no século XIX, período em que a morte passou a ser centrada no poder-médico hospitalar e o médico, assumiu o poder sobre o corpo e sobre a vida3. Concepção que se opõe ao conceito de Cuidados Paliativos, criado em meados da década de 1960 e definido como o cuidado ativo total dos pacientes cuja doença não responde mais ao tratamento cura-tivo, cuja forma de conceber a terminalidade e a morte, opõe-se ao modelo de morte moderna, onde o poder é exercido pelo médico, pois se centra no conceito de cuidado total, do qual se incumbe não apenas as equipes multiprofissionais, mas, também, o próprio indivíduo doente e a família. No entanto, na atualidade mesmo frente ao aumento da expectativa de vida e o número das doenças crônicas os Cuidados Paliativos são negligenciados na maioria dos países. O modelo da medicina curativa ainda é o modelo que prevalece nas instituições de saúde e é o modelo que predomina nos currículos cursos de graduação na área da saúde fazendo com que o discurso médico e seu poder de salvação e de cura sejam vistos como a única possibilidade e ascendem à máxima nos dias atuais.
Objetivo: a partir de tais considerações objetivo central deste trabalho consiste em apresentar uma reflexão crítica sobre as relações de poder, saber e verdade e a formação dos profissionais da área da saúde e sua interface com os Cuidados Paliativos.
Descrição metodológica: trata-se de uma reflexão teórica que foi construída a partir da Dissertação intitulada “O que se ensina sobre a dor crônica nos Manuais, Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde” na qual foi utilizada as teorizações de Michel Foucault. A mesma envolveu ainda discussões realizadas no Grupo de Estudos so-bre Práticas Contemporâneas do Cuidado de Si e dos Outros (GEPECCUIDADO) vinculado a Faculdade de Enfermagem da UFPel. A leitura, de livros, teses, dissertações e artigos que deram suporte às fases desta construção. Em complemen-taridade foram consultadas: a base de dados da Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e a biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library Online (SciELO).
Resultados: o conceito de morte sofreu alterações no decorrer da história da humanidade. No ocidente com o apare-cimento da anatomia patológica no século XIX a morte passou a ser relacionada ao conceito de degeneração. Essa nova concepção sobre a morte foi sendo associada à ideia de fracasso, e levou a um movimento de aversão à morte e a tudo que estava a ela relacionado, tanto que a finitude do doente e do moribundo passou a ficar encoberta na clandestinida-de3. Neste contexto, remodelou-se o hospital como uma instituição típica de confinamento, no qual a morte e o morto passaram a ser colocados. No espaço do hospital passa a se dar a produção do saber sobre o corpo através do exercício do poder, já que até meados do século XVII o hospital era uma espécie de instrumento de assistência e transformação espiritual, em que a função médica não aparecia3. Tal reformulação teve início na Europa no século XVIII transformando o hospital em espaço de cura, que passou a ser qualificado como um instrumento terapêutico onde o saber médico científico surgiu, no momento em que a intervenção médica foi deslocada para dentro do espaço hospitalar 4. O método clínico, por meio da medicalização, objetificou o paciente a partir do estabelecimento de uma verdade, que evidenciou um saber racional reconhecido sobre o corpo, que contribuiu para a legitimação do saber-poder da medicina e acarre-tou um novo jeito de olhar, agora, não mais para a vida e sim para a morte, podendo dessa forma identificar os tecidos doentes e, assim, fazer da doença algo real, corporal e classificável de acordo com os órgãos e tecidos afetados3-4. A padronização de condutas através do método clínico passou, então, a constituir o corpo como objeto e alvo de poder e os indivíduos como objetos de saber o que contribuiu para que a ideia de autoridade e competência do saber médico fosse firmada. A ideia de morte passou assim como outros eventos da vida a ser centrada no poder-médico hospitalar e esse profissional, em nome da ciência, assumiu o poder sobre o corpo e a vida e o cuidado familiar foi substituído pelas práticas médico-hospitalares de forma que a doença e a morte foram ocultadas no sentido de poupar o doente, a família e a sociedade da morte e os eventos que a circundam, já que estes passaram a ser vistos como um fracasso do médico sobre a vida. Na contemporaneidade transformações tecnológicas, das relações entre capital e trabalho, nas relações políticas, assim como mudanças nos processos de adoecer e morrer promovidas pelas transições demográficas e epidemiológicas em saúde, influenciaram o progressivo aumento da expectativa de vida e das doenças crônicas e dege-nerativas, fatos que contribuíram para o surgimento dos Cuidados Paliativos no Século XX como uma nova modalidade de assistência aos doentes fora de possibilidade terapêuticas curativas. Ao valorizar a morte no seu devido tempo, sem a utilização de intervenções médicas para o encurtamento da vida, nem para o prolongamento artificial do processo de morrer essa forma de conceber a morte contrapõem-se ao modelo da medicina curativa e o poder de salvação através da intervenção máxima no corpo proposto na modernidade, que ainda é o modelo presente na contemporaneidade e vem sendo amplamente difundido na formação dos profissionais de saúde.
Conclusão: essa reflexão nos leva a pensar a dicotomia existente entre as práticas de saúde contemporâneas como os Cuidados Paliativos e a formação dos profissionais na área da saúde e como ambas ainda estão envoltas nas praticas de poder e saber constituídas na modernidade.
Descritores: cuidados paliativos; educação; ocupações em saúde.
Eixo 4: Educação Em Cuidados Paliativos
Referências
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Matsumoto, DY. Cuidados Paliativos: conceitos, fundamentos e princípios. In: Manual de Cuidados Paliativos ANCP:
Ampliado e atualizado. ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos) 2ª edição. 2012.
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Moritz, RD. A Morte e o Morrer nas Unidades de Terapia Intensiva, em: David CM – Medicina Intensiva. 1ª Ed, Rio de Janeiro, Revinter, 2005.
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Foucault, M. A microfísica do poder. Paz e terra, 2010.
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Porter, R. Das tripas coração: uma breve história da medicina. São Paulo: Record, 2004.
MÓDULO DE AUTO APRENDIZAGEM EM CUIDADOS PALIATIVOS E ÓBITO NO DOMICÍLIO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Deisi Cardoso Soares1, Ana Claudia Gastal Fassa2, Elaine Thumé3, Natália Sevilha Stofel4, Everton Fantinel5, Rogério Linhares6, Samanta Maagh7, Daniela Habekost Cardoso8, Luiz Augusto Facchini9
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Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Faculdade de Enfermagem (FEn)Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
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Médica. Doutora em Epidemiologia. Departamento de Medicina Social. Faculdade de Medicina/UFPel.
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Enfermeira. Doutora em Epidemiologia. FEn/UFPel.
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Enfermeira. Mestre em Saúde Pública. Departamento de Medicina Social/UFPel.
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Médico. Mestre em Epidemiologia. Departamento de Medicina Social. Faculdade de Medicina/UFPel.
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Médico. Doutor em Epidemiologia. Departamento de Medicina Social. Faculdade de Medicina/UFPel.
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Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Hospital Escola/UFPel.
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Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Faculdade de Enfermagem. Universidade Católica de Pelotas.
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Médico. Doutor em Epidemiologia. Departamento de Medicina Social. Faculdade de Medicina/UFPel.
Introdução: Os Cuidados Paliativos abrangem a atenção às pessoas portadoras de alguma doença crônica potencial-mente fatal, tendo como eixo central a qualidade de vida e o controle de sintomas. Agregando os Cuidados Paliativos
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Atenção Domiciliar qualifica-se a assistência com o apoio de uma equipe de referência do Sistema Único de Saúde (SUS), permitindo que os familiares participem ativamente do cuidado, sem necessitar que o paciente deixe o ambiente domiciliar. Os cuidados paliativos no domicílio permitem oferecer assistência integral considerando as necessidades físicas, emocionais, espirituais e sociais, auxiliando o núcleo familiar a afirmar a vida e compreender a morte como parte de um processo natural(1). Na busca para aprimorar a atuação das equipes de Atenção Domiciliar no SUS, o Ministério da Saúde propôs, através da Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS), que fosse elaborado um módulo de autoaprendi-zagem em Atenção Domiciliar com foco nos Cuidados Paliativos e Óbito no Domicílio. Esta proposta utiliza-se de novas tecnologias de informação e comunicação utilizadas para Educação a Distância (EaD). A Especialização em Atenção
Domiciliar abrange as áreas de enfermagem e medicina, sendo composta de 18 módulos, construídos em parceria por
10 universidades brasileiras(2).
Objetivo: Apresentar a abordagem metodológica do Módulo de Autoaprendizagem em Cuidados Paliativos e Óbito no Domicílio.
Descrição metodológica: Trata-se de um relato de experiência. A elaboração do módulo teve inicio em 2014, no qual a equipe multidisciplinar de editoração formada para estruturar e revisar os casos clínicos interativos da Especializa-ção em Saúde da Família modalidade EaD – UNASUS-UFPel, assumiu a tarefa. Esta equipe é composta por médicos, enfermeiros e odontólogos. O módulo foi planejado tendo como núcleo principal 16 casos clínicos, cuja elaboração foi solicitada para profissionais com experiência nas áreas. As temáticas foram do cotidiano do cuidado paliativo e termi-nalidade. A dinâmica consistiu em reuniões semanais, nas quais, todos os casos foram revisados e uniformizados, de acordo com os objetivos do módulo para contemplar as necessidades, em termos de forma e conteúdo e, em seguida, eram devolvidos ao autor para ajuste e retornavam à equipe para revisão final. O módulo também contou com outros profissionais tais como bibliotecárias, designer gráfico e programadores que contribuíram em outras fases da produção do material. O módulo tem a previsão de ser lançado para o público em setembro de 2015.
Resultados: Com carga horária total de 45 horas, os casos clínicos interativos são o eixo principal do processo de apren-dizagem do módulo, estes apresentam como temáticas: ações para o controle dos sintomas mais prevalentes tais como fadiga, anorexia e dor, assim como procedimentos como hipodermóclise, punção de cateter venoso central totalmente implantado e sedação paliativa domiciliar, entre outros. Os casos são estruturados em anamnese, exame físico e ques-tões direcionadas a situação clínica do paciente, estimulando o raciocínio clinico e a resolução de problemas oferecendo informações importantes sobre os problemas abordados por meio do “Saiba Mais”, que é estruturado com referências teóricas explanando de forma objetiva e sucinta alguns tópicos selecionados, além de contar com referências biblio-gráficas que podem complementar e aprofundar a leitura. A progressão do estudante em cada área do módulo permite que este adquira distintivos que destacam seu andamento e estimulam sua adesão ao curso. Outros componentes do módulo são os testes pré e pós realização dos casos clínicos, que buscam mensurar o conhecimento transmitido através do “Saiba Mais”. Os depoimentos de pacientes, familiares e profissionais envolvidos nos cuidados paliativos na atenção domiciliar têm a intenção de transformar um componente de tecnologia dura para leve-dura, instigando o usuário para a humanização do cuidado(3). Ao profissional/estudante também são disponibilizadas ferramentas e instrumentos para admissão, intervenção e manejo, focando a qualificação da atenção domiciliar nos cuidados paliativos e terminalidade.
Conclusão: Para adequar o módulo às exigências da temática foi utilizado um conteúdo teórico útil para a prática diária dos cuidados paliativos em Atenção Domiciliar, no sentido de conseguir criar um recurso pedagógico que não somente capacitasse profissionais de saúde, mas que os sensibilizasse, unindo conhecimento técnico e humanização do cuidado, propondo a aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento de habilidades e valores. Acreditamos que a EAD possa ser um dos caminhos para a qualificação da atenção domiciliar e formação de recursos humanos para o SUS.
Descritores: Cuidados Paliativos; Educação a Distância; Assistência Domiciliar.
Eixo 4: Educação em Cuidados Paliativos
Referências
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ANCP. Associação Nacional de Cuidados Paliativos. Manual de Cuidados Paliativos. Rio de Janeiro, Diagrafic, 2009. Disponível em: http://www.ufms.br/Bioetica/TExtos/Morte%20e%20o%Morrer/MANUAL%20DE20CUIDA-DOS%20PALIATIVOS.pdf. Acesso em: 31 mar. 2015.
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Brasil. Universidade Aberta do SUS: Curso online de atenção domiciliar. Disponível em: http://www.unasus.gov.br/cursoAD. Acesso em: 09 ago. 2015.
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Merhy, EE. A perda da dimensão cuidadora na produção da saúde: uma discussão do modelo assistencial e da inter-venção no seu modo de trabalhar a assistência. Campinas, DMPS/FCM/ UNICAMP, 1997.
ORTOTANÁSIA, COMO UMA FORMA NATURAL DO MORRER
Marcelo Ávila Franco¹ Ancile Maria Ziani Leal²
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Psicólogo (ULBRA), Especialista Docência do Ensino Superior (IERGS), Residente R2 do Programa de Residência Multi-profissional em Saúde (HUUMD).
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Psicóloga (ULBRA), Especialista em Residência Multiprofissional em Saúde Hospitalar: Psicologia (HUUMD), Pós-
-Graduanda em Dor e Medicina Paliativa (UFRGS), Psicóloga do Hospital da Brigada Militar de Porto Alegre (HBM-PA).
Introdução: O nascer e o morrer pertencem de forma igual às nossas vidas. Seguem como se fossem pesos de uma
balança: são como extremidades, pontos que nunca se cruzam, pólos que conduzem manifestações de todos os seres humanos. Na Ortotanásia, quando um indivíduo entra em estágio terminal, os profissionais direcionam o paciente a um cuidado sem sofrimento, dispensando a utilização de métodos invasivos de prolongamento da vida. Sendo a intenção principal e primordial a de não promover o adiamento da morte e ao mesmo tempo não provocá-la. Como o objetivo é de minimizar o sofrimento e a morte do paciente vai ocorrer dentro de uma situação de terminalidade da vida, são inter-rompidas medidas extraordinárias, reconhecendo-se que existe uma condição humana de mortalidade e que o conhe-cimento médico atual também é limitado. Ortotanásia, nos dias atuais, é culturalmente sempre vista como uma forma de “não investimento” na vida de um paciente. Mas uma obstinação terapêutica seria realmente a saída para pacientes com doenças terminais? Analisando por outro ângulo, poderíamos verificar como algo inútil e desnecessário, e apenas estaríamos prolongando o momento de morrer. Todo ser humano tem o direito de morrer sem sofrimento. A morte sempre traz muitas dúvidas, e quando se diz “deixaram morrer” se pensa que não se investiu naquela vida. Ortotanásia é a arte de morrer bem, de forma humana e correta sem abreviar a vida, e melhor, sem prolongar o sofrimento. De alguma forma a medicina é colocada frente a um dilema: estaria prolongando um morrer ou salvando vidas? A medicina deve sempre buscar tratar o doente, e não a doença, dando um maior valor à vida, deixando de lado as terapêuticas invasivas obstinadas, quando este for o desejo do doente ou de sua família. Neste contexto, torna-se necessário pesquisar o tema em questão, para promover um melhor entendimento do assunto entre os profissionais da área da saúde e, ao mesmo, tempo desmistificar esse assunto que ainda é um tabu em nossa sociedade.
Objetivo deste estudo é proporcionar por meio de revisão de literatura e análise de artigos, uma melhor compreensão do tema para profissionais da área da saúde, além de trazer o significado da representação social de morte no contexto cultural, abordando a ortotanásia como uma forma natural de morrer.
Descrição Metodológica: Estudo revisional bibliográfico e científico, objetivando abordar a ortotanásia e o “morrer com dignidade”.
Discussão: É atribuído ao professor da Universidade de Liege na Bélgica, Jacques Roskam a denominação de ortotaná-sia. Segundo ele, existiria uma possibilidade de morte justa, entre eutanásia e a obstinação terapêutica. A palavra ortota-násia, que tem sua origem no grego (orto: certo, thanatos: morte), pode ser considerada como a “filosofia da boa morte”, representando a morte do indivíduo no momento certo. Focando na adesão de procedimentos paliativos, buscando de alguma forma sempre o controle da dor, esse processo opta por descartar, ou mesmo restringir, tratamentos invasivos e agressivos que tentam adiar o fim da vida, a fim de não comprometer a qualidade de vida do paciente, que deveria estar sempre em primeiro plano. Podemos dizer que a ortotanásia, de forma simples, seria o meio-termo do nem antes, como ocorre com a eutanásia, e nem depois, como no caso da distanásia. Cuidado paliativo é uma forma de abordagem que visa à melhoria da qualidade de vida de pacientes e seus familiares que enfrentam doenças ameaçadoras à vida. Questões fundamentadas na promoção do bem-estar físico, espiritual, psicológico, bem como éticas, são de suma im-portância para que o paciente sinta-se não apenas como um objeto nas mãos de terapêuticas inúteis, respeitando assim sua dignidade e autonomia, diminuindo as dores e os sofrimentos impostos no processo de morrer. Na tríade entre pro-fissionais, família e paciente sempre existirá a necessidade de um suporte emocional, pois nesse contexto todos sentem a perda de uma vida, e podem vir a desenvolver uma forte depressão ou mesmo um luto patológico. É preciso aceitar que a morte faz parte de nossas vidas, e precisamos enxergá-la, como se fosse uma companheira que nos ronda a todo instante e não nos pede licença para entrar em nossas vidas. Assim como o nascer está no início, o morrer está no fim.
Conclusões: A morte é uma realidade vivenciada diariamente no contexto hospitalar e a ortotanásia é a maneira de aceitar o fim de nossas vidas. É o momento em que o paciente não tem mais chances de se curar e a medicina suspen-de o tratamento, respeitando sempre a vontade desse paciente, ou mesmo seu representante legal. Nesse momento, visando a qualidade de vida do ser humano, a medicina realiza apenas formas terapêuticas paliativas, evitando que o paciente sofra, visando a morte no tempo certo, podendo o enfermo escolher entre manobras tecnológicas que de algu-ma forma irão prolongar a sua vida, porém, por outro lado, poderão também prolongar seu sofrimento. Observa-se que, muitas vezes, os profissionais encontram-se despreparados para enfrentar este duelo, não há um investimento na for-mação de profissionais para enfrentarem o processo de morte e morrer. O estágio final da vida sempre traz sofrimento para os que ficam, mas um alívio da dor aos que se vão. Precisamos resgatar a dignidade do ser humano, promovendo o bem-estar da pessoa em fase terminal. A representação que o sujeito tem da morte, influencia sua maneira de lidar com ela e na sua atuação profissional. Poucos estudos se ocupam deste tema que, por ser um tabu, ainda encontra uma forte resistência para ser discutido em nossa sociedade, podendo gerar grandes entraves na assistência em saúde tanto dentro como fora do contexto hospitalar. A ortotanásia é a prática que reivindica o direito do ser humano ter uma morte digna, prevalecendo os reais princípios constitucionais da vida, da liberdade, da igualdade e do direito à saúde.
Descritores: Ortotanásia, Cuidados Paliativos, Psicologia.
Eixo 4: Educação em Cuidados Paliativos.
Referências
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Cuidado Paliativo / Coordenação Institucional de Reinaldo Ayer de Oliveira. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, 2008. 689 p.
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Manual de cuidados paliativos / Academia Nacional de Cuidados Paliativos. – Rio de Janeiro: Diagraphic, 2009. 320p.