No Projeto CuidATIVA – INTEGRALIDADE DO CUIDADO E QUALIDADE DE VIDA, na perspectiva de conquista da CuidATIVA – Centro Regional de Cuidados Paliativos, não falamos de comunidade em geral ou de sociedade civil como um todo, mas de pessoas, familiares, cuidadores, que sofrem por doenças crônicas graves ameaçadoras à vida e que possuem limitados recursos financeiros para aliviar suas dores sociais, afetivas, físicas e espirituais. Tratamos de profissionais, professores, estudantes e voluntários envolvidos com uma educação humanizada, comprometidos com uma formação profissional qualificada em prol do bem comum, solidários com a redução do sofrimento humano e engajados com a busca de qualidade de vida possível e necessária à humanidade.
De acordo com Boaventura de Souza Santos, na CuidATIVA, tratamos da “união de cidadãos trabalhando em ações voluntárias, para conversar, discutir, criar soluções… sem visar o lucro. É essa concepção de sociedade civil, baseada na solidariedade, voluntariado e reciprocidade…”, que motiva e entusiasma a comunidade CuidATIVA em busca do direito universal da sociedade acometida por debilidades, dependentes de cuidados paliativos.
A fortaleza da CuidATIVA está na força do voluntariado, que oferece acolhimento às pessoas; cria oportunidades de distração e recreação; proporciona momentos de recriação e bem estar; conta histórias de vida e favorece a reconstrução de biografias; proporciona embelezamento pessoal e dos espaços de uso comum; realiza benfeitorias, reparos e manutenção nas estruturas disponíveis; organiza eventos festivos e/ou comemorativos; contribui com a preparação e realização de atividades acadêmicas e integrativas; enfrenta adversidades quando necessário e luta organizadamente por direitos da sua comunidade. Além disso, fiscaliza e garante a qualidade dos serviços terapêuticos, sustenta e participa das Práticas Integrativas Complementares e representa a CuidATIVA nas manifestações e comemorações sociais,
Segundo Boaventura de Souza Santos,
numa sociedade onde o mercado se tornou dominante, a sociedade civil solidária passou a envolver os oprimidos e explorados [, no caso específico da CuidATIVA, a sociedade dos portadores de doenças crônicas incapacitantes e sem possibilidade de cura, situação que envolve a maioria da população idosa do planeta]. … Estamos tentando construir uma sociedade civil global dos excluídos. […] Nós não temos o poder do dinheiro [nem do gerenciamento administrativo institucional], mas dos princípios, das ideias, causas e valores. E temos a nosso favor a maioria da população mundial [em crescente envelhecimento,] que é vítima do sistema atual.[…] A nossa luta é justamente que as vítimas da globalização dominante se transformem em protagonistas de sua própria libertação e resistência. […]
Solidários e identificados com os conceitos de ecologia dos saberes e de pluriversidade de Boaventura de Souza Santos,
pensamos uma cidadania planetária que respeite as diferentes culturas […]. O universalismo que queremos hoje é aquele que tenha como ponto em comum a dignidade humana. A partir daí, surgem muitas diferenças que devem ser respeitadas [entre o Projeto CuidATIVA e as administrações da Universidade e do Estado]. Temos direito de ser iguais quando a diferença nos inferioriza e direito de ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza. O princípio da igualdade nos obriga a políticas de redistribuição de riquezas [e de oportunidades iguais para todos e todas] Mas, ao mesmo tempo, o princípio da diferença nos obriga a ter políticas de reconhecimento e aceitação do outro. […]
Na situação especial da CuidATIVA, de redução de espaços e supressão de recursos para a consolidação do Centro Regional de Cuidados Paliativos, seguindo Boaventura de Souza Santos,
não temos condições de desperdiçar nenhum tipo de articulação. A luta junto ao Estado [e perante à Reitoria da Universidade} é muito importante, mas feita com independência. Em alguns países, a sociedade civil pode trabalhar em parceria, em outros, tem que confrontá-lo. […] Uma das grandes áreas em que vamos ter que lutar muito para impor uma alternativa é a democracia. […] O próprio Rousseau disse: “Uma sociedade só é democrática quando ninguém é tão pobre que tenha que se vender e alguém é tão rico que possa comprar alguém”. Algo muito diferente do que acontece hoje em dia… [no nosso País e nas nossas Universidades]. Também precisamos ampliar a noção dos direitos humanos no sentido dos direitos coletivos, como das mulheres… [, que são maioria entre as voluntárias e os voluntários na Rede de Cuidados Paliativos da Universidade e estão em luta pela conquista da CuidATIVA – Centro Regional de Cuidados Paliativos da UFPel].
Referencial Teórico: