A atriz Fernanda Montenegro faz o papel de mulher que luta para denunciar violência do tráfico
Por Liliti Goulart

Fernanda Montenegro e Alan Rocha interpretam personagens protagonistas Fotos: Divulgação/ Sony Pictures Brasil
O filme “Vitória”, estrelado pela atriz Fernanda Montenegro, transcende a simples adaptação de uma história real para se tornar um poderoso manifesto sobre a luta pela justiça e o papel do cidadão e do jornalismo na denúncia da impunidade. Lançado em 2025, o longa-metragem foi dirigido inicialmente por Breno Silveira, que foi vítima de um infarto durante o início das filmagens em maio de 2022. Andrucha Waddington deu continuidade ao trabalho de direção, mas o filme foi lançado também como o último trabalho póstumo de Silveira. É baseado no livro “Dona Vitória Joana da Paz”, do jornalista Fábio Gusmão. A produção não apenas traz comoção, mas também provoca uma profunda reflexão sobre as questões éticas e a coragem cívica.

Cena dos bastidores das gravações com direção de Andrucha Waddington
A narrativa central do filme gira em torno de Nina (personagem interpretada pela Fernanda Montenegro), uma senhora de 80 anos, moradora de Copacabana, no Rio de Janeiro, que se vê encurralada pela crescente violência e pelo tráfico de drogas em sua vizinhança. Diante do descaso das autoridades, Nina decide tomar uma atitude que se tornaria um símbolo de resistência: compra uma câmera para registrar as imagens do tráfico de drogas a partir de sua janela, que ficava próxima à comunidade da Ladeira dos Tabajaras.

A personagem Nina transforma-se em um símbolo do inconformismo
O filme ganha ainda mais profundidade ao incluir um jornalista como um dos protagonistas, Flávio Godoy, personagem interpretado por Alan Rocha e inspirado em Fábio Gusmão, repórter que descobre as gravações feitas por Dona Nina e transforma aquele material em uma poderosa denúncia pública. Ao se deparar com as imagens que revelavam o cotidiano do tráfico e a cumplicidade policial, ele percebe a dimensão jornalística e humana da história. Movido por esse senso de responsabilidade, Godoy busca conhecer a mulher por trás da câmera e passa a acompanhá-la de perto, visitando a comunidade da Ladeira dos Tabajaras para compreender o contexto em que aquelas cenas foram registradas. Essa aproximação evidencia o papel do jornalismo como ponte entre o cidadão comum e a sociedade. A relação entre ambos se constrói sobre a confiança e o compromisso ético com a verdade, revelando que a luta por justiça social se fortalece quando a coragem individual encontra a força da imprensa.
A Inspiração: Joana da Paz

Joana da Paz e Fábio Gusmão foram protagonistas das reportagens que marcaram jornalismo brasileiro voltado à segurança Foto; Arquivo Pessoal
A história que deu origem ao filme foi revelada em 2005 por uma reportagem do jornalista Fábio Gusmão. O livro, originalmente intitulado “Dona Vitória da Paz” e reeditado como “Dona Vitória Joana da Paz”, detalha a jornada de Joana Zeferino da Paz, chamada carinhosamente de Nina e que viveu sob o pseudônimo de Dona Vitória após entrar para o programa de proteção a testemunhas. A presença de Fábio Gusmão como personagem na trama, interpretado pelo ator Alan Rocha, reforça a dimensão jornalística da obra.
Mais do que um retrato de bravura individual, “Vitória” é uma reflexão sobre o Brasil contemporâneo. A história denuncia o abandono das periferias, a corrupção institucional e o medo que cerca quem tem coragem de romper o silêncio. Em tempos em que a violência e a desinformação parecem crescer lado a lado, o filme mostra que a imagem e o jornalismo ainda são instrumentos de resistência. Por fim, o resultado é um filme inspirador e socialmente necessário.
Ficha técnica
Título: “Vitória”
Direção: Andrucha Waddington (em projeto iniciado por Breno Silveira)
Roteiro: Paula Fiúza, baseado no livro Dona Vitória Joana da Paz de Fábio Gusmão
Elenco: Fernanda Montenegro, Alan Rocha, Silvio Guindane, Linn da Quebrada
Produção: Conspiração Filmes / Globoplay
Gênero: Drama
Ano: 2025
Duração: 1h52min
País: Brasil
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