“A ideia é formar um ser humano mais consciente, mais autônomo”

Em entrevista, o professor Emanuel Santos fala sobre sua trajetória na arte-educação       

Por João Pedro Goulart      

Arte-educador formado em Artes Visuais, Emanuel dos Santos é professor da rede estadual de ensino e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Artes, do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), na linha de Educação em Artes e Processos de Formação Estética. Ele conta como se reencontrou com o desenho na universidade, depois de uma juventude dedicada à música, e como a docência se consolidou em sua vida profissional. Em entrevista, ele destacou momentos da infância, falou sobre o início como professor na cidade de Piratini e refletiu sobre o cuidado como base de sua prática pedagógica.

Arte no Sul – O que te motivou a seguir a carreira de arte-educador?

Emanuel – Na verdade, eu não esperava que fosse seguir esse caminho. Quando entrei na universidade, estava muito voltado para a música. A arte sempre fez parte do meu cotidiano, das minhas vivências, mas eu queria mesmo era cursar música, aprender mais e tocar. Não pensava em dar aula ou ser professor.

Arte no Sul – E como aconteceu a mudança para as artes visuais?

Emanuel – Acabei não conseguindo entrar na universidade de música e entrei para Artes Visuais – Licenciatura. Ali, me reconectei com o desenho, que era uma prática que eu tinha desde antes de começar a tocar. Desde que me conheço por gente, eu desenho. Minha mãe conta que eu desenhava nas paredes da sala. Uma das lembranças mais antigas que tenho é de desenhar nas paredes de uma estação velha que havia em frente à casa onde eu morava quando era criança.

Arte no Sul – Teus primeiros passos como professor aconteceram ainda na graduação?

Emanuel – Sim. Já tinha dado oficinas e aulas, desde muito cedo. Dei aula de violão, por exemplo. Sempre gostei muito de dar aula, mas nunca tinha pensado nisso como profissão. Depois da faculdade, fui me inscrevendo em processos seletivos do estado, do município, e consegui uma vaga para dar aula em Piratini.

Arte no Sul – Foi nesse momento que tu te reconheceste como professor?

Emanuel – Acredito que sim. Foi quando se consolidou esse meu lado professor como profissão. Até então, eu não pensava muito nisso, talvez por entender a responsabilidade que o professor tem. O estudante passa grande parte do tempo na escola, às vezes tanto quanto em casa. Então o professor tem uma influência muito grande na vida da pessoa, e isso exige um comprometimento real.

 


Emanuel dos Santos vê um sentido libertador no ensino das artes

Arte no Sul – Como é tua abordagem enquanto arte-educador?

Emanuel – Depois que entrei nesse caminho, resolvi me atirar de cabeça. Já que foi isso que a vida me proporcionou, resolvi encarar e dar o meu melhor. Tento sempre trazer um olhar da arte-educação mais voltado para uma perspectiva de cuidado: cuidado com as relações, com o entorno, com o ambiente.

Arte no Sul – Como tu explicas a escolha pelo mestrado e qual a linha está pesquisando?

Emanuel – Optei por seguir o mestrado porque ele também é voltado para a educação, que já era o foco da minha formação na graduação. Mas o que me atraiu mesmo foi essa linha ligada à formação estética. Quando a gente fala sobre estética, não é no sentido de salão de beleza, mas sim da maneira como a gente encara a vida — uma estética de vida. O que você acredita que é verdadeiro, justo, bonito. A estética, para mim, está ligada a esse universo de valores e crenças.

Arte no Sul – Como essa ideia de estética se conecta com a educação?

Emanuel – Acredito que a educação também deve ajudar o estudante a ampliar o olhar sobre o que está vivendo. Sigo muito a perspectiva [de Paulo Freire] da educação para a autonomia, de uma educação que liberta. A autora bell hooks também fala dessa educação transcendente, que auxilia o sujeito a se posicionar no mundo de maneira mais saudável. E isso tudo tem a ver com aquele cuidado que comentei antes: o cuidado com o próximo, com o meio ambiente, com as relações e também com si próprio.

Arte no Sul – Esse cuidado passa também pela formação de um olhar mais crítico?

Emanuel – Com certeza. É tentar ser mais crítico com os conteúdos que se consome — até com o próprio alimento, com os hábitos, os hobbies, as companhias. Tudo isso entra. A ideia é formar um ser humano mais consciente, mais autônomo.

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