A professora Maria Falkembach fala sobre os desafios, as conquistas e expressão artística do Grupo Tatá, projeto de extensão da UFPel
Por Priscila Fagundes

Maria Falkembach destaca como a expressão da dança pode pensar questões contemporâneas Foto: Reprodução/Internet
A professora do curso de Dança – Licenciatura da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Maria Falkembach, é uma das principais referências no desenvolvimento do Grupo Tatá, projeto de extensão que une dança e teatro em produções artísticas e ações comunitárias. Criado em 2009, o grupo surgiu como um espaço de experimentação e aproximação entre a Universidade e a comunidade, tendo como primeiro espetáculo uma releitura da lenda do Boitatá. Ao longo dos anos, os desafios estruturais, consolidaram sua identidade e expandiram seu alcance, com apresentações em teatros renomados e escolas públicas. Nesta entrevista, Falkembach compartilha a história do projeto, os desafios enfrentados, o processo criativo das montagens e a importância da fusão entre dança e teatro na construção de uma arte acessível e provocativa.
Arte no Sul – Conte como o Grupo Tatá surgiu, por que e quando. O que motivou a criação e quais eram suas expectativas iniciais?
Maria Falkembach – O Grupo Tatá surgiu em 2009 como o primeiro projeto de extensão do Curso de Dança – Licenciatura da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O núcleo nasceu da necessidade de aproximação da Universidade com a comunidade, utilizando a dança-teatro como meio de expressão e formação de público. Sua primeira experimentação cênica foi inspirada na lenda “M’Boitatá”, transcrita por Simões Lopes Neto, o que ajudou a consolidar a identidade do grupo e sua conexão com a cultura local.
Arte no Sul – Ao longo desses anos, quais foram os principais desafios enfrentados pelo grupo? Algum momento foi especialmente marcante?
Maria Falkembach – O grupo enfrentou desafios estruturais, como a falta de um espaço cênico adequado na cidade, especialmente com o Teatro Sete de Abril fechado. Isso nos levou a buscar alternativas, incluindo apresentações no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. Um momento marcante foi a realização de uma mostra especial comemorativa dos 15 anos do grupo, que permitiu uma retrospectiva de suas produções e reafirmou a importância das temporadas em Pelotas. Além disso, as apresentações nas escolas foram impactantes, pois proporcionaram interações emocionantes com alunos e professores.
Arte no Sul – De onde vem o nome do grupo Tatá? Como esse conceito se manifesta na identidade e nas produções do grupo?
Maria Falkembach – O nome “Tatá” significa “fogo” em Tupi-Guarani e foi escolhido porque o primeiro trabalho do grupo foi baseado na lenda do Boitatá. A ideia do fogo remete à energia e à conexão entre os integrantes e o público. Esse conceito se manifesta nas produções do grupo por meio da intensidade das performances e do envolvimento do espectador nas apresentações.

A professora Maria Falkembach em cena, incorporando a expressividade e a fusão entre dança e teatro, marcas do Grupo Tatá
Arte no Sul – Como funciona o processo criativo nas montagens do Tatá?
Maria Falkembach – O processo criativo do Tatá varia conforme o tema e as pessoas envolvidas, sendo baseado em improvisação e preparação corporal específica para cada espetáculo. No espetáculo “Quando Você Me Toca”, por exemplo, a preparação envolveu o uso do Kung Fu para trabalhar força e diferentes formas de toque. Já em “Inservíveis”, foram utilizadas práticas como yoga e samba, [de acordo com a] proposta do espetáculo.
Arte no Sul – Qual a maior característica do grupo? E como isso influencia na criação e recepção das obras?
Maria Falkembach – O Tatá se destaca pelo seu trabalho coletivo e pela fusão entre dança e teatro. O grupo valoriza a singularidade dos intérpretes, evitando a homogeneização dos movimentos e buscando formas únicas de expressão. Essa abordagem resulta em espetáculos que instigam e provocam o público, gerando reflexões e promovendo um diálogo horizontal entre artistas e espectadores.
Arte no Sul – Como vocês escolhem os temas para serem trabalhados?
Maria Falkembach – Os temas são escolhidos a partir de inquietações artísticas e sociais do grupo. Questões como identidade, pertencimento e relações humanas frequentemente aparecem nos espetáculos. “Terra de Muitos Chegares”, por exemplo, abordou multiculturalismo e migração, refletindo sobre as diferentes trajetórias dos integrantes do grupo. Já “Quando Você Me Toca” partiu de uma pesquisa sobre toque e gênero no ambiente escolar.
Arte no Sul – Quais os principais lugares que o Grupo Tatá já se apresentou? Como o público reage às performances nesses diferentes contextos?
Maria Falkembach – O grupo já foi apresentado em diversas cidades do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, incluindo espaços acadêmicos, festivais e teatros importantes, como o Theatro São Pedro. No entanto, as apresentações em escolas são um grande destaque, pois promovem um impacto direto no público jovem, estimulando diálogos e reflexões sobre os temas envolvidos. Essas experiências são enriquecidas por momentos de conversa e mediação após os espetáculos, criando um espaço de escuta e troca de vivências.

Integrantes do Grupo Tatá em uma de suas montagens cênicas, explorando o corpo, o movimento e a interação com o público
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