Montagens ‘’O ritmo do cotidiano’’ e ‘’Coisas que eu queria te dizer’’ tratam da expressividade de pequenos gestos do dia a dia e da comunicação nas relações familiares
Por Clarisse Ribeiro

Espetáculos dirigidos por Mariana Martins e Francine Sampaio buscam proporcionar novas experiências tanto ao elenco como ao público Foto: Larissa Borges
Nos últimos meses, especialmente em outubro, os palcos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) foram marcados pelas montagens dos espetáculos de dança ‘’O ritmo do cotidiano’’ e ‘’Coisas que eu queria te dizer’’, dirigidos pelas alunas do curso de Dança Mariana Martins e Francine Sampaio. Combinando arte, poesia e emoção, essas realizações proporcionam aos alunos da UFPel e aos espectadores uma experiência única. Além de socializar com o público, os estudantes têm a oportunidade de se tornarem diretores de suas próprias obras, aprimorando suas habilidades em diferentes contextos de trabalho.

Coreografias remetem aos nossos hábitos corporais da vida diária Foto: Gabriele Winkel
Com a dança atuante como meio de expressão, as montagens se tornam uma forma de refletir a sua função na sociedade. A proposta de ‘’O ritmo do cotidiano’’, de acordo com a diretora Mariana Martins, procurou aproximar os espectadores da arte da dança por meio do reconhecimento dos movimentos do dia a dia. Ela recorda que a escolha do tema da montagem surgiu a partir das experiências que teve em estágios durante o curso, com atividades voltadas para dança a partir de movimentos que podem ser observados nas rotinas diárias. “Dessa forma, pretendeu-se oportunizar reflexões acerca de que todo corpo é capaz de dançar’’, explica Mariana.
Ao trabalhar com movimentos rotineiros e com um elenco formado majoritariamente por pessoas iniciantes na dança, a diretora procurou oportunizar uma vivência diferente e inovadora ‘’Ter essa experiência foi muito importante para mim, principalmente por enxergar nos corpos em cena a potencialidade no dançar de cada uma e conseguir proporcionar que as próprias intérpretes-criadoras se reconhecessem como pessoas que dançam’’, diz.
Além disso, pessoas de outros cursos também participam das montagens. Para Anita Manzke, parte do elenco e aluna do primeiro semestre de Teatro, o espetáculo encoraja as pessoas que, por algum motivo, acreditam que não podem dançar: ‘’Quando a gente mostra que, sim, todos nós dançamos na nossa rotina, que tudo à nossa volta pode virar dança, abre-se um espaço para as pessoas se sentirem confortáveis e enxergarem que, sim, todos nós podemos estar nesse contexto de dança’’, comenta Anita.
O espetáculo buscou aproximar o público da arte e, dessa maneira, reafirmar o papel social da dança nos detalhes, proporcionando um novo olhar e, para Gabriele, uma das espectadoras, o espetáculo oferece uma nova perspectiva: ‘’Obtive uma nova percepção sobre a dança. Consegui notar que ela está no nosso dia a dia, em nossa rotina e em pequenas coisas,’ conta.

Público é motivado sobre relações familiares e comunicação desde a chegada na sala de apresentação Foto: Larissa Hönke
Por outro lado, ‘’Coisas que eu queria te dizer’’ aproxima seu público de uma perspectiva sobre a contemporaneidade com sensibilidade e uma reflexão sobre a comunicação. Para Francine, diretora do espetáculo, a forma moderna de se comunicar pode ser restrita e insuficiente: ‘’O meu objetivo é fazer com que as pessoas, os espectadores e o público reflitam sobre a escassez da comunicação entre as pessoas hoje em dia por conta das tecnologias que acabam criando uma bolha. E aí a gente deixa de falar para as pessoas o que a gente sente, o que a gente percebe, o que a gente vê, o que a gente não vê’’, explica Francine.
Ao explorar as cartas como meio de comunicação, a diretora revisitou sua infância e sua dinâmica familiar em momentos difíceis A escolha do tema está relacionado aos problemas de comunicação entre os familiares. Ela e sua mãe começaram a trocar cartas na tentativa de melhorar esse ponto. “Então, as minhas partes artísticas da faculdade sempre foram em relação à minha família, à minha vida, uma coisa mais pessoal.’’, conta.

Participam das montagens também estudantes de outros cursos além da faculdade de Dança Foto: Larissa Borges
Além disso, para aumentar a interação com seu público, Francine, em parceria com sua orientadora Josiane Corrêa, solicitou uma senha para a entrada do público nas salas de apresentação dos espetáculos. Para assistir, como forma de ingresso, foi necessário escrever uma carta com coisas que nunca foram compartilhadas com alguém. ‘’Como o espetáculo fala sobre cartas, e eu tenho as cartas presentes na minha montagem, nós decidimos fazer de um outro formato, que não seja o óbvio’’, explica.
A montagem explora os sentimentos e a comunicação de todas as maneiras, inclusive em suas músicas e narrações, sendo uma oportunidade de entendermos a sociedade e seu comportamento ‘’Então, a Francine explorou a escrita de cartas, instigando o elenco a narrar memórias afetivas, criou coreografias que buscam ‘falar com o corpo’, selecionou músicas que comunicam mensagens importantes na visão dela, entre outras possibilidades’’, destaca a orientadora Josiane. ‘’Considero interessante refletir sobre o trabalho dela, pois experimentar diferentes modos de se comunicar faz com que mais pessoas possam receber e recriar as informações disponibilizadas’’, diz.
Assim, cada montagem exerce o seu devido papel de expressividade, alcançando o objetivo de impactar e conscientizar o público, tanto em relação ao cotidiano quanto à comunicação. Até o momento, as próximas montagens e apresentações dos semestres seguintes do Curso de Dança da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) ainda não têm data para acontecer, mas são muito aguardadas, tendo em vista estas realizações!
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