Filme “Cidadão Kane” marca legado do diretor Orson Welles

Produção de 1941 inovou na forma do cinema contar histórias e visão multifacetada do protagonista 

Por Pedro de Oliveira   

“Cidadão Kane”, dirigido por Orson Welles e lançado em 1941, é frequentemente considerado um dos maiores filmes de todos os tempos. Para entender essa aclamação, é crucial examinar a revolução narrativa e técnica que o filme introduziu. Welles inovou ao usar a narrativa não linear, começando o filme com a morte do protagonista, Charles Foster Kane, e reconstruindo sua vida através de flashbacks e múltiplas perspectivas. Essa estrutura narrativa desafiou as convenções da época, permitindo ao espectador uma visão multifacetada do personagem.

O uso de técnicas cinematográficas como a profundidade de campo também se destacou. Esta técnica, que mantém todos os elementos do quadro em foco, simboliza a complexidade da vida de Kane e o intrincado emaranhado de eventos que moldaram seu caráter. Além disso, a colaboração com o diretor de fotografia Gregg Toland resultou em composições visuais impressionantes, como o uso de ângulos baixos para engrandecer o poder de Kane. Estas inovações técnicas e narrativas continuam a influenciar cineastas modernos, reafirmando o status icônico de Welles.

 

Famosa cena do filme que exemplifica a técnica da profundidade de campo  Fotos: Reprodução/Internet

 

Crítica ao Poder e à Mídia

Centrado na figura de Charles Foster Kane, o filme oferece uma crítica contundente ao poder e à manipulação midiática. Kane, inspirado na vida do magnata da imprensa William Randolph Hearst, é retratado como um homem que ascende ao poder utilizando a mídia como ferramenta de controle e propaganda. A trajetória de Kane revela como a obsessão por poder e controle pode corromper os valores e desumanizar o indivíduo.

A crítica de Welles vai além do personagem, estendendo-se à própria mídia, que se torna cúmplice na construção e destruição de ícones como Kane. O filme questiona a ética jornalística, sugerindo que a busca pelo sensacionalismo pode comprometer a verdade e a responsabilidade social. Para estudantes de jornalismo, “Cidadão Kane” serve como um alerta sobre os perigos da concentração de poder midiático e a importância de manter a integridade na profissão.

 

Imagem clássica que representa a ascensão de Kane em sua caminhada na produção de notícias

 

Enigma de “Rosebud”

O mistério de “Rosebud,” a última palavra proferida por Kane antes de sua morte, é o fio condutor que permeia toda a narrativa. Essa palavra simboliza a busca incessante pelo significado da vida e pela essência perdida do protagonista. Ao longo do filme, diferentes personagens oferecem suas interpretações sobre Kane, mas ninguém parece compreender plenamente seu verdadeiro desejo ou a razão de seu fracasso pessoal.

“Rosebud” representa a inocência perdida de Kane, sua infância feliz antes de ser separado de sua família e lançado em uma vida de riqueza e solidão. Essa metáfora ressoa profundamente, sugerindo que, apesar de toda a sua riqueza e poder, Kane morreu sem encontrar a paz interior. A simplicidade desse enigma é o que torna “Cidadão Kane” tão poderoso, pois revela a fragilidade humana por trás da fachada de grandeza.

Relevância Contemporânea

Embora “Cidadão Kane” tenha sido lançado há mais de oito décadas, sua relevância permanece intacta. Em tempos de crescente influência das mídias digitais e redes sociais, a história de Kane ecoa as preocupações contemporâneas sobre a manipulação da informação e o culto à personalidade. O filme questiona como o poder e a mídia podem moldar a percepção pública, criando narrativas que favorecem os interesses de poucos em detrimento do bem comum.

Para os estudantes de Jornalismo, essa reflexão é particularmente importante. A era digital trouxe novas formas de disseminação de notícias, mas também novos desafios éticos. Assim como Kane utilizou seu império midiático para moldar a opinião pública, hoje, algoritmos e campanhas de desinformação ameaçam a integridade do jornalismo. “Cidadão Kane” nos lembra que a busca pela verdade deve ser o princípio norteador de qualquer jornalista.

 

 

          Obra de Orson Welles transcende o tempo de sua realização                                                Foto: NBCUniversal via Getty Images

 

Trabalho criativo imortal

“Cidadão Kane” não é apenas um filme; é uma lição sobre o poder, a mídia, e a condição humana. A obra-prima de Orson Welles transcende o tempo, oferecendo uma crítica incisiva que ainda ressoa nos dias de hoje. Para os futuros jornalistas, o filme serve como uma reflexão sobre o papel da mídia na sociedade e os dilemas éticos que cercam o exercício da profissão.

Ao assistir “Cidadão Kane”, é impossível não se impressionar com a habilidade de Welles em entrelaçar temas complexos com uma narrativa visualmente inovadora. A obra permanece um estudo essencial para qualquer estudante de Jornalismo, não apenas pelo seu valor histórico, mas também pelas lições atemporais que oferece sobre a natureza do poder e da verdade.

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