Reviva terror de “Nosferatu”, clássico do Expressionismo Alemão que ganha nova versão em 2024

A releitura da obra de F.W. Murnau, de 1922, tem direção de Robert Eggers, de “A Bruxa” e “O Farol”         

Por Gabriel Veríssimo        

O filme “Nosferatu” (1922), clássico do Expressionismo Alemão e um dos precursores do gênero horror no cinema, ganhará uma nova versão em 2024. O responsável pela adaptação do filme de F.W. Murnau será o diretor Robert Eggers, um dos mais aclamados do gênero na atualidade, conhecido pelos filmes “A Bruxa” (2015), “O Farol” (2019) e “Homem do Norte” (2022). O longa tem estreia marcada para o dia 25 de dezembro, nos Estados Unidos, mas segue sem data para lançamento no Brasil.

A nova versão tem como cenário a Alemanha do século XIX. Um vampiro da Transilvânia, Nosferatu, persegue a jovem Ellen Hutter. Tudo começa depois que o monstro, se passando pelo Conde Orlok, usa o marido de Ellen, o agente imobiliário Thomas Hutter para adquirir uma casa em Londres. O elenco conta com Bill Skarsgård (no papel do Conde Orlock), Willem Dafoe (professor Albin Eberhart von Franz), Lily-Rose Depp (Ellen Hutter), Nicholas Hoult (Thomas Hutter), Emma Corin (Anna Harding), Aaron Taylor-Johnson (Friedrich Harding) e Ralph Ineson (Doutor Wilhelm Sievers).

 

        Bill Skarsgård  interpreta o  papel do Conde Orlock,e Nicholas Hoult  é o agente imobiliário Thomas Hutter               Foto: Divulgação

 

A sinopse revela que o novo filme mantém a essência da história original de 1922. O desafio de Eggers, portanto, é trazer para o cinema contemporâneo as características de “Nosferatu” e do estilo cinematográfico do Expressionismo Alemão, como o pessimismo, a paranoia e a linguagem cinematográfica exagerada. Para uma melhor compreensão dessa releitura, é fundamental que o espectador tenha familiaridade com alguns dos conceitos centrais desse movimento, permitindo assim uma apreciação mais profunda dessa narrativa revisitada 102 anos depois.

 

O Expressionismo Alemão

 

A pintura “O Grito” (1893) de Edvard Munch antecipou a estética expressionista Imagem: Reprodução Internet

 

O Expressionismo foi um movimento artístico que despontou na poesia e na pintura a partir da década de 1910 na Alemanha, o qual buscava retratar o mundo de maneira subjetiva, priorizando a representação dos sentimentos do autor da obra e desprezando a simples descrição objetiva da realidade. Teve precursores como o pintor norueguês, Edvard Munch, autor da pintura “O Grito” (1893).

O movimento passa a influenciar o teatro, a arquitetura e o cinema principalmente após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A derrota da Alemanha foi mais do que um golpe econômico, social e político para o país. Ela instaurou um clima de pessimismo que contrastava fortemente com a euforia vivida durante o período de crescimento e expansão desde a Revolução Industrial. Essa profunda depressão que tomou conta da nação se refletiu intensamente em suas produções cinematográficas.

O Expressionismo Alemão explorou todos os recursos cinematográficos disponíveis para representar o pessimismo, a paranoia, o contraste social, os sentimentos exacerbados e a completa desconfiança na racionalidade. Cada detalhe era meticulosamente concebido para refletir o clima do país. Desde a fotografia, marcada por intensos contrastes de claro e escuro, a direção de arte, com cenários distorcidos e maquiagem acentuada, até o desempenho dos atores, que exibiam expressividade intensa e movimentos sinuosos.

A obra que marcou o início do Expressionismo Alemão no cinema e se tornou um dos seus mais emblemáticos símbolos foi “O Gabinete do Dr. Caligari” (1920), de Robert Wiene. Depois de Wiene, cineastas como Paul Wegener, Paul Leni, Fritz Lang e F.W. Murnau deixaram suas marcas no movimento com seus talentos e gênios criativos, mantendo a Alemanha na vanguarda do cinema por um período.

 

 

“O Gabinete do Doutor Caligari” é um clássico do Expressionismo Alemão

 

“Nosferatu”

“Nosferatu” foi a obra mais importante de Friedrich Wilhelm Murnau. Sua pré-estreia aconteceu em 4 de março de 1922, no salão de mármore do Jardim Zoológico de Berlim, durante a chamada “Festa do Nosferatu”. O longa aborda uma história na qual o corretor de imóveis Hutter precisa vender um castelo cujo proprietário é o excêntrico conde Graf Orlock. O conde, na verdade, é um vampiro milenar que espalha o terror na região de Bremen, na Alemanha, e se interessa por Ellen, a mulher de Hutter.

O filme foi a primeira adaptação do romance “Drácula”, de Bram Stoker, embora os nomes dos personagens tenham sido alterados, pois os herdeiros do autor não autorizaram a adaptação. Mesmo assim, a viúva de Stoker considerou a produção um plágio devido às grandes semelhanças entre o roteiro de Henrik Galeen e a obra original. Ela venceu a ação judicial, resultando na condenação da produtora a pagar indenização e a destruir todas as cópias do filme.

Apesar de ter se tornado um filme “proibido”, “Nosferatu” revolucionou o cinema mundial e destacou o gênero do horror. Após Murnau, outros cineastas também se aventuraram a retratar o vampiro mais famoso de todos os tempos nas telas, sempre fazendo referência ao diretor expressionista, aos seus jogos de luz e sombra, e às inovações visuais que sofisticaram a linguagem cinematográfica do horror como um todo.

A nova adaptação de “Nosferatu”, dirigida por Robert Eggers, carrega a responsabilidade de honrar o legado de F.W. Murnau e do Expressionismo Alemão. Com um elenco de peso e uma trama que mantém a essência do original, o filme promete ser uma releitura poderosa e visualmente impactante, que pode revitalizar o icônico vampiro para uma nova geração. Ao unir elementos clássicos e modernos, Eggers tem a oportunidade de solidificar seu lugar como um grande nome do cinema de horror.

 

Nosferatu” (1922) , de Murnau, foi a primeira versão cinematográfica do personagem Drácula

 

BÔNUS: Obras para revisitar antes de assistir Nosferatu, de Eggers

“Drácula” – Bram Stoker (1987): O personagem “Drácula” é a inspiração máxima de “Nosferatu”. O livro conta com uma história um pouco diferente daquela adaptada por F.W. Murnau, mas é importante que o espectador beba da fonte original para perceber algumas referências presentes no filme.

“Gabinete do Dr. Caligari” (1920): “O Gabinete do Dr. Caligari” é a obra que inaugura o Expressionismo Alemão. O filme introduz o horror no cinema antes de Nosferatu, transmitindo a sensação de medo, paranoia e loucura ao público através dos seus personagens.

“Nosferatu” (1922): Obra-prima de F.W. Murnau e primeira versão do vampiro no cinema e principal expoente para o início do horror como gênero cinematográfico.

“Drácula” (1931): Filme da Universal Studios e primeira versão “oficial” do “Drácula” de Stoker, o longa é dirigido por Tod Browing e estrelado pelo ator Bela Lugosi. O roteiro adaptou a peça de teatro homônima de Hamilton Deane e John L. Balderston.

“Nosferatu: O Vampiro da Noite” (1979): O filme de Werner Herzog é uma homenagem e a primeira releitura do clássico de 1922. Nesta versão, o personagem retoma o nome de Conde Drácula, e o vampirismo é fortemente associado à Peste Negra, diferente das versões de Murnau e Stoker.

“A Bruxa” (2015): “A Bruxa” é o primeiro longa-metragem de Robert Eggers como diretor e roteirista. Além de assistir aos clássicos expressionistas e às adaptações de “Drácula”, é essencial que o espectador esteja familiarizado com o trabalho de Eggers para entender melhor a nova releitura de “Nosferatu”. O enredo segue uma família puritana encontrando forças do mal em sua fazenda na Nova Inglaterra.

 

 

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