Lançamento do livro “O Retratista de Satolep – Um olhar de Paulo Rossi”

Museu do Doce se tornou palco para lançamento da obra com fotos marcadas pela qualidade estética       

Por Lidiane Lopes e Vanessa Oliveira        

 

Paulo Rossi apresenta uma seleção de seu trabalho de fotografia desde os anos 2000     Foto: Divulgação

 

No livro “O Retratista de Satolep: Um Olhar de Paulo Rossi”, os leitores têm a oportunidade de explorar 256 imagens que refletem os 24 anos de carreira do fotojornalista, em seu primeiro livro publicado. O lançamento aconteceu no dia 18 de julho, no Museu do Doce da UFPel, localizado na Praça Coronel Pedro Osório, Casarão 8.

Paulo Rossi nasceu no Rio de Janeiro, mas se mudou para Pelotas aos três anos. Sua carreira como fotojornalista se consolidou durante os 19 anos em que trabalhou no Jornal Diário Popular e como colaborador de veículos como Correio do Povo, Zero Hora e Folha de São Paulo, além das revistas Brasileiros e Aplauso. Sobre o ponto de vista profissional, Paulo afirma a importância da prática para um alcançável êxito na profissão de fotojornalista:

Suas fotografias foram exibidas em exposições em várias cidades do Brasil, incluindo Brasília, São Paulo, Bahia e Porto Alegre, e também chegaram à Colômbia. Rossi recebeu diversos prêmios, como o da Associação Riograndense de Imprensa (ARI) e quatro premiações do Direitos Humanos de Jornalismo, concedidos pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos.

Seus trabalhos estão presentes em 21 publicações literárias e científicas, capas de CDs e DVDs. Além disso, Rossi atuou como fotógrafo still para o filme *Concerto Campestre* e como professor substituto na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), nos cursos de Artes Visuais e Cinema e Animação.

O livro abrange uma ampla gama de temas, incluindo patrimônio histórico, música, carnaval, retratos, futebol, mobilizações sociais, visitas presidenciais, meio ambiente, incêndios e enchentes. Diferente dos formatos tradicionais, não há sumário, divisão por capítulos ou legendas na maioria das fotos. As imagens se conectam e conduzem os leitores por diferentes temas, oferecendo uma experiência única. A seleção não foi simples. Paulo Rossi fez uma triagem inicial de quatro mil fotos para chegar às 256 que compõem o livro. Esse processo exigiu uma colaboração intensa com o fotojornalista e amigo Moizés Vasconcellos, editor de fotografia do livro. Em uma entrevista mais que especial, Paulo nos contou sobre o processo de criação do livro e outras curiosidades da sua trajetória profissional:

Arte no Sul – Como tem sido o seu trabalho aqui em Pelotas e qual foi a sua inspiração para criar o livro “O Retratista de Satolep – Um olhar de Paulo Rossi”?

Paulo Rossi Eu me formei em Jornalismo na Universidade Católica de Pelotas em 2003 e trabalho com fotojornalismo desde 2000. Comecei como freelancer na Zero Hora. Depois fui para o Diário Popular, e também fiz freelancer para o Correio do Povo, Folha de São Paulo e revistas como Aplauso e Brasileiros. Trabalhei por 20 anos no Diário Popular e, atualmente, trabalho como freelancer para várias empresas. Sobre o livro *Retratista de Satolep: Um Olhar de Paulo Rossi*, ele reflete minha carreira, desde o início até hoje. O livro inclui fotos de negativos, da época em que se fotografava em filme fotográfico. Ele traz uma mistura da história da cidade e da minha própria. Conto sobre as pautas e os retratados, com pessoas, fotos de natureza, fotojornalismo, esportes, animais e alguns ensaios fotográficos. Separei o que considero o melhor que produzi, tanto esteticamente quanto em termos de histórias das fotos.

 

Publicação reúne 256 fotos contemplando uma diversidade de temas    Foto: Divulgação

 

Arte no Sul – Como foi o processo de construção do seu livro? A publicação é tanto uma coletânea do seu trabalho como um livro sobre fotojornalismo?

Paulo Rossi Eu sempre digo que o jornalismo é uma grande escola de vida. Você aprende muito e se depara com situações que nunca imaginou vivenciar, algumas das quais preferiria não ter passado. A profissão impõe o dever de reportar, e você vai a esses lugares para cumprir seu trabalho como jornalista. Muitas pessoas pensam que jornalistas gostam de tragédia, mas não é isso. O jornalista vai à pauta para contar o que aconteceu, como e por que, para que talvez essas coisas não se repitam. É um trabalho social. Muitas pessoas, especialmente aquelas que sofrem injustiças sociais, encontram no jornalismo uma ferramenta para garantir seus direitos.

 

Rossi tem criado uma visão particular da cidade como na exposição “O Retratista de Satolep”, ocorrida em 2022

 

Arte no Sul – Você tem uma experiência incrível! Gostaríamos que houvesse mais fotos (risos). Foi difícil para você selecionar as 256 fotos para o livro?

Paulo Rossi Então, sobre o número de fotos, eu parti do universo de quatro mil fotos. Mas, durante todo esse tempo [de trabalho], o meu acervo é muito maior. Essas quatro mil foi algo que eu selecionei, achando que seriam temas importantes. E, dessas, eu fui selecionando, editando, como a gente chama. Até chegar em 400 fotos. Nesse ponto, eu convidei o Moisés Vasconcelos, que é outro repórter fotográfico, para me ajudar. E nós chegamos em 300 fotos, e, das 300, 256 foram publicadas. Como eu falei, são fotos que chamaram a atenção nessa trajetória, fotos que eu achei relevantes esteticamente, ou por assunto, ou pela história, ou pelo retratado.

Arte no Sul – Falando sobre vivências difíceis, experimentamos a triste situação das chuvas em maio aqui no sul. Como foi para você lidar com a recente situação que o Estado enfrentou em relação às mudanças climáticas?

Paulo Rossi No livro, menciona que sou natural do Rio de Janeiro, mas vim para o Rio Grande do Sul muito cedo, com três anos de idade, para Pelotas. Coloquei isso apenas por questão de naturalidade, mas me considero pelotense e gaúcho. Tenho 44 anos e, após viver aqui desde os três, certamente me sinto parte dessa região. Fotografei muitas enchentes na região desde 2000 até 2020, incluindo a tragédia de 2011 em São Lourenço. No entanto, não fotografei as enchentes recentes, pois não estava trabalhando para um jornal nesse período e já havia muitos colegas cobrindo esses eventos. Achei que, como não estava na ativa, era mais apropriado deixar essa cobertura para eles.

 

Lançamento no Museu do Doce dia 18 de Julho reuniu admiradores do trabalho fotográfico

 

Arte no Sul – E sobre as fotos, em que medida pesou a estética delas ou a relevância dos fatos documentados durante esses anos?

Paulo Rossi O livro não é exclusivamente de fotojornalismo, incluindo outras fotos feitas durante o período. Há uma sessão de fotojornalismo com temas como protestos, política, eventos climáticos, folclore, cultura popular e religião. Além disso, o livro traça minha trajetória na fotografia, não apenas no fotojornalismo. Inclui fotos que me chamaram a atenção esteticamente, pelo tema ou cor, e que achei relevantes para constar. O livro é uma fusão do que vi na cidade e o que a cidade me mostrou, contando parte da história local e minha visão fotográfica. Comecei a fotografar em 2000 e, em 2010, percebi que as pessoas reconheciam minha identidade fotográfica. Muitas pessoas identificavam minhas fotos no jornal sem ler o crédito, devido à minha forma única de compor e usar cores. Fotografar é contar uma história usando influências culturais, livros, músicas e conversas, traduzindo essa visão em imagens únicas, pois cada fotógrafo interpreta a realidade de maneira distinta.

Arte no Sul – O trabalho jornalístico, artístico e cultural estão juntos ao longo do livro?

Paulo Rossi É, o livro ele tem essa visão jornalística em um determinado momento dele, mas, como eu te falei, tem também um outro modo de ver. Há um olhar artístico ali naquele material sobre a exposição reflexos da história. Tem uma visão experimental naquele ensaio sobre cavalos, tem uma visão preto e branco do centro da cidade. Eu fiquei muito conhecido pelo fotojornalismo, porque eu trabalhei 20 anos dentro de um jornal, mas além do fotojornalismo eu fazia outros tipos de fotografia e que, agora, estão sendo apresentados nesse livro.

Arte no Sul – Seu trabalho fotográfico lembra a construção de uma escrita, como crônicas e artigos de jornal, que também possuem uma identidade única. Como você constrói essa marca em suas fotografias?

Paulo Rossi É exatamente isso, a fotografia também é construída assim como é o texto, e ela é construída de acordo com as referências que você tem. Isso leva um tempo para adquirir essa identidade. Tem que fotografar bastante, tem que testar, tem que passar uma interpretação através da foto, vendo o que que deu certo ou não. E ver muita foto também. É necessário ter esse repertório imagético porque é assim que se cria as tuas próprias referências.

Arte no Sul – Não podemos deixar de perguntar sobre o jornalismo ambiental. No livro, o tema aparece com o “Arroio Pelotas, da nascente à foz” e com a “Foto Vencedora do Prêmio Fepam de Jornalismo Ambiental de 2005”.

Paulo Rossi Então, o repórter fotográfico do Jornal do Interior, e até mesmo de alguns veículos da capital, cobre todas as editorias. Poucos veículos possuem repórter setorista, exceto grandes como a Folha de São Paulo, que pode ter fotógrafos dedicados exclusivamente a futebol ou política. Aqui no interior, ou em Porto Alegre, o repórter fotográfico faz de tudo, desde polícia, esporte, política, até cultura e pautas sociais. Embora eu fotografasse diversas áreas, as pautas ambiental e social sempre me chamaram mais atenção. Por exemplo, a foto que venceu o Prêmio Fepam de Jornalismo Ambiental em 2005, de uma tartaruguinha eclodindo, foi tirada durante a cobertura de uma apreensão de dez mil ovos de tartaruga em um criatório ilegal. O biólogo presente me avisou que um dos ovos estava prestes a eclodir, e consegui capturar esse momento. Sobre o Arroio Pelotas, escrevi o projeto da pauta e convidei a repórter Michele Ferreira, com quem trabalho há 19 anos. Essa pauta focou no lado ambiental, fauna e flora, cultural, comercial e outros aspectos do arroio, que é um símbolo da nossa cidade e dá nome a Pelotas, por conta das embarcações usadas no período das Charqueadas.

Arte no Sul – Para finalizar, haverá outros lugares em que as pessoas poderão conhecer o seu trabalho pessoalmente ou um novo local para sessão de autógrafos?

Paulo Rossi Estamos entrando no mês de agosto, até o final do ano a agenda estará concluída e para quem quiser acompanhar terá que acompanhar nas redes sociais através do meu instagram @paulorossifoto, mas posso adiantar que já estamos organizando um novo local para um próximo encontro.

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