Um dos mais antigos jornais do Brasil, interrompe suas atividades, marcando o fim de uma era na comunicação regional
Por Vanessa Oliveira
Fundado em 1890, o Diário Popular de Pelotas foi o principal jornal diário da Região Sul. Uma triste notícia foi o anúncio de sua última edição no dia 12 de junho. Ao longo de 133 anos, cobriu eventos históricos importantes, crises políticas e mudanças sociais significativas. No seu início, teve como destaque a publicação de textos do escritor João Simões Lopes Neto. Tornou-se uma referência por acompanhar atentamente, por mais de um século, as rotinas e novidades nos âmbitos social, político, econômico, cultural e esportivo da cidade de Pelotas e região.
Testemunha da história, o Diário Popular foi até este ano o jornal mais antigo do Rio Grande do Sul e o terceiro do Brasil com circulação diária ininterrupta. Sua trajetória está diretamente ligada ao desenvolvimento de Pelotas e região. Circulou em todos os municípios da Zona Sul do Estado. Sua versão online alargou o seu alcance, com a cobertura dos principais fatos da região, do Estado, do Brasil e do mundo. Contou com a maior equipe de jornalistas profissionais do sul do Estado, produzindo conteúdos sobre as cidades, economia, política, segurança, agronegócio, esportes, cultura e entretenimento.
Ao longo destes 133 anos, passou por inúmeras mudanças. Em abril de 2020, por exemplo, teve uma reformulação gráfica e ganhou cor em todas as páginas, quando os públicos já acompanhavam as notícias tanto no impresso quanto no formato digital. Enquanto no impresso a população tinha acesso a informações exclusivas, no site e nas redes – com mais de 215 mil seguidores – foi privilegiada a instantaneidade. Nesse momento, foi acertado um acordo operacional com a Gráfica Uma, do grupo RBS, que imprime os jornais Zero Hora e Diário Gaúcho. O Diário Popular desativou a sua rotativa própria e passou a usufruir do equipamento da nova parceria.
Um dos principais motivos para o encerramento do jornal inclui questões financeiras significativas. Em carta à comunidade publicada no Diário Popular, Virgínia Fetter, diretora-superintendente do Jornal escreveu: “A pandemia de 2020 agravou ainda mais a situação, mas continuamos lutando por nossos leitores… O jornal impresso é um documento valioso e caro. Além disso, enfrentamos desafios ambientais complexos, como as crises climáticas no Rio Grande do Sul”.
Os jornais do Rio Grande do Sul precisaram fazer adaptações difíceis devido à maior enchente já registrada no Estado. Os veículos gaúchos ampliaram as coberturas, reforçaram as edições digitais e liberaram os acessos, sem exigência de pagamento de assinaturas na ocasião.
Devido às enchentes, que atingiram centenas de cidades gaúchas, diversos veículos impressos do Estado tiveram dificuldades para a impressão e entrega das versões físicas, como foi o caso do Diário Popular. Suas edições em papel deixaram de circular desde o dia 6 de maio, quando o parque gráfico da RBS, onde vinham sendo impressas, foi obrigado a paralisar seus serviços. O próprio jornal Zero Hora, da RBS, teve de encontrar alternativas com a colaboração de outras empresas. Também houve dificuldades para a entrega das assinaturas do Diário Popular, pois muitas regiões estavam alagadas em Pelotas, em função da cheia da Lagoa dos Patos.
Segundo Lucas Kurz, ex-editor do jornal, o anúncio do encerramento foi realizado primeiramente para os gestores da redação e, três horas depois, para toda a equipe, marcando um momento significativo na história do jornalismo local. Ele acredita que a mudança no consumo de notícias, com migração para plataformas digitais não tenha sido um dos motivos que afetou o jornal, já que o Diário Popular também oferecia edições digitais.
Para Lucas, o legado do Diário Popular de Pelotas para o jornalismo local e regional é vasto. “O DP foi o primeiro rascunho de boa parte da história. Quase todos os fatos relevantes da história do município foram registrados por lá. Para o jornalismo, certamente, foi o lar de formação de muitos talentos e um fiscal atento às questões de relevância da região,” descreve. Trabalhar em um jornal com uma história tão rica e longa foi qualificado por Lucas Kurz como uma “vivência espetacular”.
COMENTÁRIOS
Você precisa fazer login para comentar.