Joan Didion: o poder de encarar a vida de uma nova forma

Filme documentário sobre vida e obras da escritora e jornalista mostra sensibilidade de uma mulher que é símbolo de força  

Por Julya Bartz Boemeke Schmechel        

A escritora e jornalista Joan Didion nasceu no dia 5 de dezembro de 1934 e, desde criança, mostrou forte interesse pelo mundo da escrita. Com apenas cinco anos de idade, Joan produziu uma intrigante história sobre uma moça que acorda em pânico no meio da Antártida com grande medo de não sobreviver ao frio. Pouco depois, a moça percebe que na verdade está no deserto e que irá morrer de calor antes da hora do almoço. Essa familiaridade com os sentimentos extremos esteve presente em todas as obras da escritora, que foi – e ainda é – uma importante referência e inspiração para o jornalismo literário.

A autora de “O ano do pensamento mágico” e “Anos azuis” faleceu em 23 de dezembro de 2021, mas deixou um legado muito importante, principalmente ao escrever sobre o luto que enfrentou ao perder seu marido e sua única filha. O sofrimento de Joan transformou-se em livros repletos de emoções e grandes aprendizados para os leitores.

Em 2017, o sobrinho de Joan, Griffin Dunne, dirigiu o documentário “Joan Didion: The Center Will Not Hold” (O centro não vai segurar, em tradução literal) sobre etapas importantes da vida da jornalista. Disponível no serviço de streaming Netflix, a obra se conecta ao espectador através de um ar intimista e uma produção que utiliza poucas músicas, mantendo principalmente o som ambiente e o silêncio de Joan após o fim das frases. 

Joan Didion e seu sobrinho, Griffin Dunne        (Foto: Annie Leibovitz/Trunk Archive)

O documentário desmancha a imagem que grande parte do público carregou por muito tempo de Joan: como uma personagem frágil, com o peso do luto pairando em seus ombros. O documentário foi gravado aos 82 anos de Joan, com as imagens de uma senhora com jeito enfraquecido e abalada pelo Parkinson. Porém, apesar disso, durante uma hora e 38 minutos, o espectador enxerga uma mulher bem-humorada, que trata com leveza até os temas mais tristes de sua vida. A companhia de seu sobrinho, ao longo das gravações, com certeza contribuiu para garantir que o resultado da obra fosse tão satisfatório. Afinal, a intimidade e amizade entre os dois fez toda a diferença.

Joan fala sobre as pautas importantes que aconteceram no auge de sua carreira e como abordou cada uma, com sua escrita única e irreverente. Para muitos, como Ana Florindo, crítica do site Delirium Nerd  o grande destaque do documentário é o fato de Joan abordar seu casamento como um relacionamento real e não uma história de conto de fadas. Outro tema abordado de maneira um tanto dura e real é a maternidade e a culpa que Joan carregou pela morte de sua filha, apesar de não ter envolvimento algum com o trágico acidente.

Joan, seu marido John e a filha Quintana       (Foto: Reprodução/Internet)

Para completar a série de emoções repassadas no documentário, um grande destaque vai para a cerimônia realizada na Casa Branca em 2012, para premiar Joan Didion como uma das escritoras americanas mais célebres de sua geração. Joan recebeu a medalha The National Humanities Medal das mãos de Barack Obama, sendo reconhecida como uma escritora que “por sua maestria e estilo de escrita, explorando a cultura e expondo as profundezas do sofrimento, produziu obras de honestidade surpreendente e intelecto feroz”. 

Joan Didion recebendo a distinção  The National Humanities Medal, em 2012, ao lado de Barack Obama 

Aos curiosos ou entusiastas sobre a vida da inesquecível Joan Didion, o documentário aborda diversas histórias íntimas, com uma visão mais detalhada, que revelam o quanto a escrita foi fundamental para que a escritora ultrapassasse as fases mais obscuras e desafiadoras de sua vida. Sem chorar, em momento algum ao longo do documentário, a autora que revolucionou o jornalismo literário, ensina muito sobre amor, sonhos e leveza. É um abraço, especialmente para quem busca conforto.

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