Brincando na Rua promove a cultura brasileira

Projeto garante espaços públicos para atividades lúdicas e amplia a sociabilidade entre as crianças com jogos tradicionais     

Por Victoria Fonseca     

Para aproximadamente 60 crianças dos 1º e 2º anos da EMEF Dr. Joaquim Assumpção, a tarde de sol do dia 27 de outubro foi recheada de brincadeiras tradicionais ao ar-livre. Com o propósito de garantir espaços públicos para as atividades lúdicas e possibilitar a sociabilidade infantil por meio da diversão, a iniciativa foi promovida em mais uma edição do projeto Brincando na Rua da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Durante duas horas, crianças com idades entre 6 e 7 anos brincaram livremente de diversas recreações populares, como carrinho de rolimã, corrida de saco, amarelinha, corda, entre outras, no pátio do Campus 2 da UFPel. Além da garotada, professores da Escola Joaquim Assumpção, alunos e docentes do curso de Pedagogia da UFPel entraram nas brincadeiras junto para participar e ensinar, já que grande parte da nova geração está acostumada apenas com diversão mediada por tecnologia.

Além do lazer, as brincadeiras proporcionam a produção de cultura lúdica. Conforme o coordenador do projeto, professor Rogério Würdig, as crianças trocam experiências e repassam a outras o que aprenderam. Assim como ampliam o acervo lúdico, que se trata de atividades de movimentação que promovem o desenvolvimento físico, social e cognitivo. “São atividades de movimento, tirando eles da apatia, de atividades enrijecidas, como por exemplo, em celulares e videogames, para livres e espontâneas”, explica.

As brincadeiras, que fazem parte da cultura brasileira, estão desaparecendo aos poucos devido à falta de promoção delas para as novas gerações. Ainda de acordo com Würdig, o estímulo às atividades populares de gerações anteriores para as crianças é essencial, pois elas são as guardiãs das recreações. “Se esses espaços não forem promovidos para elas, a cultura das diversas brincadeiras será perdida. São várias de origem indígena e africana que são praticadas desde 1500”, ressalta.

O professor também destaca a necessidade de espaços ao ar livre pensados e dedicados para o lazer das crianças. Há algumas décadas, era comum encontrar os pequenos brincando na rua, uma prática que com o passar do tempo foi desaparecendo. “Esse espaço aqui [no Campus 2] era uma quadra nos anos 90, agora é um estacionamento”, exemplifica.

Muitas brincadeiras têm origens indígena e africana e são praticadas há vários séculos          Foto: Carlos Queiroz

 

Autonomia e liberdade

A estudante do quinto semestre do curso de Pedagogia da UFPel, Larissa Nunes, 21 anos, participa pela primeira vez do projeto. Conforme a futura pedagoga, a iniciativa é uma oportunidade de levar às crianças o que os estudantes estão aprendendo dentro da sala de aula. Larissa destaca também que a atividade tem como características importantes proporcionar a liberdade e autonomia. “Queremos mostrar para eles essas brincadeiras que fizeram parte da nossa infância e da dos pais deles, além de promover a autonomia e liberdade deles brincarem e inventarem suas próprias maneiras de atividades”.

Companhia para brincadeiras

Pega-pega é a brincadeira do aluno do 2º ano da Escola Joaquim Assumpção, Anwar Hussein, de 7 anos. No entanto, ele conta que, geralmente, principalmente em casa, brinca mais no tablet, em razão da falta de companhia para a atividade que envolve muita correria entre diversas crianças. “Na maioria das vezes eu brinco no meu tablet porque não tem ninguém pra brincar comigo. Aqui estou brincando com os colegas”, diz em meio a pausa para o lanche.

Esther Lessa, também de 7 anos de idade, menciona que a melhor parte da atividade é poder brincar bastante, igual ela faz com colegas nos intervalos da escola. “Eu gosto de brincar de esconde-esconde. Aqui é como na escola, onde eu brinco bastante no recreio, em casa só tem minha prima e ela não gosta”, explica.

Brincando na rua

O projeto existe há mais de 20 anos. A atividade surgiu por meio de uma disciplina ministrada por Rogério Würdig no curso de Educação Física. Na época, anos 2000, ele sugeriu aos alunos que observassem crianças brincando na rua, a surpresa foi que, já naquela época, a prática de brincadeiras ao ar livre era difícil de ser encontrada.

A partir desse episódio, Würdig teve a ideia de desenvolver uma iniciativa para a promoção de brincadeiras e atividades ao ar livre para as crianças com o propósito de evitar que a prática se perdesse totalmente com o tempo. “Na primeira edição, nós fechamos parte da rua Lobo da Costa para os alunos da Joaquim Assumpção e cerca de 120 crianças participaram. A atividade surge pelo fato de não haver mais crianças brincando na rua, ao ar livre em geral”, conta.

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