“Rio Imenso”: Andréia Pires escreve livro artesanal no período pandêmico

Por Ana Caroline Rossetto e Milene Louzada       

Conjunto de contos experimentais retrata cenário rio-grandino  

Publicação tem uma elaboração gráfica diferenciada com técnicas manuais

O livro ‘Rio Imenso’ é de autoria da jornalista, editora e escritora Andréia Pires e começou a ser elaborado entre os anos de 2013 a 2018, como um conjunto de contos experimentais tanto em seu conteúdo como na sua forma gráfica de apresentação. As narrativas foram feitas a partir de um exercício de criação literária para a composição de histórias mais longas.

O modo de descrição se baseou em composições breves em que a autora testou narradores e modos de contar, organização de tempo e espaço, nuances de personagens e conflitos, e temas principais como a cidade de Rio Grande, deslocamento, o ser mulher, e a relações geracionais – como a de avós e avôs e netas(os). Após os três primeiros contos escritos, Andréia se concentrou na pesquisa sobre representações do município na literatura brasileira contemporânea; o nome “Rio Imenso” surgiu em referência ao potencial rio-grandino, como um modo de homenagear a cidade natal da autora e o local onde mora até hoje.

O título “Rio Imenso” deu o tom para o projeto que estava se construindo ao lado da criação do romance “O céu riscado na pele”, também de autoria de Andréia, utilizado como tese de doutorado em Escrita Criativa. A dissertação da escritora foi finalizada em 2016, contudo, outros contos inspirados na vivência da cidade foram sendo criados e se estabelecendo ao longo dos anos seguintes. A ideia inicial era fechar o projeto de “Rio Imenso” com um livro, porém a autora não tinha certeza de como e nem quando isso seria viável, sendo que seu lançamento se deu apenas no ano de 2020.

O livro não foi desenvolvido a partir dos processos tradicionais de publicação. Diferente de outras obras, não passou pela impressão em escala, já que a concepção gráfica do projeto é da própria autora e os exemplares finalizados à mão por ela. Andréia realiza a impressão e a montagem do miolo, assim como as dobras, costuras, bordados, colagem das capas e todos os acabamentos do livro. A autora afirma que essa construção é um aprendizado autoral interessante, pois nenhuma obra se repete e cada um deles tem uma história secundária por trás, um vínculo pessoal, pois, além de tudo, é ela quem cuida das encomendas e envios, conversando com os leitores.

A produção artesanal já era uma vontade de Andréia, juntamente com a editora Concha, e o período pandêmico contribuiu para que esse desejo se tornasse realidade. Com as mudanças no ano de 2020, todo o planejamento foi alterado e os encontros presenciais cancelados, abrindo a oportunidade da criação da obra em casa, confirmando “que um projeto literário artesanal poderia ser interessante, coerente com o cenário, mais econômico, inovador e criativo”, destaca Andréia Pires.

Sobre a autora e o significado da obra

Neste novo livro, Andréia Pires dá continuidade às ideias da sua pesquisa de doutorado

Andréia Pires é escritora, editora e jornalista. Licenciada em Letras – Português/Espanhol, na Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e bacharel em Comunicação Social – Jornalismo, na Universidade Católica de Pelotas (UCPel), mestre em Letras – História da Literatura, também na FURG e doutora em Letras – Escrita Criativa, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), que resultou na tese e no romance inédito “O céu riscado na pele”, vencedor do edital Procultura 2019 de Rio Grande, no segmento Literatura.

A escritora é idealizadora e responsável pela curadoria dos livros e projetos da Concha Editora. Como docente, atua em cursos livres, aulas particulares, workshops, mentorias e oficinas de escrita criativa. E também é servidora pública concursada pela FURG, no setor de redação jornalística.

O projeto de “Rio Imenso” começou despretensiosamente como prática de escrita para aperfeiçoar a concepção do romance, aos poucos foi ganhando lugar de afeição pela autora e marcando assim uma fase importante do seu trabalho criativo. “Nos últimos anos, primeiro de forma intuitiva e depois deliberada, representação e representatividade de Rio Grande e de mulheres rio-grandinas na literatura foi pauta central dos meus estudos e escritos, quase uma militância, um propósito ao que devo continuar me dedicando, mas por outras perspectivas e nuances, outras frentes de ação”, destaca a escritora.

Representatividade de Rio Grande

Andréia sentiu que as questões femininas de Rio Grande não estavam representadas na literatura nacional e buscou contar histórias com protagonismo de mulheres rio-grandinas e na maneira de viver dos moradores da cidade. E foi nesse movimento pessoal e artístico que surgiu a Concha Editora, a fim de colaborar com a divulgação de produções literárias de Rio Grande.

As narrativas que compõem o livro, como já foi descrito, propõem a identificação de quem mora na cidade mais antiga do Estado. Para Luisa Mello, estudante de Letras – Inglês na FURG, a aproximação com a sua realidade fez com que a experiência de leitura da obra fosse melhor. “Foi muito interessante ler o livro e reconhecer os lugares que são falados. A ambientação é muito boa e essa representatividade é de aquecer o coração”, conta.

E como as narrativas de ‘Rio Imenso’ retratam histórias passadas de gerações em gerações, a avó de Luisa, Shirlei de Souza também experimentou a leitura do livro e se sentiu representada. “Me senti muito bem lendo o livro, porque é uma pessoa daqui falando da nossa cidade. Fiquei muito emocionada com as partes que falam do Cassino e da praia porque lembrei de quando minha mãe levava eu e meus irmãos pra tomar banho de praia. É bom a gente ler coisas que se passam em lugares que a gente conhece”, afirma. 

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