Ódio tratado com humor ácido

Sete personagens são interpretados por Dario Grandinetti, Erica Rivas, Oscar Martinez, Ricardo Darin, Leonardo Sbaraglia, Rita Cortese e Julieta Zylberberg               Foto: Warner Bros Pictures/Reprodução

 

Por Luana Medeiros 

O filme hispano-argentino Relatos Selvagens (Relatos Salvajes) é uma antologia dividida em seis curtas-metragens: PasternakAs RatasO Mais ForteBombinhaA Proposta Até Que a Morte Nos Separe O filme, dirigido por Damián Szifron e produzido pelo aclamado cineasta espanhol, Pedro Almodóvar, retrata as histórias de personagens que, motivados pela raiva e pelo estresse, veem-se em situações de extrema violência e vingança. Através desses contos de humor ácido, o diretor demonstra ao espectador o quanto o ser humano pode se tornar violento diante de situações de conflito, que a princípio são vistos como acontecimentos triviais do dia a dia.

O primeiro curta (Pasternak) conta a história de um homem que reprimiu suas frustrações durante muito tempo, e que decide se vingar da forma mais inusitada possível: reunir todos aqueles que, de alguma forma, prejudicaram a sua vida, num voo com um “destino final”, já que o personagem vingativo lança o avião em direção a casa de seus pais. Por mais que o desfecho nos cause um certo desconforto, é interessante refletir sobre como as frustrações e decepções, que se sofre ao longo da vida, podem desestabilizar e abalar o psicológico de uma pessoa.

Já o segundo conto (As Ratas) apresenta o dilema enfrentado por uma jovem garçonete que se vê em desespero após reencontrar o agiota que destruiu a sua família.  Após diversos momentos de reflexão, a jovem decide que não deve cometer nenhum atentado ao homem e essa decisão é reforçada no momento em que o filho do agiota aparece na lanchonete. Porém sua chefe não possui o mesmo autocontrole, o que resulta no envenenamento do indivíduo. Esse episódio apresenta diversas situações em que o humor mórbido é fortemente evidenciado. Uma das melhores passagens do curta é o momento em que a chefe da jovem questiona se o veneno vencido fica “mais” ou “menos” venenoso.

No curta intitulado como O mais forte, a história é representada por dois personagens masculinos que desencadeiam uma série de atos violentos após um desentendimento na estrada.  O curta é um dos mais interessantes do filme, visto que esse tipo de situação é muito presente no cotidiano das pessoas, o que certifica o quão grave pode se tornar uma situação em que não prevaleça o mínimo de respeito.

Os respectivos curtas Bombinha e A Proposta são os que menos impactam os espectadores. Por mais que apresentem questões enraizadas em nossa sociedade, como, por exemplo, um homem indignado com a burocracia existente no sistema de seu país ou um empresário corrupto disposto a subornar qualquer pessoa para livrar seu filho da cadeia, as histórias são forjadas em contextos que não condizem com  a realidade da maioria das pessoas, e isso acaba afastando a ideia de que são “conflitos que podem acontecer com qualquer pessoa”.

Sem dúvida, o diretor Szifron deixou a ‘cereja do bolo’ para o grand finale. O curta Até que a morte nos separe conta a história de uma noiva que entra em colapso após descobrir, em seu casamento, que o noivo mantinha uma relação extraconjugal com a colega de trabalho. A noiva traída consegue transformar seu casamento, em poucos instantes, em um verdadeiro “show de horrores”, compartilhando seus pensamentos mais sórdidos e vingativos com todos os seus convidados.  Com um enredo cômico e, de certa forma, inusitado, o filme termina com uma visão otimista do caso apresentado, visto que diante de tantas revelações e atritos, o casal retoma o controle da situação e revela que o amor pode prevalecer, mesmo em meio a tantos conflitos.

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