Por Marcela Lima
Ao chegarmos neste mês, quando nos deparamos com a data reflexiva do dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, temos que nos fazer a pontual pergunta: O que tem sido feito pela população negra para a redução das desigualdades? Devemos observar as iniciativas voltadas para a equidade racial, pois os movimentos negros travaram uma luta diária que não deve ser negligenciada ou passada despercebida. A desigualdade, inerente à sociedade brasileira há anos, é fruto do preconceito e do racismo, por isso devemos continuar a tomar medidas equalitárias e consumir cada vez mais conteúdos produzidos pela comunidade negra brasileira e estrangeira.
Se nos determos a fazer uma breve busca on-line na plataforma de pesquisa Google, e digitarmos “autores negros” teremos uma pequena lista com um total de 35 fotinhos que ilustram a pesquisa. Por muito tempo não tivemos fácil acesso a livros de autores negros, nem ao menos nos foi apresentado ou citado no âmbito escolar a existência desses autores, e eles sempre foram participantes da literatura afro-brasileira, sempre estiveram ali.
Os escritores negros exercem um papel de suma importância na literatura brasileira, mas por que raramente ouvimos falar sobre eles? De acordo com o grupo de estudos Literafro, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o conceito “literatura afro-brasileira” ainda está em construção, mas abrange os textos que apresentam a temática negra, autores, linguagens e, sobretudo, um ponto de vista culturalmente alinhado com a afrodescendência.
Se a literatura que chega até as bancas, livrarias e bibliotecas das escolas ganhando os maiores prêmios literários são escritos por autores brancos, homens e heterossexuais, cabe aos autores que não se encaixam nesses padrões procurarem se adaptar a um tipo de mercado independente que dê visibilidade para as suas obras e reforcem a importância da mudança da construção literária do século XX. Devemos ponderar que editoras grandes não querem ver preto escrevendo sobre preto, mostrando o outro lado de histórias que sempre foram escritas, reproduzidas e nunca foram contestadas e corrigidas.
Dentre os 20 livros mais vendidos no mês de outubro, segundo a Publishnews somente um fala sobre algo que remete à raça negra, o livro “Escravidão” de Laurentino Gomes – autor branco – é o único que incita a narrativa negra. Mas onde estão aqueles 35 da pesquisa inicial do Google? Cadê o negro que procura uma editora independente que aceite lançar seu livro? Onde está mais da metade da população brasileira que é composta por negros e pardos, consumindo literatura afro-brasileira?
São questões como estas que devem nos mover e nos levar a uma reflexão sobre a nossa contribuição em uma nova forma de construção social igualitária de gênero e raça. Vamos consumir mais produtos realizados por negros? Mais literatura afro-brasileira?
Indicação: Indico o livro infantil intitulado “Amoras” do cantor e escritor Emicida. A história, contada através de poesias repletas de simplicidade, é inspirada em um interlúdio que leva o mesmo título do livro, presente no segundo disco de estúdio do rapper, Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa (2015).
“Veja só, veja só, veja só, veja só
Mas como o pensar infantil fascina
De dar inveja, ele é puro, que nem Obatalá
A gente chora ao nascer, quer se afastar de Alla
Mesmo que a íris traga a luz mais cristalina
Entre amoras e a pequenina eu digo:
As pretinhas são o melhor que há
Doces, as minhas favoritas brilham no pomar
E eu noto logo se alegrar os olhos da menina
Luther King vendo cairia em pranto
Zumbi diria que nada foi em vão
E até Malcolm X contaria a alguém
Que a doçura das frutinhas sabor acalanto
Fez a criança sozinha alcançar a conclusão
Papai que bom, porque eu sou pretinha também”
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