Por Victor Langmantel
O autor do livro “Hells Angels”, Hunter Thompson, busca através de sua obra, colocar em debate a influência das grandes mídias para a anulação do principal grupo de motociclistas dos Estados Unidos. Demonstra a obsessão dos jornalistas em menosprezar a imagem dos motoqueiros através do sensacionalismo. As mídias impuseram essa perspectiva para assim causar um impacto na população. Thompson busca explicar os verdadeiros motivos por trás da perseguição imposta pelos grandes veículos comunicacionais.
Conhecidos por sua fama de encrenqueiros ao redor do mundo, os motoqueiros geralmente não são bem recebidos nos lugares que vão. Isso foi motivado pela perseguição das empresas jornalísticas aos Hells Angels, tratados como arruaceiros e trogloditas pelos veículos de comunicação. Tal perseguição se deu em meados dos anos 60, quando vieram à tona muitas denúncias, em sua maioria anônimas, acerca dos motoqueiros.
Fundado em 1948, na cidade de San Bernardino, na Califórnia, o grupo de motociclistas Hells Angels coleciona denúncias de crimes ao longo de sua história, entretanto é apenas no fatídico dia 1º de maio, justamente no Dia do Trabalho, que os tais “trogloditas sobre duas rodas” se juntariam para realizar suas aventuras criminosas.
Até os dias de hoje é discutido se tais denúncias não foram, de fato, aumentadas para causar um impacto maior na grande mídia. Após elas serem divulgadas ao público através dos grandes jornais, como é o caso do New York Times, que cravou uma briga constante com a gangue de motociclistas, os Hells Angels praticamente se extinguiram. Os poucos que sobraram tentavam ao máximo esconder qualquer ligação com o infame grupo de motoqueiros. Muitos tiveram que abandonar a vida sobre rodas, outros foram presos por possuírem ligação com o grupo.
Com títulos bastante chamativos, os jornais da época não economizavam na depreciação dos Hells Angels, e assim foi-se criando uma aversão por parte da população estadunidense aos “trogloditas nas suas Harleys”. De acordo com a reportagem que saiu na revista Newsweek em 1965, a respeito da Jornada do Dia do Trabalho, duzentos motociclistas invadiram a cidade de Porterville, sul da Califórnia, fazendo tumultos e arrumando confusões, passando a mão em qualquer mulher que cruzasse o seu caminho. Esse era o “retrato falado” da imprensa acerca de qualquer membro dos Hells Angels, demônios arruaceiros e sanguinários em busca de sua próxima vítima.
O interesse, quase que político, por parte dos veículos midiáticos, desmascara-se no sentido de utilizar o grupo de motociclistas Hells Angels como uma cobaia perfeita para o teste de sensacionalismo desenfreado. Em parte, esse tratamento do assunto pode ter sido bem-sucedido no primeiro momento. Anos após o ocorrido, ainda se questiona o verdadeiro motivo da revista NewsWeek, Times e outros veículos perseguirem o grupo de forma gritante e pouco jornalística. Entretanto o que se torna evidente são os prejuízos causados não só aos Hells Angels, mas a qualquer grupo de motociclistas.
Deve-se levar em consideração que muitas das denúncias feitas contra o infame grupo de motociclistas possuem fundamento. Tem-se em vista que parte dos membros eram sim encrenqueiros. Muitos participavam do grupo, entretanto, por realmente gostar de dirigir suas motos, a sensação de liberdade, o vento batendo na nuca e sem fazer mal algum a ninguém. Por causa do preconceito que se instaurou acerca dos Hells Angels, tiveram que abandonar a vida de motociclista, sem contar as prisões que ocorreram em meados dos anos 60 de membros do grupo por, simplesmente, pertencerem ao grupo, ou possuírem alguma ligação, seja mínima, com os Hells Angels.
O que se pode levar de tudo que foi dito acima, é que se deve ter muito cuidado com o que é dito nos veículos de informação. Os jornalistas devem ser cautelosos com o poder de influência dos veículos em que atuam.
Hunter Thompson busca, através de sua obra, “Hells Angels”, destacar o mesmo poder que o jornalismo exerce na vida da comunidade e como ele pode ser nocivo caso utilizado incorretamente. A gangue de motociclistas que foi utilizada como exemplo é apenas uma de muitas que acabaram por ser prejudicadas de forma extrema, por causa de um interesse político e lucrativo da grande imprensa estadunidense. Não devemos nos esquecer nunca que o papel do jornalista é informar, nunca menosprezar.
COMENTÁRIOS
Você precisa fazer login para comentar.