Matheus Pereira
O jovem Tony sempre via o início e o final dos filmes. O início pra entender a história e o fim porque o fim sempre é bonito. Com o tempo, entretanto, ele aprendeu que o meio é tão importante quanto o início e o final juntos, e que muita coisa acontece entre os extremos de uma história. Em “O Filme da Minha Vida”, terceiro longa-metragem dirigido por Selton Mello, a beleza está impregnada em cada quadro, pinturas em movimento que registram o interior gaúcho nas suas locações. A beleza também está nos diálogos, que soam como músicas bem ritmadas, que mostram outro interior, aquele de cada personagem.
De preciosidade visual e narrativa inegável, “O Filme da Minha Vida” acompanha Tony Terranova, um jovem que retorna a Remanso, cidade onde nasceu. Ao voltar, o garoto, recém-formado e pronto para ser professor, vê seu pai, francês, subindo em um trem e indo embora, para França, alegando ter saudades de sua terra. Neste cenário, Tony encara os primeiros meses de sua vida adulta, dando aulas na escola local e se divertindo com amigos e a namorada, Luna. Enquanto segue o curso natural da vida, o rapaz tenta entender porque o pai abandonara a família.
O “Filme da Minha Vida” é uma obra de simplicidades. Sem se jogar às emoções baratas e resoluções rasas, o roteiro faz um bom trabalho ao tornar a narrativa (adaptada do livro “Um Pai de Cinema”, de Antonio Skármeta) a mais verdadeira possível. Mesmo as reviravoltas mais dramáticas, quase novelescas, ganham um verniz naturalista e sensível por parte de Mello, diretor com total domínio de seu ofício.
A câmera de Mello, aliás, amparada pela fotografia deslumbrante de Walther Carvalho, capta a nostalgia como poucos cineastas conseguem. Ao focar nos descampados e morros da Serra, o diretor cria um universo aprazível, ensolarado e belo, mesmo durante a queda do sereno ou das folhas secas do outono. Assim, o diretor foge do cenário urbano e amplamente conhecido da TV e do cinema. É no interior do Rio Grande do Sul, na natureza e nas pequenas vilas, que a história se desdobra.
Mello, no entanto, não merece elogios apenas por seu rigor técnico ou olhar apurado para quadros. Seu cuidado com os personagens é igualmente notável, principalmente por humanizar cada um deles. Mesmo aqueles que poderiam se tornar meros vilões, surgem como pessoas complexas, profundas e perdidas em seus próprios erros. Não há o maniqueísmo básico que assola a maioria das narrativas, mas sim a complexidade humana de indivíduos cheios de segredos e anseios.
Com um elenco irretocável, capitaneado pelo talentoso Johnny Massaro, “O Filme da Minha Vida” é feito de simplicidades e sensibilidades. Com ambientação certeira, levando o público direto para a época e o lugar da obra literária, o longa ainda acha espaço para uma trilha sonora repleta de clássicos nacionais e estrangeiros, além de interessa8ntes reflexões sobre a passagem do tempo e a importância das relações interpessoais.
Todo o preciosismo técnico (da trilha aos belos figurinos; da fotografia sépia à direção arrojada), contudo, não funcionaria sem o fator humano, e isso “O Filme da Minha Vida” tem de sobra. O título, aliás, não tem relação a algum filme que seja o favorito da vida do personagem. O título aponta que toda a vida, de cada pessoa, com altos e baixos, que é como um filme. E o fim, o fim eu não posso contar.
Ficha Técnica:
Direção
Elenco
Johnny Massaro , Vincent Cassel , Bruna Linzmeyer , Bia Arantes , Ondina Clais Castilho , Erika Januza , Martha Nowill , Antonio Skármeta , João Prates , Selton Mello e Rolando Boldrin
Roteiro
Selton Mello e Marcelo Vindicato.
Produção
Fotografia
Música
Design de Produção
Figurino
Gênero
Drama
Distribuição
Europa Filmes
Lançamento
3 de agosto de 2017
COMENTÁRIOS
Você precisa fazer login para comentar.