Mariana Lealdino
Inverno. Pelotas. Quando o sol se põe na cidade mais doce do Rio Grande do Sul, a vida noturna é convidativa. Happy Hour, balada, a noite pelotense, apesar de fria, não intimida os amantes de uma boa música.
Ao entrar no pequeno “pub”, a primeira provocação é puramente gastronômica. Logo na entrada, o cheirinho de bolinho de bacalhau invade minhas narinas, provocando o sentido mais primitivo do ser humano: fome. Mas, logo em seguida, minha atenção se volta para as paredes, repletas de pequenos quadros, que vão de Beatles a Djavan. Das mais simples às mais refinadas bebidas, e uma coleção de embalagens de cerveja que faria qualquer colecionador passar “nervoso” de inveja. Pedi uma bebida, e, para minha surpresa, o quentão docinho veio servido em pequenas xicaras de porcelana, o que era no mínimo curioso, mas me ganhou pela criatividade.
Foco! Apesar de todas as distrações, eu tinha um objetivo para estar ali. Minha missão era entrevistar a banda Dona Dinnah. Já acompanhava o trabalho deles há algum tempo (sempre cercada de companhias, algumas sóbrias e outras nem tanto) e para ser sincera, um pouco nervosa de passar de “mais uma da plateia que canta parelho com o vocalista” para “profissional séria com um objetivo a ser cumprido na noite”. Vai que eles me reconhecessem como uma de suas fãs e não topassem a entrevista?
E em parte meus receios se confirmaram quando o vocalista Eduardo Freda logo me identificou, porém, assim que expliquei o que estava fazendo ali, na hora ele topou a entrevista. Ufa! Me levando de encontro com o resto da banda, todos me receberam com a maior boa vontade e com sorriso no rosto.
Dez anos na estrada
A Dona Dinnah nasceu há dez anos, começou com a proposta de fazer covers, hoje toca os diversos clássicos da música brasileira. A banda, que é composta por Alexandre Black, Rogers Lemes, Eduardo Freda, Fernando Silva, e Douglas Ribeiro, está em sua segunda formação.
Em um papo descontraído, eles contam que existe um movimento intenso no cenário musical em Pelotas. Ainda que as bandas underground na cidade tenham um acesso mais difícil às grandes casas noturnas, eles já conquistaram um espaço, e conseguiram atingir a um grande público em diferentes ambientes, inclusive em festas particulares.
Para uma banda que não toca o que “predomina” não só na noite pelotense, mas no cenário nacional, dez anos de história é um tempo considerável. Quando pergunto qual o diferencial da banda, é o baterista Alexandre Black que responde rapidamente: “Ah, é a nossa energia. As releituras e o repertório, mas acima de tudo, a energia. Quando estamos no palco, a gente se diverte no trabalho. E o público sente isso”.
E para esta humilde repórter isso ficava claro a cada minuto de conversa. Enquanto falávamos, as pessoas começavam a se aproximar, já dando a impressão de que o ambiente talvez pudesse não ser grande o suficiente. “Nós temos amigos no cenário musical, que já nos presentearam com a composição de músicas em homenagem à Dona Dinnah, por que a banda traz uma música mais alternativa na noite, que faz as pessoas dançarem e se divertirem”.
A banda também já foi citada na música da banda FreaK Brotherz, “Da Dom Pedro a Joaquim”. Outro grupo underground pelotense, que é referência na região.
Quando pergunto sobre as dificuldades nesse mercado musical, eles respondem que como trabalham com um som que, apesar de fazerem a alegria da galera, tem um repertório mais “lado b”, isso acaba limitando o acesso às casas noturnas. “Apesar de tocarmos clássicos, artistas renomados da história da música brasileira, ainda é difícil entrar nos espaços. Nós tocamos Tim Maia, Jorge Benjor, e ainda assim não conseguimos atingir certos locais, o que revela um empobrecimento da cultura musical, não só em Pelotas, mas no Brasil. E isso afeta toda banda que queira trabalhar com o lado B. Nós “nadamos contra a maré”, estamos tocando há dez anos, nós vamos continuar fazendo música, até onde der. Pelotas ainda favorece muito por ter uma cena alternativa muito forte e que procura viver outros estilos. E nós temos um público muito fiel e diverso. Tocamos em aniversários, formaturas, nossa faixa etária é muito variada, mas ainda predomina um público mais adulto, uma galera que não só quer ‘balançar’, nosso público é uma galera que quer ‘balançar’ pensando. “
Para finalizar, pergunto dos planos para a banda, e para minha surpresa, dizem que estão trabalhando em sons autorais e também videoclipes. Encerrei minha entrevista querendo falar mais, porem o horário não permitia, eles já iriam começar a tocar, me despeço já guardando papel e caneta com a sensação de dever cumprido e na certeza que mais uma vez, lá estaria eu, na plateia.
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