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História

A ciência agronômica surgiu no Brasil na segunda metade do século XIX, resultante da gradativa extinção da escravidão e do declínio da pecuária no sul e da cana de açúcar no nordeste. Em 1859, nasceu o Imperial Instituto Baiano de Agricultura e as primeiras escolas de agronomia: Eliseu Maciel em Pelotas (RS) e a de São Bento de Lages (BA), reaberta após três décadas de paralisação em Cruz das Almas – Universidade do Recôncavo da Bahia (UFRB).

A Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel foi fundada em 08 de dezembro de 1883, fruto de uma idéia visionária de perpetuação do saber e que detém o curso de Agronomia mais antigo em funcionamento contínuo no Brasil.

Inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade, a família Maciel, aos 23 dias do mês de junho de 1881, in memorian, ao Tenente-Coronel da Guarda Nacional, Eliseu Antunes Maciel, conseguiu autorização à Câmara de Pelotas para a construção de uma Escola Municipal de Agronomia adjacente a seu prédio em continuação para o oeste. O objetivo era “instituir nesta cidade, onde o progresso material tão exuberante se manifesta, uma espécie de liceu no qual ricos e pobres, principalmente estes, pudessem ampliar os horizontes de suas inteligências, fecundando-as com conhecimento úteis, cada vez mais necessários a todos os homens”.

Em 22 de abril de 1883 foi entregue ao povo de Pelotas o edifício de uma escola moderna e totalmente equipada, cujo projeto foi concebido para suportar mais um ou dois pavimentos, pensando-se na criação de uma faculdade de ciências físicas e naturais. A idéia era conseguir recursos por iniciativas semelhantes, ou seja: legados testamentários.

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Figura 1.     Prédio da Faculdade de Ciências Físicas e Naturais – doação da Família Maciel em 1883.

 

Nesse mesmo ano de 1883, o Governo Imperial, preocupado com os altos custos de importação da vacina antivariólica fazia vir da França o Dr. Claude Marie Rebourgeon, oriundo da famosa escola Alfort e discípulo de Pasteur, com objetivo de coordenar e de no Brasil fabricar o antígeno.

Em 5 de setembro de 1883 o Presidente do Rio Grande do Sul,  Dr. José Júlio de Albuquerque Barros: “sem o desvio dos louváveis intuitos de seus fundadores” dirigia-se a Câmara Municipal para comunicar que a intenção do governo do Império era fundar nesta província uma Escola de Agronomia e Veterinária. Dada as condições locais que impressionaram positivamente o Dr Rebourgeon: uma decisão governamental permitiu que ainda em 1883 que se fundasse a Imperial Escola de Medicina Veterinária e de Agricultura Practica.

Em 1885, tempos de busca de modernização da agricultura brasileira, espelhados nas mudanças que estavam ocorrendo nos campos agrícolas da Europa, a Escola começou a funcionar. No fim desse ano, o Prof. Claude Marie Rebourgeon foi ao Rio de Janeiro para prestar contas de sua administração e entender-se com o governo do Império sobre o regulamento do curso. Naquela ocasião já havia sido votada uma verba de oitenta contos de réis para o exercício vigente. Entretanto, logo que chegou à corte, o Dr. Rebourgeon sofreu duro golpe. O Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Antônio da Silva Prado, havia rescindido seu contrato e, alegando necessidade de redução de despesas, decretou o fechamento da Imperial Escola de Medicina Veterinária e Agricultura Practica.

O professor Rebourgeon teve de vender todos os móveis de sua casa e seu carrinho de tração animal para quitar dívidas com o Tesouro Nacional. Depois disso, arrumou as malas e deixou o Brasil.

O ministro Antônio da Silva Prado, inflexível, marcou o leilão de todo o material trazido por Rebourgeon para o dia 28 de dezembro de 1885. Coube ao Visconde da Graça, João Simões Lopes Filho, a desagradável missão de promover o leilão.

Estavam reunidas no pátio da escola mais de duzentas pessoas que, inconformadas, aguardavam o leilão na esperança de que o comércio pelotense pudesse comprar tudo e devolver ao município. A pressão foi grande e o Visconde da Graça desistiu da missão, sendo aplaudido e carregado pelo público que chegou a quebrar o martelo em duas partes. Antônio Joaquim Dias, diretor do Correio Mercantil, periódico local, e fundador da biblioteca pública, arrecadou a quantia necessária (trezentos e cinqüenta e dois mil réis) e conseguiu fazer com que o material permanecesse na escola, encaixotado e sob a guarda do Visconde da Graça.

A Sociedade Pelotense, sensibilizada com tanta imprudência e retrocesso dessa decisão, assumiu as dívidas contratadas mantendo a Escola em funcionamento.

Em 1889 é aprovado o novo regulamento passando a funcionar efetivamente como curso superior Lyceu Riograndense de Agronomia e Veterinária voltada ao ensino de agronomia e medicina veterinária, o melhoramento de raças, o ensino das ciências naturais (botânica, física, química, mineralogia e geologia), das ciências agronômicas, culturas e práticas agrícolas, agricultura, zoologia e zootecnia, contabilidade rural, higiene e economia agrícola, e o ensino profissional.

Em 1891 inscreve-se o primeiro aluno, entretanto só os alunos inscritos em 1893, Victor Leivas e José Vaz Bento, colaram grau em 31 de dezembro de 1895.  

Ao completar mais de 130 anos de duração contínua, o Curso de Agronomia da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, consolida-se como referência na educação superior do Brasil, sempre atento para o papel social do ensino superior, preocupando-se não somente com a sua universalização, mas principalmente com a qualidade da formação profissional e cidadã de seus egressos. Graduou mais de seis mil e quinhentos Engenheiros Agrônomos, que foram responsáveis pela formação de mudanças significativas na concepção da agricultura desenvolvida em todo o território brasileiro, países vizinhos e redimensionaram os padrões de produtividade do estado. Esta trajetória institucional e de seus egressos vai ao encontro de nossa missão, qual seja:

“Formar profissionais de qualidade – críticos e proativos – gerar e difundir conhecimentos em agronomia, promover o desenvolvimento sustentável, com pesquisa e extensão voltadas aos valores da vida, à construção do saber e ao progresso da sociedade.

O amplo campo de atuação dos agrônomos torna-os requisitados por institutos e empresas de pesquisas, estações experimentais, organismos de fomento da produção agrícola, organismos de proteção ao ambiente, delegacias regionais de agricultura, propriedades rurais, projetos de e defesa sanitária vegetal e animal, cooperativas agrícolas, indústrias de alimentos de adubos, rações, vinhos, agrotóxicos e outros, bem como, gestores agrícolas na atividade autônoma.