O ano é 1968. Uma turma de engenheiros agrônomos de uma universidade no sul do sul do Brasil escolhe como paraninfo o ex-presidente e senador Juscelino Kubitschek de Oliveira, alguns por resistência política, outros pelo fato de ter sido em seu mandato a conclusão do grandioso novo prédio de sua faculdade. Orientados pelos líderes da Ditadura Militar e pela direção da Faculdade a desistirem de sua homenagem, os formandos resistem e têm sua colação de grau cancelada.
O ano agora é 2018. Uma maciça maioria da turma reunida na mesma faculdade 50 anos depois tem a chance de receber das mãos do reitor da universidade um diploma: não aquele entregue em uma formatura de gabinete, mas uma honra ao mérito, para lembrar que o ambiente universitário é sempre de liberdade e democracia.
Esse resgate histórico teve como plano de fundo a Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel da Universidade Federal de Pelotas – à época ainda integrante da Universidade Federal Rural do Rio Grande do Sul, instituição que deu lugar à atual – e foi realizado na última quinta-feira (18), em cerimônia que reuniu os “formandos” e até mesmo dois professores da época, que emocionaram os presentes com suas palavras. Também estiveram presentes autoridades acadêmicas, tais como o reitor da UFPel, Pedro Curi Hallal, e seu vice, Luis Amaral.
A alegria e a expectativa pareciam palpáveis, tal como em uma formatura. Os grandes homenageados do dia entraram solenemente no Salão Nobre da FAEM, onde foram acolhidos pelo reitor, que presidiu a cerimônia acompanhado do diretor da Faculdade, Dirceu Agostinetto. Após o Juramento do Engenheiro Agrônomo, proferido por Maria do Carmo Raseira, foi dado prosseguimento com a entrega dos diplomas de honra ao mérito, por parte do reitor, e do Trevo de Ouro, honraria concedida pela unidade aos profissionais que completam 50 anos de formados, entregue pelo diretor.
Depois de finalizada a entrega de certificados, a palavra foi concedida a dois decanos da Faculdade de Agronomia: os professores aposentados Wilson de Oliveira e José Sacco. Oliveira demonstrou em sua fala a satisfação em estar presente na oportunidade: “Quantos já passaram por aqui, mas vocês passaram só agora”. Já o professor Sacco, visivelmente emocionado, agradeceu muito a Deus pela oportunidade de ter sido professor da turma. “Foi um encontro em que eu pude fazer o melhor de mim”, pontuou. Finalizando sua fala, ele ainda afirmou: “A graça maior que um professor pode ter é ver seus alunos, seus queridos alunos, e dizer: ‘Meu querido, valeu a pena!’”.
O orador da turma, Osvaldo Pitol, relatou os fatos ocorridos em 1968 e que levaram ao cancelamento da colação de grau externa então, substituída por uma formatura de gabinete, “em uma sala de aula qualquer, com a roupa do dia-a-dia”, conforme suas palavras. “Não sabemos quem foi o culpado e não vale fazermos comentários positivos ou negativos sobre o que aconteceu”, disse. No entanto, ele colocou que um dos fatos que levou à suspensão foi a radicalização de ambas as partes na sustentação de sua posição.
Ele agradeceu ainda a direção da Faculdade e a gestão da Universidade pelo apoio na realização do ato, quando se completassem os 50 anos de conclusão do curso, um sonho que era compartilhado pela turma em seus encontro. “Por isso meus colegas e amigos, parabéns para nós: nós conquistamos o direito de receber uma homenagem pela nossa formatura!”, finalizou Pitol.
A cerimônia foi encerrada pelo reitor. “Hoje é um dia muito feliz, muito emocionante, de ver esses jovens se formando aqui na Universidade, 50 anos depois”, afirmou Hallal. O gestor da UFPel deu destaque a duas palavras levantadas no discurso do orador – democracia e liberdade – como partes fundamentais da vida universitária. “A Universidade Federal de Pelotas estará sempre lutando por democracia e por liberdade”, pontuou.
Tradições da FAEM
Com o encerramento da cerimônia de entrega de certificados e do trevo de ouro, os presentes foram convidados a participar da inauguração do quadro de formatura da turma. Após o descerramento, um breve discurso do formando Carlos Alberto Iribarrem destacou que a solenidade ocorrida superou todas as expectativas: “Esse diploma tem muito mais peso do que aquele de pergaminho que recebemos 50 anos atrás”. Em entrevista, o agrônomo afirmou que a turma, mesmo depois de tantas décadas, ainda realiza sonhos.
A manhã foi encerrada com a tradicional visita à árvore da turma, tradição nas formaturas da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel. Apesar de não ser aquela plantada em 1968, o momento rendeu mais lembranças. A fala, conduzida pela agrônoma Morena Peters, foi concluída com uma oração à árvore.
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