Frei David participa de atividade na UFPel

Foi realizada a atividade “Fraudes e sucessos nas ações afirmativas” no saguão do Instituto de Ciências Humanas da UFPel. O evento contou com a presença dos membros do projeto “Cotas: um diálogo afirmativo entre a universidade e a escola”. Quem realizou a fala que constribuiu com o debate foi o Frei David, membro da organização EDUCAFRO. Ele começou a intervenão com a afirmação do sucesso da política de cotas, comprovada por inúmeras pesquisas que demonstram o desempenho e a realidade dos estudantes cotistas. Em segundo lugar, o Frei direcionou sua fala para os casos de fraudes e desvios. Segundo o Frei “As cotas estão ameaçadas por falta de monitoria e avaliação”. Passou pelo relato de técnicas e tentativas de fraude, lembrando que é de responsabilidade das universidade e reitorias a implementação de comissões de verificação dessa política. Elogiou também a Universidade Federal de Pelotas por ser uma das poucas Instituições de Ensino Superior (IES) a implementar tal comissão (segundo o Frei, pelo menos 10 IES possuem essa instância implementada).

O evento vem no embalo da criação de comissão de combate a essas fraudes no ingresso por cotas na UFPel. Recentemente, essa comissão indentificou pelo menos 27 casos na Faculdade de Medicina em que os ingressantes por essa política o fizeram de forma fraudulenta, ou seja, ingressaram indevidamente pelo meio de um sistema que deveria ser para uma população específica. A política de cotas são uma conquista do povo negro, pois faz parte de uma reparação histórica necessária. Uma fraude nesse sistema é muito grave, pois representa o roubo de um direito conquistado.

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Projeto Cotas visita a Turma Especial de Medicina Veterinária

O projeto “Cotas: um diálogo afirmativo entre a universidade e a escola” visitou a Turma Especial de Medicina Veterinária (TEMV) da Universidade Federal de Pelotas. A Turma “é fruto de uma parceria entre a Universidade Federal de Pelotas e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera)”¹. O curso é destinado à “população jovem e adulta das famílias beneficiárias de projetos de assentamentos criados ou reconhecidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Programa de Crédito Fundiário (PNFC), alunos de curso de especialização promovidos pelo Incra, entre outros²“.

A oficina começou com um espaço de brincadeiras lúdicas, a fim de destencionar o ambiente e estabelecer um clima confortável. Após, deu-se início aos debates. Começou com a apresentação do clipe “Chapa”, do rapper Emicida. A seguir as discussões correram entre os membros do Projeto e os estudantes da TEMV. Foram tocados temas como a atuação da mídia, violência policial, embranquecimento cultural, cotas na universidade e ações afirmativas.

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Projeto Cotas promove curso de formação

Na próxima quinta-feira (20/10) ocorrerá a primeira etapa da formação “Questões étnico-raciais e ações afirmativas na sala de aula – diálogos e perspectivas”. O evento é voltado para professores e estudantes de licenciaturas e é promovido pelo projeto “Cotas: um diálogo afirmativo entre a universidade e a escola”. Este projeto é ligado ao curso de História da UFPel, financiado pelo PROEXT\MEC.

O evento ocorrerá no auditório da escola Técnica Estadual João XXIII, que fica na rua Sete de Setembro, 258, Centro de Pelotas. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo e-mail projetocotas2016@gmail.com.

Haverá emissão de certificado de 40 horas/aula para os participantes, mas as VAGAS SÃO LIMITADAS.

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SERVIÇO:
O QUE?
“Questões étnico-raciais e ações afirmativas na sala de aula – diálogos e perspectivas”
QUANDO?
1° etapa – (20/10, quinta feira) \ 2° etapa – (26/10, quarta feira)
ONDE?
auditório da escola Técnica Estadual João XXIII (rua 7 de setembro, 258, Centro de Pelotas)
INSCRIÇÕES
Limitadas, pelo e-mail projetocotas2016@gmail.com (garante certificado de 40 horas)

EVENTO
www.facebook.com/events/1786670191620496

 

PROGRAMAÇÃO

QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS E AÇÕES AFIRMATIVAS NA SALA DE AULA – DIÁLOGOS E PERSPECTIVAS
PRIMEIRA ETAPA: 20 DE OUTUBRO, quinta-feira

MANHÃ (8h30 – 12h):

– Atividade Cultural;

– Roda de conversa: Questões étnico-raciais na sala de aula: inquietações e desafios;

– Convidados/as: Profa. Marielda Medeiros (Ex-assessora da Educação para Relações Étnico-Raciais – SEDUC/RS), Profa. Rosana Pedroso Nunes (Assessoria Afro-Indígena/5ª Coordenadoria Regional de Educação), Profa. Tatiana Cristina Ugoski Rodrigues (EMEF Nestor Crochemore).

TARDE (14h -18h):

Oficinas:
1. Teatro do Oprimido – TOCO (Teatro do Oprimido na Comunidade/UFPel)
2. Personagens negros/as na literatura infantil – Profa. Helenira Brasil (IE Assis Brasil e SECULT)
3. Grafismo indígena: relação entre a alma e alteridade – Kauwá Apuriña (indígena e mestranda em Antropologia/UFPel)
4. História da África – Prof. Paulo Pezat (UFPel)

NOITE (19h – 22h15):

– Atividade Cultural

– Mesa-redonda: Reflexões sobre o ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena e a implementação das leis 10.639.03 e 11.645/08

– Convidados/as: Profa. Ledeci Lessa Coutinho (Secretária Municipal de Educação de Canguçu), Prof. Bruno Ferreira (indígena da etnia Kaingang / Instituto Estadual de Educação Indígena Angelo Manhká Miguel / Doutorando Educação UFRGS) e Prof. Caiuá Cardoso Al-Alam (Unipampa)

 

SEGUNDA ETAPA: 26 DE OUTUBRO, quarta-feira

MANHÃ (8h30 – 12h):

– Roda de conversa: Percepções e vivências sobre ações afirmativas e o ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena

– Convidados/as: Profa. Luciana Custódio (fundadora do Coletivo Rosas do Gueto e do Projeto Resgatando a Identidade Afro na Educação Infantil), Profa. Maritza Ferreira Freitas (Coordenadora do NEABI do Colégio Municipal Pelotense/Faculdade ANHANGUERA), Profa. Carla Avila (UCPel)

TARDE (14h – 18h):

Oficinas:

  1. Colorindo o pensamento: grupos indígenas no Brasil – Equipe do Projeto Temática Indígena na Escola
  2. Saúde Indígena, plantas medicinais e preparo de fitoterápicos – Leonardo Christian (Acadêmico do Curso de Medicina e indígena da etnia Tuxá)
  3. Estamparia com símbolos adinkras – Profa. Marielda Medeiros e Profa. Rosana Pedroso Nunes
  4. Localizar a branquitude para (des)colonizar: qual o lugar do/a branco/a na escola? – Amanda Oliveira (estudante Antropologia UFPel)

NOITE (19h – 22h15):

– Atividade cultural – Marra canto pá ocê

– Mesa-redonda: Cotas e ações afirmativas: reflexões e saberes na universidade e na escola

– Convidados/as: Profa. Dra. Georgina Nunes (FAE e NUAAD/UFPel), Edson Kaiapó (Coordenador da Licenciatura Intercultural Indígena do IFBA), Antônio Leonel Rodrigues Soares (estudante UFPel e Coordenador da Federação das Comunidades Quilombolas do Rio Grande do Sul) e Prof. Fábio Gonçalves (Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Pelotas)

 

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Projeto Cotas vai até o Capão do Leão

O Projeto “Cotas: Um diálogo afirmativo entre a universidade e a escola” realizou mais uma oficina, no dia 26 de agosto, dessa vez no cursinho popular pré-ENEM que funciona na Escola Prefeito Elberto Madruga, na cidade de Capão do Leão.

Como característica, as oficinas começam com uma dinâmica para relaxar e entrosar os presentes. Após, parte-se para a parte da oficina que trata da questão das cotas e das ações afirmativas. Os debates que se desenvolvem no âmbito do projeto tem o caráter predominantemente informativo, devido à grande desinformação que cerca toda a discussão. Isso é essencial, pois o tema das cotas é circundado por uma série de outras temáticas indispensáveis para se pensar a questão de uma forma mais completa, como a história do Brasil e o racismo, por exemplo.

Confira as fotos

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1° DE SETEMBRO FOI DIA DE VOLTAR À CIDADE DE PIRATINI (2° parte)

(confira a 1° parte da matéria aqui)

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Na parte da tarde do dia 1° de setembro, foi a vez de ir até a Escola Estadual Deputado Adão Pretto. A escola atende estudantes da zona rural: pequenos agricultores, assentados da reforma agrária e oriundos de comunidades quilombolas.

Além das discussões habituais do projeto, nesse ambiente foi focada também a discussão dos processos específicos de ingresso na UFPel para indígenas e quilombolas. Segundo o professor Adair José, ele “tinha informações sobre o processo específico, mas é sempre bom levar mais informações para os estudantes sobre o sistema de cotas e os ingressos específicos”. Essa especificidade dessa escola coloca a necessidade da parceria entre o Projeto Cotas e essa instituição.

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Segundo o professor, é essencial a educação no campo e espaços de formação como esse, pois segundo ele o objetivo é para “eles se formarem e retornarem ao campo. A juventude hoje não quer ficar no campo, isso a gente conversa muito com os nossos estudantes para que eles não abandonem a terra.” A necessidade de manter as pessoas na zona rural, em situação digna, leva à exigência de mais oportunidades para que esse jovens possam estudar e se formar, para que em um tempo breve possam viver e trabalhar no ambiente rural, tão necessário para o desenvolvimento da região e do país como um todo. O professor ainda completa: “Hoje a gente vive um novo êxodo rural, isso contribui muito para o inchaço das grandes cidades, muitos vão para lá e acabam ficando em situações ruins”.

A oficina teve dois momentos. O primeiro com debate e exposição de ideias, trouxe a exposição das possibilidades dos jovens ingressarem nas instituições de ensino, tanto através dos processos específicos, quanto através do ENEM e do PAVE, além das possibilidade dos Institutos Federais. Na segunda parte foi realizada uma dinâmica, mostrando aos estudantes a exposição, previamente montada, com as imagens e frases para a reflexão. O objetivo era mostrar aos estudantes como certas expressões comumente usadas no cotidiano podem carregar consigo um significado racista, tais como “serviço de preto” e “inveja branca”. A receptividade dos estudantes e dos professores foi muito boa, interagindo e propondo questões.

 

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1° DE SETEMBRO FOI DIA DE VOLTAR À CIDADE DE PIRATINI (1° parte)

A Escola Estadual Ponche Verde fica na cidade de Piratini, no alto de uma colina. A altura da cidade associada com o clima úmido e o vento deixam a sensação térmica mais fria do que em Pelotas. A escola é um prédio que esta prestes a completar 90 anos e esta bem deteriorada pelo tempo. Algumas partes da escola inclusive estão interditadas para reformas. O prédio conta com CTG e com um auditório, ambos fechados há algum tempo. Não fosse esse atual estado de deterioração, seria um dos colégios mais bem equipados da região. Recentemente a escola foi ocupada por estudantes e professores em reivindicação de melhores condições para a educação, um movimento que veio alinhado com as ocupações de escolas pelo Brasil afora, especialmente no Rio Grande do Sul, em Goiás e em São Paulo.

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A escola é mais uma das instituições parceiras que compõem o projeto. Neste dia 1° de setembro o projeto foi até a Ponche Verde para realizar mais uma de suas oficinas. Antes de iniciar, os membros do projeto montaram uma pequena exposição com letras de musicas, fotos, jornais e outras imagens referentes a história e identidade negra. O espaço foi iniciado pela diretora, que falou sobre a obrigação de discutir o tema das ações afirmativas em sala de aula. O ambiente estava lotado pelos estudantes normalistas e do 3° ano, chegando a deixar a sala mais quente. O debate focou-se nas questões referentes à Lei 12.711\12 e os temas que circundam as ações afirmativas: historia do Brasil, racismo, identidade, etc. Como de costume, houve bastante interação da turma e muitas trocas de informações sobre o funcionamento da Lei de Cotas.

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Projeto da UFPel participa do “Africanidades e Educação Básica”

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A Secretaria Municipal de Educação de Pelotas promoveu o seminário “Africanidades e Educação Básica: VI Formação em Rede”. O evento foi realizado no auditório do Colégio Municipal Pelotense nas manhã e tarde do dia 25 de agosto. Segundo a SMED, a atividade foi direcionada para “coordenadores pedagógicos, professores da educação infantil, do ensino fundamental, ensino médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA)”

O evento contou com a sensibilização da Professora Marielda, que tratou da importância de se trabalhar a temática étnico-racial em sala de aula. O Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra também se fez presente na figura do Professor Fábio Gonçalves que falou das políticas de reparação histórica, não devendo nunca ser confundidas com privilégios. A fala do professor serivu de introdução à participação dos membros do projeto “Cotas: um diálogo afirmativo entre a universidade e a escola”.

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Segundo a apresentação, o projeto surge da constatação de que as vagas para pretos, pardos e indígenas na UFPel não estavam sendo preenchidas. Ou seja, havia uma grande desinformação sobre o tema na região, o que criou a necessidade do projeto. Portanto, seu principal objetivo é levar informação sobre a lei e sobre as políticas de ações afirmativas aos estudantes e profissionais do ensino da região. A participação no Africanidades se preocupou em esclarecer o funcionamento da Lei de Cotas e de mostrar a importância dessas informações circularem em sala de aula. Foi feito também um convite às escolas presentes para que participem do projeto, estebelecendo assim o clima de diálogo entre a Universidade Federal de Pelotas e as escolas da região.

O Seminário também contou com uma oficina de cabelos afro e uma palestra sobre a cultura Kaingang. Os indígenas compareceram ao seminário e puderam expor sua arte, no final a eles foram doados os alimentos arrecadados durante o evento.
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Pesquisa apresenta dados sobre violência contra negros

As ações afirmativas são políticas de estado que visam combater o racismo e diminuir seus efeitos na vida das pessoas. Um dos reflexos de uma sociedade marcada pelo racismo é a violência contra uma população expecífica. No caso do Brasil, os negros sofrem violências características que merecem atenção e estudo para que sejam resolvidos. Justamente, as ações afirmativas visam essa problemática. Para discutir o assunto reproduzimos esse pequeno artigo feito pelo IPEA:

Alagoas, Espírito Santo e Paraíba concentram maior número de negros vítimas de homicídio

Em Alagoas, os homicídios reduziram em quatro anos a expectativa de vida de homens negros. Entre não negros, a perda é de apenas três meses e meio. O estado nordestino apresentou o pior resultado entre todas as Unidades da Federação, de acordo com um estudo divulgado pelo Ipea nesta terça-feira, 19, véspera do Dia Nacional da Consciência Negra. A Nota Técnica Vidas Perdidas e Racismo no Brasil calculou, para cada estado do país, os impactos de mortes violentas (acidentes de trânsito, homicídio, suicídio, entre outros) na expectativa de vida de negro e não negros, com base no Sistema de informações sobre Mortalidade (SIM/MS) e no Censo Demográfico do IBGE de 2010.

“Enquanto a simples contagem da taxa de mortos por ações violentas não leva em conta o momento em que se deu a vitimização, a perda de expectativa de vida é tanto maior quanto mais jovem for a vítima. Em segundo lugar, a expectativa de vida ao nascer é um dos principais indicadores associados ao desenvolvimento socioeconômico dos países”, explica o texto da pesquisa.

O estudo, de autoria do diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e Democracia (Ipea), Daniel Cerqueira, e de Rodrigo Leandro de Moura, da Fundação Getulio Vargas (IBRE/FGV), analisou ainda em que medida as diferenças nos índices de mortes violentas podem estar relacionadas a disparidades econômicas, demográficas, e ao racismo. De acordo com os autores, “o componente de racismo não pode ser rejeitado para explicar o diferencial de vitimização por homicídios entre homens negros e não negros no país”.

Taxa de homicídio
Considerando apenas o universo dos indivíduos que sofreram morte violenta no país entre 1996 e 2010, constatou-se que, para além das características socioeconômicas – como escolaridade, gênero, idade e estado civil –, a cor da pele da vítima, quando preta ou parda, faz aumentar a probabilidade do mesmo ter sofrido homicídio em cerca de oito pontos percentuais.

Novamente Alagoas é o local onde a diferença entre negros e não negros é mais acentuada – a taxa de homicídio para população negra atingiu, em 2010, 80 a cada 100 mil indivíduos. No estado, morrem assassinados 17,4 negros para cada vítima de outra cor. Espírito Santo e Paraíba também são destaques negativos no ranking elaborado pelo Ipea, com, respectivamente, 65 e 60 homicídios de negros a cada 100 mil habitantes (no Espírito Santo os assassinatos diminuem a expectativa de vida dos homens negros em 2,97 anos; na Paraíba, em 2,81 anos).

“O negro é duplamente discriminado no Brasil, por sua situação socioeconômica e por sua cor de pele. Tais discriminações combinadas podem explicar a maior prevalência de homicídios de negros vis-à-vis o resto da população”, afirma o documento.

Leia a Nota Técnica ‘Vidas Perdidas e Racismo no Brasil

Veja as taxas de homicídios de negros e não negros no Brasil (por Unidade da Federação)

“Cotas e contestações: as ações afirmativas colocaram o combate ao preconceito na agenda nacional”

FONTE: Ipea, por Cristina Charão

O resultado intangível da implementação de ações afirmativas no Brasil, segundo analistas e representantes do movimento negro, foi colocar, definitivamente, a discriminação e o preconceito na agenda pública. “Apesar da insuficiência das ações até aqui adotadas, o sentido das iniciativas em curso é colocar em debate o tema da reparação histórica ao povo negro, algo que faz parte das reivindicações do movimento desde a década de 1980”, avalia Douglas Belchior, membro da Coordenação Geral da União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora (Uneafro Brasil)

Marcelo Paixão, economista da UFRJ, afirma que “o grande impacto das medidas de ação afirmativa foi colocar o tema das desigualdades raciais, mudando a lógica como vínhamos discutindo a questão das desigualdades sociais no Brasil”.

O debate público acerca dos efeitos do preconceito e da responsabilidade do Estado sobre a promoção da igualdade ganhou impulso na esteira da Constituição de 1988, seja pela revitalização do movimento negro no processo de discussão da nova Carta, seja pelo caminho aberto por ela para a criminalização do racismo.

Após um período em que o tema se volta para o reconhecimento e a penalização dos crimes raciais, em meados da década de 1990, começam a ser implementadas as primeiras políticas públicas voltadas ao combate à discriminação.

No início dos anos 2000, o governo federal começa a investir em projetos de caráter afirmativo.

Em 2002, o Itamaraty lançou o Programa de Ação Afirmativa do Instituto Rio Branco, órgão responsável pela formação dos diplomatas. O programa está baseado na concessão de bolsas a afrodescendentes em cursos preparatórios para o processo de seleção do Instituto. Em nove anos, 17 ex-bolsistas passaram a fazer parte do corpo diplomático.

Em 2011, o Itamaraty deu um passo adiante, criando também uma cota de vagas para negros na primeira etapa do processo seletivo. “Entre as razões que levaram o Itamaraty a adotar um programa de ação afirmativa está o fato de que a diplomacia é uma carreira que sofria de uma percepção social elitista; segundo, é uma carreira que representa o País e houve o entendimento de que essas duas questões deveriam ser enfrentadas”, comenta o primeiro-secretário do Instituto, Márcio Rebouças. “Por fim, em Durban [durante a III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e as Formas Conexas de Intolerância], o Itamaraty assumiu o compromisso de promover ações afirmativas”.

Em 2003, o Ministério da Saúde lançou o Programa de Combate ao Racismo Institucional, que durou até 2006 e buscou formar gestores para a promoção da equidade racial na área. Um ano antes, o Ministério da Educação havia criado o Programa Diversidade na Universidade, para apoiar cursinhos pré-vestibulares voltados para afrodescendentes. Foi uma primeira resposta do governo a pressões para o desenvolvimento de ações afirmativas, que cresceram a partir de iniciativas pioneiras de algumas universidades – as estaduais do Rio de Janeiro e a Universidade de Brasília (UnB) – e mesmo de órgãos públicos, como o Ministério das Relações Exteriores.

JULGAMENTOS
Em 2001, as universidades estaduais do Rio de Janeiro – UERJ e UENF – criaram cotas para negros nos seus processos seletivos, depois de um primeiro ano em que o vestibular de ingresso reservou vagas para alunos vindos de escolas públicas. Em 2003, a UnB aprovou a criação das cotas raciais, numa iniciativa inédita entre as federais. A medida é ainda hoje alvo de uma ação no STF, movida pelo DEM, que contesta a constitucionalidade de tais políticas.

“Uma pesquisa da Associação dos Juízes Federais sobre a jurisprudência em segunda instância mostra que há prevalência do entendimento sobre a constitucionalidade das cotas na educação. A OAB também se posicionou favoravelmente ao tema. Agora, devemos começar a ver vários questionamentos em relação às cotas no serviço público”, avalia Tatiana Silva, coordenadora de Igualdade Racial do Ipea”.

A reserva de 10% de vagas para negros no serviço público já é realidade em alguns Estados, como o Paraná e Mato Grosso do Sul. No Rio de Janeiro, a destinação é de 20% para negros e índios. Já em Vitória (ES), a adoção das cotas nos concursos foi contestada pelo Ministério Público Estadual e suspensa pelo Tribunal de Justiça. Uma decisão favorável do STF seria um reforço político importante a favor das ações afirmativas, reconhecendo o papel do Estado na reparação dos efeitos do preconceito e da discriminação.

IMPACTO DAS AÇÕES
Em certa medida, a reação aos avanços nas políticas voltadas à promoção da igualdade racial nos últimos anos demonstra o impacto das ações afirmativas. “Fomos acusados de criar um ‘tribunal racial’, quando decidimos exigir a comprovação da declaração de afrodescendente com fotos”, comenta Dione Moura, professora Faculdade de Comunicação da UnB que coordenou a comissão responsável pela criação do programa de cotas. “Fizemos isso porque tínhamos provas concretas de que cursos pré-vestibulares e escolas estavam incentivando seus alunos brancos a se inscreverem como cotistas para desmoralizar nosso processo de seleção.”

Outra questão levantada à época, é a suposição de que a entrada de alunos “menos preparados” através das cotas rebaixaria a qualidade do ensino nas universidades. “Acompanhamos o percurso dos cotistas e provamos que eles tinham índices menores de abandono do curso”, conta Dione. Segundo ela, estes alunos valorizam mais a passagem pela universidade e engajam-se de forma mais qualificada nos estudos.

Para Douglas Belchior, o debate sobre as cotas deixou “à mostra que a elite brasileira é racista”. Crítico em relação à limitação atual das ações afirmativas, ele reconhece que o fato de iniciativas estarem sendo levadas adiante repercute de forma positiva sobre a autoimagem e a perspectiva de vida dos afrodescendentes, especialmente os mais jovens. “O jovem negro tem, hoje, oportunidades que seus pais não tiveram, mas isso não significa que temos oportunidades iguais”, comenta. “Olhando para trás, o avanço é inegável. Olhando para a frente, vemos que não é tanto assim.”

Projeto da UFPel visita cidade de Piratini

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No dia 16 de julho foi realizada uma atividade sobre ações afirmativas na universidade  na cidade de Piratini. A ação foi destinada e contou com a presença de membros de comunidades quilombolas, diretores/as e professores/as da rede pública da cidade. A atividade ocorreu na Casa de Acolhida à Mãe Gestante e contou com a participação de aproximadamente 30 pessoas da região.

As atividades tiveram inicio com uma dinâmica de expressão corporal, afim de estabelecer um clima afetuoso. Logo mais foi feita a apresentação do grupo de trabalho do projeto “Cotas: um diálogo afirmativo entre a comunidade e a universidade”. Além da explicação e troca de informações sobre a Lei 12.711/12, que torna obrigatória a reserva de vagas em instituições federais de ensino superior vinculadas ao Ministério da Educação, integrantes do projeto e estudantes quilombolas ingressantes por essa política pública na Universidade Federal de Pelotas relataram suas experiências. Foram apresentadas também informações sobre o ingresso específico para quilombolas e indígenas (cursos, vagas, acesso, condições de permanência). A atividade foi muito bem recebida por professores, diretores, estudantes, comunidades quilombolas e pelas irmãs da Casa.

 

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