Nesta discussão sobre a adesão ao livro didático, dois argumentos são recorrentes para tentar nos convencer de que esta é uma boa proposta. Um deles é o de que o livro é uma forma de os pais que não têm muito acesso e recursos conseguirem acompanhar as crianças com um recurso a mais. O outro diz respeito a uma comparação com a escola privada, com afirmações do tipo: “privo as crianças da minha escola e ao mesmo tempo oportunizar para o meu filho”, no caso de professoras que colocam seus filhos em escolas particulares.
Em contraponto a esse argumento, é preciso mostrar nossa inquietação com essa comparação da educação infantil pública com a privada. As instituições privadas que oferecem todos esses livros, muitas vezes, não estão preocupadas em preservar as crianças e suas infâncias, mas, sim, em agradar os pais. Embora concordamos com quem se preocupa com as crianças que não têm acesso, essa não é a realidade da nossa comunidade escolar. Quando temos um livro, o nosso trabalho fica mais restrito e limitado a instrumentos externos à relação pedagógica. A maioria desses livros traz a alfabetização de forma muito forte. Vale lembrar que a gente trabalha com letramento desde o berçário, permitindo que a criança tenha uma boa relação com o mundo letrado. O que o PNLD aponta é que façamos uma alfabetização mecânica e isso se torna cansativo e invasivo às culturas infantis.
Lutamos tanto para ter autonomia em sala de aula e estamos neste caminho ainda, porém, com o livro, teremos um retrocesso. Hoje, ele chega a nós como opção, mas amanhã pode vir como obrigação. Teríamos, então, perdido os avanços que nossas lutas conquistaram? Perderemos nossa autonomia?
Se hoje o grupo conta com profissionais que entendem que esse livro não deve ser usado sempre, que poderia ser um complemento, talvez no ano que vem possa vir outro profissional que fará uma prática totalmente em cima do livro. Portanto, dizer NÃO ao livro didático não é uma decisão individual dos professores. É uma decisão coletiva e responsável com a proposta pedagógica e política da escola em que estamos.
Texto: Francine Mesquita