Sobre POLIDORI

Professor na FAUrb UFPel.

Modelagem Urbana: Crescimento Urbano e a preservação dos recursos hídricos em Santiago/RS

Por: Ana Cláudia Machado Grossi

Introdução

O estudo realizado na Disciplina de Modelagem Urbana 2, aborda o assunto de modelagem urbana por meio de autômatos celulares para a simulação de crescimento urbano e a preservação dos recursos hídricos em Santiago/RS. Propõe-se a analisar as variáveis ambientais e urbanas que influenciam no desenvolvimento de uma cidade como estudo de caso, simula o crescimento futuro de trinta e seis anos a partir do modelo calibrado e de experimentação de outras alternativas. O trabalho permite visualizar e analisar prováveis evoluções urbanas a partir de aspectos morfológicos e da acessibilidade. A cidade escolhida para o estudo foi Santiago no Rio Grande do Sul, próximo à fronteira com o Argentina. Resultando na valorização ao meio ambiente, sem prejudicar o crescimento e desenvolvimento urbano. Será abordada a influência de fatores como bacia hídrica, topografia, matas nativas e a BR de acesso à cidade no desenvolvimento urbano.

A cidade de Santiago/RS

A Cidade de estudo foi Santiago, Rio Grande do Sul. Utilizando-se de modelagem urbana realizou-se um estudo de crescimento no desenvolvimento de uma estrela de cinco pontas do município de Santiago. Localizado no estado do Rio Grande do Sul, 354 metros de altitude, de Santiago tem as seguintes coordenadas geográficas: Latitude: 29° 10′ 23” Sul, Longitude: 54° 51′ 21” Oeste. Limita ao Norte com o município de Bossoroca (45 Km) e Itacurubi (75 Km), ao Sul com o município de São Francisco de Assis (56 Km), Nova Esperança do Sul (36Km) e Jaguari (47Km), ao Leste com o município de Jarí (120 Km) e Capão do Cipó (53 Km) e ao Oeste com Unistalda (42 Km). Apresenta 73.2% de domicílios com esgotamento sanitário adequado, 85.4% de domicílios urbanos em vias públicas com arborização e 41.4% de domicílios urbanos em vias públicas com urbanização adequada (presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio. A população no último censo [2010] é de 49.071 pessoas. As imagens ilustradas abaixo e as demais, foram posicionadas no mesmo ângulo para a simulação do programa.

Figura 01_ imagem do mapa da cidade /RS

Figura 02_ imagem de satélite da cidade Santiago/RS

Autômatos celulares e o programa CityCell

A simulação do crescimento urbano utilizou-se o software CityCell – Urban Growth Simulator, desenvolvido por Saraiva e Polidori (2014). O programa foi concebido com base no modelo de autômatos celulares que consiste em um modelo matemático que simula o desenvolvimento urbano no espaço e no tempo. Echenique (1975) indica que para trabalhar com um modelo matemático é necessário ter um objeto de estudo, uma intenção, um processo de observação e abstração, tradução para os meios de representação, verificação e obtenção de conclusões. Resulta na simulação de uma simplificação da realidade, composta por principais características eleitas pelo observador. O modelo de autômato celular pode ser construído a partir de simples células e por regras de transições implementadas no modelo que exercendo a auto organização e reproduzindo padrões semelhantes, permite expressar o complexo desenvolvimento urbano ao longo do tempo, em um espaço celular. Autômato celular é um elemento que possui características próprias espaciais e mecanismos para processar suas características próprias e as externas. Os autômatos individuais são arranjados em um  grid, malha digital.

O uso da plataforma CityCell implica em três etapas. Inicialmente inserem-se as variáveis consideradas relevantes para o estudo, traduzindo-as para a linguagem da plataforma. Essa etapa consiste na entrada de dados, os chamados Inputs. As variáveis adicionadas, também chamados de atributos, recebem um parâmetro, ou seja, um valor relacionado ao seu peso de interação. A segunda etapa consiste no processamento. No Grid do CityCell as células dos atributos interagem entre si a partir de tensões de atração ou resistência à urbanização, geradas pelos atributos. A somatória dessas tensões provoca diferenças de centralidade, que indicam o potencial de mudança de estado da célula. A mudança de estado da célula promove o crescimento urbano. Na etapa final, constitui na obtenção e análise dos resultados, os outputs.

  1. CityCell_ Urban Growth Simulator , programa computacional de simulação

A simulação do modelo no CityCell é baseada em autômatos celulares. Nos estudos sobre o espaço urbanizado e a paisagem natural, são modificadas pela ação humana relacionando as semelhanças teóricas e metodológicas. Propõe-se uma versão ampliada de uma dessas medidas, denominada Acessibilidade Ponderada. O CityCell apresenta um plano de trabalho com células quadradas dispostas em um grid. Para este estudo configurou-se a dimensão da célula em 200 metros e utilizou-se referência geográfica em Projeção UTM. Os Inputs, ou dados de entrada, foram modelados com base em imagens de satélite e em antigos desenhos urbanos. Verificou inicialmente os seguintes atributos urbanos como importantes para o desenvolvimento do estudo: o mapa de cursos d’água, mapa esgoto, mapa de matas nativas, topografia e o mapa das estradas de acesso. Sendo o principal meio de transporte é o rodoviário. O Município é cortado pela Rodovia Federal BR 287, a qual faz ligação com São Borja e com Santa Maria, sendo que neste Município a Rodovia Federal 392 dá acesso até Rio Grande.  Possui também duas Rodovias Estaduais: a RS 168, que faz ligação com Bossoroca e a RS 377 que liga ao Município de São Francisco de Assis, Alegrete, Uruguaiana e Capão do Cipó. Passa pelo Município a Ferrovia STG 365 que faz ligação com Jaguari, São Borja e Bossoroca, utilizada exclusivamente para transporte de cargas. O Município conta também com um aeroporto com campo de pouso para aviões de pequeno porte, cuja pista está em vias de ser asfaltada.

Figura 3_Inputs, imagem de satélite e grades

Figura 4_Inputs, nascentes e olho d’água Fonte: autora

Figura 3: Inputs. a) topografia em escala de 1 a 5. b) matas nativas (verde imagem) e cursos d’água (azul claro). c) configurações urbanas (marrom1985), configurações urbanas (verde 2021) Fonte: autora

Figura 4: Inputs. Ao fundo da imagem a) topografia em escala de 1 a 5. b) matas nativas (verde imagem) e cursos d’água (azul claro). c) configurações urbanas (marrom1985), configurações urbanas (verde 2021), nascentes em blocos (azul anil), olho d’água entre a nascente e curso d’água (azul) Fonte: autora

Na figura 1a é apresentada a topografia, sendo legendada em três níveis. O número 1 representa o nível mais baixo ocupado pela urbanização através da imagem por satélite. A ocupação urbana encontra-se nas zonas numeradas por 2 e 3. Essas foram as zonas adotadas como mais favorável ao crescimento urbano para esse estudo. A mata nativa e os cursos d’água estão representados, respectivamente, em verde e azul na figura 1b. Os atributos urbanos estão apresentados na figura 1c. Em tons de verde musgo encontram-se as configurações urbanas de 2021 (mais claro), 1985 em marrom no centro da imagem. Os atributos naturais e os urbanos como atração ao crescimento.

Na figura 2a é apresentada como fonte do estudo, as nascentes estão representadas por blocos de quatro células em azul anil e o olho d’água em azul, no caminho do curso da d’água representado de azul mais claro, como base de estudo nas simulações seguintes.

Em seguida, iniciou-se o processo de calibração do modelo. Esse processo foi estudado valores e aplicados aos atributos, que definam as relações entre as células, visando uma configuração próxima à realidade. Utilizando a regra de interação “Threshold Potencial”, ou potencial de crescimento limiar, realizou-se uma série de processos de quarenta interações buscando um resultado próximo à configuração urbana de 2021. Considerou-se a configuração urbana de 1985 com valor 1; atração de 0,2 para as estradas; como atração 0,8 para o corredor das tropas; 1 para os demais atributos (matas nativas, cursos d’água e aleatório). Nessa simulação inicial observou-se um crescimento esperado e principalmente exagerado nos pontos circulados em vermelho na figura 2. Nessa figura representa-se em verde a configuração da cidade de 2019 (alvo da simulação) e em marrom, a evolução urbana resultante da simulação.

Figura 05_ Calibrado crescimento 1,95%

Figura 06_ Calibrado, Fuzzy R1 0,715%   Fonte: autora          

Figura 07_ Gif animação do crescimento urbano Fonte: autora

Identifica-se, observando a figura 5 que as regiões em que houve maior crescimento em relação ao alvo adotado encontram-se nas altitudes mais favoráveis ao desenvolvimento (representadas nas cores verde musgo e verde claro). Nas figuras 5 e 6 também estão representadas congeladas, as configurações urbanas de 1985 e 2021, e em vermelho, aparece crescimento atrativo nas estradas. Nas simulações seguintes variou-se os valores de resistência de acordo com os níveis, sem a preocupação em preservação das águas, buscando obter informação do avanço urbano sem preservação comparando com a simulação com preservação das águas e nascentes no avanço nos pontos identificados.

Figura 8, 8.1: simulação com valores de R1 71,4% taxa acerto. Fonte: autora

Figura 9, 9.1: simulação com valores de R2 71,5% taxa acerto. Fonte: autora

Na simulação da figura 8 foram utilizados parâmetros de 1 a 1,95, para R1 71,4% a taxa de acerto dentro da topografia em escala de mais  favorável. Enquanto que na simulação da figura 9.1, R2 71,5% taxa de acerto, adotou-se valores com maior intervalo. Em ambos casos persistiu o crescimento nos pontos circulados em vermelho. Em outra tentativa de calibrar o modelo, optou-se por considerar também o princípio de cidade, configuração urbana de 1885, utilizando os demais parâmetros da simulação da figura 9.1.

  1. Prosses, Processo em análise no futuro sem e com a preservação das águas

A simulação do modelo sem a devida preservação das nascentes, olho d’água e curso da mesma, identifica um crescimento urbano concentrado como processo espacial demográfico numa concentração urbana. Chamando atenção no desenvolvimento de habitações verticalizadas, como, por exemplo: a diminuição de exposição à luz solar; a maior dificuldade na circulação do ar. Na figura 10, 10.1, 10.2 a simulação de 36 anos futuros sem a preservação reflete em crescimento 1,8% Average Growth%.

Figura 10 crescimento, 10.1 crescimento concentrado, 10.2 imagem da tabela_ Tables  Fonte: autora

Figura 10.3 Gif imagem sem preservação das águas  Fonte: autora

A simulação do modelo com a devida preservação das nascentes, olho d’água e curso da mesma, identifica um crescimento urbano concentrado como processo espacial demográfico numa concentração urbana. Chamando atenção no desenvolvimento de habitações verticalizadas, como, por exemplo: a diminuição de exposição à luz solar; a maior dificuldade na circulação do ar. Na figura 11, 11.1, 11.2 a simulação de 36 anos futuros com a preservação reflete em crescimento 1,12% Average Growth%. O parâmetro na Lambda Ext ,value 2.

Figura 11 crescimento, 11.1 crescimento concentrado, 11.2 imagem da tabela_ Tables  Fonte: autora

Figura 11.3 Gif imagem Com preservação das águas  Fonte: autora

  1. Outputs, visibilidade e resumo da divulgação dos resultados

A simulação do modelo sem e com a devida preservação das nascentes, olho d’água e curso da mesma, obteve grau de crescimento em números de células, demostrando através da simulação que a preservação e o crescimento urbano  estão num processo espacial demográfico onde a preservação não atrapalha o crescimento e desenvolvimento urbano. Não resulta em prejuízo na urbanização e seu crescimento, a preservação das nascentes, olho d’água e curso das águas, representa o respeito com o meio ambiente no qual usufruímos dos recursos. A análise demonstra que a preservação garante uma qualidade de vida aos recursos do meio ambiente. A Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, denominado Código Florestal, estabelece que as nascentes, num raio de 50 metros, são áreas de preservação permanente. Dessa forma, as nascentes do País já se encontram legalmente protegidas. A conservação do solo na proteção de uma nascente e de suas margens evita a erosão hídrica. Existem várias técnicas para controlar a erosão hídrica, impedindo que enxurradas soterrem a nascente ou a exagerada compactação do solo impeça a infiltração da água.  O plantio de árvores e vegetação resulta na recuperação do solo, qualidade de vida ao desenvolvimento de habitações, a exposição à luz solar; a circulação do ar. Na figura 12 a simulação de 36 anos futuros com a preservação reflete em crescimento 1,95% Average Growth%.

O atual Código Florestal sugere acompanhar basicamente esse entendimento, mas promove uma distinção pouco clara entre nascente e olho d’água: Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por: XVII – nascente: afloramento natural do lençol freático que apresenta perenidade e dá início a um curso d’água; XVIII – olho d’água: afloramento natural do lençol freático, mesmo que intermitente. A seguir o Código determina: Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei: IV – as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros;¹

_1. LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012. Seção II,Do Regime de Proteção das Áreas de Preservação Permanente, Art. 7º e Código Florestal¬

Figura 12 Gif imagem Com preservação das águas  Fonte: autora

Foi deixado os inputs das estradas em vermelho forte, representado em roxo a malha urbana existente em 2021, em vermelho claro crescendo ao redor a simulação futura de 36 anos. Diante das necessidades urbanas, pode ser a adoção de APPs e a ela associada, todos esses aspectos considerados, como diretriz as seguintes orientações a serem adotadas e explicitadas claramente pelo Código Florestal:

– surgências do lençol freático originadas de ações antrópicas não devem ser consideradas nascentes a serem protegidas. A melhor indicação no caso estaria na estratégia de proteção dos aqüíferos subterrâneos com o tamponamento das referidas surgências; em Santiago refere-se ao aqüífero Guarani

– nascentes intermitentes deverão ser objeto de delimitação de APP correspondente quando situadas em regiões de clima semi-árido e com período de intermitência inferior a 2 (dois) anos;

– nascentes intermitentes situadas em espaço urbano deverão ser objeto de delimitação de APP correspondente caso apresentem período de intermitência inferior a 1 (um) ano;

– nascentes efêmeras não deverão ser objeto de delimitação de APP correspondente.

Considerações

O estudo na simulação do modelo no CityCell é baseada em autômatos celulares, que simula o desenvolvimento urbano no espaço e no tempo, para contribuir no planejamento e argumentação de projetos viáveis ao progresso urbanístico de modo qualitativo e quantitativo. No caso, desse estudo, os planos de bacia urbano, Planos Diretor, Lei Orgânica do município, deve ser elaborados em concordância com o plano estadual e estabelecer diretrizes para a implementação dos demais instrumentos de gestão, como outorga do direito de uso dos recursos hídricos, enquadramento dos corpos de água e cobrança. A ONU e a Agenda 2030, já alertam da preocupação de preservar a água, para saúde humana (física e mental). A contribuição, responsabilidade e a veracidade desse trabalho visa servir de base para mais estudos, não esgotando as inúmeras possibilidades que o modelo no CityCell pode simular.

Referências:

_¹ LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012. Seção II,Do Regime de Proteção das Áreas de Preservação Permanente, Art. 7º e Código Florestal­

ECHENIQUE, Marcial. Modelos matemáticos de la estructura espacial urbana, aplicaciones en América Latina. Buenos Aires: Ediciones SIAP/ Ediciones Nueva Visión, 1975.

INSTITUTO BRASILERO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). IBGE, 2021. Cidades. Disponível em:< https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rs/santiago/panorama/. Acesso em:27-abril-2022

LIU, Yan. Modelling Urban Development with Geographical Information Systems and Cellular Automata. Estados Unidos: Taylor & Francis Group, 2009.

SARAIVA, Marcus Vinicius Pereira; POLIDORI, Maurício Couto. CityCell: Urban Growth Simulator (software). LabUrb – Laboratório de Urbanismo da FAUrb. Pelotas: UFPel, 2015. Acesso em: 09-maio-2022

RIBEIRO, F. A física das cidades. Revista de Morfologia Urbana. Porto, Portugal. v. 1 n. 00159,2020.  http://revistademorfologiaurbana.org/index.php/rm. Acesso em: 16-set-2020

Open StreetMap, 2020. Disponível em: https://www.openstreetmap.org/. Acesso em: 30-Jul-2020

Google Maps, Google 2020. Disponível em: https://www.google.com/maps/. Acesso em: 05-Set-2020

SENAR, Proteção Nacional de Nascentes em :https://www.cnabrasil.org.br/projetos-e-programas/programa-especial-prote%C3%A7%C3%A3o-de-nascentes . Acesso em: 09-maio-2022

Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos, Publicação Ambiente Legal, 22/03/2021; 2016, Edição: Ana A. Alencar.

Simulação de impacto na malha urbana de Santiago/RS com a implantação de uma rodovia interligando a BR-377 e RSC-287

Por Gabriel Delpino da Silveira

Este trabalho tem como proposta a modelagem urbana através de simulações de crescimento na cidade de Santiago/RS por um sistema de autômatos celulares. Utilizando o programa CityCell é possível informar dados que possibilitem, previamente, a calibração do modelo e, em seguida, a experimentação de alternativas que alterem o crescimento da cidade, como influência de estradas, matas nativas, nascentes e outros elementos.

Modelagem Urbana

De acordo com Almeida (2003) “modelos são representações simplificadas da realidade”. A construção de modelos urbanos permite a simulação de estudos que propiciem e definam o planejamento de uma cidade. 

Existem quatro maneiras de classificar um modelo: descritivo, que busca compreender o funcionamento de um sistema real; exploratório, que possibilita a exploração de novos cenários a partir da descrição da realidade; preditivos, que incluem o tempo na simulação, explorando passado e futuro dinamicamente; e modelos operacionais, que servem preferencialmente aos planejadores urbanos, auxiliando nas escolhas dos agentes públicos de planejamento (ECHENIQUE, 1968). Este estudo aborda um modelo urbano descritivo, preditivo e exploratório.

Autômatos Celulares e CityCell

Segundo White et al (1997) autômatos celulares são sistemas espaciais e dinâmicos onde o estado de cada célula depende do estado das células vizinhas e seus conjuntos de regras de transição entre elas. O grid celular é esse espaço onde o autômato existe, por meio de um conjunto de células.

O programa CityCell – Urban Growth Simulator foi desenvolvido por Saraiva e Polidori (2014) e utiliza a base de grid celulares para o seu funcionamento. Ele fornece ferramentas básicas de geoprocessamento e dados necessários para a manipulação dos dados, visualização, análise e avaliação dos resultados gerados. Os atributos inseridos são divididos em três itens: atributos naturais, fatores do ambiente natural como sistemas de águas, cobertura do solo e fatores geomorfológicos; atributos urbanos, onde mostram o mapeamento do solo urbanizado; atributos institucionais, que possibilitam representar praticas de planejamento urbano, como leis e incentivos (POLIDORI, 2004).

A cidade de Santiago/RS

Localizada no estado do Rio Grande do Sul – Brasil, a cidade de Santiago se encontra na latitude de 29º Sul e longitude 54º Oeste, a 354 metros de altitude. Divide limites com os municípios de Unistalda, Nova Esperança do Sul e Capão do Cipó. É considerada uma cidade de baixo porte por conter 49.298 habitantes (atualizado em 2021) e uma média de 20,33 habitantes por quilometro quadrado (IBGE, 2022). Seus principais acessos se dão pelas rodovias BR-377 e RSC-287, onde a cidade se encontra próximo a intersecção de ambas.

Simulações do modelo através do CityCell

A primeira etapa para a realização deste trabalho ocorreu ao reunir todas as informações relevantes ao crescimento de Santiago e informá-las através de “inputs” no programa CityCell. Ao longo dos testes foi possível reconhecer aspectos que impactaram na transformação da malha urbana da cidade desde 1985 (ano escolhido para o início do estudo e para a etapa de calibração do modelo). 

Para reunir as imagens georreferenciadas foram utilizados dois programas-base: Global Mapper (GM) e Google Earth (GE). Com o GM foram baixadas imagens de satélites já georreferenciadas da cidade de Santiago/RS com qualidade de 10 metros, as linhas de drenagem, curvas de nível e bacias hidrográficas. Com o GE foram baixadas imagens de satélites que demonstravam a malha urbana em períodos diferentes, especificamente 1985 e 2021 (que futuramente foram utilizadas para a etapa calibração). As imagens do Google Earth precisaram ser georreferenciadas através de outro programa, neste caso foi utilizado o AutoCad com o plugin Raster Design para realizar o procedimento.

Tendo estas imagens, o próximo passo foi adicioná-las ao programa CityCell e informar ao sistema de células o que se via nas fotos. Com isso, os inputs realizados numa malha de 200x200m foram os seguintes:

Fig. 1 – Fundo com cores de 1 a 5 para o funcionamento do programa. Fig. 2 – Linhas de drenagem de água. Fig. 3 – Párea urbana da cidade em 2021. Fig. 4 – Párea urbana da cidade em 1985.

Fig. 5 – Malha viária em 1985 (rodovias e estradas de acesso a cidade). Fig. 6 – Malha viária em 2021 (rodovias e estradas de acesso a cidade). Fig. 7 – Resistência da topografia em dois níveis (1 e 2). Fig. 8 – Áreas militares

Fig. 9 – Intersecções nas rodovias de acesso a cidade. Fig. 10 – Corredor das tropas, via histórica de Santiago. Fig. 11 – Matas nativas. Fig. 12 – Rodovia nova (simulação de futuro)

Com a inserção destes inputs foi possível a realização da simulação de crescimento de Santiago. Começando pela etapa de calibração do modelo, alguns destes dados foram relevantes para a efetivação da calibração e, consequentemente, a utilização do sistema para futuras simulações.

Como regra de interação foi aplicada a “Threshold Potential”, ou potencial de crescimento limiar, e considerou os seguintes atributos e pesos: Fundo com peso 1, ambiental e resistência; linhas de drenagem com peso 1, ambiental e resistência; párea urbana de 1985 com peso 1, urbano e atração; malha viária de 1985 com peso 0.2, urbano e atração; resistência da topografia com peso 1, ambiental e resistência; áreas militares com peso 1, urbano, atração e congelamento de células ativo; intersecções nas rodovias com peso 0.8, urbano e atração; corredor das tropas com peso 0.8, urbano e atração; matas nativas com peso 1, ambiental e resistência. Foram realizadas 36 iterações (anos entre 1985 e 2021) para buscar o melhor resultado próximo a párea urbana de 2021.

Na figura a seguir consta o resultado na última iteração em comparação com a párea urbana de 2021. É possível observar que a calibração acertou nas áreas centrais porém ocorreram alguns erros nos extremos da párea urbana. O falta de acerto mais considerável está localizada na área nordeste do modelo, onde não foi possível replicar o crescimento urbano totalmente.

Fig. 13 – Em marrom claro párea urbana existente. Em marrom escuro párea urbana gerada pelo sistema

Quando comparado utilizando a opção “Fuzzy Comparision” que determina as porcentagens de acerto em 3 níveis diferentes, os resultados são os seguintes: Coincidência total com 50% de acertos e coincidência com 200m (1 célula) de erro com 70% de acertos. Para princípios de calibração, a segunda opção (com 70% de acerto) foi considerada.

Fig. 14 – Coincidência Total Fig. 15 – Coincidência com 200m de acerto

Fig. 16 – GIF coincidência com 200m de acerto

Com o modelo devidamente calibrado, foi possível prever o crescimento urbano de Santiago até 2057, através da regra “Threshold Potential” e utilizando os seguintes atributos e pesos: Fundo com peso 1, ambiental e resistência; linhas de drenagem com peso 1, ambiental e resistência; párea urbana de 2021 com peso 1, urbano e atração; malha viária de 2021 com peso 0.2, urbano e atração; resistência da topografia com peso 1, ambiental e resistência; áreas militares com peso 1, urbano, atração e congelamento de células ativo; intersecções nas rodovias com peso 0.8, urbano e atração; corredor das tropas com peso 0.8, urbano e atração; matas nativas com peso 1, ambiental e resistência. Foram realizadas 36 iterações (anos entre 2021 e 2057).

Fig. 17 – GIF de crescimento urbano entre 2021 e 2057. Em vermelho – rodovias existentes. Em marrom claro – párea urbana existente. Em marrom escuro – futura expansão da párea urbana.

Iniciando a etapa de simulação de transformações na párea urbana com a adição de outros atributos, foi pensado na possibilidade de união de duas rodovias importantes (BR-377 e RSC-287) através de uma nova rodovia na parte sul de Santiago. O processo foi o mesmo utilizado anteriormente, apenas com a adição do atributo “estrada nova” com peso 1, urbano e atração. A imagem a seguir demonstra o impacto que se obteve:

Fig. 18 – GIF crescimento urbano com nova rodovia com peso 1

Logo após foi simulado a possibilidade deste rodovia com peso ainda maior (4) para entender se o impacto seria mais significativo. A principio de entendimento, o peso 4 significa uma  estrada com excelente infraestrutura, o que atrairia o crescimento populacional para aquela área, como incentivos financeiros, grande oferta de loteamentos, dentre outros.

Fig. 19 – GIF crescimento urbano com nova rodovia com peso 4

Fig. 20 – Nova rodovia peso 1. Fig. 21 – Nova rodovia peso 4

Considerações finais

O presente trabalho teve como objetivo testar, simular e experimentar diferentes possibilidades de crescimento para a cidade de Santiago/RS através de modelagem computacional por autômatos celulares. A calibragem do modelo demonstrou diversos aspectos importantes que impactaram na malha urbana atual da cidade, atributos como as rodovias, áreas militares e intersecções das rodovias foram de suma importância para o crescimento da cidade entre 1985 e 2021 e, possivelmente, seguirão sendo elementos estruturadores da malha futuramente.

A expansão da malha ocorreu na borda da rodovia RSC-287 e há grande probabilidade da cidade seguir expandindo suas bordas até ocupar as margens das rodovias. Na área nordeste onde a etapa de calibragem não foi atingida, não foi possível buscar algum atributo que simulasse a expansão naquela direção.

Com a construção de uma rodovia que interliga a BR-377 e RSC-287 no setor sul da cidade, foi possível determinar algumas hipóteses: uma simples rodovia que não conecta na cidade, mas sim está ao redor dela, pode não ser capaz de transformar significativamente a malha urbana, apenas se essa rodovia contar com grande infraestrutura capaz de atrair a população, como a construção de  importantes equipamentos urbanos, iniciativas e incentivos municipais, oferta de lotes, dentre outros. 

Referências

ALMEIDA, C. M. D. Modelagem da dinâmica espacial como uma ferramenta auxiliar ao planejamento: simulação de mudanças de uso da terra em áreas urbanas para as cidades de Bauru e Piracicaba (SP), Brasil. Tese de Doutorado INPE. São José dos Campos, p. 351. 2003.

ECHENIQUE, M. Models: a discussion. Land Use and Built Form Studies, Cambridge, 1968.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). IBGE, 2022. Cidades. Disponível em:< https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/rs/santiago.html >. Acesso em: 14 de maio de 2022

POLIDORI, M. C. Crescimento urbano e ambiente: um estudo exploratório sobre as transformações e o futuro da cidade. Tese de Doutorado UFRGS PPGECO. [S.l.]. 2004.

SARAIVA, Marcus Vinicius Pereira; POLIDORI, Maurício Couto. CityCell: Urban Growth Simulator (software). LabUrb – Laboratório de Urbanismo da FAUrb. Pelotas: UFPel, 2015.

SARAIVA, Marcus V. P. Simulação de crescimento urbano em espaços celulares com uma medida de acessibilidade: método e estudo de caso em cidades do sul do Rio Grande do Sul. 2013. 99f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós- Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. 

WHITE, R.; ENGELEN, G.; ULJEE, I. The use of constrained cellular automata for
high-resolution modelling of urban land-use dynamics. Environment and Planning
B: Planning and Design, 24, n. 3, 1997. 323-343. 

Modelagem Urbana: crescimento da cidade de Herval/RS

Por: Mônica Machado dos Santos

O presente trabalho aborda o assunto de modelagem urbana por meio de autômatos celulares para a simulação de crescimento urbano. Propõe-se a analisar as variáveis ambientais e urbanas que influenciam no desenvolvimento de uma cidade como estudo de caso. Também simula o crescimento futuro a partir do modelo calibrado e de experimentação de outras alternativas. O estudo permite visualizar e analisar prováveis evoluções urbanas a partir de aspectos morfológicos e da acessibilidade. A cidade escolhida para o estudo foi Herval no Rio Grande do Sul, próximo à fronteira com o Uruguai. Será abordada a influência de fatores como topografia, matas nativas e a BR de acesso à cidade no desenvolvimento horizontal urbano.

Modelagem urbana

Modelos urbanos são representações simplificadas de uma cidade concebida como um sistema. A construção dos modelos possibilita que planejadores urbanos manipulem seus objetos de estudos, permitindo compreender, explicar e experimentar possíveis cenários. Os modelos podem ser classificados de acordo com a finalidade em descritivo, preditivo, exploratório ou de planejamento. O modelo descritivo busca compreender a realidade ou um fenômeno, sendo primordial às outras finalidades. A função preditiva busca uma configuração futura, ou seja, previsões. Enquanto que o modo exploratório, realiza experimentos, buscando possibilidades. Já o modelo de planejamento tem em vista metas fixadas de planejamento.  Os modelos também podem ser classificados de acordo com o modo em que são concebidos em físico (projetos de arquitetos, desenhos e planificações), conceitual (centrado nas relações entre os componentes, ilustrados em diagramas ou expressão verbal) ou matemático (aplicado na modelagem urbana). Em relação ao tempo, podem ser estáticos ou dinâmicos. (ECHENIQUE, 1975; LIU, 2009). O presente estudo utiliza-se de modelagem matemática e possui abordagem descritiva, preditiva e exploratória, em tempo dinâmico.

 Autômatos celulares e o programa CityCell

Echenique (1975) indica que para trabalhar com um modelo matemático é necessário ter um objeto de estudo, uma intenção, um processo de observação e abstração, tradução para os meios de representação, verificação e obtenção de conclusões. Para a simulação do crescimento urbano utilizou-se o software CityCell – Urban Growth Simulator, desenvolvido por Saraiva e Polidori (2014). O programa foi concebido com base no modelo de autômatos celulares que consiste em um modelo matemático que simula o desenvolvimento urbano no espaço e no tempo. Trata-se de uma simplificação da realidade, composta por principais características eleitas pelo observador. O modelo de autômato celular pode ser construído a partir de simples células e por regras de transições implementadas no modelo que exercendo a auto organização e reproduzindo padrões semelhantes, permite expressar o complexo desenvolvimento urbano ao longo do tempo, em um espaço celular. Autômato celular é uma entidade que possui características próprias espaciais e mecanismos para processar suas características próprias e as externas. Os autômatos individuais são arranjados em um espaço regular tesselado, o grid (LIU, 2009).

O uso da plataforma CityCell implica em três etapas. Inicialmente inserem-se as variáveis consideradas relevantes para o estudo, traduzindo-as para a linguagem da plataforma. Essa etapa consiste na entrada de dados, os chamados inputs. As variáveis adicionadas, também chamados de atributos, recebem um parâmetro, ou seja, um valor relacionado ao seu peso de interação. A segunda etapa consiste no processamento. No grid do CityCell as células dos atributos interagem entre si a partir de tensões de atração ou resistência à urbanização, geradas pelos atributos. O acúmulo dessas tensões provoca diferenças de centralidade, que indicam o potencial de mudança de estado da célula. A mudança de estado da célula promove o crescimento urbano. A última etapa constitui na obtenção e análise dos resultados, os outputs (BAUMBACH, 2020).

A cidade de Herval

Utilizando-se de modelagem urbana realizou-se um estudo de crescimento horizontal do município de Herval. Localizado no estado do Rio Grande do Sul, na latitude de 32° Sul e longitude 53° Oeste. Limita-se com a cidade uruguaia Melo e outras cidade brasileiras, como Pedras Altas, Arroio Grande e Jaguarão. Consiste em uma cidade de pequeno porte com 6972 habitantes, conforme censo demográfico de 2010 (IBGE, 2021). Possui topografia irregular, seu principal acesso ocorre por meio da BR 473 e seu nome é originado da existência de ervais nativos na região.

Simulação do modelo no CityCell

O CityCell apresenta um plano de trabalho com células quadradas dispostas em um grid. Para este estudo configurou-se a dimensão da célula em 100 metros e utilizou-se referência geográfica em Projeção UTM, zona 22, hemisfério Sul. Os inputs, ou dados de entrada, foram modelados com base em imagens de satélite e em antigos desenhos urbanos. Observaram-se inicialmente os seguintes atributos urbanos como importantes para o desenvolvimento do estudo: BR 473 (principal acesso à cidade), estradas de acessos, configuração urbana de 2019, 1977 e 1898 e os naturais: altitudes, matas nativas e cursos d’águas, além de um atributo de aleatoriedade.

Figura 1: Inputs. a) topografia em escala de 1 a 5. b) matas nativas (verde) e cursos d’água (azul). c) configurações urbanas (amarelo), acessos (laranja) e BR (marrom). Fonte: autora

Na figura 1a é apresentada a topografia, sendo legendada em quatro níveis. O número 1 representa o nível mais baixo e o 5, o morro, ainda não ocupado pela urbanização. A ocupação urbana encontra-se nas zonas numeradas por 4 e 3. Essas foram as zonas adotadas como mais favorável ao crescimento urbano para esse estudo. A mata nativa e os cursos d’água estão representados, respectivamente, em verde e azul na figura 1b. Os atributos urbanos estão apresentados na figura 1c. Em tons de amarelo encontram-se as configurações urbanas de 2019 (mais claro), 1977 e 1898 (mais escuro). A BR encontra-se na cor marrom e os demais acessos em laranja. Os atributos naturais foram considerados como resistência e os urbanos como atração ao crescimento.

Em seguida, iniciou-se o processo de calibração do modelo. Esse procedimento visa encontrar valores, aplicados aos atributos, que definam a magnitude das relações entre as células, visando uma configuração próxima à realidade. Utilizando a regra de interação “Threshold Potencial”, ou potencial de crescimento limiar, realizou-se uma série de processos de quarenta interações buscando um resultado próximo à configuração urbana de 2019. Considerou-se a configuração urbana de 1977 com valor 1; atração de 0,3 para a BR; 0,1 para os demais acessos; valores de resistência para altitudes de 0,3 a 1 e com valor igual a 1 para os demais atributos (matas nativas, cursos d’água e aleatório). Nessa simulação inicial observou-se um crescimento maior que o esperado e principalmente exagerado nos pontos circulados em vermelho na figura 2. Nessa figura representa-se em verde a configuração da cidade de 2019 (alvo da simulação) e em marrom, a evolução urbana resultante da simulação.

Figura 2: Herval em 2019 e simulação 1. Fonte: autora

Figura 3: topografia favorável ao crescimento. Fonte: autora

 

 

 

 

 

 

 

Identifica-se, observando a figura 3 que as regiões em que houve maior crescimento em relação ao alvo adotado encontram-se nas altitudes mais favoráveis ao desenvolvimento (representadas nas cores laranja e roxo). Na figura 3 também estão representadas, em amarelo, as configurações urbanas de 1977 e 2019. Nas simulações seguintes variou-se os valores de resistência de acordo com os níveis de topografia, buscando conter o avanço nos pontos identificados anteriormente.

Figura 4: simulação com valores de 1 a 1,9 para topografia. Fonte: autora

Figura 5: simulação com valores de 1 a 4 para topografia. Fonte: autora

 

 

 

 

 

 

 Na simulação da figura 4 foram utilizados parâmetros de 1,5 a 1,9, para a topografia em escala de mais a menos favorável. Enquanto que na simulação da figura 5 adotou-se valores com maior intervalo, tais como: 1; 3; 3,5 e 4. Em ambos casos persistiu o crescimento nos pontos circulados em vermelho. Em outra tentativa de calibrar o modelo, optou-se por considerar também o princípio de cidade, configuração urbana de 1898, utilizando os demais parâmetros da simulação da figura 4.

Figura 6: simulação considerando o princípio da cidade. Fonte: autora

Observa-se na figura 6 que a alternativa gerou um desenvolvimento mais centralizado e mais distante do crescimento real em relação às simulações anteriores. A alternativa de considerar a configuração urbana de 1898 como atributo com valor de atração igual a um não se mostrou colaborativa com a calibragem, sendo desconsiderada para as simulações seguintes. Diante das dificuldades encontradas para calibrar o modelo com os atributos considerados inicialmente, optou-se pelo acréscimo da variável declividades como um novo atributo com duas classificações: mais (representada na cor vermelha) ou menos favorável (cor azul) ao desenvolvimento urbano, como pode ser observado na figura 7.

Figura 7: atributo declividades: favorável (vermelho) e desfavorável (azul). Fonte: autora

Figura 8: simulação considerando o atributo declividades com peso igual a um. Fonte: autora

 

 

 

 

 

 

 

Inicialmente o atributo declividades considerado com peso igual a um, não demonstrou um bom resultado como pode ser observado na figura 8. Entretanto, quando se utilizou valores maiores obteve-se simulações de crescimento mais próximos ao real. Para melhor controle do crescimento urbano durante o período escolhido alterou-se a configuração de lambida externo de 2 para 3. A seguir é apresentado o resultado mais satisfatório de calibração. Nessa configuração utilizou-se valor de resistência igual a 4 para o atributo de declividades; 0,3 a 1 para topografia; 0,40 para a BR; 0,1 para as estradas de acesso e um para os demais atributos ambientais e o aleatório.

Figura 9: modelo calibrado. Fonte: autora

Observa-se na figura 9 que houve menor desenvolvimento nas áreas côncavas, que apresentavam crescimento excessivo nas simulações anteriores. Em todas simulações realizadas, há duas regiões em que não se atingiu o crescimento, demarcadas pelas circunferências em branco nessa figura do modelo calibrado. Sobre esse fato, constatou-se que não haviam indícios de urbanização nesses pontos, dificultando que a simulação contemplasse esses crescimentos. A calibragem apresentou bom resultado para a precisão de 200 metros.

Figura 10: acertos com precisão de 100 e 200 metros. Fonte: autora

Figura 11: total de células alcançadas com precisão de 200 metros. Fonte: autora

A figura 10 apresenta na cor verde escuro os acertos com precisão de 100 metros, em verde claro, os acertos com precisão de 200 metros. Na figura 11, apresenta-se em verde, o total de células alcançadas com precisão de 200 metros e na cor rosa, em ambas figuras, as células que não foram alcançados na simulação. A partir do modelo calibrado e da configuração de 2019, simulou-se o possível crescimento futuro de Herval.

Figura 12: crescimento urbano futuro. Fonte: autora

Observa-se na figura 12, em marrom a configuração urbana e em verde, a mata nativa. A simulação demonstrou uma tendência em ocupar as áreas de matas nativas, principalmente nas áreas côncavas. O desenvolvimento se dá de modo distribuído nas bordas, mas com maior ocupação nas proximidades da BR, caracterizando-se como uma potente ferramenta de acessibilidade. Há uma exceção no crescimento nas regiões mais ao norte (localizada na região superior da figura). Ressalta-se que há maiores limitações nesses locais devido ao conjunto de características naturais e baixa atração. Em seguida simulou-se a hipótese de ter uma nova ocupação, tangente a um atributo de atração, a BR. Optou-se por um local que não possui mata nativa e que apresenta menor declividade, localizada na figura 13 pela circunferência em branco e na cor laranja, na figura 14, apresentando o resultado da simulação.

Figura 13: escolha do local para hipótese de nova ocupação. Fonte: autora

Figura 14: simulação da hipótese. Fonte: autora

Na figura 13 representa-se em vermelho as áreas com menor declividade e em verde, as matas nativas. A evolução urbana com base nessa hipótese, demonstrada na cor marrom na figura 14, apresentou semelhanças com o modelo de crescimento anterior, ocupando áreas côncavas e de mata nativa e com desenvolvimento distribuído pelas bordas. Entretanto, como esperado, apresentou maior desenvolvimento próximo a BR e a nova ocupação, reduzindo o crescimento na área mais ao sul, abaixo na figura. Considerando a tendência de crescimento sobre áreas de mata nativa e a observação de que a cidade de Herval parece respeitar essas áreas ambientais, simulou-se também a hipótese de evolução urbana sem interferir nessas áreas. Para isso utilizou-se da ferramenta freezing, não permitindo o avanço urbano sobre as matas.

Figura 15: simulação da hipótese preservando as matas nativas. Fonte: autora

Observa-se na figura 15 que o desenvolvimento urbano atingiu distâncias maiores em relação aos casos anteriores, devido a necessidade de desviar as matas. A ocupação urbana atingiu os limites com as áreas verdes, provocando inclusive o isolamento de uma área em meio ao atributo urbano (representado em marrom na figura). Essa área verde “isolada” possui potencial para implantação de um parque, diante das observações realizadas no estudo.

Considerações

Esse estudo simulou possíveis crescimentos urbanos na cidade de Herval/RS, por meio de modelagem computacional baseada em autômatos celulares. O processo de simulação permitiu analisar hipóteses de crescimento, relacionando-as com aspectos morfológicos e de acessibilidade. A calibragem demonstrou que provavelmente a topografia não é um fator limitante ao crescimento horizontal urbano. Assim como o princípio de cidade não consiste em um fator de atração ao desenvolvimento. Os atributos vegetação e declividades, variáveis ambientais, apresentaram relevante influência no desenvolvimento urbano.

A expansão urbana de Herval contemplou a ocupação de áreas convexas e evitou bordas côncavas. Possivelmente as áreas convexas, ocupadas na configuração urbana de 2019 e que não se atingiu na etapa de calibragem, estejam em áreas desmatadas nos últimos anos. Também encontrou-se dificuldade em conter o avanço sobre áreas côncavas, o que só foi possível quando se restringiu o crescimento sobre as áreas de matas nativas.

A evolução urbana de Herval parece respeitar os elementos naturais, como as matas nativas, mas há uma tendência em ocupá-las. A simulação de possíveis cenários demonstrou uma forte probabilidade de ocupar áreas contíguas, inclusive sobre recursos naturais, apontando a fragilidade das áreas ambientais. Esse indicativo aponta para a necessidade de proteção a essas áreas, se for desejável preservá-las.

A variável urbana BR apresentou relevante influência no desenvolvimento da cidade, enquanto que os demais acessos não resultaram em novas ocupações em suas proximidades. Identifica-se que a existência dessa infraestrutura representa maior propensão a expandir e formar novas ocupações próximas, evidenciando o impacto da acessibilidade no crescimento urbano. A inserção de uma nova ocupação próxima a BR potencializou o efeito da acessibilidade. Para a cidade estudada constatou-se a relevância de aspectos naturais, que requerem mais atenção, e da acessibilidade, que pode ser mais estudado em outros trabalhos, no desenvolvimento urbano.

Referências:

BAUMBACH, Flávio Almansa. Simulações de crescimento urbano em planícies de inundação nas cidades de fronteira entre Brasil e Uruguai. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2019.

ECHENIQUE, Marcial. Modelos matemáticos de la estructura espacial urbana, aplicaciones en América Latina. Buenos Aires: Ediciones SIAP/ Ediciones Nueva Visión, 1975.

INSTITUTO BRASILERO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). IBGE, 2021. Cidades. Disponível em:< https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rs/herval/panorama>. Acesso em: 15 de maio de 2021

LIU, Yan. Modelling Urban Development with Geographical Information Systems and Cellular Automata. Estados Unidos: Taylor & Francis Group, 2009.

SARAIVA, Marcus Vinicius Pereira; POLIDORI, Maurício Couto. CityCell: Urban Growth Simulator (software). LabUrb – Laboratório de Urbanismo da FAUrb. Pelotas: UFPel, 2015.

POSSIBILIDADE DE EXPANSÃO DA CIDADE DE HERVAL: relações cidade atual e possibilidade de um novo núcleo urbano

Por: Paula Pedreira Del Fiol

Introdução

O presente trabalho apresenta uma discussão sobre o crescimento urbano da cidade de Herval, situada no Rio Grande do Sul. Produzida afim de fomentar a discussão sobre o assunto na disciplina Oficina de Modelagem Urbana 2 do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas, em 2021/01. A disciplina teve como objetivo conhecer os princípios da modelagem urbana, a partir de experiências práticas com modelos reais, e ainda discutir como seriam crescimentos futuros para a cidade de Herval.

Modelagem urbana é o método que replica cidades existentes em meio virtual, fazendo experimentos para entender os comportamentos das cidades. Para esse estudo, foi usado o programa CityCell, que funciona através de autômatos celulares. Que se dá pelo processo de crescimento da cidade através do estado de vizinhança, crescendo a partir de células vizinhas.

A partir disso, foi selecionado o município de Herval, situada próxima a fronteira sul do Rio Grande do Sul, possuindo um território de 1.759,717km² e com população estimada em 6.814 pessoas em toda a extensão do seu território (IBGE, 2020). Porém, a cidade é de pequeno porte, e com isso se deu uma análise de para onde a cidade poderia crescer nos próximos anos, a partir de sua área urbanizada. Fazendo simulações de diferentes situações de como a cidade poderia crescer, e nesse trabalho abordam-se essas propostas. 

Citycell

Saraiva (2013) propõe um programa que trabalhe com um grid bidimensional que se repete em células quadradas. O modelo permite a inclusão livre de atributos, dependendo da necessidade do operador, que podem ser urbanos, naturais ou institucionais, e para esses três atributos pode-se atribuir atração ou resistência a urbanização. Além disso, os atributos podem ser mutable ou freezing, que estabelecem, respectivamente, caráter de ser modificados e removidos ou permanecerem fixos.

É importante ressaltar que o número de atributos, chamado no programa de input, é definido por quem está coordenando o programa, e depende da necessidade. Considerando quais as importâncias de cada atributo para cada caso, ainda quais informações são passiveis de serem levantadas. Modificando o conceito de autômatos celulares clássicos, de modo que cada célula pode ser diferenciada e ainda com níveis de intensidade diferentes, representando atração ou repulsão para as células vizinhas.

Cidade do Herval

Inicialmente, se faz uma calibração do modelo adotado, para que se possa obter um resultado satisfatório para a simulação. Esse processo se dá por meio de encontrar uma lógica para o crescimento da cidade até os dias atuais no modelo. E para isso se faz necessário buscar documentos, como cartas geográficas, imagens de satélite, entre outros, que mostrem como a cidade era no passado. E assim, é possível simular um crescimento urbano para a cidade, fazendo a calibração do modelo.

O processo foi feito com base em um mapa da cidade de 1977, cedido pela Prefeitura Municipal de Herval, georreferenciado, e com uma imagem de satélite de 2019, também georreferenciada. A simulação foi feita considerando 40 interações, que como resultado dá em média o mesmo tempo transcorrido.

Para a calibração foram usados alguns inputs, escolhidos conforme a necessidade, que ao longo do processo de calibração foram trocados, até que o crescimento da cidade ficasse ajustado ao processo de crescimento real da cidade atual. Também se fez necessário o ajuste de qual nível de intensidade era necessário para cada input.

Primeiramente, se deu o processo de entender como foi o crescimento da cidade, para que então fosse possível adicionar os inputs. Assim, se dá início ao processo com os inputs: de altitude MapBiomas (2019), diferenciados por níveis, vegetação de 1985 MapBiomas (2019), nascentes de rios MapBiomas (2019), cidade de 1977, BR437, e algumas estradas secundárias, todas retiradas de imagens de satélite. Para esse primeiro ensaio, foi usado todos inputs com o mesmo peso, dando um resultado muito diferente do que aconteceu na realidade.

Figura 01: primeiro teste de calibragem, onde a cor amarela representa a cidade existente em 2019, e a cor vermelha representa a tentativa de alcançar a calibragem do modelo.

Foram feitas algumas alterações, chegando a uma simulação, mas aproximado, dando poucas diferenças do modelo para a cidade existente. Com os mesmos inputs da primeira calibração, adicionando apenas o input de declividades, e ajustando as intensidades. Para entender como esse processo estava acontecendo, foi usado o recurso do programa Fuzzy R2, onde, em uma escala de 100m, ele explica quais as aproximações entre o modelo e a cidade real. E, chegou-se a uma simulação onde quase não aparecem erros, como mostra a figura 02.

Figura 02: Fuzzy R2, onde as células rosas são erros do modelo, as verdes escuras são acertos, e os verdes intermediários são acertos parciais.

Com isso se viu a necessidade de um último ajuste até que a simulação ficasse condizente com a realidade. Para isso, foi adicionado o input matas nativas, pois, segundo o arquiteto da Prefeitura Municipal de Herval, as áreas, que estavam acontecendo os erros, haviam sido feitas de maneira irregular onde aconteceram desmatamentos no passado. E assim, chegou-se a um resultado satisfatório, como mostra a figura 03, onde diminuem, drasticamente, as células de erros do modelo.

Figura 03: Fuzzy R2, onde as células rosas são erros do modelo, as verdes escuras são acertos, e os verdes intermediários são acertos parciais.

Proposta de crescimento futuro da cidade – tendencial

Com a calibração do modelo pronta, foi possível propor um crescimento futuro para a cidade. Para isso, se fizeram necessárias algumas análises, entendendo quais os possíveis locais a serem estabelecidos novos loteamentos. Chegando-se à conclusão de que os locais mais prováveis, seria próximo a BR437, e no sentido sul da cidade, também próximo a uma rodovia. Então foi escolhida a segunda alternativa.

Foram feitas três propostas diferentes, alterando apenas as camadas para freezing ou mutable. E com essas propostas foram feitos debates os quais são apresentados a seguir, junto a apresentação das propostas.

Primeiramente, se deu a proposta com todos inputs em mutable, que considera que a cidade pode se alastrar por onde quiser, sem impedimentos. Abrindo precedentes para que a cidade se alastre a cima de leitos de rios, e permitindo o desmatamento de matas nativas.

O crescimento da cidade, nessa proposta, se dá a partir dos núcleos assumindo que a cidade tem poucas chances de se encontrar, em um crescimento em torno de 40 anos, com a nova proposta de loteamento, como aparece na Figura 04.

Figura 04: GIF do crescimento da cidade (em marrom escuro), com inputs mutable, levando em consideração a cidade de 2019 (em amarelo), as nascentes de rios (em azul), a nova proposta (em rosa) e os acessos a cidade (em laranja).

Depois, se deu uma proposta com o input de matavas nativas freezing, estabelecendo que a cidade não poderia crescer por cima das matas nativas. Com esse parâmetro, a Prefeitura Municipal de Herval precisaria estabelecer alguns meios de proteção ambiental, dizendo que a cidade não poderia crescer nesses locais, e prever atividades de preservação para esses locais.

Nessa proposta, a cidade tende a se encontrar, crescendo a partir dos núcleos, porém o núcleo existente atualmente cresce em relação a nova proposta, com grandes chances de se tornar uma única cidade em torno de 40 anos, como aparece na Figura 05.

Figura 05: GIF do crescimento da cidade (em marrom escuro), com input matas nativas (em verde) freezing, levando em consideração a cidade de 2019 (em amarelo), as nascentes de rios (em azul), a nova proposta (em rosa) e os acessos a cidade (em laranja).

A última proposta foi feita com os inputs matas nativas e nascentes de rios freezing, estabelecendo que a cidade não poderia crescer por cima das matas nativas e nem das nascentes de rios. Com esse parâmetro, a Prefeitura Municipal de Herval precisaria estabelecer alguns meios de proteção ambiental, dizendo que a cidade não poderia crescer nesses locais, e prever atividades de preservação para esses locais.

Nessa proposta, a cidade tem um crescimento similar a proposta anterior, também crescendo a partir dos núcleos e em direção ao novo núcleo proposto. Porém a cidade se alastra mais pelas bordas, desviando das nascentes de rios e das matas nativas, como mostra a figura 06.

Figura 06: GIF do crescimento da cidade (em marrom escuro), com os inputs matas nativas (em verde) e nascentes de rios (em azul) freezing, levando em consideração a cidade de 2019 (em amarelo), a nova proposta (em rosa) e os acessos a cidade (em laranja).

Considerações Finais

Com esse trabalho, podemos analisar a fragilidade das zonas urbanizadas na borda da cidade de Herval. A simulação apresentou erros nessas áreas, e se deu a necessidade de adicionar áreas de desmatamento nesses locais, para que a simulação conseguisse acertar todas as áreas urbanizadas da cidade.

As estradas apresentaram uma tendência de urbanização ao longo do processo de simulação. Por vezes, foi necessário a diminuição do peso de calibragem sobre elas, para que não puxassem a cidade para os seus extremos, de modo a mudar a configuração da cidade.

Podemos concluir também, que a cidade crescerá conforme incentivos da Prefeitura Municipal de Herval. O que se apresenta nesse trabalho como discussão é a preservação ou não de matas nativas e nascentes de rios, modificando, claramente, os desenhos das bordas da cidade a partir de cada proposta apresentada.

Referências

IBGE. http://www.ibge.gov.br. Acesso em 2021.

MAPBIOMAS. https://mapbiomas.org/. Acesso em 2021.

SARAIVA, Marcus. Simulação de crescimento urbano em espaços celulares com uma medida de acessibilidade: método e estudo de caso em cidades do sul do Rio Grande do Sul. 2013. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2013.

HERVAL, UMA CIDADE FRACTAL? A INVISIBILIDADE DA REGIÃO DE HERVAL PERANTE OS POLOS E A GEOMETRIA DOS ACESSOS

Publicado por Bianca Ramires Soares

Introdução

 Este artigo pretende contar brevemente a tentativa de estudar a propriedade fractal dos acessos uma cidade. Sabendo que na história dos estudos sobre modelagem urbana, a geometria fractal para a reprodução, fragmentação e análise do espaço urbano foi amplamente desenvolvida por diversos pesquisadores. Buscando encontrar a lógica de origem da reprodutibilidade e escalonamento na forma urbana, procurou-se perseguir a inquietação inicial de entender esses processos após o contato com este conteúdo através das ferramentas expostas na disciplina. Nesse sentido, o conteúdo desenvolvido ao longo da disciplina Oficina de Modelagem Urbana II, serviu de largada nesta busca. A cidade proposta para o trabalho da disciplina, extraordinariamente em formato digital, foi a cidade de Herval, localizada a certa proximidade do extremo sul do Brasil.

O artigo, pretende também mostrar o desenvolvimento de um estudo baseado na tentativa de demonstrar a invisibilidade da cidade de Herval em relação aos polos de maior proximidade da região que possuem, por sua vez, uma maior atração e conexão dentro das vias que interligam umas porções do estado do Rio Grande do Sul às outras. Partindo do princípio dos tópicos fixados para a busca, dimensão fractal e invisibilidade, surge a tentativa de entender as vias de ligação a cidade em relação ao seu tecido urbano reticular homogêneo existente na primeira ocupação do território como área urbanizada. Este estudo percorre e remonta os caminhos seguidos pela urbanização local para entender o objeto de estudo.

A modelagem, nesse sentido, tenta avançar na questão do entendimento e tentativa de visualização da configuração geométrica dentro da forma urbana da cidade escolhida. Dito isto, por ser Herval uma cidade de pequeno porte com características majoritariamente rurais e por possuir uma centralidade urbana e rodeada de uma imensidão de grandes áreas rurais como entorno direto ao perímetro urbano, as vias que ligam todas as adjacências à cidade são de grande importância. Estas vias servem como eixos ao perímetro urbano, ligando a cidade com as demais localidades e vias de maior escala, o tecido de ligação à cidade tem características orgânicas. Não ser uma metrópole, neste caso, possibilitou o estudo mais amplo das áreas adjacentes de conexão ao município dentro do tempo proposto para o trabalho.

Figura 01 – Área Urbanizada de Herval. Fonte: da autora.

O município de Herval, como dito anteriormente possui uma área urbanizada diminuta, caracterizando a cidade de pequeno porte. A cidade de Herval em sua dimensão urbana possui um caráter reticular homogêneo que marca o contexto da primeira ocupação urbana do território deste município, desse modo, podemos observar a mudança na ocupação do solo com a evolução do tempo.

Geometria do Fractal

Inicialmente a geometria resultante do tecido urbano Herval com as vias de conexão ao redor parece descrever uma forma resultante complexa. De acordo com os aspectos da geometria fractal, descritos inicialmente por Mandelbrot (1982) onde o mesmo mostra um estudo referente à física de uma reprodutibilidade própria de características orgânicas e presentes na natureza. Ao tentar observar padrões de reprodutibilidade e escalonamento, os aspectos geométricos de elementos presentes na natureza descrevem uma lógica proporcional. Um bom exemplo de lógica proporcional para descrever um padrão é o valor da proporção áurea. Fazendo uma analogia, a escala logarítmica que compõe a descrição de um padrão que pode ser reproduzido e escalonado.

Apresentação da região – Modelagem do Rio Grande do Sul

 Com a proposta da disciplina de utilizar o software Urban Metrics, foi utilizada inicialmente a base de dados sobre as vias do estado produzidas e disponibilizadas pela FEPAM.

Figura 02 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul. Fonte: Dados originais, Shapefile da FEPAM, Rio Grande do Sul.

Apresentação da modelagem de Herval com polos definidos – Rio Grande e Bagé

Figura 03 – Recorte da porção do território para estudo 01. Rede Viária do Rio Grande do Sul. Fonte: Dados originais, Shapefile da FEPAM, Rio Grande do Sul.

Figura 04 – Recorte da porção do território para estudo 02 e 03. Rede Viária do Rio Grande do Sul. Fonte: Dados originais, Shapefile da FEPAM, Rio Grande do Sul.

Figura 05 – Recorte da porção do território para estudo 02 e 03. Rede Viária do Rio Grande do Sul. Fonte: Dados originais, Shapefile da FEPAM, Rio Grande do Sul.

Caracterização da Região – Modelagem do Rio Grande do Sul (Urban Metrics)

 As figuras 06, 07, 08 e 09, apresentam a modelagem em variadas escalas de representação do território, com a intenção de observar uma unidade dentro da fragmentação, e desse modo tentando encontrar o que poderia ser uma unidade física de fractal no tecido das vias do estado do rio grande do sul. Inicialmente foi caracterizado um espaço maior do território que se estende ao máximo número de polos possíveis dentro de um limite retangular como descrito no margem para a observação do fractal, de acordo com Benguigui, (2000)  descrito como caracterização,

A Centralidade na Região de Herval

Figura 06 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul, centralidade topológica. Fonte: elaborado pela autora.

Figura 07 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul, recorte, centralidade. Fonte: elaborado pela autora.

Figura 08 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul, recorte, centralidade. Fonte: elaborado pela autora.

Figura 09 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul, recorte, centralidade. Fonte: elaborado pela autora.

Figura 10 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul. Recorte, centralidade. Fonte: elaborado pela autora.

Figura 11 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul. Centralidade, topológica. Fonte: elaborado pela autora.

Figura 12 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul, normalizada, geométrica. Fonte: elaborado pela autora.

Figura 13 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul, normalizada, geométrica por id. Fonte: elaborado pela autora.

Figura 14 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul, normalizada, topológica. Fonte: elaborado pela autora.

Assim sendo, partindo do pressuposto que analisar a condição das entidades, que neste estudo foram as vias do Rio Grande do Sul, de maneira diversificada dentre as ferramentas fornecidas pelo programa se fez de grande ajuda para o desenvolvimento desse conteúdo.

A Cidade de Herval possui uma Fractabilidade?

 O estudo

Seguindo em uma lógica de acordo com Ribeiro (2020), a construção da dimensão fractal pode ser feita ao serem construídas células em uma determinada escala, dimensão e replicação. Nesse sentido, seguindo o exemplo dado pelo autor, poderíamos construir um pensamento onde cada uma das estradas, vias ou rodovias de ligação da cidade de Herval seria analisada separadamente de acordo com a sua época de construção. Desse modo, levando em consideração, principalmente, as estradas que se originam do meio rural e levam as pessoas ao meio urbano. Ao estabelecer cada via como uma dimensão do fractal rural, a cada criação de uma nova estrada ao longo da formação do território, estaria sendo criadas uma nova dimensão do padrão correspondente ao fractal. Em toda a situação onde haveria uma nova construção de estrada ligando algum lugar a este território, ao longo desse processo, poderia se ilustrar, dizendo que foi sendo criada justamente uma nova dimensão. Desse modo, para acompanhar o processo, se poderia pensar nas dimensões de propriedades fractais preenchendo esses espaços ao redor, e estabelecendo como limite o retângulo de definição do polo separado inicialmente para estudo. Em relação à centralidade, partindo desta associação, estaria de acordo afim de produzir acessos e consideraria as questões relativas à necessidade de criação de novos fractais.

Considerações Finais

Por se tratar de um estudo inicial, ainda não é possível considerar a existência das propriedades fractais nos acessos e conexões da cidade de Herval. A tentativa, por sua vez, através das métricas urbanas foi explorar a ferramenta disponibilizada no sentido de buscar o esclarecimento diante das simulações realizadas para estudar este território em específico. Mesmo o assunto sendo de uma complexidade que requer um maior estudo, as modelagens produzidas sempre devem avançar na busca e identificação do que possa vir a ser a criação de um padrão.  E este estudo mostra que quando observadas desenvolvidas, podem estar produzindo um ganho em potencial no uso dos dados desenvolvidos pela ciência para as cidades.

 

Referências Bibliográficas

BENGUIGUI, Lucien. When a City is a Fractal? Environment and Planning B: Planning and Design, v. 27, p. 507 a 519, 2000.

MANDELBROT, Benoît., The Fractal Geometry of Nature. W H Freeman, San Francisco, Califórnia, 1983.

RIBEIRO, F. A física das cidades. Revista de Morfologia Urbana. Porto, Portugal. v. 1 n. 00159,2020. Acessado digitalmente em 16 de setembro de 2020. http://revistademorfologiaurbana.org/index.php/rm.

 

 

Influência da Pavimentação na Estrutura Intraurbana de Herval

Publicado por Anita Terra Dias da Porciúncula

Através do estudo urbano do município de Herval, localizado no estado Rio Grande do Sul, Brasil, o presente trabalho foi realizado. O desenvolvimento se deu dentro da disciplina “Oficina de Modelagem Urbana”, com auxílio da ferramenta de software UrbanMetrics para confecção dos mapas resultantes.

  1. Herval

Herval é um município de aproximadamente 6.814 habitantes (IBGE 2020), situado no estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Próximo a fronteira do Brasil com Uruguai, tem como vizinhos os municípios de Arroio Grande, Jaguarão, Pedras Altas, Pedro Osório, Pinheiro Machado, Piratini e Melo Uruguai, estando distante da capital do estado, Porto Alegre, 302km.

Figura 1: Imagem aérea – Herval

A economia é baseada na agricultura local, em sua grande maioria, havendo também a presença de pequenos comércios que movimentam renda entre a população.

O município apresenta área urbana pequena e concentrada, que é diretamente ligada as áreas rurais, por vias variadas em orientações norte, sul, leste, oeste e noroeste. Tem acesso direto pelas rodovias BR 473 (leste), RS 655 (sul) e RS 608 (oeste).

  1. Pavimentação Urbana

De acordo com análises fotográficas aéreas, com o auxílio da ferramenta Google Maps, foram verificados três tipos de pavimentações existentes no perímetro urbano estudado: Asfalto (amarelo), Paralelepípedo (verde) e Terra (vermelho).

Figura 2:  Tipos de Pavimentação

Após análise visual, o mapa acima foi traçado com o auxílio do software AutoCad, para a visualização das vias e a relação do perímetro urbano com o restante do município. Partindo do ponto da imagem existente, polinhas foram traçadas para a criação do mapa e logo foram divididas entre as vias analisadas para que pudessem ser identificadas.

  1. UrbanMetrics

O UrbanMetrics é o software, que dentro da disciplina e do tema escolhido para este trabalho, permitiu a análise das vias abordadas e seus comportamentos segundo a impedância e a centralidade apresentada dentro de Herval e analisadas dentro do software. Partindo do ponto em que se entende que impedância é a influência das características do sistema viário dentro da circulação urbana e que centralidade urbana trata as características dos espaços urbanos centrais, como lugares “privilegiados e importantes” e que essas medidas são essenciais para podermos desenvolver e estudar o desenho urbano juntamente com a sua pavimentação.

Possuindo todos os dados necessários para o estudo, ruas identificadas e polinhas criadas, um primeiro teste foi realizado, com impedância igual para todas as vias.

Figura 3: Centralidade com impedância “1 para todos”

Segundo resultado com impedâncias diferentes para cada via. Asfalto com valor 0,50, paralelepípedo com valor 1 e terra com valor 5.

Figura 4: Centralidade com impedâncias diferentes

  1. Proposta de Intervenção

Após observar os resultados obtidos pelo UrbanMetrics, afim de criar novos resultados, foram escolhidas duas vias com menor impedância para o “melhoramento” de sua pavimentação. Este melhoramento se dá na simulação de troca da pavimentação existente por uma pavimentação mais resistente do que a atual.

Figura 5: Vias selecionadas

Foram selecionadas duas vias, uma em eixo horizontal (pavimentação existente: paralelepípedo) e outra em eixo vertical (pavimentação existente: terra). Para o primeiro resultados, foi utilizada a nova impedância de 0,50 para as ruas selecionadas, como teste de melhoramento de pavimentação.

Figura 6: Melhoria da pavimentação em ruas selecionadas, impedância 0,50

Em um segundo momento, foi aplicada a impedância com valor 1 nas vias já selecionadas, e o seguinte resultado obtido:

Figura 7: Melhoria da pavimentação em ruas selecionadas, impedância 1

  1. Conclusão

Após comparar os resultados, percebe-se que mudanças mínimas aconteceram entre a relação de centralidade da pavimentação existente com a simulada. Os resultados mostraram que a centralidade aumentou nas vias melhoradas, mas não diminui, de forma significativa, a centralidade já existente antes das simulações. Também se percebeu, diferenças leves na centralidade das bordas. O que não afeta, de maneira significativa, o desenho urbano.

Existe convergência entre os tipos de pavimentações já existentes nas ruas e a suas centralidades. Isso se dá, devido ao fluxo e ao porte atual da cidade, que são pequenos e usuais.

  1. Referências

Open StreetMap, 2020. Disponível em: https://www.openstreetmap.org/. Acesso em: 30-Jul-2020

IBGE Cidades – Herval, IBGE, 2020. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/. Acesso em: 30-Jul-2020

Google Maps, Google 2020. Disponível em: https://www.google.com/maps/. Acesso em: 05-Set-2020

 

Mapeamento de periferização em potencial segundo a topografia de Herval, RS

Publicado por Yuri Oliveira Tomberg

Mapeamento de periferização em potencial no município de Herval

O presente trabalho possui como objetivo realizar um estudo topográfico em relação aos eixos e linhas de drenagem da cidade de Herval. Foram realizadas simulações e, posteriormente, a análise das mesmas. Desta maneira, o presente trabalho demonstra os resultados encontrados por meio de mapas de uma suposta periferização em potencial, considerando a topografia.

I. A história de Herval

O nome Herval é originado da erva-mate que era encontrada em abundância nas matas, durante a sua localização, quando a palavra erva era escrita com “h”. Segundo historiadores, seu povoado é um dos mais antigos pertencentes à região Sudeste Rio-grandense. (PREFEITURA DE HERVAL, 2017).

Em 1825 era um distrito subordinado ao município de Jaguarão. Herval emancipou-se deste município apenas em 1881. Sua autonomia política ocorreu pela lei 1326 de 20/05/1881, quando foi possível eleger sua primeira câmara de vereadores (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2020).

A grafia foi alterada com o acréscimo da letra “h” pela lei municipal nº 70, em 1972, acolhida em parecer nº 527, em 1982, da Procuradoria Geral do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (IBGE, 2020). Assim, seus habitantes chamam-se hervalenses.

Figura 1. Brasão de Herval

II. Características de Herval

Herval está localizada a uma latitude 32º01’25” sul e a uma longitude 53º23’44” oeste, estando a uma altitude de 287 metros. A cidade possui uma área de 1757,83 km² e é vizinha dos municípios de Pedras Altas, Arroio Grande e Pinheiro Machado, situando-se a 61 km a Norte-Oeste de Jaguarão, a maior cidade nos arredores (IBGE, 2020).

Sua população, segundo o último Censo realizado pelo IBGE em 2010, era de 6.753 habitantes, sendo considerada menor que 100 atrás. A densidade demográfica era então de 3,84 habitantes por km² no território do município (PREFEITURA DE HERVAL, 2020). Herval possui Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0.687, segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano/PNUD (2010) e PIB per capita de R$ 12.915,02 (IBGE, 2020).

Figura 2. Localização de Herval

III. O problema

a) A periferização

A expansão das cidades brasileiras é caracterizada pelos grandes loteamentos oficiais, os quais são destinados aos grupos com maior renda, mas também pelos loteamentos irregulares ou clandestinos, os quais servem de abrigo para os grupos menos favorecidos e em vulnerabilidade. Para o geógrafo MILTON SANTOS (1993), essa seria a definição de urbanização espraiada, termo que configurou um tipo de cidade caracterizada pela periferização, fragmentação e dispersão.

Neste contexto, o conceito de periferia urbana ampliou-se e também se tornou cada vez mais complexo diante da diversidade de características do espaço urbano contemporâneo (SIERRA, 2003). Compreende-se que a periferização é um processo, no qual a edificação de novas áreas residenciais não se deu de forma contínua à malha urbana, mas sim a partir de grandes vazios urbanos:

            “(…) e sobretudo as grandes, ocupam, de modo geral, vastas superfícies, entremeadas de vazios. Nessas cidades espraiadas, características de uma urbanização corporativa, há interdependência do que podemos chamar de categorias espaciais relevantes desta época: tamanho urbano, modelo rodoviário, carência de infraestruturas, especulação fundiária e imobiliária, problemas de transporte, extroversão e periferização da população, gerando, graças às dimensões da pobreza e seu componente geográfico, um modelo específico de centro-periferia.” (SANTOS, 1993).

Dessa maneira, à medida em que a terra urbana é ocupada por atividades comerciais e industriais, ela torna-se cara e escassa, contribuindo assim para a expulsão de populações mais pobres para loteamentos periféricos, além de facilitar a criação de condições desiguais de uso das oportunidades espaciais oferecidas pelas cidades, vinculando a exclusão territorial à exclusão social e econômica (SANTOS, 2017).

b) Acessibilidade sob efeito da Periferização

Sabe-se que domicílios pertencentes às regiões periféricas da cidade ficam mais distantes dos postos de trabalho, os quais estão, em sua maioria, concentrados nas regiões centrais das cidades. Além disso, a localização periférica contribui para o desamparo e a ausência de necessidades básicas, como uma moradia digna, infraestrutura, oferta de trabalho e equipamentos urbanos (BORGES E ROCHA, 2004). Desta maneira, há uma segregação, seja ela imposta ou involuntária (CORRÊA, 2013). A consequência desse processo pode ser observada por meio de níveis de acessibilidade aquém do ideal.

Por sua vez, os reduzidos níveis de acessibilidade repercutem em baixos níveis de mobilidade, os quais influenciam em menor atividade econômica e contribuem para problemas sociais, responsáveis pela exclusão social (MACÁRIO, 2012). Além disso, sendo caracterizada como um desequilíbrio do subsistema de uso do solo, a periferização gera distribuições espaciais distintas entre os indivíduos e as atividades que desejam realizar, sobrecarregando a demanda do sistema de transporte e seus custos. Nesse sentido, ao impactar negativamente no acesso às atividades, a periferização contribuiu para problemas de locomoção (KNEIB, 2014).

c) Como o problema será enfrentado

A periferização contribui semelhante para a percepção acerca da integração entre a produção capitalista e a informalidade e pobreza (ABRAMO, 2007). Neste sentido, a pobreza e a urbanização parecem estar associadas ao desenvolvimento das cidades, mostrando, no meio contemporâneo, novas dinâmicas, as quais atraem atenção de pesquisa e reflexão acadêmica, além de motivar a resolução dos desafios para a gestão das cidades em escalas sem precedentes (POLIDORI, 2014).

O rompimento desse ciclo de pobreza e estagnação econômica é difícil e requer uma política estratégica. Neste contexto, é necessário que os problemas socioeconômicos e ambientais sejam considerados de maneira complexa e conjunta e que a criação e a execução de projetos de desenvolvimento socioeconômico, urbano e ambiental sejam realizadas com a participação de diferentes secretarias (MARQUES, 2005; SANTOS, 2017).

Portanto, torna-se necessário analisar as relações entre o processo de periferização da população e a diminuição da acessibilidade, uma vez que a periferização contribui diretamente a redução da acessibilidade: residentes de áreas periféricas não possuem acesso às atividades realizadas no espaço urbano, fato que impacta, além da segregação social, em maiores custos no que tange à locomoção, por exemplo.

O estudo realizado:

a) A cidade de Herval e sua topografia

A figura 3 considera a área do estudo e, a partir dela, foi possível observar que Herval é uma cidade pequena, a qual possui uma topografia, em sua maioria, bastante irregular.

Foi utilizado o software de georreferenciamento AutoCad Map, bem como o UrbanMetrics para um estudo de topografia em relação aos eixos da cidade.

Figura 3. Cidade de Herval

Figura 4. Topografia de Herval

b) Pontos mais altos da cidade em relação às curvas de nível

            Nesta análise foi possível identificar as regiões mais altas da cidade que coincidem com o término das linhas de drenagem, a qual pode ser observada na Figura 6.

Figura 5. Pontos mais altos de Herval.

c) Linhas de drenagem

              Nesta análise é interessante observar o caminho natural das águas e como elas abastecem a cidade.

Figura 6. Caminho natural das linhas de drenagem de Herval.

d) O mapeamento dos eixos

Nesta análise é possível observar a representação das ruas por meio de eixos, considerando desníveis na topografia, gerando assim uma descontinuidade do eixo.

Figura 7. Eixos de Herval.

e) Demarcação dos eixos alterados

Os eixos modificados em relação a topografia estão demarcados em preto. Foram escolhidos esses eixos por se tratarem dos níveis mais altos da cidade em relação às curvas de nível, ou por alguma mudança de direção delas em relação aos caminhos naturais das linhas de drenagem.

As curvas de nível são representações do relevo produzidas por meio da utilização de linhas imaginárias (altimétricas, quando estão na superfície, batimétricas, quando estão abaixo do nível do mar). Assim, elas representam na superfície plana os desníveis e a declividade topográfica.

Neste estudo, é importante observar que, quanto mais as curvas de nível estão afastadas, menor é a declividade, ou seja, menos íngreme é o terreno. Por outro lado, quanto mais próximas, maior é a declividade do local.

Figura 8. Alteração dos eixos mediante à topografia de Herval.

f) Resultado final

Sem considerar a topografia observamos que os eixos em amarelo mais forte significam uma maior potencialidade das periferias em relação a cidade (Figura 9). Observamos que não houve nenhuma descentralização em relação à acessibilidade em relação à cidade, e que as áreas já povoadas apresentam maior potencialidade. O centro continua como foco principal.

Figura 9. Resultado final do estudo sem considerar a topografia.

Para a medida de acessibilidade, o resultado final demonstrou o mapeamento de periferização em potencial (Figura 10). As linhas mais grossas representam a possível esta possível periferização em potencial.

Figura 10. Resultado final do estudo, considerando a topografia.

V. Conclusão

Por meio deste estudo, foi possível observar que a cidade de Herval, assim como a maioria das cidades brasileiras, também sofre com as consequências do urbanismo contemporâneo, uma vez que a pobreza e a urbanização parecem estar associadas. Os resultados evidenciam a falta de gestão no que tange ao desenvolvimento socioeconômico e também ambiental da cidade.  Neste sentido, o investimento em estratégias para o melhor mapeamento urbano, evitando áreas segregadas, resultarão em melhor qualidade de vida para a população e maior desenvolvimento econômico da cidade.

As novas possíveis periferias poderiam gerar novas infraestruturas, novas rotas de locomoção, influenciando na criação de uma nova potência, com oportunidade de trabalho, comércio, entre outros recursos, desafogando assim a parte principal da cidade: o centro urbano.

VI. Referências

ABRAMO, P. A cidade Com-Fusa: a mão inoxidável do mercado e a produção da estrutura urbana nas grandes metrópoles latino-americanas. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, 9(2), 25-54, 2007.

 

BORGES E ROCHA. A Compreensão do Processo de Periferização urbano do brasil por meio da mobilidade centrada no trabalho. Geografia, rio claro, v. 29, n. 3, p.383-400, set/dez 2004.

 

CAPEL, Horacio. Capitalismo y morfología urbana en España. 4a ed. Barcelona: Ediciones de Frontera, 1983.

 

CORRÊA, R. L. Segregação residencial: classes sociais e espaço. In: In: Pedro de Almeida Vasconcelos; Roberto Lobato Corrêa; Silvana Maria Pintaudi. (Org.). A cidade contemporânea. Segregação Espacial. 1ed.São Paulo: Contexto, v. 1, p. 39-60, 2013.

 

IBGE: BIBLIOTECA. Herval, Rio Grande do Sul. 2020. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/riograndedosul/herval.pdf.

 

KNEIB, E. C. Mobilidade e centralidades: reflexões, relações e relevância para a vida urbana. In E. C. Kneib (Org.), Projeto e cidade: centralidades e mobilidade urbana. Goiânia: FUNAPE, 2014.

 

MACÁRIO, R. Access as a social good and as an economic good: is there a need of paradigm shift? Bellagio, Italy, 2012.

 

MINISTÉRIO DO TURISMO: Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo. Municípios não regionalizados: Herval. Disponível em: https://www.turismo.rs.gov.br/cidade/435/herval#sobre.

 

HERVAL (RS). Prefeitura. Disponível em: http://www.herval.rs.gov.br/historico/. Acesso em: 02 jul. 2017.

 

BGE (10 out. 2002). «Área territorial oficial». Resolução da Presidência do IBGE de n° 5 (R.PR-5/02).

 

SANTOS, Milton. Urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993.

 

SANTOS et al. O lugar dos pobres nas cidades: exploração teórica sobre periferização e pobreza na produção do espaço urbano Latino-Americano. urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana (Brazilian Journal of Urban Management), 2017 set./dez., 9(3), 430-442.

POLIDORI, M. C., PERES, O. M., & TOMIELLO, F. (2014). Efeito de borda urbano, concentração, exclusão e irregularidade. Projectare: Revista de Arquitetura e Urbanismo, (6), 108-120

 

MARQUES, E; TORRES, H. Segregação, pobreza e desigualdades sociais. São Paulo. Senac São Paulo, 2005.

As possibilidades de ampliação da escala da malha reticulada de Herval

Publicado por Rodolfo Barbosa Ribeiro

Proposta de análise da área urbana da cidade de Herval, a partir do software UrbanMetrics – com ênfase no modelo de Centralidade, desenvolvida na disciplina Oficina de Modelagem Urbana, no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFPel.

Para este trabalho foi utilizado o mapa da malha urbana representada por linhas axiais em eixos longos. Segundo Krafta (1996), a partir do mapa axial “é possível reduzir a complexidade da sua configuração a uma característica básica – sua dimensão linear”.

As análises foram feitas a partir do modelo de Centralidade espacial, em que “cada unidade de forma construída pode ser acessada a partir de qualquer outra através de uma sequência de espaços públicos”. (KRAFTA, 1996)

Assim, utilizou-se do modelo de Centralidade para primeira análise a partir da malha existem. Na figura 01, a malha inclui as vias intermunicipais, e na figura 02, as conexões intermunicipais foram interrompidas.

Pode-se perceber na figura 01, a importância e localização estratégica das vias intermunicipais, que atraem e conduzem a centralidade. Contudo, a interrupção dessas vias (figura 02) modificam muito pouco o modelo de centralidade, visto que as concentrações nas vias ‘verticais’ permanecem iguais.

Proposta:

Identificando a ortogonalidade da estrutura urbana de Herval, a proposta é repensar o uso da rua como espaços público qualificado, baseando-se na perspectiva de urbanismo ecossistêmico de Salvador Rueda (exemplificado na figura 03).

As supermanzanas são célula básica para a organização dos espaços construído e dos espaços livres, com aproximadamente 400m x 400m, definidas por vias básicas que conectam as origens e destinos de toda a cidade. As vias interiores constituem uma rede local, de estrutura verde e relações de vizinhança. As supermanzanas propõem a liberação de mais de 70% hoje ocupado pelo automóvel para os movimentos a pé e em bicicleta, e poderia ser seguida por uma segunda fase, a urbanística, incluindo novos usos e direitos urbanos. (RUEDA, 2016)

Conjunto de imagens: esquemas de implantação das supermanzanas; intervenções leves e aplicabilidade rápida na reutilização das vias urbanas; e, diagrama do funcionamento da mobilidade urbana nas supermanzanas.

Para desenvolver a proposta de supermanzanas e análise da intervenção nos fluxos da cidade de Herval a partir do software UrbanMetrics, foi utilizada a medida de Impedância que apresenta os efeitos contrários ao alcance do destino ou da extensão da viagem do fluxo”. (COLUSSO E KRAFTA, 2013)

Processo de desenvolvimento do desenho:

A figura 04 é a análise de centralidade do tecido existente sem as vias intermunicipal e sem o uso da medida de Impedância.

A figura 05 apresenta o desenho da proposta das supermanzanas em Herval: polígonos vermelhos são os perímetros das supermanzanas; as linhas amarelas tracejadas adaptações à malha existente e as linhas azuis tracejadas são aberturas de novas vias.

A figura 06 mostra o resultado da centralidade utilizando a Impedância 1 nas ruas externas as supermanzanas e 10 para as internas, considerando que as ruas externas teriam menos impedimentos de fluxos de veículos.

Resultados e considerações

A partir da apliação das medidas de Impedância, pode-ser perceber o deslocamento da centralidade para as vias externas as supermanzanas, ampliando a escala da malha urbana e o alcance da centralidade, visto que se distribuiu quase homogeneamente nestas vias.

A proposta de Rueda, teve como objetivo reorganizar o uso de veículos, retirando-os de algumas vias e trazendo outras qualidades para o espaço público e retomando a via urbana em espaços qualificados. A proposta em Herval, para além da redistribuição de fluxos viários para veículos motorizados, deveria contar com intervenções nas ruas internas às supermanzanas, com adequações e melhorias para o fluxo local interno e de pedestre, ciclistas e outros modais leves.

Herval, com aproximadamente 7 mil habitantes, tem características particulares de cidades pequenas, com fluxos e usos característicos. A proposta de aplicação do urbanismo ecossistêmico se mostra como uma experiência possível a partir da análise da forma urbana, articulando a distribuição da centralidade, as vias principais para mobilidade urbana e a ampliação de usos para as áreas públicas.

Referencias:

COLUSSO, I. e KRAFTA, R. A Influência do Sistema Regional na Forma Urbana baseada em Modelos de Interação Espacial. 2ª Encontro Internacional Cidade Contemporaneidade e Morfologia Urbana: Aproximações. 2013. p. 29-34.

Equipo Editorial. “‘Supermanzanas’ como nuevo modelo urbano, por Salvador Rueda” 12 ago 2019. Plataforma Arquitectura. Accedido el 16 Sep 2020. <https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/922775/supermanzanas-como-nuevo-modelo-urbano-por-salvador-rueda>

KRAFTA, R. Urban convergence: morphology and attraction. Environment & Planning B, v. 23, n. 1, 1996. p. 37-48. DOI: 10.1068/b230037.

QUINTÁNS, I. “Intercâmbios no espaço público: visita técnica na superquadra piloto de Barcelona” 23 jan 2017. Acessado em 16 set 2020.<http://antp.org.br/noticias/ponto-de-vista/intercambios-no-espaco-publico-visita-tecnica-na-superquadra-piloto-de-barcelona.html>

RUEDA, S. La Supermanzana: nueva célula urbana para la construcción de un nuevo modelo funcional y urbanístico de Barcelona. Barcelona, nov. 2016. Acessado em 10 set 2020. <http://www.bcnecologia.net/sites/default/files/proyectos/la_supermanzana_nueva_celula_poblenou_salvador_rueda.pdf?fbclid=IwAR20eIei0xDEReiulp0NwJ8F0f5-BUC9Zd-Gfw_lX5YQ5p8TahhcHXcN8bg>

Ensaio sobre Herval: Cidade Poli Nucleada

Publicado por Vinicius Thelheimer

Herval é um pequeno município localizado na fronteira sul do estado do Rio Grande do Sul, com população estimada em 6.814 pessoas (IBGE 2020). O município se estende por 1 757,9 km² possuindo densidade demográfica de 3,9 habitantes por km² no território, sendo ele ocupado majoritariamente pela produção agrícola, sua principal atividade econômica.

Para realizar o ensaio proposto para disciplina de Oficina de Modelagem Urbana, ofertada pelo PROGRAU/UFPel, primeiramente foi realizado um levantamento do traçado urbano existe do município.  Considerando a área de estudo apresentada na Figura 1, a cidade de pequeno porte é reconhecida pela regularidade de seu traçado ortogonal, com dimensões e proporções similares.

Figura 1 – Núcleo Urbano cidade de Herval – RS

Análise de Polaridade na cidade de Herval

Através do software UrbanMetrics, o qual é baseado na teoria dos grafos, podendo utilizar representações por linhas, pontos e áreas. realizou-se uma primeira análise com o intuito de entender como o seu traçado se relaciona com as atividades preexistentes (Figura 2). Estas atividades apresentam-se organizadas de maneira polarizada na região onde a cidade teve sua origem, e é nela onde se encontra maior oferta de serviços e comercio. Além do carregamento desses atrativos, a demanda populacional estendeu-se por todo o núcleo urbano.

Como resultado, o software identificou que há uma polarização cêntrica incorporado ao centro urbano já consolidado reconhecidas através das vias centrais destacadas na Figura 3.

Ensaios Herval Poli núcleos

Para fins investigativos, com o intuito de analisar os atributos morfológicos da cidade de Herval, foram realizadas 4 suposições com diferentes cenários (Figuras 4, 6, 8 e 10). Neles, foram atribuídos novos territórios com ofertas de serviços e comercio em regiões periféricas, atuando em conjunto com os condicionantes existentes. E, posteriormente, comparados com os resultados obtidos pelo software (Figuras 5, 7, 9 e 11).

Analisando as suposições e seus respectivos resultados, podemos concluir que há uma polaridade convergente para a região já estabelecida. O comportamento morfológico nas suposições 1, 3 e 4 (figuras 4, 8, 10) produzem uma descentralização do polo original observadas nos resultados das mesmas (figuras 5, 9 e 11), reforçando eixos os quais se conectam com os novos territórios atrativos.

Já na suposição 2 (figura7), foi observado semelhança com a situação existente e apresentando uma certa uniformidade na polarização do traçado.

Herval Poli nucleada

Com o intuito de experimentar os conceitos de cidade poli nucleada, na suposição 4 (figura 12) o traçado da cidade de Herval é experimentado com os diferentes polos de atração em conjunto ao existente.

Visivelmente percebemos que há uma intensificação entre os eixos que conectam um polo ao outro (figura 13), ocorrendo um deslocamento na polaridade no traçado urbano. De certa maneira é possível afirmar que a poli nucleação na cidade de Herval resulta em uma distribuição e ampliação de oportunidades junto ao traçado urbano já existente. Assim, pode-se identificar previamente áreas que venham a se tornar pontos críticos e agir de forma antecipada.

Com os experimentos realizados, constatamos a aproximação das modelagens com as situações reais. Reforçando a ideia de que o planejamento prévio para o desenvolvimento das cidades possibilita antecipar futuros problemas e demandas recorrentes da fragmentação das atividades urbanas.

Dessa forma, é possível compor sistemas que, além de reproduzir respostas às tendências de demandas, poderão se integrar a um planejamento urbano que, não consistiria apenas em organizar sua estrutura hierárquica entre polos e conexões, mas estabelecer locais de convergência, de acordo com integrações e centralidades.

As dificuldades encontradas no planejamento de nossas cidades são de qualidade e dimensão distintas, sempre haverá espaço para que novas ideias, abordagens e soluções que sejam exploradas a fim de reverter e prever problemas de forma criativa e progressiva.

 

Referências

IBGE. http://www.ibge.gov.br. Aceso em 2020.

KRAFTA, R. Modelling intra-urban configurational development. Environment and Planning B: Planning and Design, London, 21, 1994. 67-82.

KNEIB, E. C., Silva, P. C. M. da, e Portugal, L. da S. Impactos decorrentes da implantação de polos geradores de viagens na estrutura espacial das cidades. XIX ANPET – Congresso de Pesquisa e Ensino em Transportes. Recife, 2010. p. 643 – 653

MARTINS, Anamaria de Aragão Costa.  Novos pólos territoriais motivados pela dispersão urbana. O cenário do distrito Federal. (2006) Disponível em: https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.077/309. Acesso em: 09 set. 2020.

PERIFERIAS E ACIRRAMENTOS NA CIDADE DE HERVAL

Publicado por Andréia Machado

INTRODUÇÃO

Herval é uma cidade localizada ao Sul do estado – figura 1, possui uma área de 2.798,3 km² e sua população total é de 6.753 habitantes, de acordo com o Censo Demográfico do IBGE (2010). Os municípios limítrofes são Arroio Grande, Jaguarão, Pedras Altas, Pedro Osório, Pinheiro Machado, Piratini e Melo – Uruguai. Dista de Pelotas aprox. 138 km e da capital Porto Alegre aprox. 302 km.

Figura 1. Mapa LocalizaçãoFonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Herval (2020)

 

Ao estudar a cidade de Herval, identificamos que esta possui um traçado ortogonal – “xadrez” na área central, malha urbana caracterizada por quarteirões de dimensões e proporções similares, mas verifica-se também um processo recente de periferias nas bordas da cidade, com um traçado diferenciado, conforme pode ser visto na figura 2.

Figura 2. Imagem aérea Herval

Fonte: www.googlemaps.com.br(2020)

 

No entanto, trata-se de um trabalho de morfologia urbana desenvolvido ao longo do semestre 2020/1 pela disciplina Oficina de Modelagem Urbana II.

Segundo Butina (1988 apud NOBRE, 2003), a morfologia urbana é “um método de análise que investiga os componentes físico-espaciais (lotes, ruas, tipologias edilícias e áreas livres) e sócio-culturais (usos, apropriação e ocupação) da forma urbana e como eles variam em função do tempo” (BUTINA, 1988 apud NOBRE,2003). A morfologia urbana, portanto, tem como consequência o processo de compreensão da história, da evolução e da transformação dos componentes urbanos, visando à identificação do melhor mecanismo de intervenção urbana.

Moudon (1997) afirma que, na morfologia urbana, a evolução da cidade é analisada desde seu assentamento até suas transformações, identificando e dissecando seus diferentes componentes. Segundo ela, a cidade é a acumulação e integração da ação de vários indivíduos e pequenos grupos, gerada por tradições culturais e moldadas através de forças sociais e econômicas ao longo do tempo.

O objetivo do trabalho é verificar se as más condições das periferias estão associadas a maiores concentrações na área central, então foram feitas simulações piorando a qualidade das vias nestas áreas para observar o resultado, para isso a cidade de Herval foi descrita através da divisão das quadras em eixos, tendo sido utilizada a medida de centralidade e esta medida foi processada através do Software UrbanMetrics, o qual é baseado na teoria dos grafos, podendo utilizar representações por linhas, pontos e áreas.

A grandeza de centralidade é considerada como sendo a medida morfológica conectada pelo tecido urbano que participa com maior intensidade da rota de ligação, sendo a mais eficaz entre os espaços, e considerando caminhos preferenciais.

PERIFERIAS E SEGREGAÇÃO URBANA

O crescimento populacional ocorre de forma acelerada por todo mundo, e em países como o Brasil, geram diversos problemas estruturais e sociais devido à falta de planejamento. Resultando assim, em um crescimento desordenado, o que prejudica tanto a urbe quanto seus habitantes.

Segundo Villaça (2011):

“Nenhum aspecto do espaço urbano brasileiro poderá ser
jamais explicado / compreendido se não forem consideradas
as especificidades da segregação social e econômica que
caracteriza nossas metrópoles, cidades grandes e médias” (VILLAÇA, 2011)

 

Um dos maiores problemas do Brasil hoje, não é a pobreza e sim a desigualdade, tanto econômica como política, ocorrendo assim a segregação, afinal a segregação é uma manifestação espacial da desigualdade social. Diferenças estas que nas cidades podem ser encontradas entre áreas destinadas aos ricos e áreas paras os pobres.

Segundo Santos (1993,96 apud VILLAÇA, 1998), “a especulação imobiliária deriva, em última análise, da conjugação de dois movimentos convergentes: a superposição de um sítio social ao sítio natural e a disputa entre atividades e pessoas por dada localização” (SANTOS, 1993,96 apud VILLAÇA, 1998). Ainda segundo o autor, os sítios sociais são criados:

“Uma vez que o funcionamento da sociedade urbana
transforma seletivamente os lugares, afeiçoando-se às suas
exigências funcionais. É assim que certos pontos se tornam
mais acessíveis, certas artérias mais atrativas e, também,
uns e outros, mais valorizados. Por isso são atividades mais
dinâmicas que se instalam nessas áreas privilegiadas;
quanto aos lugares de residência, a lógica é a mesma, com
as pessoas de maiores recursos buscando alojar-se onde
lhes pareça mais conveniente, segundo os cânones de cada
época, o que também inclui a moda. É desse modo que as
diversas parcelas da cidade ganham ou perdem valor ao
longo do tempo.” (SANTOS, 1993,96 apud VILLAÇA, 1998)

 

O crescimento periférico, consiste em expansões do tecido urbano nas bordas da cidade, principalmente para uso residencial, numa dinâmica de conversão de áreas naturais ou rurais em áreas urbanas (CZAMANSKI et al., 2008).  A esse fenômeno está associado o problema da segregação urbana, podendo ser destacados dois tipos de formação periférica:
a) a periferização, relacionada à concentração de população de baixa renda; b) o urban sprawl, relacionado aos núcleos residenciais para média-alta e alta renda.

A “periferização”, é decorrente da segregação centro x periferia, e ocorre porque a área central das cidades é dotada de serviços e infraestrutura, apresentado assim valores de terrenos mais altos, o que faz com que se concentre ali a população com renda mais alta, sendo assim a população de renda mais baixa se vê obrigada a ir para as áreas periféricas, que não possuem infraestrutura, são mais distantes, mas possuem valores de terrenos com preços mais acessíveis.

O “urban sprawl”, se vê bastante atualmente, pois ocorre quando a população de alta renda opta por habitar em condomínios fechados afastados do centro urbano em busca de contato maior com a natureza.

RESULTADOS

SIMULAÇÃO 1

No primeiro processo, foi considerada para cada eixo que representa as ruas, valores de impedância iguais a 1, demonstrando assim o potencial de centralidade da cidade, conforme figura 3.  Destaca- se assim, a concentração da medida de centralidade na área mais central da cidade, ou seja ruas principais.

Figura 3. Resultado simulação 1

Fonte: UrbanMetrics (2020) 

 

SIMULAÇÃO 2

No segundo processo, foi selecionado os eixos, conforme figura 4, e considerado para estes valores de impedância iguais a 10, mantendo os demais eixos com valores de impedância iguais a 1.

Figura 4. Eixos selecionados

Fonte: UrbanMetrics (2020)

 

Resultando assim em mais eixos com centralidade máxima na parte sul da cidade, conforme pode ser visto na figura 5.

Figura 5. Resultado simulação 2

Fonte: UrbanMetrics (2020)

 

 SIMULAÇÃO 3

No terceiro processo, foi selecionado os eixos conforme figura 6, e considerado valores de impedância iguais a 10 nestes eixos, e mantendo os demais eixos com impedância iguais a 1.

Figura 6. Eixos selecionados

Fonte: UrbanMetrics (2020) 

 

Resultando assim, no processo abaixo, conforme Figura 7, que confirma que por tratar-se de área periférica/segregada, e no momento que se “exclui mais” esta, há uma migração para as áreas mais centrais.

Figura 7. Resultado simulação 3

Fonte: UrbanMetrics (2010)

 

 CONCLUSÃO

Com a análise das simulações, foi possível comprovar a hipótese de que o “abandono”/” exclusão” das áreas periféricas, sugere uma migração e um maior acirramento das áreas centrais, afinal tratam-se de áreas segregadas/periféricas, onde já há más condições de vias, e no momento em que se piora a qualidade destas vias, continuam sendo áreas segregadas.

Verificou-se que o acirramento dos máximos está descrito conforme simulações apresentadas, mas em local não previsto, uma vez sabe-se que não se trata da área mais central da cidade, sendo assim a modelagem urbana não se aproximou da realidade, mas detectou uma área com potencial.  Já o acirramento dos mínimos, está bem descrito, concentrando-se nas bordas da cidade- “áreas segregadas”.

É possível verificar também, que estas ruas nas quais foram feitas as simulações, não são estruturantes do sistema viário.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORGES, Willian. A COMPREENSÃO DO PROCESSO DE PERIFERIZAÇÃO. Disponível em:http://www.nemo.uem.br/artigos/a_compreensao_do_processo_de_periferizacao_borges_e_rocha.pdf. Acesso em 07set.2020.

MOUDON, Anne Vernez. Urban morphology as an emerging interdisciplinary field. URBAN MORPHOLOGY.International Seminar on Urban Form, vol. 1, 1997,p.3-10.Disponível em: <http://urbanmorphology.org/pdf/moudon1997.pdf>. Acesso em: 9set. 2020.

NOBRE, Eduardo A. C. OS TIPOS NA ARQUITETURA E URBANISMO. São Paulo: FAU/USP. Material didático, 2003.Disponível em: http://www.fau.usp.br/docentes/depprojeto/e_nobre/tipos_arq_urb.pdf. Acesso em 09set.2020

TORALLES, Christiano1; MORELATTO, Natália2; POLIDORI, Maurício. MODELAGEM E SIMULAÇÃO DA DINÂMICA SÓCIO-ESPACIAL URBANA: EXPLORANDO O CRESCIMENTO PERIFÉRICO EM AMBIENTE CELULAR.
Disponível em:http://www2.ufpel.edu.br/enpos/2011/anais/pdf/SA/SA_00308.pdf

TORALLES, Christiano1; SARAIVA, Marcus Vinícius2; POLIDORI, Maurício3. SIMULAÇÃO DE CRESCIMENTO URBANO E FORMAÇÃO DE PERIFERIAS: O CASO DE PELOTAS, RS, 1985-2010.Disponível em: http://www2.ufpel.edu.br/enpos/2012/anais/pdf/SA/SA_00288.pdf  -01/09/2020

VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, 1998

Villaça, Flávio. São Paulo: Segregação urbana e desigualdade.  Disponível em: http://www.revistas.usp.br/eav/article/view/10597/12339. Acesso em 08 set.2020

XIMENES, Natália Lacerda Bastos. MORFOLOGIA URBANA: TEORIAS E SUAS INTERRELAÇÕES.RJ,2016.Disponívelem:http://dissertacoes.poli.ufrj.br/dissertacoes/dissertpoli1604.pdf. Acesso em 08set.2020

Material Internet/Sites:

Dados Herval. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Herval  Acesso em 07 set.2020

Dados Herval. Disponível em: http://www.herval.rs.gov.br/institucional/dados-gerais   Acesso em 01set. 2020