PERIFERIAS E ACIRRAMENTOS NA CIDADE DE HERVAL

Publicado por Andréia Machado

INTRODUÇÃO

Herval é uma cidade localizada ao Sul do estado – figura 1, possui uma área de 2.798,3 km² e sua população total é de 6.753 habitantes, de acordo com o Censo Demográfico do IBGE (2010). Os municípios limítrofes são Arroio Grande, Jaguarão, Pedras Altas, Pedro Osório, Pinheiro Machado, Piratini e Melo – Uruguai. Dista de Pelotas aprox. 138 km e da capital Porto Alegre aprox. 302 km.

Figura 1. Mapa LocalizaçãoFonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Herval (2020)

 

Ao estudar a cidade de Herval, identificamos que esta possui um traçado ortogonal – “xadrez” na área central, malha urbana caracterizada por quarteirões de dimensões e proporções similares, mas verifica-se também um processo recente de periferias nas bordas da cidade, com um traçado diferenciado, conforme pode ser visto na figura 2.

Figura 2. Imagem aérea Herval

Fonte: www.googlemaps.com.br(2020)

 

No entanto, trata-se de um trabalho de morfologia urbana desenvolvido ao longo do semestre 2020/1 pela disciplina Oficina de Modelagem Urbana II.

Segundo Butina (1988 apud NOBRE, 2003), a morfologia urbana é “um método de análise que investiga os componentes físico-espaciais (lotes, ruas, tipologias edilícias e áreas livres) e sócio-culturais (usos, apropriação e ocupação) da forma urbana e como eles variam em função do tempo” (BUTINA, 1988 apud NOBRE,2003). A morfologia urbana, portanto, tem como consequência o processo de compreensão da história, da evolução e da transformação dos componentes urbanos, visando à identificação do melhor mecanismo de intervenção urbana.

Moudon (1997) afirma que, na morfologia urbana, a evolução da cidade é analisada desde seu assentamento até suas transformações, identificando e dissecando seus diferentes componentes. Segundo ela, a cidade é a acumulação e integração da ação de vários indivíduos e pequenos grupos, gerada por tradições culturais e moldadas através de forças sociais e econômicas ao longo do tempo.

O objetivo do trabalho é verificar se as más condições das periferias estão associadas a maiores concentrações na área central, então foram feitas simulações piorando a qualidade das vias nestas áreas para observar o resultado, para isso a cidade de Herval foi descrita através da divisão das quadras em eixos, tendo sido utilizada a medida de centralidade e esta medida foi processada através do Software UrbanMetrics, o qual é baseado na teoria dos grafos, podendo utilizar representações por linhas, pontos e áreas.

A grandeza de centralidade é considerada como sendo a medida morfológica conectada pelo tecido urbano que participa com maior intensidade da rota de ligação, sendo a mais eficaz entre os espaços, e considerando caminhos preferenciais.

PERIFERIAS E SEGREGAÇÃO URBANA

O crescimento populacional ocorre de forma acelerada por todo mundo, e em países como o Brasil, geram diversos problemas estruturais e sociais devido à falta de planejamento. Resultando assim, em um crescimento desordenado, o que prejudica tanto a urbe quanto seus habitantes.

Segundo Villaça (2011):

“Nenhum aspecto do espaço urbano brasileiro poderá ser
jamais explicado / compreendido se não forem consideradas
as especificidades da segregação social e econômica que
caracteriza nossas metrópoles, cidades grandes e médias” (VILLAÇA, 2011)

 

Um dos maiores problemas do Brasil hoje, não é a pobreza e sim a desigualdade, tanto econômica como política, ocorrendo assim a segregação, afinal a segregação é uma manifestação espacial da desigualdade social. Diferenças estas que nas cidades podem ser encontradas entre áreas destinadas aos ricos e áreas paras os pobres.

Segundo Santos (1993,96 apud VILLAÇA, 1998), “a especulação imobiliária deriva, em última análise, da conjugação de dois movimentos convergentes: a superposição de um sítio social ao sítio natural e a disputa entre atividades e pessoas por dada localização” (SANTOS, 1993,96 apud VILLAÇA, 1998). Ainda segundo o autor, os sítios sociais são criados:

“Uma vez que o funcionamento da sociedade urbana
transforma seletivamente os lugares, afeiçoando-se às suas
exigências funcionais. É assim que certos pontos se tornam
mais acessíveis, certas artérias mais atrativas e, também,
uns e outros, mais valorizados. Por isso são atividades mais
dinâmicas que se instalam nessas áreas privilegiadas;
quanto aos lugares de residência, a lógica é a mesma, com
as pessoas de maiores recursos buscando alojar-se onde
lhes pareça mais conveniente, segundo os cânones de cada
época, o que também inclui a moda. É desse modo que as
diversas parcelas da cidade ganham ou perdem valor ao
longo do tempo.” (SANTOS, 1993,96 apud VILLAÇA, 1998)

 

O crescimento periférico, consiste em expansões do tecido urbano nas bordas da cidade, principalmente para uso residencial, numa dinâmica de conversão de áreas naturais ou rurais em áreas urbanas (CZAMANSKI et al., 2008).  A esse fenômeno está associado o problema da segregação urbana, podendo ser destacados dois tipos de formação periférica:
a) a periferização, relacionada à concentração de população de baixa renda; b) o urban sprawl, relacionado aos núcleos residenciais para média-alta e alta renda.

A “periferização”, é decorrente da segregação centro x periferia, e ocorre porque a área central das cidades é dotada de serviços e infraestrutura, apresentado assim valores de terrenos mais altos, o que faz com que se concentre ali a população com renda mais alta, sendo assim a população de renda mais baixa se vê obrigada a ir para as áreas periféricas, que não possuem infraestrutura, são mais distantes, mas possuem valores de terrenos com preços mais acessíveis.

O “urban sprawl”, se vê bastante atualmente, pois ocorre quando a população de alta renda opta por habitar em condomínios fechados afastados do centro urbano em busca de contato maior com a natureza.

RESULTADOS

SIMULAÇÃO 1

No primeiro processo, foi considerada para cada eixo que representa as ruas, valores de impedância iguais a 1, demonstrando assim o potencial de centralidade da cidade, conforme figura 3.  Destaca- se assim, a concentração da medida de centralidade na área mais central da cidade, ou seja ruas principais.

Figura 3. Resultado simulação 1

Fonte: UrbanMetrics (2020) 

 

SIMULAÇÃO 2

No segundo processo, foi selecionado os eixos, conforme figura 4, e considerado para estes valores de impedância iguais a 10, mantendo os demais eixos com valores de impedância iguais a 1.

Figura 4. Eixos selecionados

Fonte: UrbanMetrics (2020)

 

Resultando assim em mais eixos com centralidade máxima na parte sul da cidade, conforme pode ser visto na figura 5.

Figura 5. Resultado simulação 2

Fonte: UrbanMetrics (2020)

 

 SIMULAÇÃO 3

No terceiro processo, foi selecionado os eixos conforme figura 6, e considerado valores de impedância iguais a 10 nestes eixos, e mantendo os demais eixos com impedância iguais a 1.

Figura 6. Eixos selecionados

Fonte: UrbanMetrics (2020) 

 

Resultando assim, no processo abaixo, conforme Figura 7, que confirma que por tratar-se de área periférica/segregada, e no momento que se “exclui mais” esta, há uma migração para as áreas mais centrais.

Figura 7. Resultado simulação 3

Fonte: UrbanMetrics (2010)

 

 CONCLUSÃO

Com a análise das simulações, foi possível comprovar a hipótese de que o “abandono”/” exclusão” das áreas periféricas, sugere uma migração e um maior acirramento das áreas centrais, afinal tratam-se de áreas segregadas/periféricas, onde já há más condições de vias, e no momento em que se piora a qualidade destas vias, continuam sendo áreas segregadas.

Verificou-se que o acirramento dos máximos está descrito conforme simulações apresentadas, mas em local não previsto, uma vez sabe-se que não se trata da área mais central da cidade, sendo assim a modelagem urbana não se aproximou da realidade, mas detectou uma área com potencial.  Já o acirramento dos mínimos, está bem descrito, concentrando-se nas bordas da cidade- “áreas segregadas”.

É possível verificar também, que estas ruas nas quais foram feitas as simulações, não são estruturantes do sistema viário.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORGES, Willian. A COMPREENSÃO DO PROCESSO DE PERIFERIZAÇÃO. Disponível em:http://www.nemo.uem.br/artigos/a_compreensao_do_processo_de_periferizacao_borges_e_rocha.pdf. Acesso em 07set.2020.

MOUDON, Anne Vernez. Urban morphology as an emerging interdisciplinary field. URBAN MORPHOLOGY.International Seminar on Urban Form, vol. 1, 1997,p.3-10.Disponível em: <http://urbanmorphology.org/pdf/moudon1997.pdf>. Acesso em: 9set. 2020.

NOBRE, Eduardo A. C. OS TIPOS NA ARQUITETURA E URBANISMO. São Paulo: FAU/USP. Material didático, 2003.Disponível em: http://www.fau.usp.br/docentes/depprojeto/e_nobre/tipos_arq_urb.pdf. Acesso em 09set.2020

TORALLES, Christiano1; MORELATTO, Natália2; POLIDORI, Maurício. MODELAGEM E SIMULAÇÃO DA DINÂMICA SÓCIO-ESPACIAL URBANA: EXPLORANDO O CRESCIMENTO PERIFÉRICO EM AMBIENTE CELULAR.
Disponível em:http://www2.ufpel.edu.br/enpos/2011/anais/pdf/SA/SA_00308.pdf

TORALLES, Christiano1; SARAIVA, Marcus Vinícius2; POLIDORI, Maurício3. SIMULAÇÃO DE CRESCIMENTO URBANO E FORMAÇÃO DE PERIFERIAS: O CASO DE PELOTAS, RS, 1985-2010.Disponível em: http://www2.ufpel.edu.br/enpos/2012/anais/pdf/SA/SA_00288.pdf  -01/09/2020

VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, 1998

Villaça, Flávio. São Paulo: Segregação urbana e desigualdade.  Disponível em: http://www.revistas.usp.br/eav/article/view/10597/12339. Acesso em 08 set.2020

XIMENES, Natália Lacerda Bastos. MORFOLOGIA URBANA: TEORIAS E SUAS INTERRELAÇÕES.RJ,2016.Disponívelem:http://dissertacoes.poli.ufrj.br/dissertacoes/dissertpoli1604.pdf. Acesso em 08set.2020

Material Internet/Sites:

Dados Herval. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Herval  Acesso em 07 set.2020

Dados Herval. Disponível em: http://www.herval.rs.gov.br/institucional/dados-gerais   Acesso em 01set. 2020