HERVAL, UMA CIDADE FRACTAL? A INVISIBILIDADE DA REGIÃO DE HERVAL PERANTE OS POLOS E A GEOMETRIA DOS ACESSOS

Publicado por Bianca Ramires Soares

Introdução

 Este artigo pretende contar brevemente a tentativa de estudar a propriedade fractal dos acessos uma cidade. Sabendo que na história dos estudos sobre modelagem urbana, a geometria fractal para a reprodução, fragmentação e análise do espaço urbano foi amplamente desenvolvida por diversos pesquisadores. Buscando encontrar a lógica de origem da reprodutibilidade e escalonamento na forma urbana, procurou-se perseguir a inquietação inicial de entender esses processos após o contato com este conteúdo através das ferramentas expostas na disciplina. Nesse sentido, o conteúdo desenvolvido ao longo da disciplina Oficina de Modelagem Urbana II, serviu de largada nesta busca. A cidade proposta para o trabalho da disciplina, extraordinariamente em formato digital, foi a cidade de Herval, localizada a certa proximidade do extremo sul do Brasil.

O artigo, pretende também mostrar o desenvolvimento de um estudo baseado na tentativa de demonstrar a invisibilidade da cidade de Herval em relação aos polos de maior proximidade da região que possuem, por sua vez, uma maior atração e conexão dentro das vias que interligam umas porções do estado do Rio Grande do Sul às outras. Partindo do princípio dos tópicos fixados para a busca, dimensão fractal e invisibilidade, surge a tentativa de entender as vias de ligação a cidade em relação ao seu tecido urbano reticular homogêneo existente na primeira ocupação do território como área urbanizada. Este estudo percorre e remonta os caminhos seguidos pela urbanização local para entender o objeto de estudo.

A modelagem, nesse sentido, tenta avançar na questão do entendimento e tentativa de visualização da configuração geométrica dentro da forma urbana da cidade escolhida. Dito isto, por ser Herval uma cidade de pequeno porte com características majoritariamente rurais e por possuir uma centralidade urbana e rodeada de uma imensidão de grandes áreas rurais como entorno direto ao perímetro urbano, as vias que ligam todas as adjacências à cidade são de grande importância. Estas vias servem como eixos ao perímetro urbano, ligando a cidade com as demais localidades e vias de maior escala, o tecido de ligação à cidade tem características orgânicas. Não ser uma metrópole, neste caso, possibilitou o estudo mais amplo das áreas adjacentes de conexão ao município dentro do tempo proposto para o trabalho.

Figura 01 – Área Urbanizada de Herval. Fonte: da autora.

O município de Herval, como dito anteriormente possui uma área urbanizada diminuta, caracterizando a cidade de pequeno porte. A cidade de Herval em sua dimensão urbana possui um caráter reticular homogêneo que marca o contexto da primeira ocupação urbana do território deste município, desse modo, podemos observar a mudança na ocupação do solo com a evolução do tempo.

Geometria do Fractal

Inicialmente a geometria resultante do tecido urbano Herval com as vias de conexão ao redor parece descrever uma forma resultante complexa. De acordo com os aspectos da geometria fractal, descritos inicialmente por Mandelbrot (1982) onde o mesmo mostra um estudo referente à física de uma reprodutibilidade própria de características orgânicas e presentes na natureza. Ao tentar observar padrões de reprodutibilidade e escalonamento, os aspectos geométricos de elementos presentes na natureza descrevem uma lógica proporcional. Um bom exemplo de lógica proporcional para descrever um padrão é o valor da proporção áurea. Fazendo uma analogia, a escala logarítmica que compõe a descrição de um padrão que pode ser reproduzido e escalonado.

Apresentação da região – Modelagem do Rio Grande do Sul

 Com a proposta da disciplina de utilizar o software Urban Metrics, foi utilizada inicialmente a base de dados sobre as vias do estado produzidas e disponibilizadas pela FEPAM.

Figura 02 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul. Fonte: Dados originais, Shapefile da FEPAM, Rio Grande do Sul.

Apresentação da modelagem de Herval com polos definidos – Rio Grande e Bagé

Figura 03 – Recorte da porção do território para estudo 01. Rede Viária do Rio Grande do Sul. Fonte: Dados originais, Shapefile da FEPAM, Rio Grande do Sul.

Figura 04 – Recorte da porção do território para estudo 02 e 03. Rede Viária do Rio Grande do Sul. Fonte: Dados originais, Shapefile da FEPAM, Rio Grande do Sul.

Figura 05 – Recorte da porção do território para estudo 02 e 03. Rede Viária do Rio Grande do Sul. Fonte: Dados originais, Shapefile da FEPAM, Rio Grande do Sul.

Caracterização da Região – Modelagem do Rio Grande do Sul (Urban Metrics)

 As figuras 06, 07, 08 e 09, apresentam a modelagem em variadas escalas de representação do território, com a intenção de observar uma unidade dentro da fragmentação, e desse modo tentando encontrar o que poderia ser uma unidade física de fractal no tecido das vias do estado do rio grande do sul. Inicialmente foi caracterizado um espaço maior do território que se estende ao máximo número de polos possíveis dentro de um limite retangular como descrito no margem para a observação do fractal, de acordo com Benguigui, (2000)  descrito como caracterização,

A Centralidade na Região de Herval

Figura 06 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul, centralidade topológica. Fonte: elaborado pela autora.

Figura 07 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul, recorte, centralidade. Fonte: elaborado pela autora.

Figura 08 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul, recorte, centralidade. Fonte: elaborado pela autora.

Figura 09 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul, recorte, centralidade. Fonte: elaborado pela autora.

Figura 10 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul. Recorte, centralidade. Fonte: elaborado pela autora.

Figura 11 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul. Centralidade, topológica. Fonte: elaborado pela autora.

Figura 12 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul, normalizada, geométrica. Fonte: elaborado pela autora.

Figura 13 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul, normalizada, geométrica por id. Fonte: elaborado pela autora.

Figura 14 – Rio Grande do Sul, Rede Viária do Rio Grande do Sul, normalizada, topológica. Fonte: elaborado pela autora.

Assim sendo, partindo do pressuposto que analisar a condição das entidades, que neste estudo foram as vias do Rio Grande do Sul, de maneira diversificada dentre as ferramentas fornecidas pelo programa se fez de grande ajuda para o desenvolvimento desse conteúdo.

A Cidade de Herval possui uma Fractabilidade?

 O estudo

Seguindo em uma lógica de acordo com Ribeiro (2020), a construção da dimensão fractal pode ser feita ao serem construídas células em uma determinada escala, dimensão e replicação. Nesse sentido, seguindo o exemplo dado pelo autor, poderíamos construir um pensamento onde cada uma das estradas, vias ou rodovias de ligação da cidade de Herval seria analisada separadamente de acordo com a sua época de construção. Desse modo, levando em consideração, principalmente, as estradas que se originam do meio rural e levam as pessoas ao meio urbano. Ao estabelecer cada via como uma dimensão do fractal rural, a cada criação de uma nova estrada ao longo da formação do território, estaria sendo criadas uma nova dimensão do padrão correspondente ao fractal. Em toda a situação onde haveria uma nova construção de estrada ligando algum lugar a este território, ao longo desse processo, poderia se ilustrar, dizendo que foi sendo criada justamente uma nova dimensão. Desse modo, para acompanhar o processo, se poderia pensar nas dimensões de propriedades fractais preenchendo esses espaços ao redor, e estabelecendo como limite o retângulo de definição do polo separado inicialmente para estudo. Em relação à centralidade, partindo desta associação, estaria de acordo afim de produzir acessos e consideraria as questões relativas à necessidade de criação de novos fractais.

Considerações Finais

Por se tratar de um estudo inicial, ainda não é possível considerar a existência das propriedades fractais nos acessos e conexões da cidade de Herval. A tentativa, por sua vez, através das métricas urbanas foi explorar a ferramenta disponibilizada no sentido de buscar o esclarecimento diante das simulações realizadas para estudar este território em específico. Mesmo o assunto sendo de uma complexidade que requer um maior estudo, as modelagens produzidas sempre devem avançar na busca e identificação do que possa vir a ser a criação de um padrão.  E este estudo mostra que quando observadas desenvolvidas, podem estar produzindo um ganho em potencial no uso dos dados desenvolvidos pela ciência para as cidades.

 

Referências Bibliográficas

BENGUIGUI, Lucien. When a City is a Fractal? Environment and Planning B: Planning and Design, v. 27, p. 507 a 519, 2000.

MANDELBROT, Benoît., The Fractal Geometry of Nature. W H Freeman, San Francisco, Califórnia, 1983.

RIBEIRO, F. A física das cidades. Revista de Morfologia Urbana. Porto, Portugal. v. 1 n. 00159,2020. Acessado digitalmente em 16 de setembro de 2020. http://revistademorfologiaurbana.org/index.php/rm.