Está aberta a 19ª Semana Nacional de Museus (SNM)

Escrito por Larissa Bruno / Arte de  Juliana Cavalheiro

Entre os dias 17 a 23 de maio de 2021, ocorre em todo o Brasil, a 19ª Semana Nacional de Museus (SNM) – temporada cultural coordenada anualmente pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), em celebração ao Dia Internacional dos Museus (18 de Maio). O tema deste ano, lançado pelo Conselho Internacional de Museus (Icom) para a celebração da data é: “O futuro dos museus: recuperar e reimaginar”.

E, segundo o ditado: “Um povo sem memória é um povo sem futuro”, faz se necessário resgatar a memória negra, da gente preta e parda – e não somente dentro de museus físicos porque, visto que o passado é uma invenção do presente, permanecem e ditam a história os símbolos e personagens que são contados.

Assim, o movimento Racismo nas Ruas combate e questiona o racismo inserido na cidade através dos nomes de ruas e monumentos que buscam eternizar personagens escravocratas, buscando a substituição por figuras e símbolos que represente valores democráticos e igualitários – e não supremacistas e autoritários. Pode parecer que o debate é novo, mas o fenômeno ocorreu na Alemanha pós nazismo, na Espanha após a morte do ditador Francisco Franco, no Leste Europeu pós União Soviética e também em países colonizadores.

Foi, durante os anos de 1822 a 1889 que logradouros e municípios ganharam nomes de proeminentes personalidades do Império, independentemente da sua localização. O problema é que, com a passagem do tempo, as noções de inspirador para uma maioria pode se tornar cruel e criminoso para outra, pois o passado só tem sentido a partir do presente.

O debate primordial então, não é sobre tirar a estátua de ditador para colocar de guerrilheiro ou substituir o nome da rua que lembra uma personalidade racista, mas questionar quem é homenageado, por que e por quem, e se é a vontade daquela população manter a homenagem. A escrita da história é sempre feita no presente, e a memória está em disputa, porque a sociedade está sempre ressignificando a memória de seus antepassados.

Afinal, algo deve ser feito contra o racismo, e existem opções. Seja ressignificar aquele símbolo, com uma placa que explique o contexto ou uma intervenção artística, como em Bordeaux, grande porto de tráfico de escravos na França, em que nomes de vias com referência a traficantes de escravos foram mantidos, mas avisos ensinam o que ocorria na região e prestam outra homenagem: “A cidade de Bordeaux honra a memória dos escravos africanos que foram desumanamente deportados para as Américas”, diz uma placa.

Ou ainda banir os símbolos do espaço público, como fez a Espanha que debateu por anos como lidar com as estátuas de Franco, comandante do país entre 1936 e 1975. O país aprovou em 2007 a Lei da Memória Histórica e retirou das ruas todos os símbolos de homenagem à ditadura franquista, fossem monumentos ou nomenclaturas de vias.

No entanto, algo deve ser feito, e o passo inicial é o debate coletivo da história e das memórias que a compõem. E você, já se perguntou de quem são os nomes que levam as ruas de Pelotas ou quais histórias de vida guardam as estátuas da sua cidade?

Referências

CORRÊA, Carlos. Derrubada de estátuas de figuras ligadas à escravidão provoca debate sobre reescrever o passado. Disponível em: https://www.correiodopovo.com.br/especial/derrubada-de-est%C3%A1tuas-de-figuras-ligadas-%C3%A0-escravid%C3%A3o-provoca-debate-sobre-reescrever-o-passado-1.441932. Acesso em: 20 maio 2021.

SANTOS, Renan. Pela reparação histórica. Disponível em: https://www.diariopopular.com.br/geral/pela-reparacao-historica-152751/. Acesso em: 20 maio 2021

HARTMANN, Marcel. O que fazer com ruas e estátuas que homenageiam figuras associadas ao racismo? Estudiosos debatem soluções. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/noticia/2020/07/o-que-fazer-com-ruas-e-estatuas-que-homenageiam-figuras-associadas-ao-racismo-estudiosos-debatem-solucoes-ckc6btb6f0032013ibribg2ke.html. Acesso em: 20 maio 2021.MUSEUS, Instituto Brasileiro de. 19ª SEMANA NACIONAL DE MUSEUS. Disponível em: http://eventos.museus.gov.br/. Acesso em: 20 maio 2021