Informe 2
No dia 23 de julho de 2014, os bolsistas do projeto de extensão de implementação do Museu Arqueológico e Antropológico da UFPel (MUARAN), realizaram uma visita à futura sede do museu que está localizada no prédio da Laneira (Av. Duque de Caxias, Fragata). Essa atividade, como tantas outras, faz parte do rol de ações que já vêm sendo postas em prática pelo MUARAN, um museu que não se resume ao seu espaço físico, e, dessa forma, está em pleno funcionamento mesmo antes da inauguração de sua sede. O prédio da Laneira será o local de funcionamento dos cursos de Museologia e Conservação e Restauro, além de vários museus da UFPel, dentre os quais o próprio MUARAN.
A visita teve a participação do museólogo e mestrando em Memória e Patrimônio, Heron Moreira, cujas pesquisas atuais têm como tema o prédio da Laneira. A presença de Heron proporcionou a troca de informações importantes para o entendimento de aspectos da História do edifício e das memórias a ele relacionadas.
Outra presença importante nesta visita foi a da bolsista do MUARAN Miriam Helem Soares Fernandes, ex-funcionária da Laneira e aluna da graduação em História da UFPel. Miriam apresentou um rico apanhado sobre a época de funcionamento da fábrica, mostrando ao grupo a localização de algumas máquinas, que não estão mais no local, pois foram vendidas para sanar dívidas trabalhistas, indicou onde se davam atividades como a fiação e a tecelagem, divididas entre a parte de cima e de baixo do prédio, respectivamente. Além disso, ela apontou a existência de uma enfermaria, que se escavada pode revelar testemunhos materiais das doenças comuns naquele contexto. A própria Miriam adiantou que frequentemente os funcionários contraiam sarna, principalmente no verão, devido ao manuseio da lã. Outra questão relevante é o tempo de trabalho: a fábrica funcionava 24 horas, numa dinâmica de quatro turnos ininterruptos nos quais se aproveitava tudo da lã. A produção era direcionada a um exigente mercado exterior e Miriam se recorda da presença de observadores japoneses em todas as etapas do processo de produção: -“eles eram muito desconfiados”.
A grande maioria dos trabalhadores da fábrica era do próprio bairro Fragata, e ali trabalhavam famílias inteiras. Miriam conta que na década de 80 estourou uma greve na fábrica e os trabalhadores ficaram acampados impedindo a saída do produto para o porto. O sindicato dos comerciários deu o apoio logístico para as atividades de reivindicação desses trabalhadores e para sua subsistência durante a greve.
A área destinada ao MUARAN compreende um grande galpão que se encontra na porção mais antiga do conjunto arquitetônico, datado ainda dos anos 1940. A pouquíssima iluminação característica de construções fabris poderia ser um problema, mas se tornou ideal para a adaptação a um ambiente de museu. Além disso, foi verificada a existência de um portão que facilitará a mobilidade tanto de pessoas como de acervos de grande porte. O futuro museu terá um espaço destinado à reserva técnica, onde os acervos arqueológicos da UFPel serão salvaguardados em condições controladas.
O MUARAN será um museu de portas abertas, um museu inclusivo, que pretende movimentar culturalmente e socialmente a cidade de Pelotas.
Karollina Mendes de Magalhães, revisão: Pedro L. M. Sanches