Qual o valor da moda?

Karl Lagerfeld, homenageado do Met Gala 2023, acende discussão sobre merecimento

Por Yasmin Arroyo / Em Pauta

Maio iniciou-se com polêmica e glamour em Nova York, afinal, o Met Gala nunca sai ileso de notícias e brilhos. Entretanto, o alvo das críticas deste ano foi a escolha do tema, homenagem ao legado deixado por Karl Lagerfeld à moda.

O Met Gala é um evento de moda realizado pelo Metropolitan Museum of Art, de Nova York, toda 1ª segunda-feira do mês de maio, desde 1948, a fim de arrecadar fundos para o Museu. É considerado um dos eventos mais importantes da moda nos Estados Unidos, contando com o desfile de celebridades no “red carpet”, traduzido como tapete vermelho no Brasil.

Viola Davis e famosos usam rosa no MET Gala 2023. – Foto: Mike Coppola/Getty Images – Uso Autorizado POPline

Em todas as edições, as celebridades convidadas são cobradas por alta costura em paralelo à adequação ao tema. Esse ano, a temática voltou-se ao designer alemão Karl Lagerfeld, falecido em 2019. Embora Karl tenha sido grande referência estilista à moda ao performar como diretor criativo das grifes Chanel e Fendi até o fim de sua vida, o estilista disseminou misoginia e gordofobia durante toda sua carreira.

Em meio ao evento, as notícias dividiram-se entre críticas de moda e críticas sociopolíticas daqueles insatisfeitos com o tema escolhido. Além das discussões entre os internautas, convidadas como Viola Davis e Donatella Versace chamaram atenção ao vestirem-se de rosa, cor detestada por Langerfeld. Para além do posicionamento sutil, a atriz e ativista Jameela Jamil usou suas redes sociais para se lamentar pela homenagem do ano e questionar a presença daqueles que, mesmo que indiretamente, compactuaram com ódio às mulheres pregado pelo homenageado. 


Post de Jameela Jamil, em seu Instagram, contra o evento. – Foto: Reprodução

Ontem à noite, Hollywood e a moda se revelaram quando muitas feministas famosas escolheram celebrar, no mais alto nível, um homem que era tão publicamente cruel com as mulheres, com as pessoas gordas, com os imigrantes e com os sobreviventes de agressão sexual. E todas as publicações femininas e espectadores online optaram por ignorar alegremente “, postou a atriz, em seu Instagram.

Enquanto o ex-diretor ovacionava o culto à magreza e discriminava mulheres, movimentos em prol de direitos humanos e imigrantes, a população fazia sobressair o designer sofisticado, o que, inevitavelmente, silenciava dores e ignorava entraves modernos. A estudante de moda Ana Maria Lelis, de Batatais (SP), reconhece o talento de Karl mas lamenta a escolha de um tema que mantém impune a disseminação de preconceitos “Infelizmente, no cenário da moda ainda lidamos com muitos preconceitos mascarados e diversas problemáticas. Quando se trata desse assunto, Karl Lagerfeld não fica de fora. A homenagem a ele no Met Gala retrata todo seu legado na indústria como estilista, mas a partir do momento em que colocamos pessoas tão problemáticas como ele em um lugar de admiração, nunca teremos a mudança necessária para a moda”.

O peso desse lugar de admiração é o maior impacto àqueles que se empenham na construção de uma sociedade mais justa e menos desigual. Quando colocado no alto de uma imensa homenagem norte-americana, Karl Lagerfeld totaliza a representação de talento e saudosismo enquanto os discursos e posicionamentos problemáticos submetem-se ao esquecimento ou á conivência. Ambas as opções não são admitidas em um mundo onde a luta de ativistas por direitos humanos é forte, necessária e vigente.   

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