Estudantes bloqueiam entradas da FURG em protesto contra os cortes na educação

O grupo de estudantes protestava contra os cortes na educação, as entradas já foram liberadas

Por Vitor Porto

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Na madrugada desta terça-feira (18), estudantes bloquearam os acessos ao Campus Carreiros da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). A ação faz parte da mobilização dos estudantes e sindicatos contra os cortes no orçamento das instituições de ensino federais.

A articulação do movimento começou no dia 6 de outubro, um dia após o Governo Federal divulgar um contingenciamento de mais de R$1 bilhão no orçamento do Ministério da Educação (MEC). Após forte reação da comunidade acadêmica e o risco de diversas universidades fecharem as portas, o bloqueio orçamentário foi suspenso e a verba liberada.

Mas o recuo do Governo Federal não foi o suficiente para desmobilizar os estudantes e sindicatos. De acordo com a Reitoria da FURG, a situação financeira da universidade é preocupante, somente em 2022, o déficit nas contas já chegava a R$10 milhões e a previsão é que o orçamento de 2023 seja 12% menor do que o deste ano. 

Segundo a organização do protesto, o bloqueio das entradas vem sendo articulado com a comunidade acadêmica desde a semana passada. “A revolta foi imensa por parte da comunidade acadêmica, as entidades base da FURG, como AptaFurg, AproFurg, APG, CEUs tanto do IF quanto da FURG, decidiram por fazer uma assembleia unificada no dia 6 e nessa assembleia foi decidido por tomarmos o calendário de luta da União Nacional dos Estudantes, em que passaríamos a semana do dia 10 ao dia 14 fazendo esse contato com a comunidade e com os estudantes, dialogando e reforçando a necessidade de uma mobilização para o ato do dia 18.” 

Ainda de acordo com os organizadores, o objetivo do trancamento da universidade é possibilitar que os estudantes possam comparecer ao ato marcado para às 14 horas no Largo Dr. Pio, no centro de Rio Grande. “O DCE está negociando com a Reitoria para que a gente consiga o cancelamento das aulas e a massificação do ato a partir das 14 horas” – Explica Marianna Duarte, coordenadora do DCE.

Sindicato dos professores, AproFurg adere ao protesto 

Em assembleia realizada na noite de ontem, segunda-feira (17), o sindicato dos professores da FURG e IFRS – Câmpus Rio Grande, AproFurg, votou por unanimidade aderir aos protestos do dia 18. Segundo a presidenta do sindicato, Marcia Umpierre, a orientação foi para os professores cancelarem as aulas nesta terça-feira, mas a decisão final ficou a cargo de cada docente. 

“É uma decisão do docente. A gente entende que esse ato que os estudantes estão fazendo é imprescindível para que o movimento funcione. Infelizmente, nem todo mundo faz adesão e nem todo mundo tá consciente da gravidade da situação que a universidade se encontra. Então, mais do que nunca, estamos juntos, professores técnicos e estudantes que mobilizam a universidade, mostrando a importância da gente estar juntos na luta e fortalecendo nas ações da universidade para que a gente possa recuperar quantos cortes. A gente sempre pede para que os docentes tomem consciência da ação que é importante porque se não for isso a gente vai continuar tendo inviabilização das atividades de ensino de pesquisa e extensão. Então os estudantes estão aqui não é porque eles são rebeldes, é porque eles são conscientes da necessidade de rever todos os cortes da educação.” – Explica Marcia.

Durante a manhã, alguns poucos professores tentaram furar o bloqueio dos estudantes. Houve um princípio de confusão quando um suposto professor tentou furar o bloqueio, avançando com seu carro em direção aos manifestantes. O motorista foi contido e ninguém se feriu. 

“Tivemos um ataque com um dos professores da FURG que acabou colocando o carro por cima da gente” – Relata Marianna. “A gente estava esperando esse tipo de coisa, mas ao mesmo tempo é perigoso.” – Complementa. 

“A gente fica muito triste, é importante identificar quem é esse docente porque é inadmissível que um professor faça isso diante de alunos que estão aqui para defender a universidade. Então a gente vai pedir sim a identificação do docente para compreender os fatos porque ninguém aqui está agindo de forma violenta e não vai aceitar nenhum ato então a gente não vai aceitar nenhum ato violento contra os estudantes” – Comenta a presidenta da AproFurg sobre o caso.

A maioria dos professores, funcionários e estudantes que se deslocaram até as dependências da universidade dialogaram pacificamente com os estudantes que bloqueavam o acesso. 

Um dos professores, que preferiu não ser identificado, disse que apoia a pauta dos estudantes, mas discorda do método utilizado. “A manifestação é justa, o que ele (presidente da República) está fazendo com a educação não tem precedentes. Tenho projetos de extensão que envolvem as escolas do ensino médio e fundamental e não estou conseguindo dar continuidade pela falta de verba. Vou citar o meu exemplo, precisamos de transporte para trazer as crianças daqui para mostrar a universidade e incentivar a depois vir estudar aqui. Então esse fato da universidade não ter mais dinheiro é real.” 

Apesar de apoiar as reivindicações dos manifestantes, o professor salientou que não concorda com o bloqueio da maneira que foi feito. “A manifestação é justa, mas eu particularmente não faria esse tipo de manifestação.” 

Reitoria suspende as atividades e estudantes liberam as entradas da FURG

Após negociação com os estudantes, a Reitoria cancelou as aulas e atividades administrativas durante o restante da terça-feira. O Reitor em exercício, Renato Duro, emitiu a Portaria N°15/22 suspendendo todas as atividades a partir do meio-dia. Em nota, a Reitoria afirma que serviços considerados essenciais, como o do Grupo de Vigilância, Hospital Universitário e Coordenação da Frota não são afetados pela decisão.

Com isso, os estudantes que ocupavam os acessos da universidade liberaram os portões ao meio-dia, permitindo a entrada e saída do Campus Carreiros. 

O ato deve continuar às 14 horas no Largo Dr. Pio. Às 18 horas os manifestantes devem seguir em caminhada pelas ruas do centro da cidade.

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