Estande da Associação de Catadores na 31ª Fenadoce mostra a força da reciclagem e da economia circular

Com trajetória marcada pela luta e pela sustentabilidade, a associação apresenta ações de logística reversa e conscientização ambiental na feira.

Por Bárbara Beatriz A. Carvalho

Criada por Fernando Rodrigues, conhecido como Feart da Sucata, a escultura representa uma formiga em tamanho ampliado, feita com vergalhões e materiais reaproveitados. Localizada à direita do estande da Associação de Catadores na Fenadoce, a peça traz, na parte traseira, uma lata de lixo, em alusão ao trabalho diário de coleta e separação de resíduos. Foto: Bárbara Beatriz

Com mais de três décadas de atuação em Pelotas, a associação de catadores marcou presença na Fenadoce com um estande que mistura conscientização ambiental, inclusão social e criatividade. A iniciativa busca valorizar o papel dos catadores dentro do processo de logística reversa e reforçar a importância da economia circular.

A história do grupo começou nos anos 2000, quando os irmãos João Carlos e Galdêncio Oliveira dos Santos atuavam como catadores e, ao mesmo tempo, realizavam palestras em escolas sobre sustentabilidade e reciclagem. O contato com estudantes e educadores os motivou a iniciar um movimento maior. Em 2005, foi realizado o primeiro Fórum do Lixo, na Praça do Cerramento, onde conseguiram resgatar 20 pessoas em situação de vulnerabilidade. Desde 2009, João e Galdêncio coordenam oficialmente a associação.

Atualmente, o grupo atua próximo aos containers da cidade — o que, na prática, é um lixão a céu aberto — e organiza um espaço itinerante com oficinas lúdicas. Brinquedos feitos com materiais recicláveis são criados por oficineiras como Vilma Novac, mostrando que a transformação de resíduos em objetos úteis é possível. A proposta é demonstrar que os resíduos podem retornar ao ciclo produtivo, reforçando a ideia de economia circular. A latinha de alumínio é citada como um dos poucos materiais que retornam integralmente ao mercado.

Com estrutura formada a partir de rolhas reutilizadas, o burrinho é resultado do trabalho artesanal promovido pelas oficineiras da associação. A criação reforça o conceito de reaproveitamento e estimula o olhar educativo sobre o descarte cotidiano. Foto: Bárbara Beatriz

A boneca, criada com tampinhas de garrafa, fios e sobras de plástico, é um dos brinquedos expostos no estande da Associação de Catadores na Fenadoce. A peça integra as oficinas lúdicas realizadas pelo grupo e exemplifica como resíduos descartados podem ganhar nova função. Foto: Bárbara Beatriz

Feito a partir de garrafas PET e recortes plásticos, o dinossauro faz parte do conjunto de brinquedos recicláveis apresentados no estande. A peça convida o público a repensar o destino dos resíduos e o potencial criativo da reciclagem. Foto: Bárbara Beatriz

A ação está alinhada aos princípios da Lei 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. A legislação define a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, destacando a importância da logística reversa e da inclusão dos catadores nesse processo.

Durante entrevista no estande, João Carlos refletiu: Se pegarmos a cabeça de um cientista e a de um catador, ambos têm a mesma capacidade. Nós, seres humanos, é que colocamos resistência no nosso cérebro.

João Carlos e Galdêncio Oliveira dos Santos coordenam a Associação de Catadores há mais de três décadas. Na Fenadoce, o estande do grupo apresenta ações de reciclagem, logística reversa e educação ambiental. Foto: Bárbara Beatriz

Já Galdêncio reforça o papel coletivo do projeto: “Nós trabalhamos em rede, nada se faz sozinho.

A presença da associação na feira também se conecta a discussões sobre ESG (Ambiental, Social e Governança) e incentiva o público a refletir sobre o consumo responsável. Segundo os organizadores, ações como essa ajudam a aumentar o retorno de materiais recicláveis aos catadores e incentivam empresas a reconhecê-los como agentes essenciais da cadeia de reaproveitamento.

Feita com materiais recicláveis, a formiga preta integra o estande da Associação de Catadores na Fenadoce. Em meio à celebração dos sabores da feira, a peça chama atenção para quem atua nos bastidores da cidade: o trabalho silencioso de quem cuida do que sobra — e transforma descarte em possibilidade. Foto: Bárbara Beatriz

A associação busca fortalecer o reconhecimento da categoria em meio a desafios estruturais. Embora muitos catadores estejam registrados no CadÚnico, ainda há falta de políticas públicas que os incluam de forma efetiva. Em Pelotas, a geração média é de 300 toneladas de lixo doméstico por dia, segundo os coordenadores do projeto, e o número evidencia o limite da reciclagem feita sem apoio. Mesmo com previsão de R$ 400 milhões em verbas federais destinadas ao setor, à categoria segue atuando próximo aos containers espalhados pelas cidades, muitas vezes sem condições adequadas.

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