Aula inaugural da UFPel aborda Educação Ambiental na extensão
A educação ambiental é relação, encontro, diálogo, contato – e não se limita a um projeto: trata-se de um processo. Essa foi a tônica da reflexão trazida pela professora Márcia dos Santos Ramos Berreta, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), na Aula Inaugural do semestre da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). No evento, realizado nesta sexta-feira (12) no Centro de Artes, a convidada, ligada à unidade Hortênsias da Uergs, no município de São Francisco de Paula, trouxe a experiência da educação ambiental no local e traçou um panorama do que se entende pela atividade especialmente no âmbito do fazer extensionista.
De acordo com a professora, o ambiente está no coração de qualquer projeto de educação. Mas o ambiente como tal não é o objeto da educação ambiental. O foco desta será a relação que se tem com o ambiente. Conforme a docente, a educação ambiental não é uma “forma” de educação nem uma ferramenta para resolução de problemas ou gestão do meio ambiente. “É uma dimensão essencial da educação fundamental que diz respeito a uma esfera de interações que está na base do desenvolvimento pessoal e social: a da relação com o meio em que vivemos, com essa ‘casa’ compartilhada”, pontua.
Para abordar a questão, Márcia traz a voz da autora Lucie Sauvé, para a qual a educação ambiental sustenta-se em três pilares: o engajamento cívico e acadêmico; aprendizado coletivo, pesquisa participativa e ação social; e “compartilhar” como palavra de ordem.
Na avaliação da docente, o diálogo com os estudantes e comunidade é fundamental para fomentar a reflexão de que a ação de cada pessoa interfere no todo. “Não se pode desperdiçar o momento de reflexão, de conversa, de contato. A gente vive num coletivo e tudo está interligado. A educação ambiental é uma resposta política. Se não tiver o princípio da reflexão, da crítica, da cidadania, não cria capacidades e relações desenvolvidas: é só um mero projeto. E para educação ambiental não há receita de bolo”, salienta.
A palestrante lembrou ainda que a área exige que se pense além das “caixinhas” para que as perspectivas educacional – para o desenvolvimento integral dos indivíduos e grupos sociais – e pedagógica – para enriquecer as formas de ensino e aprendizagem – se estabeleçam. “Educação ambiental é discutir, escutar, apresentar, conversar, contrapor, apoiar. São impressionantes os resultados que observamos na Uergs com os alunos que fazem extensão universitária. O amadurecimento do estudante na universidade ocorre muito rápido e isso reflete nas aulas e nas relações fraternas entre eles”, avalia. Assim, através da extensão se propiciam a democratização do conhecimento, a participação efetiva da comunidade na atuação da universidade e a produção acadêmica resultante da realidade. “Se isso não está acontecendo, tenho que repensar”, alerta.
A professora destacou também que é necessário estar preparado para a universidade do século 21, mapear e evidenciar o que já se faz e fortalecer a formação universitária com os processos e movimentos empáticos entre sociedade e universidade. De acordo com ela, a extensão promove a renovação e a ampliação do conceito de “sala de aula”, que deixa de ser o lugar privilegiado para o ato de aprender, adquirindo uma estrutura ágil e dinâmica, caracterizada por uma efetiva aprendizagem recíproca de estudantes, servidores e sociedade, ocorrendo em qualquer espaço e momento, dentro e fora da universidade. “A Educação Ambiental tem em sua particularidade a capacidade de transformar pela aprendizagem o estudante e o cidadão, possibilitando o pensamento crítico, consciente, competente e criativo capaz de participar do debate político e contribuir com a sua realidade social, política, ecológica”, finalizou.
Projetos
Durante a explanação, Márcia falou sobre os projetos Curiaçu – que busca restabelecer e firmar os laços culturais e preservacionistas com a Floresta Nacional de Canela, por meio do incentivo à educação ambiental – e Fala Serrano, programa de rádio com entrevistas com especialistas em vários temas socioambientais. A convidada contou também sobre a iniciativa Berço das Águas, que envolve mapeamento e diagnóstico de nascentes da Região das Hortênsias, e Raízes, que tem o objetivo de valorizar as práticas socioeconômicas, turísticas e ambientais da agricultura familiar das localidades rurais de São Francisco de Paula.
Desafio às universidades
A Pró-Reitora de Ensino da UFPel, Fátima Cóssio, destacou na ocasião que as instituições de ensino ainda estão buscando formas de se relacionar com suas comunidades. “Muitas coisas se faz, sabemos dessa importância, mas acredito que a grande contribuição que podemos dar é propiciar condições de pensamento autônomo e contribuir na formação de pessoas que possam conviver com o mundo de maneiras diferentes. Precisamos nos recuperar como gente e como sociedade”, destacou.
A Vice-Reitora, Úrsula Silva, assinalou que o desafio é que cada curso possa pensar no ambiente a partir de sua área. “Foi um momento propício para muitas reflexões sobre o desafio de articular ensino, pesquisa e extensão”.
Assista
A Aula Inaugural pode ser assistida na íntegra no canal da UFPel no YouTube.