Voltar para Artigos Clio HD

Objetos Digitais de Aprendizagem: websites enquanto ODA

 

Thalis Figueiredo Sartório
(Mestrando em História/UFPEL)

 

The Oxygen Team, KDE.

Os encontros da História com o Digital e a Internet permeiam uma história do historiador com a máquina e nessa história, momentos distintos se perpassam, como o de preservação de fontes históricas, por meio da digitalização ou coleta de dados no espaço virtual (GRINBERG; ALMEIDA, 2012); o uso da máquina nas longas séries de dados da História Econômica; e ao uso da programação nas pesquisas históricas, como por exemplo o web scraping, a raspagem de dados feita por meio da linguagem de programação Python (BRASIL, 2023), e o uso de ferramentas digitais na pesquisa histórica (BRASIL; NASCIMENTO, 2020). Mas além do campo da pesquisa, a História Digital tem seus encontros no Ensino de História, como forma de divulgação histórica ou de construção de conteúdos históricos destinados à educação básica, alimentando diversos portais, que podem e devem serem utilizados em sala de aula e questionados (DE OLIVEIRA, 2014).

Os historiadores, professores de História, tem encontrado nos websites, um recurso que possibilita expandir os conteúdos da sala de aula, como também criar abordagens que façam a divulgação de seus estudos e possibilitem um diálogo maior, seguindo os preceitos de Rüsen (2001) para conceber a matriz histórica. Nesse cenário, os websites têm se tornado possibilidades, provindas de mestrados profissionais, por vezes, mas também de outros pesquisadores. Dentro desse panorama, os recursos podem serem pensados como Objetos Digitais de Aprendizagem e compõe parte das coletas presentes no Portal Clio HD, como forma de reunir produções e oportunizar um catálogo para o usuário que desejar fazer seu uso em sala de aula, ou consumir divulgação histórica dos pesquisadores.

Cabe então, falar acerca do site Portal Clio HD – Acervo de Fontes e Objetos Digitais para o Ensino e Pesquisa em História – que é um projeto em História Digital na UFPEL, centrado na coleta de fontes digitais. O site também abarca, na seção “História Digital”, os “Objetos Digitais”, entre eles Museus Digitais e outros websites voltados a História/Ensino de História (PORTAL CLIOHD, c2022).

O que seria ODA?

Já que apresentamos o Portal Clio, passamos para a conversa sobre ODA, os Objetos Digitais de Aprendizagem, que segundo Mercado, Silva e Gracindo

A principal ideia dos objetos de aprendizagem é quebrar o conteúdo educacional em pequenos pedaços que possam ser reutilizados em diferentes ambientes de aprendizagem, em um espírito de orientação orientada a objetos, qualquer entidade, digital ou não, que possa ser usada, reutilizada ou referenciada durante o uso de tecnologias que suportem ensino. (MERCADO; SILVA; GRACINDO, 2008. p.112).

Interessante a origem da ideia de Objeto, que segundo os autores viria do paradigma de programação orientado a objetos, o que relaciona o conceito com o Digital, o virtual. Em linhas gerais, um paradigma de programação é uma forma na qual se escrever um código e um objeto dentro desse paradigma é “como algo genérico, que pode representar qualquer coisa tangível” (ALURA, 2023). Dessa forma, temos que o termo objeto representa algo que é modelável e que se adapta a diversos contextos, o que é importante aqui, já que o objeto em questão são website

Seguindo, em “Objetos Digitais de Aprendizagem: uma conversa inicial”, os autores dentro do campo do ensino de língua inglesa, realizam uma interessante conceituação do que seriam ODA, remetendo ao período pandêmico e como a necessidade de contato com o estudante modificou os paradigmas do que é o virtual, o digital para com a escola e educação. (SOUSA et al, 2023). Passa pela questão de ser utilizado dentro como fora da sala de aula, ser de naturezas distintas, animações, websites, simuladores, videoaulas etc. Não há um padrão específico para determinar o que seria ODA, mas os autores trazem pontos oportunos a reflexão acerca do como pensar os objetos. Sendo eles

(a) reusabilidade – ser reutilizável diversas vezes em diversas situações e ambientes de aprendizagem, (b) adaptabilidade – ser adaptável a diversas situações de ensino e aprendizagem, (c) granularidade – apresentar conteúdo atômico, para facilitar a usabilidade, (d) acessibilidade – ser facilmente acessível via internet para ser usado em diversos locais ou, ainda, ser potencialmente acessível a usuários com necessidades especiais, (e) durabilidade:  apresentar possibilidade de continuar a ser usado independentemente de mudança de  tecnologia, e (f) interoperabilidade: apresentar possibilidade de operar por meio de  variedade de hardwares, sistemas operacionais e browsers. (SOUSA et al, 2023, p. 15)

Em síntese, todos os itens contrapõem objetos de aprendizagem não digitais, como o livro, e quaisquer outros. O ponto é pensar que um website, por exemplo é sempre recebido uma cópia do código-fonte que está hospedado, guardado em um servidor, que é um tipo de computador e essa cópia é lida pelo navegador. Então ele pode ser usado novamente, enquanto o link de acesso permanecer ativo. Em relação a adaptabilidade, um site pode ser programado de modo que as fontes tenham tamanho relativo ao tamanho da fonte do aparelho eletrônico. E assim, se o usuário tiver um tamanho de fonte de tamanho 36, todas fontes do site vão se alterar para se adaptarem ao usuário e suas necessidades. Isso não quer dizer que todos os objetos serão acessíveis, mas que oferecem mais facilidade que objetos não digitais.

Já o aspecto da granularidade, em relação ao website, pode ser pensado quanto aos blocos de textos, as separações e seções que podem serem feitas para instigar a leitura, com textos mais curtos. Faz parte do design de experiência do usuário ou UX, pensar a usabilidade do produto que sirva para o usuário.

Passando para o próximo ponto, têm-se que a ODA apresenta durabilidade e pode ser um ponto interessante a se pensar, tomando por exemplo a música. Se antes de tecnologias que capturassem o som e o armazenasse existissem, só havia a possibilidade de cantar ou ouvir alguém cantar. Depois, com o rádio, com a fita, cd, dvd, pen drive e outros suportes de difusão e armazenamento, havia-se possibilidade de ouvir a música, mas os suportes mudavam. Com o digital, a música pode ser acessada por plataformas distintas de streaming, e assim, apresenta durabilidade. Juntamente com a questão anterior, a interoperabilidade, é essa característica de um website, software etc.,  “abrir/rodar/executar” em sistemas operacionais distintos, como Linux, Windows ou Mac, ou distintos navegadores ou browsers, como Chrome, Edge, Opera ou Safari, entre vários, enquanto recursos não digitais ficam “presos” ao seus formatos e suportes de uso.

ODA enquanto recurso digital estratégico

Em síntese, pode-se pensar que “qualquer recurso digital que possa ser (re)usado para apoiar a aprendizagem é considerado um ODA, temos uma ideia padrão de que diferentes plataformas digitais podem ser usadas com propósito educacional, contando que haja uma estratégia com tal intuito.” (SOUSA et al, 2023, p. 15). Plataformas digitais pensadas com estratégia de ensino, volta-se ao ponto central, precisa-se de planejamento didático para o uso da ferramenta, para atender determinados objetivos no ensino de História, como outros objetos de aprendizagem que não são digitais, como um livro.

A partir dessa conceitualização, identificamos os websites presentes no Portal Clio HD, como Objetos Digitais de Aprendizagem e especificamente os desenvolvidos pelo autor, o Andanças pela História do Brasil e Jornadas pelo México Colonial, como também, Estudo Errado?. Concebidos nos pressupostos de ODA e não apenas construídos, mas em construção vindos das necessidades, sejam de acessibilidade, navegabilidade, interação com o usuário etc., que os websites exijam ao uso.

Apresentando os websites, temos Andanças pela História do Brasil, que é fruto do Trabalho de Conclusão de Curso em História Licenciatura e aborda a história do Brasil, nos períodos de Colônia, Império e República, resultante das pesquisas e aulas ministradas no Curso Pré-Universitário Popular Quinta Superação, localizado em Rio Grande/RS. Em Jornadas pelo México Colonial, têm-se o resultado de uma atividade proposta na disciplina de História da América Colonial e aborda o período anterior a invasão, o período colonial e a resistência na contemporaneidade. Por último, tem-se Estudo Errado?, atividade realizada na disciplina de Estágio Supervisionado em História I, a partir de uma provocação da professora de pensar uma atividade, material, tendo ponto de partida a música Estudo Errado de Gabriel Pensador.

São produtos de pesquisa própria ou compartilhada, com a colaboração de outros pesquisadores, que conversam com Rüsen (2001), de pensar um retorno da pesquisa histórica a sociedade, sua divulgação e ensino, seus pressupostos enquanto ODA, enquanto algo que se remodela com as necessidades ou também com recriações em cima do material já feito com mais facilidade que os objetos não digitais. Cabe finalizar, ponderando a pertinência e possiblidades de ODA no ensino de História, dentro desse campo da História Digital, que confronta o passado com artefatos tecnológicos e que devem terem espaço nas salas de aula de História.

Referências:

BRASIL, Eric; NASCIMENTO, Leonardo Fernandes. História digital: reflexões a partir da Hemeroteca Digital Brasileira e do uso de CAQDAS na reelaboração da pesquisa histórica. Estudos Históricos (Rio de Janeiro), v. 33, p. 196-219, 2020.

BRASIL, Eric. pyHDB-ferramenta heurística para a Hemeroteca Digital Brasileira: utilizando técnicas de web scraping para a pesquisa em história. História da Historiografia, v. 15, p. 186-217, 2023.

DE OLIVEIRA, Nucia Alexandra Silva. História e internet: conexões possíveis. Revista tempo e argumento, v. 6, n. 12, p. 23-53, 2014.

GRINBERG, Keila; ALMEIDA, Anita. Detetives do passado no mundo do futuro: divulgação científica, ensino de História e internet. Revista História Hoje, v. 1, n. 1, p. 315-326, 2012.

HENRIQUE, João. POO: o que é programação orientada a objetos?. Alura, 2023. Disponível em: https://www.alura.com.br/artigos/poo-programacao-orientada-a-objetos. Acesso em: 10 de mar. de 2024.

MERCADO, Luís Paulo Leopoldo; DA SILVA, Alex Melo; GRACINDO, Heloísa Barbosa Rocha. Utilização didática de objetos digitais de aprendizagem na educação on-line. Eccos–Revista Científica, v. 10, n. 1, p. 105-124, 2008.

RÜSEN, Jörn. Pragmática – a constituição do pensamento histórico na vida prática. In: Razão histórica – teoria da história: os fundamentos da ciência histórica. Brasília, Editora da UNB, 2001, p.53-67.

PORTAL CLIO HD. PORTAL CLIO HD: Acervo de Fontes e Objetos Digitais para o Ensino e Pesquisa em História, c2022. SOBRE. Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/cliohd/sobre-cliohd/.  Acesso em: 10 de mar. de 2024.

_____

Artigo publicado em 08 de agosto de 2024

Como citar este artigo: SARTÓRIO, Thalis Figueiredo.  Objetos Digitais de Aprendizagem: websites enquanto ODA In: Artigos Portal Clio HD, 2024. Disponível em: (inserir o link da página).

 

Sobre o autor:

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pelotas – UFPEL , na linha de pesquisa Imagens: Entre iconografia, cultura visual e intermidialidade. Graduado em História Licenciatura pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Técnico em Informática para Internet pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS. Integrou o PIBID entre 2020 e 2022, como bolsista. Atualmente é educador de História e coordenador do curso Pré Universitário Popular Quinta Superação, vinculado ao Programa de Auxilio ao Ingresso nos Ensinos Técnicos e Superior (PAIETS/FURG).  Colaborador do “Portal Clio HD – Acervo de Fontes e Objetos Digitais para o Ensino e a Pesquisa em História”, na UFPEL. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3946314982248768