(A teus pés, 1982)
Psicografia [Ana Cristina Cesar]
(Inéditos e dispersos, 1985)
[O tempo fecha] [Ana Cristina Cesar]
(A teus pés, 1982)
[Olho por muito tempo] [Ana Cristina Cesar]
(Cenas de abril, 1979)
Conversa de senhoras [Ana Cristina Cesar]
Não preciso nem casar
Tiro dele tudo que preciso
Não saio mais daqui
Duvido muito
Esse assunto de mulher já terminou
O gato comeu e regalou-se
Ele dança que nem um realejo
Escritor não existe mais
Mas também não precisa virar deus
Tem alguém na casa
Você acha que ele aguenta?
Sr. ternura está batendo
Eu não estava nem aí
Conchavando: eu faço a tréplica
Armadilha: louca pra saber
Ela é esquisita
Também você mente demais
Ele está me patrulhando
Para quem você vendeu seu tempo?
Não sei dizer: fiquei com o gauche
Não tem a menor lógica
Mas e o trampo?
Ele está bonzinho
Acho que é mentira
Não começa
(A teus pés, 1982)
Fato bruto [Leila Danziger]
A partir de uma foto do jornal O Globo, de 6 de agosto de 2005.
Encontrei a baleia encalhada
entre um anúncio de eletrodomésticos
e algumas notícias gastas.
Palavras de puro mato
envolviam sua carcaça triste e obscena.
A baleia pedia crônicas de espanto
mas nem as ondas revoltam-se –
não há assombro por sua carne inerte.
Na faixa de areia
a moça dá as costas ao fato bruto
que é uma baleia encalhada
e continua tranquila
seu bronzeado.
(Mas o sol não esquece
– naquele mesmo dia
há sessenta anos
– sobre o Pacífico –
o calor de dez mil rivais.)
Minha dúvida é onde fazer um túmulo digno para a baleia –
que conhece as águas e as cinzas.
Enterro seu corpo de imagem
por entre as páginas que nos contam o dilúvio.
Assinalo no calendário
– agosto é mês de baleias mortas.
Três ensaios de fala (2012)
Em Sarajevo [Claudia Roquette-Pinto]
Na primeira foto ela ri,
selvagem,
e se mistura às amigas.
Um ano mais tarde,
posa com as mãos no colo,
coluna reta,
os pés cruzados pra trás.
Por dentro do uniforme pressente
uma mulher, a passos largos,
galgando as ruas de grandes cidades
— quem sabe no exterior.
Quando a vi, ali, distraída,
na escada do ônibus escolar,
nada me preparou para suas pernas abertas,
no meio a flor dilacerada
repetindo, entre as coxas,
o buraco da bala no peito:
um dois pontos insólito.
Margem de manobra (2005)
Museu [Ana Martins Marques]
A leitura que faltava / Fractal [Carlito Azevedo]
No meio da faixa de terreno destinada a trânsito tinha um
[mineral da natureza das rochas duro e sólido
tinha um mineral da natureza das rochas duro e sólido no
[ meio da faixa de terreno destinada a trânsito
tinha um mineral da natureza das rochas duro e sólido
no meio da faixa de terreno destinada a trânsito tinha um
[mineral da natureza das rochas duro e sólido.
Nunca me esquecerei deste acontecimento
Na vida de minhas oculares internas em que
[estão as células nervosas que recebem
[estímulos luminosos e onde se projetam
[as imagens produzidas pelo sistema
[ótico ocular, tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio da faixa de terreno
[destinada a trânsito
tinha um mineral da natureza das rochas duro e sólido
tinha um mineral da natureza das rochas duro e sólido
[no meio da faixa de terreno destinada a trânsito
no meio da faixa de terreno destinada a trânsito tinha um
[mineral da natureza das rochas duro e sólido.
[Collapsus Linguae, 1991; 1998]