A partir de uma foto do jornal O Globo, de 6 de agosto de 2005.
Encontrei a baleia encalhada
entre um anúncio de eletrodomésticos
e algumas notícias gastas.
Palavras de puro mato
envolviam sua carcaça triste e obscena.
A baleia pedia crônicas de espanto
mas nem as ondas revoltam-se –
não há assombro por sua carne inerte.
Na faixa de areia
a moça dá as costas ao fato bruto
que é uma baleia encalhada
e continua tranquila
seu bronzeado.
(Mas o sol não esquece
– naquele mesmo dia
há sessenta anos
– sobre o Pacífico –
o calor de dez mil rivais.)
Minha dúvida é onde fazer um túmulo digno para a baleia –
que conhece as águas e as cinzas.
Enterro seu corpo de imagem
por entre as páginas que nos contam o dilúvio.
Assinalo no calendário
– agosto é mês de baleias mortas.
Três ensaios de fala (2012)