Iniciação [Orides Fontela]

Se vens a uma terra estranha
curva-te

se este lugar é esquisito
curva-te

se o dia é todo estranheza
submete-te

— és infinitamente mais estranho.

(Rosácea)

Disciplina: Teoria e Crítica da Poesia [2019]

Disciplina: Teoria e Crítica da Poesia
Recorte: Poéticas de uma certa modernidade brasileira: Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Hilda Hilst, Ana Cristina Cesar, Paulo Leminski e Orides Fontela.

Horário: terça-feira, das 8h às 11h40
Início das atividades: 19 de março

Obras poéticas
Carlos Drummond, A rosa do povo (1945)
Carlos Drummond, Claro enigma (1951)
João Cabral, Psicologia da Composição com a Fábula de Anfion e Antiode (1947)
João Cabral, A educação pela pedra (1966)
Hilda Hilst, Júbilo, memória, noviciado da paixão (1974)
Hilda Hilst, Da morte. Odes mínimas (1980)
Ana Cristina Cesar, Luvas de pelica (1980)
Ana Cristina Cesar, A teus pés (1982)
Paulo Leminski, Caprichos & relaxos (1983)
Paulo Leminski, Distraídos venceremos (1987)
Orides Fontela, Alba (1983)
Orides Fontela, Rosácea (1986)

L’albatros [Charles Baudelaire]

Souvent, pour s’amuser, les hommes d’équipage
Prennent des albatros, vastes oiseaux des mers,
Qui suivent, indolents compagnons de voyage,
Le navire glissant sur les gouffres amers.

A peine les ont-ils déposés sur les planches,
Que ces rois de l’azur, maladroits et honteux,
Laissent piteusement leurs grandes ailes blanches
Comme des avirons traîner à côté d’eux.

Ce voyageur ailé, comme il est gauche et veule!
Lui, naguère si beau, qu’il est comique et laid!
L’un agace son bec avec un brûle-gueule,
L’autre mime, en boitant, l’infirme qui volait!

Le Poète est semblable au prince des nuées
Qui hante la tempête et se rit de l’archer;
Exilé sur le sol au milieu des huées,
Ses ailes de géant l’empêchent de marcher.

(Les fleurs du mal / As flores do mal, 1857)

O albatroz [Charles Baudelaire] [Guilherme de Almeida]

Às vezes, por prazer, os homens de equipagem
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.

Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.

Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico um cachimbo,
Outro põe-se a imitar o enfermo que coxeia!

O Poeta é semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
As asas de gigante impedem-no de andar.

Tradução: Guilherme de Almeida
(As flores do mal, 1857)

O albatroz [Charles Baudelaire] [Ivan Junqueira]

Às vezes, por prazer, os homens da equipagem
Pegam um albatroz, imensa ave dos mares,
Que acompanha, indolente parceiro de viagem,
O navio a singrar por glaucos patamares.

Tão logo o estendem sobre as tábuas do convés,
O monarca do azul, canhestro e envergonhado,
Deixa pender, qual par de remos junto aos pés,
As asas em que fulge um branco imaculado.

Antes tão belo, como é feio na desgraça
Esse viajante agora flácido e acanhado!
Um, com o cachimbo, lhe enche o bico de fumaça,
Outro, a coxear, imita o enfermo outrora alado!

O Poeta se compara ao príncipe da altura
Que enfrenta os vendavais e ri da seta no ar;
Exilado no chão, em meio à turba obscura,
As asas de gigante impedem-no de andar.

Tradução: Ivan Junqueira
(As flores do mal, 1857)