Shadow

 

Mago e cirurgião relacionam-se como pintor e operador de câmera. Em seu trabalho, o pintor observa uma distância natural em relação ao dado; o operador de câmera, ao contrário, penetra profundamente no tecido daquilo que está dado. As imagens que ambos geram a partir daí são tremendamente diferentes. A do pintor é total, a do operador de câmera é dividida em múltiplas partes que se reúnem segundo uma nova lei. Assim, a apresentação cinematográfica da realidade é incomparavelmente mais significativa para o homem contemporâneo, pois ela obtém o aspecto livre de aparatos da realidade – o qual é por ele legitimamente exigido da obra de arte – justamente por meio de sua penetração intensivíssima com a aparelhagem.

Walter Benjamin, em A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica.

Epígrafe do livro A Falência do Narrador.

 

A oitava temporada do projeto 24 Frames de Literatura se estabelece como uma retomada de discussões importantes efetuadas no histórico de seus quase 8 anos de atividade. Também inaugura um novo formato, virtual, em virtude das medidas de segurança e distanciamento social tão necessárias nesse momento delicado. Em virtude desse formato, essa temporada é oferecida em parceria com os pesquisadores envolvidos na organização do Ciclo SILCE, a quem estendemos nosso imenso agradecimento. Ao longo desses quatro encontros introdutórios serão abordados conceitos, questionamentos, análises e proposições teóricas no campo da Literatura Comparada, trazendo para o texto – objeto interdisciplinar, como destacou Barthes – algumas inquietações e desdobramentos que nasceram ao decorrer de suas sete temporadas anteriores.

Ao dividir os encontros como uma narrativa literária, cada etapa desse processo remete à história de criação do projeto, como em uma breve sinopse, ao mesmo tempo em que destaca um percurso de leituras e discussões que culminaram na elaboração da teoria do megaobservador, proposta pelos professores João Luis Pereira Ourique e Carlos Ossanes na obra A Falência do Narrador: ou quem está narrando esta história?.

Além disso, as discussões, mesmo que com um momento de conclusão, são ainda embrionárias e o paradigma em aberto; exatamente por isso a temporada se chama prólogo. Os encontros serão um momento de discussão coletiva sobre a ideia, sobre o histórico e futuro do projeto, assim como, igualmente, dos desdobramentos possíveis da teoria do megaobservador.

Orientação e coordenação geral: Prof. Dr. João Luis Pereira Ourique (UFPel).

Coordenação e mediação da temporada: Prof. Me. Carlos Ossanes e Profa. Ma. Julia Garcia.

 

 

06/04, às 15h – Introdução | encontro I

A concepção da ideia: (con)fundem-se, nesse momento, os debates sobre a criação do próprio 24 Frames de Literatura e as discussões acerca do processo de criação da obra de ficção. O propósito desse encontro é fazer pensar sobre a escrita criativa, o ato de criação e sua etapa inicial fundamental – o argumento. Assim como na ficção, a teoria também percorre certos caminhos em comum: o ensaio e a forma como entendemos esse processo se modificam conforme se modificam a técnica e a sociedade que recebe as obras. Nesse encontro serão abordadas questões de criação e os limites entre o real e o ficcional, a partir do recorte das principais teorias que utilizamos ao longo dos anos no projeto, propondo, até o final do evento, um percurso que demonstra a mudança de paradigma que seguimos, conforme muda também nossa ótica sobre as questões de originalidade, fidelidade, estética, autoria e criação.

Convidada: Cássia Benemann da Silva (mestranda UFPel, cocriadora do 24F)

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13/04, às 15h – Desenvolvimento | encontro II

Às margens da linguagem: a espiral da busca pela origem nos leva a um lugar muitas vezes contraditório. Se existe uma origem, os produtos que dela seguem são cópias? Qual o espaço de obras que dizem a mesma coisa, dizendo novamente (de maneira nova)? De que forma outras linguagens, isto é, outros formatos e estilos narrativos, se relacionam ao original, produzindo uma nova origem? As perguntas não são retóricas e surgem ao decorrer da trajetória do projeto e do compêndio da teoria. Nesse segundo momento, trataremos de pensar como ocorre a transposição da ideia ao texto, atentar para o roteiro como gênero textual intermediário, mas independente, sua relação com o texto dramático, e dar ênfase em narrativas interativas de interpretação (role-playing games) para evidenciar a relação autor-obra-público. A pergunta norteadora que surge é: como percebemos, hoje, os limites entre as mídias?

Convidada: Me. Yana Martinez (doutoranda UFRGS)

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20/04, às 15h – Clímax | encontro III

Imagem e significação: a matéria-prima da sétima arte é a imagem. Entretanto, essa imagem não é a simples transposição do texto para a tela, de forma que em seu processo de criação, nas rubricas da escrita criativa, intenção e significação dão forma ao produto resultado do trabalho coletivo. Há instante decisivo no trabalho cinematográfico na era digital? Já houve na era analógica? Alegoricamente, o projeto passa a propor a reflexão de que a imagem não representa a ideia, mas a substitui, trazendo outro significado para a noção clássica de mimese como imitação e também a noção de originalidade, discutida no encontro anterior, passa a tomar outra proporção: para desconstruir a noção de originalidade, não basta inverter o binômio original/cópia, mas ressignificar a própria noção de cópia; toda imagem é uma visão original.

Convidada: Me. Leticia Sangaletti (doutoranda UFRGS)

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27/04, às 15h – Conclusão | encontro IV

A construção do conceito do megaobservador: nosso processo de reflexão é uma narrativa continuada; sua conclusão representa um arco momentâneo que instaura uma nova introdução a cada etapa. Entretanto, como forma de amarrar os nós deixados soltos ao longo das nossas pesquisas, em questões que perpassam a autoria, os limites da linguagem, as relações intersemióticas – e como percebemos essa relação no contemporâneo -, a troca entre a Literatura e o Cinema, o diálogo com a televisão e os jogos, a presença de agentes invisíveis no produto final, mas evidentes nas margens do processo de criação, suas funções e papeis, e, principalmente, a maneira como visualizamos a figura do narrador na linguagem cinematográfica. O megaobservador é uma proposição em aberto que considera todas essas questões, em vista não de resolvê-las, mas de propor caminhos e diálogos que olhem para o processo de escrita criativa e a ação de agentes internos e externos a esse processo, como o próprio papel do leitor/espectador.

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A Falência do Narrador: ou quem está narrando esta história?, por Carlos Ossanes e João Luis Pereira Ourique. Prefácio de Maristela Machado.

 

O percurso de leituras elaborado em A Falência do Narrador oferece ao leitor uma contemporânea abordagem sobre as manifestações narrativas no Cinema. A perspectiva do megaobservador, inaugurada nesta obra, pretende fornecer um novo paradigma de análise que possibilite uma maior compreensão dos agentes envolvidos no processo de criação cinematográfico. Partindo da reflexão filosófica de Walter Benjamin sobre a flânerie baudelariana articulada com uma seleção de conceitos referentes às teorias literária e cinematográfica, os autores apresentam de forma ensaística questionamentos sobre as classificações dos narradores no cinema. A pergunta “quem está narrando a história?” tem a intenção de retomar alguns aspectos subjetivos que a crítica eventualmente não incluiu em sua reflexão, ampliando algumas concepções cristalizadas – como a de autor e narrador no cinema – sem instituir uma síntese, mas apresentar uma abordagem a partir da noção de “conceito aberto” na qual possam ser estabelecidos diálogos com a narrativa clássica e com o que de novo se pode observar nas atuais narrativas cinematográficas e televisivas. Dessa forma, A Falência do Narrador propõe revisitar algumas discussões feitas por outros autores e oferecer novas ideias a respeito das vozes narrativas e dos sujeitos envolvidos no processo técnico e criativo, abrindo espaço também para a inserção do leitor e do espectador nessa percepção.

 

 

 

 

 

 

 

 

Coordenação: Prof. Dr. João Luis Pereira Ourique e Prof. Carlos Ossanes