Yuri Klug, professor de Contabilidade da Universidade Católica de Pelotas (UCPEL), explica como é possívelo aliar conhecimentos e iniciar jornada empreendedora com cautela

Por Isabella Barcellos/Superávit Caseiro

A relação entre o empreendedorismo e a contabilidade é a mais próxima possível. Especialmente no princípio ou na abertura de um novo negócio, onde o orçamento costuma ser limitado e o papel do gestor contábil é fundamental. Em 2023, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços registrou a abertura de 1.331.940 empresas em território nacional, com a grande maioria atuando no setor de prestação de serviços.

Para conversar sobre o tema, convidamos o professor Yuri Schleich Klug para conversar conosco. O professor Klug faz parte do corpo docente da Universidade Católica de Pelotas (UCPEL), lecionando nos cursos de graduação em Administração e Ciências Contábeis. Além disso, ele também integra os projetos de extensão Núcleo de Apoio Contábil e Fiscal (NAF) e Quanto Custa o Seu Negócio?. Ambos não possuem fins lucrativos e têm como objetivo promover cursos, atendimentos e orientações em contabilidade para pessoas físicas, microempreendedores individuais (MEI), micro e pequenas empresas. Yuri Schleich Klug é graduado em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e em Direito pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Também tem especialização em Direito Tributário pela Universidade Anhanguera-Uniderp e é mestre em Contabilidade pela Furg, na linha de Educação e Pesquisa e Contabilidade.

SUPERÁVIT – Enquanto profissional da contabilidade, o que você considera indispensável para alguém começar a empreender da melhor forma possível?

Yuri Klug – Acredito ser indispensável, primeiramente, que o empreendedor conheça a atividade que se deseja trabalhar, qual a clientela em potencial, qual o faturamento, em termos reais, que espera obter, quais os custos e despesas que terá (podendo ser estes fixos e variáveis), e, assim, formar um preço de forma a não ter prejuízos. A seguir, é muito importante que o empreendedor pesquise sobre a “burocracia” exigida para abrir o negócio formalmente e atuar de maneira correta. Se há exigências legais específicas que se aplicam a atividade que deseja se aventurar, quais as licenças federais/estaduais/municipais que, porventura, sejam necessárias, como alvará dos bombeiros, alvará da vigilância sanitária, licença ambiental, alvará municipal, entre outros.

SUPERÁVIT – Você percebe alguma desinformação sobre o empreendedorismo atualmente? Como procurar fontes confiáveis no assunto?

Yuri Klug – Hoje as pessoas em geral são muito mais informadas do que em outros tempos, principalmente pela internet e a velocidade da comunicação, mas, também, isto nos trouxe muita informação pouco confiável, que deve ser “filtrada” pelo empreendedor. Os principais meios de informação acredito que sejam a própria internet e os profissionais competentes que atuam no meio empresarial, sejam eles contadores, advogados, gestores, administradores, etc. É sempre bom conversar de antemão com um profissional de confiança para ter a melhor informação, mas não se pode parar por aí, até porque nenhum profissional sabe tudo.

SUPERÁVIT – Por que há tanta dificuldade por parte dos empreendedores em se adequar às exigências do sistema tributário? Qual sua opinião sobre o sistema tributário brasileiro?

Yuri Klug – A legislação fiscal e tributária no nosso país é extremamente complexa. Mesmo um profissional altamente capacitado pode passar a vida estudando sobre o tema e não irá saber tudo, até porque está em constante alteração. O Brasil publica, em média, 46 normas tributárias a cada dia, segundo o IBPT, no âmbito federal, estadual e municipal. Desta forma, é muito complicado para qualquer empreendedor se adequar a todas as exigências do sistema tributário, mesmo que específicas para a sua atividade-fim. Mesmo possuindo um profissional de assessoria, o empreendedor também deve procurar se informar sobre a sua tributação, mantendo um diálogo constante com este sobre diversos pontos como, por exemplo, se está no melhor regime tributário, se o tipo empresarial é o mais correto, se os documentos fiscais são emitidas corretamente, entre outros.

SUPERÁVIT – Qual o papel do contador para a manutenção de boas práticas em pequenas empresas?

Yuri Klug – O contador hoje não consegue cumprir o seu papel sem a tecnologia, com sistemas contábeis informatizados específicos, de forma a cumprir as exigências fiscais básicas da empresa cliente, calculando os tributos, enviando declarações fiscais, escriturando a contabilidade, montando as demonstrações financeiras, entre outros. E todos estes dados podem (e devem) ser convertidos em informações de gestão para o auxílio das empresas e empreendedores, e estes devem manter o diálogo constante com o profissional contábil, não apenas nos momentos de necessidade. A informação gerada pelos contadores é de suma importância para aquela pequena empresa que deseja saber como anda o seu negócio.

SUPERÁVIT – Qual seu conselho pessoal para jovens empreendedores?

Yuri Klug – Se mantenha constantemente informado sobre tudo ao redor da sua empresa, não apenas sobre a atividade principal exercida, e não misture o dinheiro da empresa com o dinheiro pessoal.

SUPERÁVIT – Quais ferramentas de organização são indispensáveis para manter a administração de uma empresa?

Yuri Klug – Hoje é obrigatória a emissão de notas fiscais eletrônicas em softwares específicos e muitos deles oferecem ferramentas de gestão integrada como controle de contas a pagar e a receber, controle de estoque, controle de vendas e despesas, controle de caixa, orçamentos, entre outros, e a administração empresarial deve utilizar ao máximo as funções oferecidas no sistema contratado.