Por Marcelo de Oliveira Passos, professor de Economia (*)

A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), principal índice de inflação medido pelo IBGE, atingiu em abril o nível de 1,06%, o mais alto para o mês em 26 anos. No acumulado em 12 meses, de abril de 2021 a abril de 2022, a inflação ultrapassou o patamar de 12%. Porém, considerando meu modelo econométrico que é calibrado com as projeções de consultorias, do Banco Central do Brasil e de departamentos econômicos de instituições financeiras, o IPCA apresenta uma queda potencial futura a partir deste mês de maio e do mês de junho, flutuando em torno de um percentual de 0,48% a 0,53% até dezembro.

Porém, não devemos olhar apenas para o alto nível do IPCA. As altas dos preços que compõem o índice também estão muito disseminadas. Vários preços de bens e serviços vêm subindo persistentemente nos últimos meses.  Cerca de 80% dos preços de itens que fazem parte do cálculo do IPCA subiram no mês de abril.

O aumento do preço do diesel para as refinarias, que foi de 8,87%, além de preocupar pelo fato de este ser um insumo para o transporte rodoviário, para os ônibus urbanos e para as máquinas agropecuárias, ainda não recompôs a defasagem entre este combustível e a sua cotação internacional (alguns especialistas apontam que o diesel no mercado internacional está 12% mais caro do que o valor do diesel antes do aumento). O mesmo ocorre com a gasolina, cuja defasagem é estimada em 17%.

Embora a Petrobras negue que novos aumentos ocorrerão, o fato é que a estatal está sob pressão do Executivo, em razão da campanha pela reeleição presidencial, e pelos políticos do Centrão, que apoiam esta campanha. Assim, a estratégia da empresa tem sido efetuar aumentos de forma gradual, em doses homeopáticas, para evitar crises políticas maiores e repasses para os preços.

Praticamente, apenas o Banco Central está combatendo a inflação, porque o governo e o Congresso estão no “modo gastador”: reduzindo impostos e ampliando despesas públicas.  Com os aumentos recentes da taxa Selic (no total de dez, desde o início deste surto inflacionário no ano passado), se a atividade econômica não mostrar sinais de recuperação no segundo trimestre deste ano, ficará difícil para o atual governo mostrar algum resultado econômico com impacto eleitoral. A equipe econômica de Paulo Guedes possui alguns méritos como a reforma da previdência, medidas de melhoria do ambiente econômico (reformas microeconômicas) e o fato de ter conseguido fazer um ajuste fiscal sem prejudicar o crescimento econômico no ano de 2021.

Porém, estas são medidas que não serão compreendidas pelos eleitores, os quais olharão sobretudo para o cenário inflacionário e para o desemprego altíssimo que vem desde o governo Dilma Rousseff.

(*) Professor associado de Macroeconomia e Economia Matemática. Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada/Organizações e Mercados da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).