A palavra “sanção” nunca repercutiu tanto na mídia internacional quanto nos últimos meses. Este fator foi desencadeado exclusivamente com a aplicação da medida protecionista do presidente estadunidense Donald Trump, denominada de “Tarifaço”, aos mais diversos países com relações conturbadas ao seu regime. Agora, as seis letras estampam todas as manchetes de jornais, sempre acompanhadas das imagens do ministro Alexandre de Moraes ou Trump. Seja no contexto da tensão entre Estados Unidos e China, nas acusações contra o ministro do Supremo Tribunal Federal ou até mesmo nos desdobramentos do trumpismo, o uso das sanções vem crescendo como ferramenta de disputa política e geopolítica. Mas afinal, o que são essas sanções? E por que devemos falar sobre isso agora?
Sanções, em termos simples, são punições impostas por um país ou grupo de países a outro Estado, empresa ou indivíduo, geralmente com o objetivo de pressionar mudanças de comportamento. Elas podem assumir a forma de bloqueios econômicos, restrições comerciais, congelamento de bens, proibições de entrada ou, em casos mais simbólicos, exclusão de espaços diplomáticos.
Mas por trás dessa ideia aparentemente clara e direta, existe uma engrenagem complexa de interesses políticos, jogos de poder e interpretações daquilo que se entende por “democracia”, “liberdade” e “soberania”.
Figura 1 – Afinal, o que está por trás das punições políticas?

Fonte: Nuthawut Somsuk via Vecteezy.
A raiz do problema: sanções como arma de dominação
Historicamente, as sanções sempre foram ferramentas dos países mais poderosos para manter sua influência sobre o restante do mundo. Embora sejam apresentadas como mecanismos de “correção” de violações aos direitos humanos ou à ordem internacional, muitas vezes servem mais aos interesses estratégicos de quem as impõe do que a uma real busca por justiça ou paz.
Um exemplo atual e emblemático é o “tarifaço” dos EUA contra a China, abordado na reportagem do Desinformante. Segundo o ex-presidente Joe Biden, o aumento das tarifas sobre produtos chineses se justifica pela tentativa de proteger empregos norte-americanos. Mas há quem enxergue por trás dessa medida um pano de fundo geopolítico muito mais profundo: os EUA estariam tentando frear o avanço da China como potência tecnológica e econômica, principalmente no setor de veículos elétricos. Nesse sentido, as sanções funcionam não como proteção, mas como contenção, uma tentativa de preservar hegemonias.
Ou seja, sancionar é, também, uma forma de dizer quem pode ou não crescer, inovar ou se posicionar no mundo.
Figura 2 – As sanções trumpistas como violação dos pilares democráticos brasileiros.

Fonte: Alan Santos via Agência do Brasil.
O caso Moraes e a tentativa de desestabilização do sistema democrático
Dentro desse cenário global de sanções sendo usadas como ferramentas políticas, chama atenção o recente caso do ministro do STF Alexandre de Moraes, alvo de ataques sistemáticos por parte de aliados do ex-presidente dos EUA, Donald Trump. Os movimentos da extrema-direita norte-americana e brasileira pressionam o governo dos EUA a sancionar Moraes, acusando-o de violar liberdades civis ao conduzir investigações e decisões judiciais contra o bolsonarismo e as tentativas de golpe no Brasil.
A tentativa de colocar Moraes na “lista de sanções” dos EUA não é só uma afronta à sua atuação, é uma ameaça direta à soberania brasileira. Como bem pontuou o professor Alberto Pfeifer em entrevista à CNN Brasil, o Brasil se vê agora numa “encruzilhada”: ceder à pressão internacional e abrir mão da sua autonomia jurídica, ou reafirmar sua independência diante de interesses estrangeiros. O episódio escancara como sanções podem ser utilizadas não apenas entre Estados, mas também como ferramenta de ingerência ideológica em democracias consideradas “desobedientes”.
Sanções e o trumpismo global
Essa movimentação nos leva a outro ponto: as sanções como expressão de uma nova ordem política global. O caso de Moraes se conecta diretamente ao avanço do trumpismo internacional, um fenômeno que ultrapassa as fronteiras dos EUA e se espraia em países como o Brasil, Hungria e Polônia. A tentativa de sancionar um ministro da Suprema Corte brasileira é, no fundo, uma continuação do roteiro que vimos com o próprio Donald Trump, que agora enfrenta um processo criminal e já foi condenado por falsificação de documentos.
O que está em jogo não são apenas nomes ou partidos, mas a tentativa de impor uma visão de mundo autoritária, que instrumentaliza a justiça e deslegitima qualquer contraponto. O uso das sanções nesse contexto não é apenas político, é simbólico. É uma forma de apontar quem são os “inimigos” do novo projeto de poder global da extrema-direita.
Figura 3 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante evento em Linhares (ES).

Fonte: Ricardo Stucker / PR.
A democracia é dos brasileiros
No Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro segue sendo investigado por diversos crimes, entre eles tentativa de golpe de Estado e atentado contra democracia. O recente descumprimento da medida cautelar levou ao decreto de sua prisão domiciliar, algo que não passou batido no cenário internacional. Nesse contexto, as sanções, sejam jurídicas, políticas ou internacionais, passam a ser um elemento central no tabuleiro, podendo aumentar ainda mais com a condenação.
A crescente ameaça à imagem democrática do país nos leva a imaginar um cenário em que o debate sobre punições, responsabilizações e soberania ganha cada vez mais espaço. Mas é preciso estar atento: nem toda sanção é justa, o risco de manipulação, de uso político e de desestabilização democrática é real e está mais próximo de nós do que imaginamos.
Falar sobre sanções, hoje, é falar sobre os rumos da democracia, sobre os limites da justiça e sobre o futuro da política internacional. É, acima de tudo, entender que o mundo não é governado apenas por leis, mas por disputas de poder e que o lado mais forte nem sempre é um agente incontestável. Destacando que o Brasil é, e sempre será, dos brasileiros.
Escrito por: Sofia Mazza, Assistente de Press.
Referências:
DANTAS, G. Tarifaço dos EUA: entenda as sanções e o embate pela soberania. Disponível em: <https://desinformante.com.br/tarifaco-eua-soberania/>. Acesso em: 6 ago. 2025.
ICL. Notícias. Sanções Internacionais: impactos e consequências da punição. Disponível em: <https://iclnoticias.com.br/atg/sancoes-internacionais/>. Acesso em: 6 ago. 2025.
RODRIGUES, J. F. Sanções a Moraes colocam Brasil em “encruzilhada”, alerta Alberto Pfeifer. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/sancoes-a-moraes-colocam-brasil-em-encruzilhada-alerta-alberto-pfeifer/>. Acesso em: 6 ago. 2025.
