O funcionário Público Internacional: a importância e as oportunidades no sistema da ONU

Fonte – Ilustração disponível em domínio público

 

Dentro das Relações Internacionais, um dos caminhos de carreira mais almejados pelos graduandos e recém formados é o funcionalismo público internacional. É sabido que é uma área percebida como de grande prestígio, com cargos importantes, salários altos e poderes decisórios quase que difíceis de imaginar para a maioria das pessoas alheias a estes cargos — contudo, pouco se fala sobre as reais condições de trabalho, os empecilhos, o reconhecimento, por vezes pequeno, e, principalmente, sobre a importância destes funcionários.

Começamos definindo o funcionalismo público internacional: segundo Enap (2017), publicado na Revista do Serviço Público, o funcionário internacional é criado graças a ONU, se difere do funcionário nacional e não é o mesmo que o diplomata, embora haja semelhanças nos ofícios.

 

A principal peculiaridade do funcionário internacional é que — diversamente do diplomata e do funcionário nacional — deve lealdade, em primeiro lugar e acima de tudo, inclusive de seu próprio país de origem, à organização internacional a que serve, como determina, expressa e taxativamente, o art. 301.013 das Staff Regulations (Normas Básicas de Pessoal ou Estatuto de Pessoal) das Nações Unidas. (Enap, 2017, p 45).

 

Sendo assim, podemos inferir que a importância desta classe está justamente em sua função social e interestatal, como exemplificado por Herz e Hoffmann (2004)

 

Ao longo da primeira metade do século XX, a norma da internacionalização do servidor público fortaleceu-se e pode ser considerada fundamental para o funcionamento eficaz e para a legitimidade das organizações internacionais. O princípio multinacional está presente na composição e no funcionamento da ONU. O artigo 101 da Carta prevê que a origem dos funcionários será considerada no processo de contratação, buscando estabelecer uma distribuição geográfica ampla, embora se mantenham os critérios da eficiência e das necessidades operacionais. O caráter multinacional da organização é refletido na presença de uma variedade de culturas e no estabelecimento de seis idiomas oficiais (inglês, francês, russo, chinês, espanhol e árabe). (HERZ e HOFFMANN, 2004, p 21)

 

Além disso, é importante que falemos sobre os processos de admissão à carreira de funcionário público internacional. No Brasil, o próprio site da ONU tem uma aba sobre empregos, com dezenas de vagas e com especificações como local de trabalho, atuação, tempo mínimo de contribuição e requisitos — cada vaga é única, neste sentido, e elas se desdobram em vários segmentos da Organização das Nações Unidas no Brasil. 

Neste site, você será direcionado a um outro endereço específico da ONU que mostrará mais sobre a vaga desejada e o processo de contratação. Além disso, as vagas são constantemente promovidas tanto em redes sociais próprias para tal (como o Linkedin), quanto em perfis específicos de redes sociais menos corporativas (como o Instagram).

Dentro e fora das barreiras estatais, o funcionalismo público passa por barreiras como sucateamento e más condições de trabalho, no Brasil, por exemplo, os salários atrasados se tornam esperados para algumas categorias. Nos EUA, ainda este ano, o DOGE (unidade estatal gerenciada por Elon Musk antes de sua evasão do governo estadunidense), demitiu grande parcela dos funcionários públicos com o argumento do “corte de gastos”, o que dificultou bastante partes do funcionamento estatal americano. 

O que isso pode ter a ver com os funcionários públicos internacionais, que se diferem, como antes citado, dos funcionários públicos nacionais? Bem, em vários âmbitos, as políticas internacionais funcionam como um espelho das políticas nacionais, e vice-versa, o que demonstra uma possível guinada perigosa à desvalorização do funcionalismo público doméstica e internacionalmente quando se leva em conta políticas como esta.

Deste modo, fica claro que é necessário que entendamos a importância destes funcionários, sendo que é, em grande parte, graças a eles que se dá o bom mantimento das organizações internacionais, seja nos âmbitos da diplomacia inter-estatal ou nas tecnicidades que vêm com o trabalho administrativo em escala internacional. 

Quando pensamos na ONU, muitas vezes a primeira coisa que vêm à cabeça é o Conselho de Segurança, os discursos históricos de líderes mundiais e o fechamento de acordos que mudaram o rumo da história — tudo isso é, sim, extremamente importante e merece ser celebrado, mas nunca devemos esquecer dos funcionários, em sua maioria anônimos, que fizeram e fazem com que tudo isso seja possível.

 

Escrito por: Eduarda Rosa, Assistente de Press.

 

Referências

Bertossa, Daniel. “Public Services and Democracy Are under Attack. We Must Prepare and Fight Back.” Publicservices.international, 23 June 2025, publicservices.international/resources/news/public-services-and-democracy-are-under-attack-we-must-prepare-and-fight-back?id=15895&lang=en. Accessed 16 July 2025.

Enap, R. (2017). A ONU e a Administração Internacional de Recursos Humanos. Revista Do Serviço Público, 109(4), 43-48. https://doi.org/10.21874/rsp.v0i4.2336

G1. “DOGE, de Musk, demite dezenas de funcionários de tecnologia do governo dos EUA.” Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/03/01/doge-de-musk-demite-dezenas-de-funcionarios-de-tecnologia-do-governo-dos-eua.ghtml>

Herz, Mônica Organizações Internacionais: história e práticas / Mônica Herz, Andrea Ribeiro Hoffman. — Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. — 10a reimpressão.