No dia 30 de julho é celebrado o Dia Mundial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, uma data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de dar visibilidade a uma das mais graves e silenciosas violações dos direitos humanos. A escolha da data foi oficializada em 2013, quando a ONU lançou o Plano Global de Combate ao Tráfico de Pessoas, buscando incentivar a cooperação internacional e fortalecer as ações de prevenção, proteção e responsabilização. O tráfico envolve o recrutamento, transporte, transferência ou retenção de indivíduos por meio de ameaça, engano ou coerção, com o objetivo de exploração, seja sexual, laboral, doméstica ou até para tráfico de órgãos.
Por décadas o tráfico de pessoas foi associado a realidades distantes, situações que se via em jornais ou filmes, como algo que só acontece em fronteiras remotas ou mercados ilegais. Os criminosos operavam nos bastidores, aliciando vítimas em estações de ônibus, comunidades vulneráveis ou por meio de falsas oportunidades de emprego. Em contrapartida, hoje em dia esse crime evoluiu e se adaptou à era digital. As redes sociais podem ser vistas por alguns como espaços de conexão e expressão, mas também tornaram-se uma das principais ferramentas de aliciamento, onde perfis falsos, promessas ilusórias e conversas privadas substituem as abordagens tradicionais.
Figura 1 – O Tráfico de Pessoas é uma das atividades ilegais mais comuns no Brasil.

Fonte: Ilustração da Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso (DPEMT).
A Nova Fase do Tráfico de Pessoas
Se antes o recrutamento de vítimas dependia de abordagens físicas em locais públicos, hoje os criminosos não precisam mais sair de casa. As redes sociais se tornaram vitrines modernas para o aliciamento, oferecendo acesso rápido a milhões de potenciais vítimas com um simples clique na tela. Perfil falsos, anúncios enganosos e mensagens diretas são algumas das ferramentas utilizadas para atrair usuários vulneráveis, utilizam-se de manipulação emocional, como promessas de amor ou de uma vida luxuosa, para atrair a vítima, onde na maioria dos casos as vítimas nem percebem que estão sendo aliciadas até que se torne tarde demais para escapar.
Traficantes digitais sabem exatamente quem e onde procurar, as vítimas mais visadas geralmente pertencem a grupos socialmente marginalizados, meninas e mulheres, especialmente negras e periféricas, migrantes em busca de melhores condições de vida, pessoas LGBTQIA+ ou jovens em contexto de abandono. A carência, o isolamento, o sonho de uma vida melhor ou a necessidade de refúgio são brechas exploradas por criminosos com discursos sedutores e promessas irreais.
A Resposta da ONU
Essa transformação do tráfico humano, que passou das ruas para o mundo digital, também é reconhecida pela própria ONU. A organização alerta que as redes sociais passaram a ser utilizadas com maior frequência por traficantes para recrutar, controlar e explorar vítimas, especialmente durante e após a pandemia de COVID-19. A acessibilidade e o alcance dessas plataformas permitiram que o aliciamento ocorresse de maneira ainda mais silenciosa e eficiente, tornando o combate ao tráfico um desafio mais complexo do que nunca. Essa nova realidade exige que as estratégias de enfrentamento avancem para além do campo físico, incorporando ações coordenadas de monitoramento digital, regulação de plataformas online e educação sobre os riscos cibernéticos.
Apesar dos avanços diplomáticos e legais conquistados nas últimas décadas, o tráfico de pessoas continua atingindo milhões de vítimas. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o tráfico humano não é um fenômeno isolado, mas sim diretamente ligado a desigualdades estruturais, crises humanitárias, conflitos armados, pobreza extrema e discriminação de gênero, já que mulheres e meninas representam mais de 70% das vítimas identificadas globalmente, esse número significativo está diretamente relacionado a exploração sexual, enquanto homens e meninos são alvos para trabalho forçado voltados para setor como mineração, construção civil e mineração.
Mesmo com a existência de leis internacionais como o Protocolo de Palermo, que define e combate o tráfico de pessoas desde 2000, a aplicação prática dessas normas ainda enfrenta barreiras significativas; a identificação das vítimas é falha, as denúncias são escassas e o julgamento dos traficantes é lento ou inexistente. Para combater esse cenário, a ONU propõe que o tráfico de pessoas seja tratado como um problema global, exigindo cooperação entre Estados, organizações internacionais e a sociedade civil. No Conselho de Direitos Humanos o tema tem ganhado cada vez mais atenção, sendo considerado um dos maiores desafios humanitários do século XXI.
Figura 2 – As Redes Sociais se tornaram uma das principais Ferramentas para o Tráfico Humano

Fonte: Ilustração da Faculdade Santa Teresa (FST) em Manaus, Amazonas.
Considerações Finais
Neste 30 de julho, Dia Mundial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, somos convidados a refletir sobre o nosso papel na prevenção. A data reforça a urgência de enfrentarmos essa realidade com seriedade, sobretudo diante dos novos métodos de aliciamento que se escondem atrás de telas. Compreender as dinâmicas atuais do tráfico, denunciar práticas suspeitas e cobrar ações efetivas das plataformas digitais e dos governos são passos fundamentais. E neste dia simbólico, é essencial reconhecer que o combate começa com informação e só será eficaz com o engajamento coletivo da sociedade.
Escrito por: Raynara Tavares, Assistente de Press.
Referências:
BRASIL. Senado Federal. Aliciadores reforçam atuação nas redes sociais durante a pandemia, adverte especialista. 3 dez. 2021. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/12/03/aliciadores-reforcam-atuacao-nas-redes-sociais-durante-a-pandemia-adverte-especialista. Acesso em: 31 jul. 2025.
NAÇÕES UNIDAS. Criminosos usam redes sociais para aliciar vítimas de tráfico humano. ONU News, 3 nov. 2020. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2020/11/1732552. Acesso em: 31 jul. 2025.
UNODC. Tráfico de pessoas abusa da tecnologia online para fazer mais vítimas. 3 nov. 2021. Disponível em: https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/frontpage/2021/11/trafico-de-pessoas-abusa-da-tecnologia-online-para-fazer-mais-vitimas.html. Acesso em: 31 jul. 2025.
