Dia 29 de maio é celebrado anualmente o Dia Internacional dos Soldados da Paz, que presta homenagem aos homens e mulheres que serviram e servem em operações de paz sob a bandeira das Nações Unidas. Esta data foi escolhida em 2002 pela Assembleia Geral da ONU em homenagem à primeira missão de paz da organização, a Organização das Nações Unidas para a Supervisão da Trégua (UNTSO), que foi estabelecida no Oriente Médio em 1948. Desde esta primeira missão os soldados têm atuado em diversas regiões do mundo, com a missão de promover a estabilidade e proteger civis.
Popularmente conhecidos como “capacetes azuis”, os soldados da paz da ONU representam uma das expressões mais tangíveis dos esforços multilaterais pela manutenção da paz e da segurança internacional. As missões se consolidaram como instrumentos para a mediação de conflitos, estabilização de regiões em crise e reconstrução pós-guerra. Tal papel de destaque no cenário internacional tornou os soldados da paz uma figura simbólica da diplomacia e da busca coletiva por um mundo mais seguro.
Tudo isso reflete os ideais de cooperação global defendidos pelo liberalismo, mas também revela os limites impostos pelas realidades geopolíticas e pelas estruturas de poder no sistema internacional. Portanto, compreender o impacto dos soldados da paz da ONU exige não apenas uma análise dos resultados práticos, mas também uma leitura crítica de seu significado político e estratégico no campo das Relações Internacionais.
Figura 1 – Soldados da Missão de Paz das Nações Unidas com os seus capacetes azuis

Fonte: Reprodução.
Soldados da paz: um instrumento entre a teoria e a prática internacional
Os soldados da paz operam sob mandatos definidos pelo Conselho de Segurança da ONU e são guiados por três princípios fundamentais: consentimento das partes; imparcialidade; e uso restrito da força. O que significa que sua atuação depende de aprovação política e cooperação internacional, tornando-os reflexo direto das disputas de poder entre os Estados-membros.
As diferentes correntes teóricas das Relações Internacionais oferecem visões diferentes quanto ao papel dos capacetes azuis. Para os liberais, as missões de paz simbolizam a capacidade das instituições internacionais de promover a cooperação entre os Estados, reforçando a ideia de governança global e a construção de uma ordem internacional baseada em regras e normas compartilhadas, como representado nas missões bem-sucedidas em países como Timor-Leste, onde a ONU desempenhou papel central na reconstrução do Estado e na transição para a independência. Além disso, os soldados da paz são vistos pela ótica liberal como ferramentas de estabilização e promoção de valores universais, como direitos humanos, democracia e governança legítima.
Em contrapartida, os realistas veem os capacetes azuis como instrumentos subordinados aos interesses das grandes potências. Um exemplo disso é a seleção desigual das regiões atendidas: como a rápida intervenção no Haiti em 2004, contrastou com a omissão prolongada durante o genocídio em Ruanda em 1994, quando potências com assento permanente no Conselho de Segurança optaram por não intervir de forma decisiva. Outro exemplo é a ausência de uma intervenção significativa na Síria em meio a uma das mais devastadoras crises humanitárias do século XXI, bloqueada por sucessivos votos tanto da Rússia quanto da China. A visão realista defende que o sistema internacional continua a refletir a lógica do poder e da sobrevivência estatal, destacando como os critérios para o envio de capacetes azuis nem sempre se baseia exclusivamente em necessidades humanitárias, mas também em cálculos de custo-benefício político.
Impacto global e desafios contemporâneos
Atualmente, a ONU coordena 11 missões de paz ativas, principalmente em áreas da África e do Oriente Médio. Essas missões lidam com desafios cada vez mais complexos como: guerra civis prolongadas, terrorismo, deslocamentos forçados de populações e crises institucionais.
Ao mesmo tempo que há cenários onde o papel dos soldados da paz foi crucial, como é o caso da Serra Leoa e Libéria, ainda há outros cenários, como na República Democrática do Congo, onde missões foram criticadas por ineficiência ou omissão diante de massacres e violações de direitos humanos. Tais falhas reforçam a crítica realista sobre a fragilidade da vontade política internacional e sobre os entraves institucionais que impedem a ação eficaz das forças da paz.
Outros desafios atuais aos capacetes azuis são os grupos armados não estatais e a emergência de um mundo cada vez mais multipolar, que dificulta o consenso no Conselho de Segurança e afeta o escopo e a implementação das missões.
Figura 2 – Capacetes Azuis em Missões de Paz no Brasil.

Divulgação: Sd. T. Amorim / FAB
Relevância para as Relações Internacionais
A presença dos soldados da paz no campo internacional é uma das manifestações mais visíveis da governança contemporânea. Sob a perspectiva construtivista, sua atuação também contribui para a difusão de normas internacionais, como a proteção de civis e a responsabilidade de proteger, moldando a forma como os Estados e atores transnacionais se comportam diante de crises.
Para os países contribuintes com tropas, como é o caso do Brasil, participar dessas missões representa não apenas um compromisso com a paz, mas também uma estratégia de inserção internacional, projeção de soft power e fortalecimento de relações diplomáticas.
Os soldados da paz acabam sendo atores centrais em um cenário onde interesses nacionais, práticas diplomáticas e valores universais se entrelaçam. O seu papel continua sendo essencial para a resolução pacífica de conflitos, mesmo que permeada por desafios políticos.
Conclusão
Refletir sobre o impacto global dos soldados da paz da ONU é também refletir sobre os rumos da ordem internacional. Em tempos de instabilidade e tensões geopolíticas, reafirmar o papel dos soldados da paz é reafirmar o compromisso com o diálogo, a prevenção de conflitos e a construção de um mundo mais seguro.
Escrito por: Raynara Tavares, Assistente de Press.
Referências Bibliográficas:
ONU. Dia Internacional dos Soldados da Paz das Nações Unidas. Disponível em: <https://unric.org/pt/dia-internacional-dos-soldados-da-paz-das-nacoes-unidas/>. Acesso em: 28 de mai. de 2025.
______. International Day of UN Peacekeepers – Background | United Nations. Disponível em: <https://www.un.org/en/observances/peacekeepers-day/background>. Acesso em 28 de mai. de 2025.
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