No dia 15 de julho, foi comemorado o Dia Mundial das Habilidades dos Jovens. A data, criada pelas Nações Unidas, incentiva a importância de preparar os jovens para o futuro com mais oportunidades de emprego, condições dignas de trabalho e capacitação para o empreendedorismo. Assim, é fundamental proporcionar a educação de qualidade como ferramenta de transformação dos mesmos. O tema deste ano, “Habilidades dos Jovens para a Paz e o Desenvolvimento” destaca a importância crucial que os jovens desempenham no desenvolvimento e, principalmente, na busca pela paz através da resolução de conflitos.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, ressalta que os atuais conflitos que o mundo enfrenta hoje interrompem a educação e a estabilidade, e não são um problema somente para o futuro individual dos jovens, mas, também, para o futuro das sociedades. Guterres afirma que é preciso equipar os jovens com habilidades essenciais que fomentem uma cultura de Paz, além de formar cidadãos globais responsáveis que promovam o desenvolvimento sustentável.
Segundo dados da ONU, 600 milhões de empregos devem ser criados, nos próximos 15 anos, para atender às necessidades de emprego dos jovens. Ainda segundo a ONU, a população de jovens crescerá, em mais de 78 milhões, entre 2021 e 2030, e os países considerados de baixa renda serão responsáveis por quase metade desse aumento. Justamente por isso as Nações Unidas ressaltam que os sistemas educacionais e de capacitação profissional precisam se preparar para esse desafio.
Por isso, o blog de hoje do PelotasMUN pretende analisar o quão excludente a área de Relações Internacionais é para aqueles que não estão incluídos nos grandes centros dos debates, e levanta a importância de mudar as estruturas excludentes para que os futuros jovens consigam se desenvolver profissionalmente na área.
A área das Relações Internacionais, é excludente ?
É muito importante que existam iniciativas, como a das Nações Unidas, de olhar com preocupação para a situação do jovem do século XXI e incentivar ferramentas de apoio à educação de qualidade e iniciativas de melhores condições de trabalho. Porém, é mais importante ainda que existam debates que elucidem o quão excludente a área das Relações Internacionais é para aqueles que não possuem as mesmas oportunidades de acesso à educação.
Acharya (2014), levanta que a disciplina das Relações Internacionais não reflete as experiências, contribuições e conhecimentos da grande maioria das sociedades no mundo, além de marginalizar os que estão fora dos grandes centros ocidentais – Europa e os Estados Unidos. Vale ressaltar que Acharya não é o único a trabalhar com a concepção de que a área das Relações Internacionais é excludente.
No blog do PelotasMUN, já trabalhou-se com a perspectiva feminista das Relações Internacionais, trazendo as contribuições que as mulheres realizaram nos últimos anos para a área, e ressaltando que a igualdade de gênero, dentro das Relações Internacionais, ainda está muito longe do ideal – visto que a maior parte dos estudos clássicos, utilizados como base teórica para a área, foram desenvolvidos por homens.
Trabalhou-se também a perspectiva ‘Queer’, que enfatiza que as noções de gênero, sexo e sexualidade não ocuparam debates na construção da área no século XX, sendo também marginalizadas pelas principais teorias clássicas que fundamentaram a área.
É muito comum para o jovem, que está na graduação de Relações Internacionais, assistir a uma palestra, aula ou analisar, por exemplo, a bibliografia básica do curso e deparar-se com leituras, principalmente, em inglês. Isso deve-se ao fato de que as grandes revistas técnicas da área, centro de produções de conhecimento, e, claro, as teorias-base, que fundamentam as Relações Internacionais, ignoram as produções que não são desses grandes centros ao norte global.
Para fundamentar isso, Kristensen em seu artigo “Revisiting the American Social Science — Mapping the Geography of International Relations” (Revisitando a ciência social Americana – Mapeando a geografia das Relações Internacionais), publicado em 2015, levanta que quase 50% das produções acadêmicas das 10 principais revistas da área são oriundas dos Estados Unidos, outros países do mundo anglo-saxão englobam pouco mais de 25%, a Europa com pouco mais de 15%, e o restante do mundo com menos de 10%.
É necessário olhar com atenção para discussões que elucidem o quão excludente a área de Relações Internacionais ainda é. Em uma maneira de solucionar tal problema, Acharya (2014), já mencionado anteriormente, traz um conceito de “Estudo global das Relações Internacionais” que, em uma síntese muito simplificada, debruça-se na história mundial para redefinir os métodos e teorias em RI, e pretende construir novos a partir de sociedades ignoradas dos assuntos mainstream, que desconsideram outras regiões, e os regionalismos existentes no mundo.
Olhando para as oportunidades do jovem nas Relações Internacionais.
A marginalização de um debate mais inclusivo dentro das Relações Internacionais não se limita somente à diversidade e pluralidade dentro da área, mas também, ajuda a perpetuar as estruturas dominantes restringindo aqueles que não estão inseridos nos centros – e aqui é necessário focar principalmente nos jovens -, de um acesso à educação mais igualitário e melhores oportunidades profissionais.
As Nações Unidas, com o Dia Mundial das Habilidades dos Jovens, trazem para o debate a importância de desenvolver políticas de acesso do jovem a melhores oportunidades de emprego e, principalmente, de educação. Trazendo para a área das Relações Internacionais, torna-se crucial incentivar debates que tragam a ampliação da inclusão e a importância da representatividade dentro da área das Relações Internacionais.
Por fim, ressalta-se que a necessidade que esses debates não sirvam apenas de contribuições históricas, mas, sim, de ferramentas de transformação dos quadros teóricos e bibliográficos da área, justamente, para incluir os jovens que não estão inseridos nos grandes centros dos debates, e oportunizar para os jovens que pretendem se tornar futuros profissionais da área melhores oportunidades de educação e, consequentemente, desenvolvimento profissional.
Texto por: João Vitor Baptista – Diretor de Press