Explorando Relações Internacionais através de Fantasia

A fantasia é um gênero literário fascinante que nos transporta para mundos imaginários cheios de magia, aventuras e personagens cativantes. No entanto, muitas vezes esquecemos que, por trás dessas histórias fictícias, também podemos encontrar reflexões profundas sobre questões do mundo real. Neste blog, vamos explorar três trilogias de fantasia que vão além do entretenimento e abordam questões complexas de relações internacionais. Vamos nos concentrar nas trilogias “The Green Bone Saga”, de Fonda Lee, “The Poppy War”, de R. F. Kuang, e  “The Inheritance Trilogy” de N.K. Jemisin.

“The Green Bone Saga” – Fonda Lee:

A trilogia “The Green Bone Saga”, composta por “Jade City”, “Jade War” e “Jade Legacy”, nos leva a um mundo onde a jade é uma pedra preciosa que confere habilidades mágicas aos seus usuários. A história segue as relações internacionais entre as diferentes famílias de Kekon, uma nação insular rica em jade, e os países vizinhos que desejam explorar e controlar seus recursos.

Os livros são ambientados em um mundo fictício, mas é claramente influenciada por várias culturas e histórias do mundo real. A autora incorpora elementos de diferentes países e tradições em sua narrativa, criando uma rica tapeçaria de inspirações.

  1. China:

Uma das principais influências na trilogia é a cultura chinesa. A cidade fictícia de Janloon, onde a maior parte da ação ocorre, é fortemente inspirada por Hong Kong, refletindo sua arquitetura, atmosfera vibrante e uma mistura de influências orientais e ocidentais. Além disso, os nomes dos personagens e alguns aspectos da sociedade refletem a cultura chinesa, como a importância dada à família e às tradições ancestrais.

  2. Japão:

Outra influência evidente na trilogia é o Japão. A autora se inspirou na organização das famílias e no código de conduta dos samurais para criar o sistema de clãs e as regras que regem as “Jade Houses”. Além disso, a ênfase nas artes marciais e na disciplina é reminiscente das tradições japonesas. A relação entre os “Green Bones” e suas lutas internas também evoca a tradição dos clãs e famílias japonesas.

  3. Máfia e Organizações Criminosas:

Fonda Lee também se inspirou em histórias de máfia e organizações criminosas ao criar as dinâmicas entre as famílias de “The Green Bone Saga”. As rivalidades entre os clãs, a lealdade e o código de honra são temas que ressoam com as narrativas de máfia em várias partes do mundo. Essas influências adicionam camadas de complexidade e intriga à história.

  4. História Colonial:

Embora não seja diretamente inspirada por um país específico, a trilogia aborda questões de colonialismo e opressão. A exploração dos recursos da ilha de Kekon por nações vizinhas e as tensões resultantes refletem a história de muitas nações que foram subjugadas e exploradas por potências coloniais ao longo dos séculos.

Conexões com Relações Internacionais:

A luta pelo controle dos recursos naturais é um tema central nas relações internacionais, e a trilogia aborda esse tema de maneira brilhante. Podemos relacionar a rivalidade entre as famílias de Kekon com as tensões geopolíticas entre nações que competem por recursos valiosos. A autora também explora a diplomacia e as negociações entre os diferentes atores, demonstrando os desafios enfrentados na construção de acordos internacionais.

Através dessa mescla de inspirações culturais e históricas, Fonda Lee cria um mundo vívido e complexo em “The Green Bone Saga”. Ela utiliza essas referências para explorar temas universais, como identidade, poder, lealdade e as consequências da busca implacável pelo domínio. Ao fazê-lo, ela oferece uma visão fascinante e profundamente envolvente das relações internacionais e das complexidades que envolvem nações, culturas e indivíduos.

Editora Orbit

“The Poppy War” – R. F. Kuang:

A trilogia “The Poppy War”, composta por “The Poppy War”, “The Dragon Republic” e “The Burning God”, transporta os leitores para um mundo inspirado na China do século XX. A história segue a protagonista Rin, uma jovem talentosa que se envolve na guerra entre a República de Nikan e o Império Mugen. A autora mergulha nas narrativas da guerra, política e identidade cultural, oferecendo uma visão cativante e ao mesmo tempo perturbadora, baseando-se em eventos históricos reais. 

  1. Segunda Guerra Sino-Japonesa:

Uma das principais influências na trilogia é a Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945), um conflito sangrento entre a China e o Japão que teve um impacto profundo no país e em sua identidade nacional. A autora recria essa guerra fictícia em seu mundo, retratando a República de Nikan como uma nação que luta para resistir à invasão e à brutalidade do Império Mugen, baseado no Japão Imperial.

 2. Movimento Nacionalista:

R.F. Kuang também se inspirou no Movimento Nacionalista chinês liderado por Chiang Kai-shek durante a primeira metade do século XX. A protagonista, Rin, inicialmente alista-se na academia militar para escapar da pobreza e encontrar um caminho para uma vida melhor. Essa narrativa ecoa a história de muitos jovens chineses que aderiram ao Movimento Nacionalista em busca de esperança e oportunidades em tempos de instabilidade.

 3. Massacre de Nanquim:

Outra influência importante é o Massacre de Nanquim, ocorrido durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa. A autora retrata cenas brutais e chocantes de violência e genocídio, refletindo a brutalidade e o horror do Massacre de Nanquim. Esses eventos são elementos cruciais na construção da narrativa e têm um impacto profundo no desenvolvimento dos personagens e em suas perspectivas.

 4. Conflitos étnicos e traumas históricos:

A trilogia também aborda questões de conflitos étnicos e traumas históricos na China. A autora examina as tensões entre diferentes grupos étnicos dentro do país e as consequências do conflito em suas vidas. Ela explora como o trauma e a violência podem moldar indivíduos e sociedades, bem como as complexidades e desafios de lidar com as memórias coletivas e cicatrizes do passado.

Conexões com Relações Internacionais:

A trilogia aborda questões complexas, como colonialismo, política de identidade e conflitos étnicos, que são frequentemente discutidas no campo das relações internacionais. O confronto entre a República de Nikan e o Império Mugen pode ser comparado a conflitos históricos entre países e impérios, nos quais interesses políticos, econômicos e ideológicos estão em jogo. Além disso, a autora também examina as consequências da guerra e a moralidade das ações tomadas durante o conflito.

“The Poppy War” é uma obra densa e poderosa que combina elementos de fantasia e história para explorar questões profundas e complexas. R.F. Kuang tece uma narrativa emocionalmente intensa, destacando a crueldade da guerra, a busca por identidade e as consequências devastadoras da violência. Ao fazer referência a eventos históricos e culturais da China, a autora oferece uma perspectiva única sobre relações internacionais, colonialismo e resistência, proporcionando aos leitores uma experiência profunda e reflexiva.

Foto da autora de Mike Styer Photography

“The Inheritance Trilogy” – N.K. Jemisin

Para a terceira trilogia, vamos explorar “The Inheritance Trilogy” de N.K. Jemisin. Essa série é composta pelos livros “The Hundred Thousand Kingdoms”, “The Broken Kingdoms” e “The Kingdom of Gods”. A trama se passa em um mundo divinamente governado, onde diferentes reinos estão em constante disputa pela supremacia. A trilogia explora temas de poder, política, deuses e a interação entre diferentes reinos divinos.

  1. Política Divina:

Uma das principais características da trilogia é a presença de divindades que governam o mundo. Os deuses têm papéis ativos nos assuntos humanos e estão envolvidos em intrigas, alianças e disputas de poder. Essa dinâmica espelha as relações internacionais no mundo real, onde atores poderosos competem por influência, recursos e controle geopolítico. A autora explora a forma como essas divindades manipulam e interferem na vida dos mortais, refletindo assim as complexidades e as tensões da política internacional.

 2. Questões de Identidade e Supremacia:

A trilogia de N.K. Jemisin também aborda questões de identidade e supremacia. Os reinos divinos representam diferentes grupos étnicos e culturais, cada um com suas próprias tradições e valores. Conflitos e tensões surgem entre esses reinos, refletindo a diversidade e os desafios da coexistência entre diferentes nações e sociedades. A autora questiona as noções de superioridade cultural e o desejo de dominação, expondo as implicações negativas dessas ideias.

 3. Desafios à Soberania:

A trilogia também explora os desafios à soberania dos reinos divinos e os efeitos do imperialismo. A interferência externa, tanto de reinos divinos quanto de mortais, levanta questões sobre autodeterminação, independência e subjugação. Essa exploração ressoa com as relações entre países na realidade, onde a soberania é muitas vezes desafiada por interferências externas, conflitos territoriais e aspirações de poder.

 4. Relações Diplomáticas:

N.K. Jemisin também aborda as complexidades das relações diplomáticas entre os reinos divinos. A negociação de alianças, tratados e acordos é explorada de forma aprofundada, mostrando as tensões e os desafios inerentes à busca de interesses comuns entre atores poderosos. A autora destaca a importância da comunicação, do diálogo e do entendimento mútuo para a resolução pacífica de conflitos.

Conexões com Relações Internacionais:

“The Inheritance Trilogy” oferece uma perspectiva interessante sobre relações internacionais ao explorar a natureza das alianças e rivalidades entre os reinos divinos. A autora aborda questões de poder, dominação e diplomacia, apresentando uma visão crítica dos sistemas de governo e das dinâmicas de poder. Essa trilogia também examina as implicações das intervenções externas nos assuntos internos de um país, levantando questões sobre soberania e autodeterminação.

Editora Orbit

As trilogias de fantasia mencionadas, “The Green Bone Saga” de Fonda Lee, “The Poppy War” de R. F. Kuang e “The Inheritance Trilogy” de N.K. Jemisin, são exemplos notáveis de como a ficção pode servir como uma lente para examinar as complexidades das relações internacionais. Ao abordar temas como diplomacia, rivalidade entre nações, conflitos étnicos e dinâmicas de poder, essas histórias nos convidam a refletir sobre questões que também são relevantes em nosso mundo real. Portanto, mergulhe nessas trilogias e desfrute de uma experiência literária rica e intelectualmente estimulante.

Liara Luiza Durigon Pozzobon

Estudante do 7° semestre de RI, interessada por geopolítica, direito internacional e comércio exterior. Animada para aprender mais sobre a visão de diferentes países sobre temas tão interessantes!