Há um país que, até alguns anos atrás, não tinha importância e era pouco conhecido pelo mundo afora. Esse lugar, para o exterior, passava uma imagem de ser simples, um pouco pobre e sem ter recursos naturais especiais que chamassem a atenção dos outros países, quando, na realidade, havia um recurso natural único e nunca visto antes, o vibranium. Esse recurso conseguiu esconder a verdadeira realidade deste país por muito tempo através de uma barreira que não era vista ou sentida por quem estava de fora. O vibranium é capaz de produzir e gerar tecnologias incríveis, e perigosas dependendo da mão de quem cair esse recurso.
Essa história soa familiar? Bom, esse lugar é Wakanda, o país fictício do mundo dos quadrinhos (e filmes) de heróis da Marvel. Wakanda é um país fictício que seria localizado no continente africano. Agora você pode estar se perguntando, o que uma história de super herói tem a ver com as Relações Internacionais? Então, segue a leitura abaixo que vou te contar algumas semelhanças que me deparei quando estava assistindo o segundo filme de Black Panther: Wakanda para sempre nos cinemas.
Atenção! A leitura abaixo contém spoilers do primeiro e do segundo filme, caso não tenha visto.
Para recapitular, o primeiro filme retrata a história de T’Challa que assume o papel de rei, e consequentemente de Pantera Negra, após a morte do seu pai, T’Chaka. No primeiro filme, a trama gira em torno da questão se eles devem revelar a verdadeira Wakanda, e compartilhar o seu recurso mais importante para o mundo ou não. Assim, o segundo filme também gira um pouco ao redor do vibranium, quando é descoberta a existência de outra população que vive nas profundezas da água, o povo azul, que também tem a posse do vibranium no seu território, o que até então sabia-se somente de Wakanda ter. Shuri, irmã de T’Challa, a qual após o falecimento do irmão entra em um conflito interno por não ter conseguido salvá-lo, precisa lidar com Namor, o governante daquela nação, o qual faz um pedido para Wakanda achar o cientista que criou a máquina capaz de extrair o seu recurso natural usada pelos Estados Unidos, o que até antes não havia sido visto.
A origem dessa população subaquática é indígena, e o que teria acontecido antigamente era que esse povo vivia na terra, porém, para tentar se salvar de uma doença trazida pelos colonizadores espanhóis, tomaram o chá de uma flor que, segundo o chefe da tribo, iria proteger eles. Esse chá vinha de uma planta “mágica”, a qual fez com que o DNA deles fosse mudado, transformando-os em uma civilização que respirava apenas embaixo d’água. Contudo, uma das mulheres que estava grávida quando tomou o chá dessa planta, fez com que seu filho ao nascer conseguisse respirar tanto dentro da água como fora dela, e ele ficou conhecido mais tarde como Namor. Agora, tendo contextualizado um pouco da história, vamos para três semelhanças que é possível notar desse filme com as Relações Internacionais.
1. O interesse e a disputa dos Estados por recursos naturais
No início do filme, é mostrada uma reunião das Nações Unidas (podendo ser uma representação do Conselho de Segurança chamando as suas reuniões urgentes). Nessa reunião, a rainha Ramonda de Wakanda foi chamada e os representantes dos Estados-membros começaram a questionar Wakanda sobre não cooperar com o que haviam se comprometido em relação ao vibranium. Um detalhe interessante é a fala da rainha de Wakanda sobre sempre ter sido uma política do seu país de não negociar vibranium por causa das pessoas, do que elas fariam com aquele recurso nas mãos.
Pensando sobre uma perspectiva da teoria realista, os Estados estão em busca de recursos naturais a todo momento em busca de explorar os mesmos para lucrar e acontecimentos históricos que mudaram o rumo da humanidade ocorreram por causa disso, como as grandes navegações e as colonizações. A busca dos outros Estados para conseguir o vibranium fora de Wakanda é uma representação disso. Quando acham o vibranium no fundo do mar e começam a extrair, são atacados pela população de Namor, a qual pede ajuda a Wakanda para achar o responsável por isso e tendo o achado, iriam matar a pessoa para que os outros Estados não fossem capaz de explorar o seu recurso.
2. A segurança internacional e o Tratado de Não Proliferação (TNP)
Uma das falas de um dos representantes dos Estados-membros daquela reunião da ONU citada acima foi sobre Wakanda não cumprir com a não proliferação do vibranium. Isso é parecido com o Tratado de Não Proliferação (TNP) de armas nucleares. Esse tratado visa a não proliferação das armas nucleares, a qual os atores internacionais ao assinar se comprometem a cooperação do uso pacífico dessa tecnologia e promovem o desarmamento nuclear. Dessa forma, é possível conter a proliferação dessas armas e o seu uso, uma vez que é improvável acabar de vez com a tecnologia nuclear, a qual surgiu na Segunda Guerra Mundial. Isso é o que ocorre com o vibranium no filme, capaz de produzir armas tecnológicas em um nível de destruição muito grande, cria-se uma discussão acerca da sua não proliferação. Porém, muitos países estão interessados em possuir o vibranium para uso próprio e por isso querem que Wakanda compartilhe ele com o resto do mundo. É com isso que Wakanda se preocupa, desde o primeiro filme, e não quer que aconteça porque sabe que haveria aqueles que iriam usar para a destruição em massa, tal qual aconteceu com a tecnologia nuclear na Segunda Guerra e se tornando um dos motivos da Guerra Fria.
3. A soberania dos Estados
Uma das primeiras coisas que se aprende no curso de Relações Internacionais é que os Estados são soberanos e por isso, teoricamente, nenhum outro Estado pode interferir em assuntos domésticos dele. O que acontece no filme é um exemplo claro disso. Os Estados Unidos, quando pensam que Wakanda havia sido responsável pelo ataque ao navio que havia achado vibranium no oceano, aumentam sua vontade de atacar Wakanda. Inclusive acontece até uma batalha entre as pessoas de Wakanda e as que vivem no fundo do mar, porque Wakanda não entrega para eles a responsável por ter feito o equipamento capaz de extrair vibranium no fundo do oceano e isso fez com que os acontecimentos entre as duas nações aumentasse. Há um forte sentimento de Namor por causa da possibilidade de exploração porque, quando a sua mãe faleceu e ele foi enterrar ela na terra, se deparou com os horrores da escravidão e a colonização.
No geral, há uma grande representação no filme sobre assuntos internacionais, principalmente em relação aos interesses dos outros Estados de quererem explorar o vibranium, o que é uma forte preocupação de Wakanda. Agora, ficou querendo saber o final do filme? Bom, isso eu deixo no ar para quem não assistiu. Mas e você? Ficaria do lado de quem nessa história?
Roberta Noguez Secretária Acadêmica
Estou no 6° semestre de Relações Internacionais e espero que o projeto ajude os participantes a desenvolverem habilidades pessoais, como comunicação e escrita, e que eles possam aprender sobre assuntos que estão em alta no momento ou que não se vê sendo discutidos no dia a dia. |