O que está acontecendo em Myanmar?

TEMPO ESTIMADO DE LEITURA: 366 SEGUNDOS

No primeiro dia de fevereiro, uma professora de Educação Física estava transmitindo seus exercícios ao vivo, enquanto simultaneamente, ao seu plano de fundo, ocorria a invasão de tropas militares ao parlamento de Myanmar, registrando um novo golpe de Estado. Com um histórico de lutas, o país passa novamente por embates políticos e bélicos, dos quais remontam sua história. Localizado no sul da Ásia continental, fazendo fronteira com a China, Laos, Tailândia, Bangladesh e Índia, o país tornou-se independente do Reino Unido no ano de 1948, oficializando-se como  República da União de Myanmar somente em 2010,  representando uma nova fase.

Fonte: Google Maps

Desde os primeiros momentos de sua independência houveram diversos conflitos separatistas, organizados pelos grupos étnicos shan, karen, kachin e chin. No ano de 1962 verificou-se um golpe de Estado, liderado pelo general Ne Win. Seu governo centrou-se na abolição da constituição local e foi lido como uma má gestão, e então, em 1988, ocorrem diversas manifestações anti governamentais. Com o objetivo de acalmar a população, o novo governo, também militar, define o nome do país como União de Myanmar em 1989 e então, em 1990, acontecem novas eleições, culminando na vitória da oposição. Com isso, o partido Liga Nacional pela Democracia (LND) é proibido de tomar posse  e logo há um aumento considerável no número de guerrilhas, as quais foram reprimidas posteriormente em 1992, gerando uma grande fuga de tais grupos. Apesar disso, fora somente em 1997 a ONU e a União Europeia posicionaram-se contra Myanmar por sua violação dos direitos humanos.

Mantendo uma gestão falha, o governo militar continuou com uma forte oposição e, no ano de 2007 houve um protesto que contou com 100 mil manifestantes na cidade de Rangum, maior cidade do país, dos quais 6 mil foram presos e 31 foram mortos. Somente no ano de 2010 acontecem as primeiras eleições legislativas, após 20 anos, resultando em 80% dos cargos permanecendo sob domínio de partidos favoráveis às forças armadas. Em 2011, Thein Sein é definido como presidente pela Assembleia e termina com o regime militar, retomando em 2014 as relações diplomáticas com os Estados Unidos. Além disso, retorna-se à constituição com constantes desentendimentos entre os diferentes grupos sociais, conservando seu histórico violento.

Em 2015, as eleições gerais deram à LND a maioria dos assentos parlamentares e elegeram a primeira presidente civil do Myanmar, Aung San Suu Kyi. Entretanto, ela é impedida de assumir o cargo, sendo definida como Conselheira de Estado, uma função semelhante à de primeira-ministra (aproxima-se das funções de uma primeira-ministra). Então, com uma perspectiva de resistência, o novo governo representa a busca pela melhora política e social de Myanmar. Com constantes ações internas e externas de recolocação global, via-se então uma grande possibilidade de ascensão diplomática, política e econômica.

Foto: Líder Aung San Suu Kyi. Fonte:  Mark Metcalfe/Getty Images

Então, no começo de 2021, a atual administração política emite um comunicado ao Federal Reserve Board (o sistema central bancário dos Estados Unidos) alertando que seu governo está em risco e pede congelamento do seu fundo caso troquem seus representantes. Após isso, gravou um vídeo convocando o povo para as ruas, em defesa das conquistas políticas. Em 1ºde fevereiro é registrado e divulgado globalmente, por meio de uma live (assista em: https://youtu.be/zMRsDiJv4kgda) de uma professora de educação física, o golpe da Junta Militar, derrubando o sistema democrático e assumindo o governo do país, trocando os representantes para cargos de confiança, o general Min Aung Hlaing torna-se o novo chefe de Estado, instaurando uma atmosfera completamente instável em Myanmar.

Com protestos diários desde o golpe militar, a população se nega a reconhecer e a ceder ao autoritarismo. Esses protestos contam com forte presença feminina, inspiradas pela última líder eleita, até então presa pela Junta Militar e com o seu julgamento marcado para 14 de junho de 2021. Desde então o atual governo já prendeu mais de 1.700 pessoas, incluindo 24 jornalistas (os quais divulgavam a situação do país). Também há uma grande força médica prestando assistência aos manifestantes e é importante ressaltar que já ocorreram mais de 800 mortes desde que o golpe foi instaurado.

Foto: População manifesta-se contra o golpe e utiliza a imagem de Aung San Suu Kyi. Fonte: Sai Aung Main/AFP/Getty Images

Em resposta ao golpe, os oficiais do governo dos Estados Unidos anunciaram sua que  em 4 de fevereiro, três dias após o golpe, o Banco Nacional de Myanmar tentou sacar 1 bilhão de dólares (garantindo-se caso acontecesse um embargo econômico), bloqueado antecipadamente pelo governo deposto, faltando a aprovação do presidente Joe Biden, tal pedido é negado e o governo americano define sua oposição à Junta Militar (concordando com o Reino Unido e União Europeia) . Completaram-se cem dias de governo em 11 de maio de 2021,  com muitas perdas. A ONU já prevê a possibilidade de 25 milhões de cidadãos estarem na linha da pobreza, situação não vista há décadas no país, assim como a possibilidade de um embargo armamentício. Por fim, há de se esperar as próximas atualizações sobre a situação.


Gostou do post? Então inscreva-se na nossa newsletter e receba frequentemente nossas postagens diretamente no e-mail. Além disso, compartilhe nosso post com os amigos!


Larissa Morais    Assistente de Press

Graduanda do curso de História-Bacharel, apaixonada por diplomacia, ficção científica, música e pesquisa. Minha saga favorita é Senhor dos Anéis, amo séries de comédia, estilo brookling 99. Estudando para buscar um mundo melhor a todos. Fico sempre nervosa em ter que me definir em pequenos textos, mas adoro conhecer pessoas.